Após um hiato digno de Hunter X Hunter, hora de voltar com o Otaku Neoclássico. E nessa reestreia, antes de partirmos para as bizarrices e polêmicas tão características, vamos para algo mais leve — Sakamichi no Apollon.
Adaptado da obra homônima de Yuki Kodama, o anime conta a história de Kaoru Nishimi, um garoto da cidade que é forçado a se mudar para o interior. Com extremas dificuldades de se relacionar com outras pessoas, Kaoru rapidamente chama a atenção de Sentaro Kawabuchi, o aluno mais temido da sala. Com o tempo, porém, uma amizade entre os dois se forma sob a força do Jazz, enquanto os dois enfrentam os problemas da adolescência.
Acho que é extremamente natural que surjam comparações com BECK. Na verdade, após assistir Apollon é quase impossível não fazer esse paralelo. Em ambos temos jovens reclusos se transformando pela música, se juntando a um garoto problemático, se apaixonando por uma garota próxima ao garoto problemático e tem suas atitudes questionadas.
Porém, enquanto BECK usa esse questionamento e essa revolta contra o sistema imposto como sua principal força motriz, Apollon segue o caminho oposto. De certo modo, isso poderia ser previsto desde o começo, pois se o Rock’n Roll é a música de revolta por excelência (óbvio, isso pode, sim, ser questionado, mas isso não é uma coluna sobre música, OK?) o Jazz é a música de melancolia por excelência (o que também pode ser questionado). De fato, esse posicionamento é definitivamente marcado no momento em que Sentaro recusa os Beatles como “música por qual garotas gritam”. Essa diferença básica guia as escolhas e soluções selecionadas por ambas as séries e, no fim, é o que torna cada uma delas única a despeito de suas semelhanças.
Com isso de lado, hora de falar do anime em si. A primeira coisa que se deve-se destacar é que essa série é a reunião de dois nomes que muitos aqui conhecem de outra série: Shinichiro Watanabe e Yoko Kanno, diretor e compositora de Cowboy Bebop. E isso pode ser visto com facilidade em Apollon, desde seu ritmo cadenciado (e lento demais em alguns momentos, vale dizer) até o clima melancólico de muitas cenas.
Outro ponto de semelhança entre os dois é a força que a música tem sobre a série. Se em Cowboy Bebop isso era algo importante, aqui se poderia dizer que a trilha sonora é a própria alma da série. Em muitos momentos sequer há falas, apenas ações e músicas no fundo. Como dito em um review do ANN, “O que não consegue expressar em palavras, Sakamichi no Apollon fala com música”. E isso não seria possível se não houvesse uma compreensão tão grande entre Watanabe e Kanno, algo adquirido de seu trabalho anterior juntos. Em certo sentido, Apollon é a evolução natural do trabalho conjunto dos dois.
Ainda falando da trilha sonora (seria possível NÃO falar dela em qualquer momento?), esse é, possivelmente, um dos melhores trabalhos de Kanno, o que é dizer muito já que estamos falando daquela que é considerada, ao lado de Yuki Kajiura, A compositora japonesa por excelência. A trilha sonora utiliza-se não só de composições originais, mas também de algumas das mais famosas músicas do Jazz americano, com músicas de Bill Evans, Miles Davis e Chris Connor. E mesmo as composições originais têm um feel que acaba remetendo ao cinema Noir. Em alguns momentos é quase possível se esquecer que o que se está vendo é um anime e não Onze Homens e um Segredo (o original).
Aliás, passada no período pós Segunda Guerra, pode-se ver o peso da influência americana no Japão, seja na música, seja nos marinheiros ou em alguns personagens. Isso é algo que sempre esteve presente na cultura nipônica e que, atualmente, com toda a polêmica das bases de Okinawa e os conflitos com a China pelas ilhas Senkaku (ou Diaoyu), está mais em voga do que nunca, com alguns grupos fundamentalistas lutando pelo reestabelecimento da cultura tradicional no país. MAS isso não vem ao caso hoje, então paremos a digressão por aqui.
A série, no geral, tem uma qualidade técnica boa para um TV Anime. O traço é limpo, embora o sombreamento por gradiente possa parecer estranho para alguns, em especial pelo modo como é usado nos cabelos, dando um aspecto um tanto plástico a eles.
A animação em alguns momentos pode também parecer desconfortavelmente mecânica, mas são apenas momentos. A direção, em geral, é sutil e usa muito tempo para construir o clima certo, o que pode ser uma grande desvantagem para os fãs de séries mais rápidas. Algumas passagens, porém, são extremamente… exageradas ao ponto de parecerem saídas de uma novela Mexicana (eu ficava imaginando a Gabriela Spanic dublando isso de vez em quando…).
Sakamichi no Apollon é uma boa série com um clima agradável e uma história leve, ideal para aqueles que queiram ver algo descompromissado ou simplesmente que gostem de jazz. Enquanto não estiverem esperando genialidade, Apollon irá ser uma experiência, no mínimo, agradável.
Número de Episódios: 12
Estúdio: MAPPA, Tezuka Productions
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Eu sinceramente não gostei muito de Sakamichi. Não foi nem porque achei ruim (achei muito interessante até), mas o Jazz deixou totalmente de ser o elemento principal a partir do meio da série para virar uma novela das seis da Globo. Sakamichi é interessante? É, mas eu queria ver Jazz, não uma série que [SPOILER] se encerrou praticamente do mesmo jeito bobo que começou, o que demonstra que os personagens não evoluíram de jeito nenhum ao longo do enredo [FIM DO SPOILER]
Os primeiros episódios podem ter um ritmo bem lento, mas o final da série é a maior correria. Cada um dos 3 últimos episódios cobre um volume inteiro do mangá, cortando várias cenas e atropelando vários momentos, mas pelo menos o anime termina de forma satisfatória.
E gostei muito do fato de Shinichiro Watanabe ter exigido que cada episódio tivesse pelo menos uma apresentação musical. É aí que o anime brilha de verdade, não só pela música, mas pelos movimentos desenhados por cima de performances reais. Chega a ser meio desconcertante, já que essas cenas têm bem mais quadros por segundo, mas achei o resultado bem melhor que as performances em CG de Nodame Cantabile.
Sakamichi no Apollon é sensacional.
Para quem viu apenas o anime eu aconselho a ler pelo menos os últimos capítulos do mangá (os quais tornam a trama ainda mais interessante). @Sobre Sakamichi: o final do enredo é surpreende e excitante, os personagens são cativantes (meu deus, o Sentarou é FODAAAAAAAAAA sz sz amo ok), a abertura do anime é nada mais do que épica, a trilha sonora é excelente, o traço do desenho é muito bom, a trama é espetacularmente narrada/dirigida (minha fan-side pode ter extrapolado algo ok), além de retratar fielmente o que propõe (um romance no Japão na década de 60 com uma pitada de Jazz). O que dizer, se não um dos melhores animes do ano?!(competindo pau a pau com Fate Zero para ser o melhor, imo obviamente)
Muita gente não tinha expectativas no começo do anime. Mas depois de passar a “introdução” e o anime começar de verdade não tem como não ver até o final!
Mas no final confesso que ficou faltando alguma coisa. Podiam lançar um OVA que mostrasse eles se encontrando e ficando juntos(ou tocando juntos).
Também escrevi uma review sobre isso. Se quiser ver:
http://www.coffeeunlocked.com/wordpress/review-sakamichi-no-apollon/