Blue Seed

Blue Seed
Aokushimitama Blue Seed

Semente Azul

[youtube:http://http://www.youtube.com/watch?v=ssdKpaL8VGU 480 320]

Produção: 1994
Episódios: 26 p/tv
Criação: Yuzo Takada
Exibição no Japão: Tv Tokyo (05/10/1994-29/03/1995)
Exibição no Brasil: Locomotion
Mangá: Bamboo Comics

Última Atualização: 31/05/2009

Depois de 1994, a animação japonesa no Brasil ganhou uma dimensão completamente diferente da que tinha até então em nosso país. Na verdade, temos que admitir que qualquer anime antes de Os Cavaleiros do Zodíaco nem sequer eram chamados de animes (lembram do termo japanimation?) e que graças à existência da Rede Manchete, ao olho grande do SBT e às revistinhas que surgiram no rastro do fenômeno que foi a Herói (algumas muito melhores que a Herói, diga-se de passagem :P), os brasileiros tomaram conhecimento da imensidão de produções que aquele pequeno país de língua estranha (e bota estranha nisso!) tinha para encher nossos olhos – e nos fazer perder horas em frente a uma TV.

No final dos anos 1990 e no começo dos anos 2000, os animes em exibição na TV aberta eram bem poucos e o foco dos fãs começou a se voltar para os canais pagos. Afinal, estreava no Cartoon Network o mega sucesso Dragonball Z, a continuação de Sailor Moon e um anime das mesmas criadoras das Guerreiras Mágicas de Rayearth (Sakura Card Captors, caso não tenha ideia disso!). Enquanto essas séries mais famosas chegavam ao canal infantil – e Pokémon começava a chamar atenção na Record – um pequeno canal de nome e visual estranho (o que eram aqueles comerciais?) apresentava pequenas grandes surpresas em sua programação. Era o Locomotion.

Exibindo animações que ninguém jamais sonhou que pudessem chegar ao Brasil (Evangelion, Bubblegum Crisis, Cowboy Bebop…), o canal durante um tempo apresentou uma grade que consegue superar de longe a atual de vários canais pagos – alguém tem saco para o Boomerang? Entre as séries, uma nunca tivera muito destaque na pauta de revistas da época e até hoje, é difícil encontrar algo além de notas na Wikipédia sobre a produção. Estamos falando de Blue Seed, que você vai conhecer ou recordar, a partir desse exato momento.

O Japão e suas lendas
Não desmerecendo o nosso folclore, mas não dá pra comparar a riqueza e complexidade de muitos mitos japoneses com as histórias que ouvimos ou lemos quando crianças – a maioria graças a Monteiro Lobato :P. A história de Blue Seed se baseia em uma dessas lendas, mais especificamente na que se refere ao Deus Suzano e do Dragão de 8 Cabeças Orochi – que já serviu de referência para diversos personagens de animes e games.

Suzano, o deus Trovão, forçou sua irmã, a deusa do sol Amaterasu, a se trancar em uma caverna, fazendo com que o mundo mortal perdesse o brilho do sol. Quando Amaterasu se libertou, Suzano foi forçado a pagar penitência, vagando pelas terras de Izumo até que encontrou-se com o Dragão de 8 Cabeças que vagava pela mesma região chamado de Orochi.

Orochi devorava todas as donzelas da aldeia local e quando Suzano se apaixonou por uma princesa chamada Kushinada, resolveu armar um plano para acabar com o monstro usando sua amada como isca: encher a cara dele de saquê (hein o_O?) e decepar suas cabeças depois que o bicho caísse tonto. O plano deu certo e Suzano ganhou de “brinde” um espelho, uma espada e um orbe – tudo saído de dentro da criatura @_@. A espada foi entregue à Amaterasu como forma de perdão, e da união de Suzano com a princesa Kushinada surgiu a linhagem da família real japonesa. Dizem até que o tal orbe e o espelho existem até hoje em dia, de verdade! =P

Lembrou de alguns personagens de animes e de games? E o que diabos Blue Seed tem a ver com essa lenda? Continue lendo então…

O equilíbrio divino
A estudante colegial Momiji mal podia sonhar que fosse descendente da família Kushinada – a tal da lenda que casou com o deus trovão Suzano. A garota fora rigorosamente criada por sua avó dentro de uma série de ritos ancestrais, mas ela nunca tivera real noção de sua importância para o mundo. Tal importância vem à tona quando monstros chamados de Aragamis, começam a surgir em Tóquio destruindo tudo pela frente. Para enfrentar tais demônios bizarros, existe uma entidade oculta chamada de TAC (sigla para Terrestrial Administration Center) que se assemelha aos esquadrões antimonstros das séries Ultras.

Liderada pelo senhor Kunikida, a organização conta com a bióloga Azusa Matsudaria, que dedica sua vida na pesquisa de uma arma química eficiente contra os Aragamis. A menos “não-eficiente” é uma baseada em saquê – referência mitológica detectada :P – mas nada se compara a estranha eficiência que uma garota chamada Kaede possui. Kaede é irmã gêmea de Momiji e por possuir o sangue sagrado de Kushinada é a única, segundo o Sr. Kunikida, que pode salvar a humanidade. O velho a criou desde seu nascimento e de forma simbólica, ela e Momiji são a representação viva do Yin & Yang. Entretanto, a garota some misteriosamente, pondo os demais integrantes do TAC a trabalhar dobrado até a última esperança entrar na história: Momiji.

Na época do nascimento das gêmeas, o demônio Orochi reapareceu no mundo e concedeu 7 Omitamas (que significa semente, e dá sentindo ao título do anime) a um bebê chamado Kusanagi. A criança cresceu com um objetivo: proteger a reencarnação de Kushinada. Contudo, tais omitamas lhe concederam estranhos poderes (seu braços viram lâminas vegetais… Como as folhas gilete do Bulbassauro XD), um sangue verde e duas sobrancelhas extras O_o’. Amaldiçoando seu destino, o rapaz planeja matar a menina achando que vai se livrar da “maldição”, mas Kusanagi acaba virando um anti-herói na série, cumprindo a função planejada por Orochi.

Ai você se pergunta: Orochi não queria matar as reencarnações de Kushinada? Por que ele incubiria a alguém a missão de protegê-las? Elementar que o capiroto tem planos bem elaborados e isso está diretamente ligado aos Aragamis. Se uma das garotas morrer, os Aragamis e o plano de Orochi vai pro ralo. Complicado? Pois sim… Mais complicado ainda é o fato de que Orochi ataca Momiji e sai na porrada com seu “suposto servo” (o Kusanagi). Quando vai mandar o moleque com braços de lâmina pro outro mundo, Momiji se mete no meio e morre. Só que Orochi implanta uma omitama no peito da garota, o que faz com que sua vida não se esvaeça. Por que? Só vendo mesmo…

Até meados da série, vemos diversos personagens da TAC aparecendo e apresentando seus poderes e habilidades na luta contra os Aragamis. Com a “blue seed” no peito, Momiji se torna uma “farejadora” de Aragamis e é providencial na luta da organização pelo bem da humanidade. No meio da série surge Murakumo (eta nomezins estranhos que esse anime possui, né?), uma espécie de Aragami humano que luta sob influência de… Devo contar? Hihihi… Ok. Não vou. Mas saiba que Kaede ainda está nesse mundo e Suzano está para voltar e cumprir seu papel no destino da humanidade: purificá-la, varrendo a praga que a corrói – o próprio homem @_@.

Interessante e frustrante
Essas dois adjetivos se enquadram muito bem na trama de Blue Seed. Seu desenvolvimento nos faz ter a sensação de que os 26 episódios produzidos não foram suficientes para explorar a trama complexa que seu autor, Yuzo Takada, criou. Takada se tornou famoso no Japão graças ao fantástico mangá 3×3 Eyes, que rendeu um OVA em quatro partes que teriam sido adquiridos pela Manchete, mas nunca exibidos na TV. Com uma particular admiração pelo folclore japonês, Takada parece ter perdido a mão com Blue Seed, embora a premissa seja interessante e renda discussões sob vários prismas acerca dos acontecimentos. Nada muito cerebral como os japas veriam em Evangelion, no ano seguinte… A coisa melhora consideravelmente a partir da metade da série, quando deixam Momiji menos mala – a garota não sabe se chora, ri, encara a luta, corre dela…

Originalmente, Blue Seed não foi baseado em um mangá, embora até existam dois volumes lançados. A diferença de meses entre o lançamento do mangá e do anime, concebido pelas mãos da Production I.G em parceria com a Ashi Production (que trabalhou na clássica animação sci-fi Iria: The Zeiram Animation, inédito por essas bandas) prova que o anime foi lançado com todo um planejamento e objetivo: ganhar din din em cima dos fãs de 3×3 Eyes :P. A qualidade da animação não é nada fantástica, mas se destacava na época por ter um certo diferencial (uso de CGs!), mas se assimilando ao padrão do que se assistia em OVAs na época.

Para chamar mais atenção do que “do mesmo autor de 3×3 Eyes”, ainda escalaram a popstar Megumi Hayashibara para dublar Momiji e cantar os temas de encerramento da série. Isso além do uso discreto de CGs – na abertura (o ano era 1994) chega a dar uma saudade daquela época em que os gráficos de PS1 eram o ó do borogodó. E que tema de abertura legalzinho @_@! Quem assiste não consegue pensar que a série é meio chatinha. No elenco de dubagem, outro nome de destaque foi o de Kotono Mitsuishi, a dubladora da Sailor Moon!

Mesmo que a trama parece das boas, Blue Seed vacila bastante no começo. Quem pega a série e só assiste aos primeiros episódios tende a achá-la chata e se desinteressa em acompanha-la até o final – que por sinal é bem bacaninha. A série só engata mesmo nos 13 últimos episódios, mas parece ter sido tarde. Mesmo assim, muitos fãs foram arrebanhados e soltaram depois da série um OVA de míseros 3 episódios chamado de Blue Seed 2. Um compacto da série original em 2 (@_@) episódios também foi lançado sob o título de Blue Seed 1.5 Premium.

No Brasil
Blue Seed estreou na Locomotion no ano 2000, e foi exibido exaustivamente pelo canal até meados de 2003. Exibida com legendas em português, a série é lembrada por muitos telespectadores do extinto canal que a assistiram na fase mais “turbinada” da programação (com sessões de OVAs nos fins de semana e tudo!). Infelizmente, a complexidade da trama não era muito fácil de ser acompanhada pelas legendas e se você assistisse a um episódio avulso quando ia na casa da sua madrinha rica que tinha DirecTV, não ia entender bulhufas.

Blue Seed é um anime que acaba se queimando dentro de sua proposta: querer ser cult e inteligente ao mesmo tempo em que queria ser leve e divertido. A prova disso é a tentativa de pôr os personagens em SD estreando o Blue Seed Omake Theater. A cada dois episódios, víamos algum personagem da TAC em uma historinha curta chamada de “Arquivo X”, onde o humor prevalecia. A sensação que se tem é que se o anime tivesse sido lançado após Evangelion ter ido ao ar, talvez conseguisse ter encontrado a “inspiração” que faltou para explorar os dilemas apresentados e explorar melhor diversos personagens. Não é sempre que uma boa história consegue virar cult mesmo…