Não é por ser fã de tokusatsu, mas se tem um blockbuster desse verão que merece figurar o top 3 ao lado de Vingadores: Ultimato, esse é Godzilla II: Rei dos Monstros. O kaiju, ou melhor, o Titã (como é referido no filme) está de volta após cinco anos do primeiro filme da franquia MonsterVerse. Há quem torceu o nariz na ocasião e apostou num filme brasileiro que estreou na mesma semana. Só que não teve pra ninguém além do monstro gigante. O sucesso foi garantido e a sequência foi confirmada com mais dois filmes. Um para 2019 e outro para 2020.
Godzilla II pode entreter quem apenas busca um filme catástrofe sem compromisso. Só que funciona melhor para quem acompanha a franquia Godzilla e/ou quem tem interesse em embarcar na mitologia criada em 1954 pelo estúdio Toho. Isso porque o filme carrega várias referências, principalmente do material antigo.
São detalhes que fazem toda a diferença e que ajudam a contar o novo capítulo de forma orgânica. Se o primeiro filme desse novo Godzilla ajudou a tirar o estigma deixado em 1998 pela famigerada versão do cineasta Roland Emmerich, Godzilla II veio pra reverenciar a obra criada há cerca de 65 anos pelo mestre dos efeitos especiais Eiji Tsuburaya, pelo lendário diretor Ishiro Honda e pelo produtor Tomoyuki Tanaka. Além de estabelecer um possível universo expandido.
A NOVA HORDA
A Terra do MonsterVerse sofre com as consequências da invasão de Godzilla que ocorreu cinco anos atrás. O desequilíbrio da natureza foi acelerado com o despertar de vários monstros ao redor do planeta. Por outro lado, existe a tese de que os Titãs devem viver em harmonia para que, de alguma forma, o equilíbrio da Terra seja restabelecido. A paleontóloga Emma Russel (Vera Farmiga) perdeu um filho e lutou para que Madison (Millie Bobby Brown), sua filha adolescente, consiga sobreviver com a existência dos Titãs. Sua maior invenção foi a máquina Orca, capaz de controlar os Titãs através de uma bioacústica em um determinado nível sonar. Tal criação contou com a ajuda de seus ex-marido, Dr. Mark Russel (Kyle Chandler). Como todo bom instrumento que visa o bem, acaba atraindo desejos mal intencionados. O eco-terrorista Coronel Alan Jonah visa a Orca para despertar o Monstro Zero, que está congelado há milhares de anos.
Se você assistiu aos filmes de Godzilla da década de 1960, deve lembrar que sempre existia algum vilão que pretendia se dar bem em meio às ameaças de ataque de monstros, sem se importar com o que estava por vir, seja o pior que fosse. Como por exemplo o capitalista Clark Nelson do filme de Mothra (1961) e Malmess do filme de Ghidorah (1964). A diferença é que Jonah segue a linha de terrorista de filmes da atualidade. Elemento que ajuda a trama a ter mais sentido e não ser só um filme de porradaria de monstros.
Falando neles, os Titãs têm momento certo para entrar em cena. É justamente a interferência humana e o desequilíbrio da Terra que enfurecem as criaturas para entrar no embate. A rivalidade entre Godzilla e Ghidorah não é à toa e tem toda uma história por trás que justifica isso. A atmosfera do MonsterVerse é mais “realista” justamente por não ter aquela fantasia dos filmes japoneses. Por exemplo, Ghidorah é um monstro milenar do nosso planeta e não um invasor do espaço — que veio de uma profecia apocalíptica. Mothra não tem adoradores nem muito menos fadinhas gêmeas que a invocavam através da música e é um ser vivente na Terra. E Rodan é aquele típico monstro que adormece num vulcão e devasta tudo por onde passa. Porém, eles não são os únicos e a humanidade pode entrar em colapso com a fúria desse seres.
As referências fluem naturalmente e tem algum e outro elemento que surpreende só de ouvir o nome. O Dr. Serizawa (Ken Watanabe), que veio do primeiro filme, carrega o legado de um importante cientista dos primórdios dos filmes kaiju, além de ser um importante membro da Monarch e de auxílio na pesquisa sobre os Titãs. Outro membro da Monarch carrega uma referência que passa despercebida por quem nunca viu nada dos filmes japoneses de Godzilla e que só quem for esperto é que vai acertar na mosca. Ah, algumas canções da trilha sonora clássica também estão incluídas (em novas versões).
O título de “Rei dos Monstros” ganha um significado apoteótico como jamais visto em toda história de Godzilla. O lado heroico do personagem passa a ser mais valorizado, não apenas como um ícone da cultura pop japonesa, mas pela grandeza (sem trocadilho) de um ser que pode destruir a cidade como também salvar a humanidade para atingir um objetivo maior. A luta decisiva contra Ghidorah reserva um momento bastante significativo para os amantes de filmes kaiju e que não dispensa doses de violência e um desfecho resplandecente. De longe, é o melhor filme da franquia MonsterVerse até o momento e é pra guardar como um clássico de Hollywood.
Godzilla II: Rei dos Monstros é um filme que o espectador de longa data percebe o cuidado para construir/adaptar as criaturas em um universo coeso. É feito para respeitar os fãs e formar novos admiradores. E que 2020 venha logo com a volta de (King) Kong.
PS: Se você ainda tem costume de sair da sala de cinema durante os créditos finais, fique pois há uma homenagem ao eterno dublê de Godzilla e uma cena extra.
Muito boa a sua matéria Cesinha! Penso que esta filme conversa diretamente com analogias a desastres atuais da nossa sociedade e é um reflexo dos cuidados que precisamos ter da humanidade perante a natureza! O Filme está sensacional, assim como sua postagem! Forte abraço!
[Spoiler]
Ghidorah veio do espaço sim, isso é dito quando eles pesquisam sobre a criatura nos registros antigos
Opa, Ricardo. Arrumei o parágrafo. A diferença é que esse Ghidorah não veio à Terra como sinal de profecia, como no clássico de 1964. Valeu!
Verdade, Lulu. Considero isso como uma referência, já que o filme original de 1954 havia o contexto sobre as consequências do Japão pós-guerra. Os problemas atuais de desastres tinham que ser representados de alguma forma no enredo. Abraços!