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Antes de falar do box do Jiraiya relançado no final de fevereiro de 2014 pela Focus Filmes, vamos conversar um pouco sobre nosso triste mercado de home vídeo.

No Brasil, o descaso das empresas com seus clientes é percebido em vários segmentos. Mas nenhum deve causar tanta frustração no consumidor quanto o de home vídeo. O setor que foi atingido por uma crise gigantesca – na proporção que a internet banda larga se popularizou no país – tenta até hoje sobreviver, em meio a uma disputa desleal com serviços de streaming online e os downloads ilegais.

Dentro de uma cultura que só falta cobrar imposto do ar que respiramos, as empresas alegam que os preços praticados nos lançamentos são reflexo de tributos e uma tentativa de recuperar o investimento na série ou filme que compraram – que custam uma fortuna, só pra constar; fora dublagem, autoração, direitos conexos, embalagem, design…

Dessa forma, assistimos a lançamentos de DVDs ou Blu-rays a preços bem desinteressantes, na maioria das vezes, o que desanima boa parte dos entusiastas a comprar. Então as empresas não enxergam o retorno financeiro do investimento e passam a refletir várias vezes antes de investir em determinado gênero de filme, desenho ou seriado.

Mesmo possuindo uma enorme legião de fãs no Brasil, poucas são as empresas que apostam no segmento de produções japonesas no mercado brasileiro. Essencialmente, podemos afirmar que  a Focus Filmes / FlashStar Home Vídeo (são a mesma empresa com nomes fantasia diferentes) e a PlayArte investem pra valer nesse nicho.

Não, a Sony não liga pra animes e quando lança algo é fruto de uma estratégia comercial global que acaba respingando por aqui. Outras distribuidoras (Imagem Filmes, Paris Filmes, Warner, Europa…) em algum momento disponibilizaram algo, mas nada comparável com a frequência que as duas empresas supracitadas o fazem.

Então; se tem fãs pra caramba, como esse negócio não dá certo?! Porque não temos um mercado forte como nos EUA?

Simples: a galera NÃO compra! Já fomos obrigados a ouvir de representantes de várias empresas que investir em animes ou mesmo tokusatsus é um risco de furada enorme. Primeiro porque os japoneses são gananciosos e cobram valores comparáveis a blockbusters hollywoodianos por suas produções mais recentes – por isso animes como Shingeki no Kyojin não chegam ao Brasil; tipo nunca. E segundo porque os fãs de anime e mangá são na sua maioria economicamente dependente da mesada dos pais.

Quando a cultura pop japonesa começou a fixar no Brasil pra valer, no começo dos anos 2000, algo de errado ocorreu na “formação genética” dos fãs e hoje temos uma geração pra lá de… Chata! Só pra vocês terem noção, tem uma corrente de fãs xiitas que não gosta de ver seus “animes favoritos” sendo lançados oficialmente no Brasil pois eles passariam a ser populares e perderiam o status de “cult”.

Isso sem contar as eternas discussões acerca do tema dublado x legendado. Tem gente que é tão incoerente que esquece que dublagem é uma opção! Se não quer ouvir em nosso idioma, basta alterar!!!

O resultado disso é bastante sem sentido: os fãs pedem um monte de títulos, mas quando lançam, poucos são os que verdadeiramente compram. Já os de tokusatsu pedem um monte de velharia, que sequer ganharam versão brasileira, achando que todo mundo vai comprar pela qualidade de roteiro dos episódios. Ah vá…

Quando vamos falar em números, pouca coisa é divulgada no Brasil; mas quem conhece um pouco os bastidores do negócio, sabe que o que mais vendeu na última década em termos de produções japas foi a nostalgia. Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion, Changeman, National Kid… Só pra citar uma prova de como não dá pra depender dos fãs para assegurar o sucesso de um investimento; Ryukendo vendeu na época do seu lançamento pouco mais de 100 unidades (!!!).

“Ok…  Nostalgia vende. Mas ainda tem muita coisa legal que não foi lançada e eu via quando criança… Cadê Shurato? Street Fighter II V?  Black Kamen Rider? Zillion? Patrulha Estelar?!”

Aí entramos em um paradoxo: se supostamente as empresas observam um retorno interessante quando apostam em nostalgia, por que demoram tanto pra investir em títulos que tem um bom potencial comercial?

E aí nos deparamos com alguns casos vergonhosos que nos fazem ver que nem sempre a má vontade, pouca grana e a carga tributária são os verdadeiros culpados da coisa não dar certo. Parece que as empresas não possuem pessoas que realmente entendem do negócio!

Comecemos com o Dragon Ball da PlayArte. O formato altamente repudiado pelos fãs para uma série tão popular e querida (só perde pra Saint Seiya mesmo) já tinha seu destino traçado. Dragon Ball Z infelizmente parece que tomará o mesmo rumo… Por que diabos a PlayArte não consegue trabalhar com esses títulos de uma forma coerente com o número de episódios que cada uma possui? Por que simplesmente não copiar modelos internacionais de lançamento e deixar todo mundo feliz?!

Da PlayArte vamos pro caso Fullmetal Alchemist na Focus Filmes. A empresa alega que as vendas foram abaixo do esperado e por isso descontinuou a série (junto com Hunter x Hunter, Viewtifull Joe e Super Campeões). Compreensível a decisão, mas onde fica o compromisso com a galera que comprou?

Depois de um longo tempo (e muitas mensagens e ligações malcriadas pra empresa por parte de uma galera menos polida) a empresa anunciou o Box Final. Só que ela esqueceu de REVISAR o que mandou produzir e o resultado foi pior que o que ocorreu com Jiraiya: os episódios vieram cortes e edições, em uma caixa de arte preguiçosa (emularam a arte do Box 3) com um destaque informando que os episódios eram originais e sem cortes. FAIL!

Aí os fãs (mesmo os que não compram) reclamam. Com toda razão. Como confiar que um lançamento da empresa chegará até o fim? A gente dá o crédito, comprando o Box 1 das coisas, mas quem nos garante que veremos o Box 2?

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O mais constrangedor e simbólico caso de vergonha no mercado tupiniquim foi o lançamento de Sailor Moon S. A empresa foi parar além da órbita de Plutão e deixou um volume lindo (a arte ficou excepcional) da fase S na Terra. Sim… Fecharam contrato pra lançar a partir da terceira temporada mesmo. Assim… Bem estratégico, né?

Desculpas são sempre proferidas. Mas do lado de fora, e com um pouco de estudo, dá pra identificar uma das falhas que sabota o sucesso de animes no Brasil em home vídeo: estratégia de marketing.

Pode ter o piratão lá vendendo naquele evento badalado. Mas se o produto brasileiro possuir qualidade, duvido que as pessoas se sentirão motivadas a comprar o “paralelo” (até porque tem de graça na internet, né?). Uma prática que pouco se assiste no Brasil é a produção de edições especiais para colecionadores. Ora bolas, quem quer consumir esse tipo de material são  pessoas com o intuito de guardar na estante de sua sala e se orgulhar do investimento feito. Querem artes lindas nas capas e contra capas e brindes. Projetos gráficos diferenciados (já viram DVDs e CDs coreanos?!) e episódios com qualidade de imagem e som.

Fã comum já tem o negócio baixado no seu HD!!! Colecionadores importam sem se preocupar com preço (só com a alfândega que ficam preocupados ultimamente) suas edições superlegais.

“Não compensa… Os impostos fariam com que o produto chegasse muito caro no mercado” – pode pensar algum empresário.

Será que um esquema de tiragem limitada não funcionaria?

Estamos falando de Focus e PlayArte, mas saibam que Fox, Warner e até a Disney também comentem gafes e erros. E nem vamos entrar no mérito dos “detalhes técnicos” (cadê o áudio 5.1 ou o áudio original que estava escrito na embalagem? Por que só lançar com dublagem em português?) senão essa coluna durará 1000 dias…

A impressão que fica é que as empresas pagam (caro) por  um produto, trabalham de qualquer forma (o box do Yu-Gi-Oh! 5D’s que o diga! Tem um episódio com áudio simultâneo em inglês e português x_x) e esperam que as pessoas comprem só porque estão lançando. Como se fosse obrigação dos fãs comprar pra sustentar o mercado. Não é assim que a banda tem que tocar…

Mas eis que depois de MUITO TEMPO e sem qualquer interesse em fazer uma promoção em cima disso (marcaram bobeira de novo!), a Focus Filmes decidiu se redimir daquele que pode ter sido o marco zero da avalanche de críticas e desconfiança da nação otaku contra a empresa. Jiraiya O Incrível Ninja, a edição especial de 10 DVDs relançada, foi totalmente refeito.

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Já faz um tempo que a Focus anda “requentando” seus lançamentos, colocando todos os DVDs de determinada série em um Digistack sem box – o que particularmente achamos horroroso, pois as pontas das embalagens sempre ficam amassadas. Jaspion, Flashman, Jiban, Changeman e National Kid, que originalmente foram lançados no esquema lata volume 1 e box digistack volume 2,  estão disponíveis nesse formato “edição especial” há um tempinho já. Restava Jiraiya.

O incrível ninja – que desencadeou uma mania no Brasil, ao lado das famigeradas Tartarugas Ninja, no começo dos anos 90 – teve uma série de problemas na época do seu lançamento que não vamos lembrar mais aqui pois já foram amplamente comentados e discutidos.

O que mais interessa aqui foi a iniciativa da Focus Filmes de refazer todo material, administrando atenção ao processo de autoração para impedir que as falhas do lançamento anterior fossem reprisadas. A fonte para produção dos novos discos foram os DVDs japoneses, aumentando assim a qualidade da imagem e diminuindo o problema de contraste visto na versão antiga. Vale lembrar que Jiraiya é uma série filmada em 1988, e dessa forma, não pode-se esperar que sua imagem seja um primor da alta definição.

Há extras idênticos aos do box japa e as legendas além refeitas (tinham uns erros de português grosseiros), agora são selecionáveis – não mais embutidas na abertura e encerramento. Dos 50 episódios da série, 30 estão com previews dublados (*-* lindo aquele vozerio em português falando o nome do herói e o narrador empolgando falando “ninja olimpíada Jiraiya” *-*)  e os demais estão sem áudio – só com a trilha sonora original.

A polêmica oriunda da fonte dos áudios em português (muitos apontam que pegaram dos DVDs piratas que existiam na época) foi amenizada com uma sensível melhora na qualidade dos mesmos, com exceção do episódio 47 – que já tinha problemas de ruído no box antigo, mas foi atenuado no novo box.

Para alegria geral da nação, a lendária chamada de “numa distribuição TOP TAPE” (empresa que trouxe a série para o Brasil nos anos 90) e o “versão brasileira Álamo” foram mantidos, corrigindo a feiosa edição da trilha que fizeram no passado. Por fim, os menus foram refeitos, dando um ar de novidade pro negócio.

Quem possui o box antigo pode se sentir injustiçado, mas sinceramente a arte do novo não ficou tão legais quanto as do velho. Atrevo-me a dizer que vale a pena comprar o novo Box e substituir os discos na embalagem antiga (os labels impressos nos DVDs são os mesmos :P). O que fazer com os DVDs velhos? Dá pra alguém que não ligue tanto pra qualidade quanto vocês e só queira matar saudade de seu herói da infância =D

A atitude da Focus Filmes não é digna de nota pois essa ação não é mais que obrigação por parte da empresa. Ela não está fazendo nenhum favor para fã, está apenas fazendo o certo. De quebra ainda limpa um pouco sua imagem.

Fica aqui o registro para que Fullmetal Alchemist também ganhe uma reedição nos mesmos moldes e que um dia resgatem os planos para lançar Black Kamen Rider.

Enquanto não existir um equilíbrio entre o apoio dos fãs (do que adianta um lançamento maravilhoso se ninguém mete a mão no bolso pra comprar?) e uma urgentíssima melhora na qualidade de produção de TODAS as empresas de home vídeo, não enxergo com otimismo  uma mudança de cenário no mercado.  E você?

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Agradecimentos ao leitor Leonardo Guerreiro.