Na era Sengoku um homem ambicioso faz um pacto com 48 demônios, em troca de poder para conquistar o país. Ele então entrega seu filho que ainda estava no ventre. A criança nasce, mas não se parece com um humano, não tem olhos, boca, nariz, pernas ou braços, sendo então abandonado para morrer em um cesto em um rio.
No entanto um médico bondoso acha a estranha criatura e resolve criá-lo como filho. O habilidoso médico constrói próteses para seu filho adotivo ter uma aparência mais normal e também para poder se locomover.
Conforme o menino cresce aparecem ayakashis (as assombrações japonesas) que não atentam apenas contra a vida do pobre garoto agora chamado de Hyakkimaru, mas também contra o bondoso médico que o acolheu. Para salvar a vida de seu pai, Hyakkimaru resolve partir em uma jornada pra buscar um lugar em que possa viver feliz, sem a presença das ayakashis.
Ao partir em jornada uma voz lhe conta sobre o seu passado e que para poder viver como uma pessoa normal ele vai precisar derrotar em duelo os 48 demônios que se apossaram de partes de seu corpo.
Em sua jornada Hyakkimaru conhece um monge andarilho que é cego como ele (o garoto enxerga com os olhos do coração). Convivendo com o monge ele aprende a se defender usando a espada implantada nas próteses por seu pai.
Hyakkimaru ainda vai conhecer o pequeno ladrão Dororo (corruptela de dorobou = ladrão) e a falta de sentido das guerras e a desolação que elas trazem.
Aspectos Técnicos
Dororo foi publicado de agosto de 1967 até julho de 1968 em periodicidade semanal na Weekly Shounen Sunday da Shogakukan. No ano de 1969 ganhou uma versão animada pela Mushi Productions (a produtora de animes de Tezuka).
O mangá foi compilado na época(1967~1968) em 3 volumes pela Shogakukan, depois em 4 volumes em bunkouban pela Akita Shoten (1971) e depois novamente em 3 volumes pela Kodansha (1981), mas dessa vez em formato Wideban.
Há também um filme em live-action lançado em 2007, mas só é recomendado à aqueles que não têm medo de spoilers. Para quem não gosta de saber o que vai acontecer é bom nem olhar os cartazes do longa, ou vão perceber de cara um segredo que só vai ser revelado no final da história.
Tal filme foi lançado no Brasil em 2008 pela Visual Filmes e não é muito fácil de ser encontrado.
Impressões
Dororo é um ótimo mangá. Apesar das diferenças com os shounens atuais dá pra ver que estão presentes a maioria das coisas que são a base dos quadrinhos para garotos de hoje em dia: a amizade entre Hyakkimaru e Dororo, os duelos, um objetivo maior (recuperar o corpo perdido) que serve como ponto de partida para a jornada, a mensagem edificante de amor pela humanidade (que permeia todas as obras do Osamu Tezuka) e a visão do lado ruim da humanidade sem perder a esperança no que há de melhor nela.
Dororo se diferencia dos mangás atuais obviamente pelo traço, pela ausência de retículas (todos os fundos, traçados etc. foram feitos a mão), pela orientação clássica dos quadros em cena (ainda que dinâmicos são sempre quadrados ou retângulos com pouquíssimos casos em que há alguma falta de simetria nos quadros).
Temos também um aproveitamento de página muito maior, já que grande parte das páginas têm entre 8 e 10 quadros contra 5 ou 7 dos mangás atuais, sem contar a total ausência de páginas duplas tão comuns como recurso dramático. Até mesmo uma única página totalmente ocupada por um único quadro é raro e só vão surgir no segundo volume da obra.
Em compensação Dororo é muito mais denso que os shounens atuais: o que costuma ser uma saga nos mangás de hoje é resolvido em um ou dois capítulos em Dororo (e muito bem resolvido, Tezuka está em plena forma). É um shounen que ao invés de causar aquela sensação de fast-food te dá uma sensação de prato principal, você precisa de tempo para digerir (refletir) um volume de Dororo, e para ser honesto muitas vezes um único capítulo pede reflexão.
Como já mencionei antes (sem aprofundamento) Dororo é um retrato da devastação causada pelas guerras, da falta de solidariedade humana quando tudo em que você pensa é conseguir sobreviver até o dia seguinte e de que apesar de alguns defeitos serem potencializados pela guerra, alguns sentimentos nobres também podem ser aflorados.
Tezuka entende bem de guerras, a adolescência e os primeiros anos de vida adulta dele se passaram durante a Segunda Guerra Mundial. Quem leu a biografia em mangá lançada pela Conrad entenderá bem como a guerra o marcou e como ele lutava em prol da paz colocando sua experiência de vida e sentimentos anti-guerra em todas as suas obras.
Acabamento e Adaptação
O acabamento da Newpop está ótimo, em papel ofício em formato 15 x 21, 208 páginas, com orelhas com uma minibiografia e preço de R$24,90 fazem justiça à obra. A capa está muito elegante também, só não gostei muito da fonte que usaram para escrever o nome do Osamu Tezuka, acho que deveriam ter colocado o nome todo em caixa alta. A contra-capa também está muito bonita.
A adaptação do primeiro volume está intocável, com exceção de um “semrpe”, um erro de digitação bobo, mas ainda aceitável. No segundo volume, entretanto a adaptação não está tão boa, parece que eles não se decidiram se usariam os honoríficos ou não já que uma hora usam o “-sama” (sem nota explicativa, o que é pior) e “dono-sama” e depois somem todos os honoríficos como se eles não existissem. Eu penso que usar honoríficos ou não é uma opção editorial, mas precisa haver bom senso, se você opta por não usá-los então não os use nunca, mas se você opta por usá-los todos devem ser mantidos e com as devidas notas explicando seus significados, alternar o uso não é aceitável.
A Newpop definitivamente precisa melhorar as suas revisões, esse não é o primeiro (nem o quinto) mangá com problemas adaptação.
Outro fato que também merece ser citado: o terceiro volume da obra foi lançado na surdina (entenda: sem que ninguém fosse avisado) e já pode ser encontrado na Comix. Curiosamente a edição não aparece nem no site oficial da editora – que aliás, está abandonado à meses. Depois reclamam quando não vende (sem contar que é uma tremenda falta de respeito com o leitor)…
Considerações Finais
Dororo é um ótimo mangá do Tezuka, em uma de suas melhores fases e é mais do que recomendado. O acabamento físico está muito bom nas duas edições que li, a adaptação no primeiro volume está muito boa, mas no segundo volume há uma queda, parece que falta coerência, uma espécie de falta de identidade, como se muitas pessoas tivessem mexido no projeto e cada uma tivesse feito um pedaço dando a ele uma personalidade diferente formando um “Frankenstein”.
Dororo é o retrato de uma época em que as pessoas tinham mais esperanças com o futuro, em que apesar de ser um tempo mais negro, ainda havia esperança de que poderia melhorar, sem o cinismo dos mangás sem esperança (ou esperança falsa e artificial) dos dias atuais.
Título: Dororo – Volumes 1 e 2
Autor: Osamu Tezuka
Formato: 15 x 21, 2o0 páginas em média
Duração: 04 volumes
Periodicidade: Sem definição
Preço: R$24,90
Demográfico: Shounen
Gênero: Ação, Luta, Drama
Dos títulos de Tezuka apenas li metrópolis….e assisti a alguns episódios de Don Drácula, mas vou dar uma olhada em Dororo.
Esqueceram de mencionar que tem um jogo pra PS2 da série, chamado Blood Will Tell.
Quero muito comprar Dororo, mas é difícil comprar os mangás da NewPop, ele não chegam em minha cidade e os sites que vendem online cobram valor muito alto pelo frete :( Vou ter que arrumar alguma maneira.
McFly, compre na ligahq.com.br que ñao cobra frete algum.
LigaHQ não trabalha com NewPop, infelizmente… =(
=/ queria saber de k-on sem mais noticias?será que foi cancelado?
Tezuka é para mim, o único mestre na arte dos mangás.
Muito que do que ele criou se tornou base para os que o sucederam (pena que os mais jovens esqueceram das lições dadas por ele em vida).
Mesmo não tendo mangás dele publicados no Brasil, algumas de suas obras animadas, marcaram muito minha infância.
Tanto que até hoje, me apego mais na história em si, do que nas cenas de combate sem lógica.
Espero que os futuros desenhistas, possam não só aprender com o Tezuka, mas com tantos outros que se foram após ele.
Como os grandes Bonelli, Jack Kirby, Joel Shuster, Joe Robinson, Will Eisner, Michael Turner, entre outros.
Muito obrigado pela resenha. Pois os novatos que hoje almejam desenhar como o Tite Kube, Oda, ou até o Drogado de Naruto, precisam ver que nem tudo são sagas intermináveis, ou fillers para gerar dinheiro.
mangá, em si é para contar uma história, que sempre chegará a um final. Mesmo que este nunca tenha sido concluído.
Bah, também quero saber noticias de k-on =/
Dororo tem um final sim, ele não recupera todas as partes do corpo, mas a história tem um desfecho bem bacana sim. Só não digo o que é por ser spoiler, esperem até a edição 4 sair.
@Kuroi.
Foi um modo de dizer.
Uma pena nao ter conseguido até hoje encontrar os mangas de Dororo em lugar nenhum e olha que moro em uma cidade com mais de 600 mil habitantes no interior de Sp, uma das mais importantes do interior.
Procurei nos varios shopings daqui e NADA, livrarias e NADA apelei até em bancas convencionais tb e NADA.
Liga HQ nao tem Dororo ja fui procurar tb.
Os unicos lugares sao a comix book facada shop e a loja horrivel e pessimo atendimento da anime-pro. ambas enfiam a facada no frete cobram um preco absurdo e descomunal.
Nao sei o q fazer querai comprar mas ta dificil já tentei falar até com o Junior, sobre a questao da distribuicao e até mesmo a periodicidade mas ele nem se importou.
Comprei, lí e recomendo, muito bom o mangá, espero que publiquem outros mangás clássicos não só do Tezuka, como Ge Ge no Kitaro e Ashita no Joe… mas sendo realista, acho tão dififícil que esses mariais saiam por aqui, uma pena. T_T
Já sei o que pedir de niver esse ano! :wink:
O Ruim é que Não vende Mangá da NEW POP aqui na minha cidade:crying::crying::crying:
Justo agora que publicam a MELHOR obra do Osamu Tezuka:crying::crying::crying:
mcfly, no site http://www.banca2000.com.br tem os 3 volumes de Dororo com desconto, claro que cobra frete, mas dai sai elas por elas como se nao tivesse frete ^^
[…] a versatilidade da sua vasta produção. Para isso nada melhor do que o bom texto do conhecido JBox sobre um dos poucos mangas que chegaram no Brasil; Dororo. Essa análise pode ser completada com o […]
Li só agora a matéria, com mais de uma semana de atraso…
Anyway, como já comentei anteriormente num outro post há muito tempo atrás (não lembro se era um post sobre Dororo ou sobre a própria Newpop), apesar de ter gostado da edição nacional de Dororo, teve vários pontos problemáticos.
Na primeira edição, lembro de vários erros de digitação/acentuação.
Na segunda, não lembro de muita coisa… mas na terceira edição, mais uma vez temos falta de revisão, ex. “Ele queriam dormir” (pag. 114).
Outra coisa, na página 126 (também da edição 3) tenho a impressão de que os textos dos balões estão invertidos.
O “Irmão, agora eu entendi!! (…)” e o “Foi ela mesmo que falou.” parecem ser ditos pelo Dororo, enquanto o “Tem certeza?” pelo Hyakkimaru, mas aqui a Newpop colocou o “Tem certeza?” no balão que aponta para o Dororo e o “Foi ela mesmo que falou” apontado para o Hyakkimaru, que não faz muito sentido.
E a coisa que mais me incomodou (e que está presente em todas as edições) é a definição da imagem.
Como dito na resenha, Dororo não possui retículas, mas se tivesse, acredito que esta seria mais uma publicação da Newpop com problemas de moiré, porque é possível enxergar “serrilhados” em todos os traços da arte (enquanto as letras dos balões estão lisinhos).
Então, os trabalhos da Newpop possuem uma apresentação melhor que JBC/Panini, mas eles precisam resolver esses problemas de revisão.
E esse problema de impressão (ou escanemaneto/whatever) é um dos pontos que mais me decepciona, que acaba desvalorizando a nota que eu daria para a Newpop, porque é uma pena acontecer isso ainda mais em títulos com acabamento mais caprichado, como Dororo e K-ON.
Já “Amar e ser Amado”, por exemplo, não apresenta esse problema de moiré/serrilhados, então não sei qual a origem do problema, mas seria bom se a editora tentasse resolver.
K-ON já chegou nas bancas?
[…] a versatilidade da sua vasta produção. Para isso nada melhor do que o bom texto do conhecido JBox sobre um dos poucos mangas que chegaram no Brasil; Dororo. Essa análise pode ser completada com o […]