Quando compramos um mangá físico, as variáveis que a gente leva em consideração para decidir onde fechar a compra online geralmente são em relação ao preço e ao atendimento, pois o mangá físico, em teoria, seria geralmente o mesmo em qualquer uma das lojas.
Mas e no caso dos mangás digitais? Há alguma diferença entre uma loja ou outra?
Senta lá que o post deve ser longo. :)
Atualmente, apenas as duas maiores editoras de mangás estão distribuindo seus conteúdos digitalmente, sendo a JBC a pioneira, iniciando as vendas no formato desde novembro de 2017, e a Panini que começou no segundo semestre de 2018.
No caso da JBC, ela soube fazer a lição de casa, criou um índice em seu site onde permitiu que fosse possível descobrir facilmente quais títulos estão disponíveis nas plataformas digitais. Mais tarde ela deu início também ao primeiro simulpub de mangás no Brasil, onde os novos capítulos de um mangá são lançados simultaneamente com a publicação japonesa. Tudo bem informado através das postagens do site da empresa.
Os mangás digitais da editora são vendidos através da Amazon, Google Play, iBooks e Kobo.
E depois temos a Panini… ah, a Panini… não houve muito esforço por parte da editora em manter um local fixo para se obter informações sobre as suas publicações digitais. Quer saber quando vai sair um volume novo? Sinto muito, mas vai ter que ficar scrapeando os sites de venda diariamente pra ver se apareceu alguma novidade (ou pode ficar de olho no Blog BBM, que eles fazem o serviço sujo por você).
Assim como a JBC, ela também disponibiliza pela Amazon, Google Play, iBooks e Kobo.
Sobre as Lojas
iBooks da Apple
Esta é a loja que faz parte do ecossistema da empresa da maçã.
A compra e leitura podem ser feitas apenas através dos dispositivos com sistema iOS (e possivelmente macOS), que acaba limitando bastante o acesso.
O pagamento deve estar limitado apenas a cartão de crédito ou saldo na conta iTunes.
Google Play Livros
É a plataforma de livros da Google Play. Ela possui aplicativos para as plataformas Android e iOS, permite o acesso aos conteúdos através do navegador, além de também permitir baixar o arquivo em formato PDF ou ePub, ambos criptografados, que podem ser lidos no desktop através do aplicativo Adobe Digital Editions.
O pagamento pode ser feito através de cartão de crédito ou de créditos adicionados à conta Google.
Loja Kindle da Amazon
O Kindle possui apps para as plataformas Android e iOS, um programa para computadores desktop (que bizarramente não oferece opção de dar zoom nas páginas) e também oferece suporte ao e-reader de mesmo nome.
No caso da utilização do e-reader, ele funciona, mas pessoalmente acho que o tamanho da tela é muito pequeno (cerca de 12x9cm, no modelo Paperwhite).
Apesar de a Amazon ter adicionado suporte a boletos recentemente, a compra de ebooks ainda está limitada apenas para pagamentos via cartão de crédito.
Rakuten Kobo
Assim, como o Kindle, a Kobo possui aplicativos para as plataformas Android e iOS, um aplicativo para desktop e também tem o seu dispositivo de e-reader, que foi lançado no Brasil em parceria com a Livraria Cultura uns anos atrás.
Ah, aparentemente também é possível baixar a licença para usar no Adobe Digital Editions, porém nos meus testes, apesar do Digital Editions aceitar a licença baixada da Kobo e baixar os arquivos do ebook, o programa sempre mostrava a mensagem de erro ao tentar abrir o livro.
A compra pode ser feita pelo próprio site da Kobo ou pelo site da Livraria Cultura.
No caso do site da Kobo, o pagamento pode ser feito através do cartão de crédito ou de uma conta Paypal.
Já a compra através da Livraria Cultura, após a vinculação da conta com a Kobo, pode ser fechada via cartão de crédito, boleto, PagSeguro entre outros.
Comparação de Qualidade
Cada plataforma apresenta na maioria das vezes uma qualidade similar, mas curiosamente no caso da Editora Panini, em uma das lojas a qualidade apresenta uma diferença enorme em comparação às outras.
Em alguns casos, as comparações foram feitas usando algumas edições compradas e em outros foram usados as amostras gratuitas fornecidas pelas plataformas. Vale notar-se que, em análises feitas pelo menos na Amazon e na Kobo, a qualidade presente nas amostras são as mesmas que da versão que foi comprada.
As comparações foram feitas usando os aplicativos disponíveis para a plataforma iOS, utilizando um iPad 2017 (5ª geração), que possui “tela retina” com uma resolução de 2048×1536 px.
Editora JBC
(clique para ver com mais detalhes)
Esta comparação foi feita usando o volume 12 de My Hero Academia.
Foram utilizadas as amostras grátis da Amazon, iBooks e Google Play, enquanto da Kobo foi utilizada a edição completa.
Em todos os casos a qualidade foi bastante similar.
Ao que parece, apenas a versão do iBooks possui uma aparência um pouco mais borrada.
Editora Panini
(clique para ver com mais detalhes)
Esta comparação foi feita usando o volume 2 de The Promissed Neverland.
Foram utilizadas as amostras grátis da Amazon, iBooks e Google Play, enquanto da Kobo foi utilizada a edição completa.
De maneira muito estranha, a qualidade no aplicativo Kindle está bem inferior ao apresentado no restante das lojas. Fora o Kindle, a versão iBooks mostrou mais uma vez uma aparência levemente mais borrada, enquanto a Kobo e o Google Play apresentam uma imagem bem similar, com uma diferença maior apenas no contraste entre ambas.
Preços
Não vou entrar muito no mérito do preço de capa colocado pelas editoras, pois na maioria dos casos eu não concordo com o valor cobrado. Apesar de eu gostar muito mais de ler no tablet, várias vezes optei pela edição física por encontrar ela com um preço muito mais barato do que o preço cobrado pela edição digital.
Continuando com as comparações entre as 4 lojas, pelo que pude ver, iBooks e Kobo parecem cobrar sempre o preço de capa. Ainda sobre a Kobo, comprando pela Livraria Cultura, talvez seja possível ganhar uma pequena porcentagem de desconto em caso de efetuar o pagamento via boleto (depois que o boleto for compensado, o ebook é adicionado automaticamente à conta Kobo vinculada).
Já a Amazon e a Play Livros ocasionalmente possuem alguns descontos em volumes aleatórios.
Problemas
No caso da JBC, não pude presenciar nenhum problema específico por plataforma, já da Panini, onde além de presenciar o problema da qualidade citado anteriormente, há também uma falha no que diz respeito à paginação das folhas duplas, presentes apenas na versão vendida pela Amazon.
JBC: Aumento da compactação
Entre o volume 11 e 12 de My Hero Academia, houve uma queda considerável em relação ao tamanho dos arquivos. Apesar de o volume 12 ter umas 15 páginas a menos, o tamanho total do arquivo caiu de cerca de 135MB para apenas 65MB e, pelo menos ela tela do iPad, a definição ficou um pouco mais borrada que nas edições anteriores.
Ao que pude verificar, em séries como Blue Exorcist, esse tamanho de cerca de 60MB parece ser o padrão optado pela editora, infelizmente.
Já The Seven Deadly Sins e Platinum End, por exemplo, as suas edições continuam com o padrão de cerca de 120MB, mesmo nas edições mais recentes.
Espero que a queda do tamanho (e consequentemente a qualidade) tenha sido um problema pontual na edição #12 de My Hero Academia e não que esse seja um novo padrão da editora.
Panini: Qualidade inferior no Kindle
Originalmente, eu havia comprado o primeiro volume de The Promissed Neverland na versão do Kindle, porém de cara percebi que algo não estava muito certo, pois a imagem parecia muito compactada.
Após algumas checagens, notei que apesar de o site informar que o tamanho do arquivo deveria ter cerca de 186MB, na verdade ele estava baixando uma versão de apenas 42MB no meu iPad.
Por esse motivo comprei os volumes seguintes pela Kobo, que vieram com mais de 170MB cada.
Investigando um pouco mais sobre o caso, tanto no aplicativo para desktop quanto na versão para Android, inicialmente é baixada essa versão de 42MB, mas o programa continua baixando cerca de mais 150MB.
O único porém, é que mesmo após baixar esses outros 150MB, a qualidade ainda se mantém parecendo ser a de 42MB.
Panini: Páginas duplas no Kindle
Ao usarmos o tablet em modo landscape, ou seja, com ele deitado, os programas geralmente mostram duas páginas por vez.
Em todos os aplicativos testados, a primeira tela mostra apenas a capa sozinha, enquanto nas telas seguintes são apresentadas sempre 2 páginas por tela.
Quando chegamos em uma arte que utiliza a página dupla, ela é mostrada corretamente.
Porém no caso presente na Amazon a capa é mostrada uma segunda vez, fazendo com que todo o resto da revista fique com o intervalo de 1 página errada, dessa forma, quando chegamos numa arte que usa a página dupla, ela acaba ficando dividida ao meio.
Esse problema se repetiu em todos os lançamentos da editora em que verifiquei (Aoharaido, Bleach, Tokyo Ghoul etc).
Na Amazon
Em todas as outras
Panini: Índice incompleto
Sabe aquela página onde lista em que página cada capítulo começa? Então, nos ebook existe algo que é a “evolução” daquela página, que é a inclusão dessa informação nos metadados do livro, dessa forma, pelo menu do próprio aplicativo podemos pular para o início do capítulo desejado.
Mas infelizmente, no caso da Panini, esse índice digital possui entradas apenas para os conteúdos no início do livro e para a página de créditos que fica no final, sem nenhuma entrada entre as quase duzentas páginas separam essas duas partes.
E então, em qual comprar?
Essa é uma questão pessoal, mas na opinião deste aqui que fica caçando defeito em tudo, logo de cara eu deixaria de lado a iBooks, pois o fato de estar ligado apenas ao ecossistema da Apple é um fator bastante limitante.
Continuando por ordem de exclusão, apesar de ler pelo monitor não ser uma das minhas prioridades, eu considero o aplicativo para desktop da Kindle muito ruim no que se refere a ler quadrinhos. A falta de um zoom atrapalha bastante.
Se eu tivesse intenção de ler o mangá no meu Paperwhite, eu ficaria mais indeciso, mas como prefiro a leitura de quadrinhos em tablet, este seria o segundo a ser descartado. Ah, também é bom lembrar que se o título for da Panini, é descartar a loja de cara, devido aos problemas citados anteriormente.
Agora sobraram 2, Kobo e Google Play Livros.
Minha experiência com o Play Livros é bastante limitada. Pra ser honesto, só tive a curiosidade de ver como funcionava quando comecei a escrever esta postagem, mas acabei ficando bastante surpreso.
Antes disso, colocaria a Kobo como a loja de preferência, mas no momento fico em dúvida entre as duas.
O aplicativo para Desktop da Kobo é bom, não traz nenhuma característica impressionante, mas fornece a opção de dar zoom e poder arrastar a página para se ler com tranquilidade.
Por sua vez o leitor online da Google é uma mão na roda, quase que equivalente ao que pode ser feito com o Kobo Desktop.
Se você tiver um e-reader da Kobo, comprando da própria loja será tudo sincronizado automaticamente, porém se optar pela compra no Play Livros, parece ser possível abrir a licença do livro no aplicativo Adobe Digital Editions e usá-lo para transferir o livro ao seu leitor Kobo.
Ah, vale lembrar que o Play Livros é sem dúvidas o melhor lugar pra se baixar as amostras grátis, pois enquanto os outros serviços dão no máximo 10 páginas, o padrão da Play Livros é de que disponibilize cerca de 40 páginas de forma gratuita.
Ótima matéria, compro mangás digitais principalmente pela Kobo, mas já comprei das outras plataformas também (menos iBooks) e concordo com as conclusões apresentadas.
Inacreditável o pouco compromisso da Panini com seus mangás digitais. Já a JBC faz um trabalho muito competente, mas essa leva de ebooks menores, com cerca de 65MB, realmente tem qualidade claramente inferior aos outros, com 120MB ou mais. Seria bom se eles retornassem ao padrão de qualidade anterior.
Muito obrigado pelo texto, Le! Eu também prefiro ler em tablet e não bastante, virou necessidade, pois já tenho tanto livro e quadrinho que tá num estado em que eu mesmo parei e vi que não queria mais isso. Vou começar a vender umas coleções e tudo que eu posso estou tentando pegar digital, pena que aqui o mercado ainda está pequeno e a Panini não ajuda com suas políticas atuais, mas estou na torcida de um amplo crescimento em 2019, tô cansado de cuidar da minha coleção física e acostumado demais com o tablet ser meu lugar pra ler tudo menos livro, que leio no Kindle.
Abraço e farei bom uso de sua experiência. Obrigado pelas dicas.
Um ponto que acabou passando em branco, acabei de notar que os títulos da Panini na Play Livros tem suporte à “Biblioteca da Família”, que permite que a compra seja compartilhada com até 5 membros cadastrados pelo “chefe” da família.
No caso dos títulos da JBC, parece que a Biblioteca da Família está desabilitada.
Assim como o Mathilda também migrei para o digital por problemas de espaço físico (estantes cheias, trabalho em ficar limpando e reorganizando quando chegavam novos títulos…).
Já tinha feito isso com as músicas (deixei de comprar CDs pra comprar álbuns digitais) e com os games (até a época do Wii/X360 comprava vários discos, atualmente só digital).
Espero que esse mercado cresça em 2019.
A propósito, a imagem logo abaixo do “Senta lá que o post deve ser longo. :)” tem a imagem de Blame! né ? Você que tirou a foto ?
Sim, tirei essa foto na época que a JBC começou a publicar os mangás digitais no final de 2017, mas resolvi reaproveitar a imagem. :)
Muito legal a matéria com a comparação entre as diversas lojas.
Eu particularmente prefiro ler no kindle, mesmo a tela sendo um pouco menor do que o que gostaria, então acabo preso a Amazon. :(
Uma coisa não mencionada, é que os mangás da JBC (Fairy Tail, único que comprei até o momento) possuem o recurso de expansão para páginas duplas, assim é possível visualizar ela inteira e depois voltar a leitura normal. A questão é que o recurso não está configurado corretamente e muitas vezes a opção de expansão continua aparecendo quando não está numa página dupla e o pior não aparece quando realmente deveria aparecer. Não preciso nem mencionar que nos mangás da Panini essa opção nem aparece.
Meu sonho é que os mangás digitais sigam o padrão de qualidade da Pipoca e Naquim ou mesmo dos quadrinhos disney antes da falência da Abril. Neles existe a opção de visualização quadro a quadro, o que facilita e muito a visualização na tela menor do Kindle.