Em japonês, hentai (変態 ou へんたい) significa originalmente “atitude estranha”, “comportamento fora do comum”. A palavra também é usada como uma abreviação da expressão hentai seiyoku (変態性欲), que significa perversão sexual, e, quando usada coloquialmente, expressa um ato sexual em condições extremas. No Japão, o termo também é empregado com referência a mangás e animes que tenham forte conteúdo sexual.
[Via Wikipedia]
Você pode saber mais sobre o tema na matéria O Grande Guia do Hentai e Fetiches, publicada em 2011.
O conteúdo a seguir é destinado a maiores de 18 anos.
[aviso]Estou ciente e tenho mais de 18 anos.[/aviso]
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Ei, psiu. Você aí. É, você mesmo. Você gosta de sacanagem, né? Safadinho. Mas relaxe. Todo mundo gosta. Qual é o tipo que você consome? O bom e velho pornozão em vídeo do dia a dia? Gifs no Tumblr? Aah, já sei. Tu prefere em desenho, não é? Algo europeu e detalhado, tipo Milo Manara? Acho que não. Já sei! Gibizinho japonês. Acertei? Hum, pela risadinha de canto de boca que você tentou disfarçar, penso que sim. Hentai, é? Caramba.
Não se sinta (tão) culpado. Na verdade, pornografia hentai é uma das mais procuradas em sites especializados pela galera aqui do Brasil. Ou seja, é um amor oculto compartilhado por vários outros. E é mais ou menos sobre essa paixão coletiva que gira entorno um dos mangás mais inusitados lançados pela NewPOP este ano: A Estrela do Hentai.
Escrito por Morihito Kanehira, serializado na revista adulta Young Comic e compilado em 2 volumes fechados, o gibi de humor metalinguístico conta, com várias livres interpretações, uma “biografia” ligeiramente baseada na jornada do autor em atingir a “estrela do hentai”. Se apelidando de Verme Desprezível, Kanehira se descreve como um otaku virgem de 40 anos, que sonha em se tornar um mangaká famoso dentro do nicho pornográfico. No entanto, ele é munido apenas de sua força de vontade, visto não possuir talento para desenhar, roteirizar ou quaisquer outras obrigatoriedades necessárias em tal meio.
Tento isso como ponto de partida, somos introduzidos ao percurso que ele atravessa, auxiliado por uma misteriosa figura feminina que lhe faz o papel de sensei, até adquirir tais skills. E cada arco narrativo se foca em uma delas. De desenhar corretamente seios, até acertar os detalhes que tornam bundas produtos extremamente sensuais. De saber brincar corretamente com clichês nas falas dos personagens, até adicionar as onomatopeias perfeitas nas páginas. De preparar corretamente um layout para que o “ápice” fique pro momento correto, até diferenciar pelo traço corretamente os variados tipos de fluidos excretados pelos que estão nos quadros.
E boa parte do ouro do mangá está em, de fato, conseguir construir algumas esquetes realmente engraçadas baseadas nesses ensinamentos. Gosto muito de um momento onde sua obscura mestra transforma uma foto de luta de sumô em uma cena erótica, só com a inserção de sons escritos. Sozinho, já valeria o mangá inteiro. Adoro também todo o episódio com ele aprendendo a desenhar bucetas. É hilário de tão ridículo. Rola uma piada com o modo como os filmes pornôs japoneses são censurados que é de gargalhar.
Aliás, outro ponto alto é o esbanjamento de críticas, extremamente sarcásticas, pra cima do público que consome hentai. O autor pinta essa parcela tão ironicamente que, tal como religiosos que enxergam no Ned Flanders, d’Os Simpsons, uma figura positiva e não de chacota, é provável que tais otakus realmente se orgulhem ao ler isso, enquanto todos ao redor riem em estado de vergonha alheia. Nos bastidores de produção, nos eventos de fãs, nos guetos de mangakás fracassados. É tudo tão expositivo, agressivo.
E as piadas não se limitam só ao próprio nicho. Kanehira parodia Osamu Tezuka (sua obra prima é intitulada como “Aquilo de Ayako“), Onde está o Wally?, Cyborg 009, vários e vários shonens de lutinha famosos, inclusive pegando o estilo de narrativa dessas histórias e aplicando na “jornada do herói” vivida pelo Verme Desprezível. São brincadeirinhas variadas em níveis superficiais e aprofundados divertidas de pescar, que tornam a experiência de leitura mais fluída, entretendo como um produto.
Só que, algumas coisas nele, por mais que sejam muito específicas e provavelmente feitas pensando exclusivamente no tipo de consumidor dessa fatia editorial, são impossíveis de ignorar quando vistas de fora dessa bolha. A pior é o uso perturbador de lolicon¹. Há uma variedade de desenhos, com um foco em visuais mais adultos pras personagens desenhadas em cenas eróticas. Porém, as coisas ficam meio bizarras quando, em dados momentos, surgem algumas meninas mais infantilizadas. Isso até pode ser entendido como parte da crítica interpretável no mangá? Sim, claro. Mas não deixa de ser incômodo. Um incômodo que é parte da experiência (eu, particularmente, o julgo como positivo para o contexto, pois ilustra essa parcela dentro do meio), mas que pode estragá-la para alguns.
A Estrela do Hentai pode ser lido tanto nessa linha mais irônica em relação ao público e à indústria de quadrinhos pornográficos, o que deixa tudo mais interessante quando olhado com distanciamento, quanto como uma homenagem à essa mesma demografia, o que também funciona. Além da história principal, rolam entrevistas e comentários de figuras ilustres desse gênero. A metalinguagem de um mangá sobre um autor criando um mangá é interessante. As gags visuais e intertextuais são divertidas. O pacote todo é bem propício ao entretenimento. Claro, levando em conta a tolerância do leitor para os momentos mais grotescos já citados. Inusitado, mas surpreendente.
¹ Abreviação de “lolita complex” (complexo de lolita), usado no Japão para se referir a obras que retaram crianças/pré-adolescentes em situações eróticas ou sexuais.
A Estrela do Hentai é um mangá para maiores de 18 anos. Foi publicado pela NewPOP em dois volumes, capa cartão, miolo em papel offset, formato 14,8 x 21 cm, com preço de capa em R$21,90.
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