deathnotebleach

É sabido por boa parte da audiência que a PlayTV, em tempos longínquos de TV aberta, deu um gás à programação de animes com o seu bloco Otacraze. Ranma 1/2, Love Hina, Trigun e outros fizeram o canal se projetar bastante, e eram suas marcas registradas.

Porém, a PlayTV gratuita morreu e retornou como canal pago, agora controlado apenas pela Gamecorp, que mantinha a emissora em rede aberta graças à sua parceria com a Rede Bandeirantes.

Sem animes desde o seu ressurgimento, neste mês os investimentos foram retomados com as séries Bleach e Death Note. Ambas licenciadas pela VIZ, estrearam no canal no dia 10 de abril.

Esse pequeno investimento foi o suficiente para que muitos se perguntassem se haveria a possibilidade de um maior engajamento nesse nicho novamente. A programadora disse que se as atrações fizerem sucesso, sim, novos investimentos serão feitos, e assim jogou a responsabilidade nas mãos da audiência.

Mas será que a PlayTV vem fazendo a sua parte? A presente Editocrítica visa lançar algumas questões acerca desse tema.

A qualidade do sinal da PlayTV
Não há dúvidas: a PlayTV conseguiu boa projeção nas operadoras de TV por assinatura pois foi classificada como canal brasileiro de espaço qualificado, ou seja, se tornou uma daquelas emissoras que devem entrar nas grades para cumprir a cota de 1 nacional  para cada 3 de outros tipos.

E o que isso quer dizer? Quer dizer que não houve uma grande negociação como geralmente ocorre para que o acordo da inclusão de canal X seja feita na grade. Ela com certeza se beneficiou, porém, a qualidade do sinal oferecido pela sua operadora é boa? Em algumas das maiores do país, como a Claro e a NET, o sinal é muito compactado, provavelmente porque elas “espremeram” os canais em seus transponders/satélites, para simplesmente atenderem a exigência da ANCINE, e não estão nem aí para a maneira como isso chegará ao assinante. Elas só estão preocupadas em não receberem multas.

Mas… e o que essa compactação significa? Significa baixa qualidade de imagem, e baixa qualidade de áudio também.

Observem que não é um problema exclusivo da PlayTV. Canais como Prime Box Brasil, Arte1, e outros considerados  “brasileiros de espaço qualificado” sofreram com isso, pois foram incluídos por obrigação nas grades das operadoras.

Como resultado disso, qualquer um que tente escutar os temas de abertura e encerramento das séries na Play terá uma experiência similar a assistir os vídeos no YouTube em 240p. Durante os episódios, é até mais aturável, mas ainda longe da exibição proporcionada antigamente pelo Animax, que tinha imagem e áudio limpíssimos.

O samba de crioulo-doido dos horários
Os animes são exibidos de segunda a segunda, porém apenas dois episódios de cada série vão ar em cada semana. Ou seja, dois de Bleach, e dois de Death Note. Como a “mágica” acontece?

De maneira complexa até demais: nas terças e nas quintas, Bleach tem episódios inéditos. Nas segundas e quartas, é a vez de Death Note. Em todos os outros horários são exibidas reprises. Ou seja, o episódio 5 de Death Note, que estreou no dia 21 de abril, será exibido ainda quatro vezes, e o 6, que estreia dia 23, terá seis exibições.

O pior disso tudo não são nem as reprises. Afinal, canais pagos hoje em dia tem essa característica: disponibilizar vários horários alternativos. O problema mora mesmo na maneira como o canal organiza as reapresentações. É algo tão, tão confuso, que garantimos que algumas horas foram perdidas formulando uma explicação para ser inserida aqui.

Bleach, às segundas e quartas (por não ser dia de episódio novo), vai ao ar às 17h30. Nas terças e quinta, é exibido às 17h (pois tem episódio inédito). Death Note segue a mesma lógica, sendo apresentado às 17h nos dias de episódios novos e 17h30 nos dias de reprise.

Na sexta, nenhum dos animes é inédito, então fica definido que Death Note entra antes de Bleach também.

Isso pode confundir o telespectador. Não bastaria destinar horários para as séries, ao invés de destinar horários para os tipos de exibição (reprise e inédito)?

Além disso, os animes também passam às 11h, no mesmo tipo de exibição intercalada. Death Note 11h segunda, quarta, e sexta, e Bleach às 11h na terça e na quinta. Porém, a exibição matutina, se estende à sábado também. Sendo Bleach exibido antes de Death Note.

Ainda no sábado, o canal faz uma exibição às 20h30 de Bleach e 21h de Death Note.

No domingo, são apresentadas as maratonas. Ichigo 17h e 17h30, L e Raito 20h e 20h30.

Ok, fazendo algum esforço, dá até para decorar, tarefa que deveria ser muito mais simples. Porém, que episódio vai ao ar em cada horário?

Talvez o matutino de sábado seja reprise do de sexta, mas sexta já é reprise… então talvez seja reapresentação do de quinta. Mas espera, quinta só teve novo episódio de Death Note. Então… o de Bleach ainda é o de quarta?

E o horário noturno de sábado, que episódio passa nesse horário tão solto que só existe nesse dia da semana?

É tudo muito, muito confuso, e para dar uma ajudinha, a gente tentou organizar uma tabela:

Sem título

Faz mais sentido agora? Para nós também não.

Algo que poderia resolver tal confusão criada para “maquilar” as exaustivas reprises seria simplesmente exibir mais episódios durante a semana (cinco de cada série) e colocar as séries em horários fixos, e não flutuantes. Bleach, com 108 episódios dublados, teria fôlego para ficar uns bons meses no ar.

As séries escolhidas

Além dos empecilhos da qualidade do canal, e da bagunça dos horários, o telespectador tem como produto duas séries já exibidas no Brasil por outro canal pago, o Animax. Ou seja, nada novo para ser acompanhado.

Não só as séries não são inéditas, como a dublagem de uma delas, Bleach, foi fortemente criticada pela audiência quando foi apresentada pelo outro canal. A PlayTV (ou a distribuidora) não se deu ao trabalho de redublar, entregando o mesmíssimo material que o antigo exibidor.

E Bleach, ainda por cima, foi cancelado no Japão após 366 episódios, não tendo, assim, um final oficial na animação (uma vez também que o mangá continua sendo publicado). E no ritmo de exibição, contando que sempre serão dois episódios por semana, o anime só terá chegado ao fim no Brasil no final de 2017.

Vale a pena todo o esforço?

Conclusão

Os animes apresentados pela PlayTV fazem parte de algo que chamamos de “pacote VIZ”. O mesmo foi oferecido para a MTV Brasil, e por isso os boatos de NANA surgiram (inicialmente a série integraria o pacote). Como na ocasião não houve acordo, provavelmente a distribuidora foi oferecer para o canal, ou eles correram atrás. Certo é que vieram juntos, e não representaram exatamente uma seleção do que poderia ou não dar certo.

Por conta disso – e de outros problemas já colocados – é lançada novamente a questão: a PlayTV está fazendo a parte dela para que isso dê certo?

Alguns problemas talvez fujam da alçada da rede (como a questão técnica do sinal), porém certamente outras questões poderiam ser resolvidas por ela: esses horários certamente confundem. Essa diluição das séries certamente cansa. A falta do fator ineditismo certamente deixa de chamar a atenção.

Jogar a responsabilidade para cima do telespectador e deixar de fazer a sua parte é fácil. O outro lado tem que dar as melhores condições possíveis para que o assinante ligue sua TV e assista a sua programação. No final das contas, o canal é o maior beneficiado disso tudo caso venha a dar certo.