Foto em destaque: Marcelo Brandt/G1
Durante o desfile de Carnaval em São Paulo, a escola de samba Águia de Ouro tentou mostrar que o conhecimento pode ser usado de forma positiva ou negativa. A apresentação, intitulada O Poder do Saber – Se saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, foi dividida em cinco setores, fazendo uma espécie de cronologia da evolução da tecnologia.
Cada setor abordava um “período” da humanidade e seus avanços científicos e tecnológicos, indo desde a época popularmente conhecida como “pré-Historia” até perspectivas para o futuro, com robôs e tecnologia sustentável. Um dos carros da apresentação, no entanto, trazia uma representação da cúpula da antiga prefeitura de Hiroshima e a fumaça em formato de cogumelo, dois dos maiores símbolos dos bombardeios atômicos sofridos pelo Japão durante a Guerra do Pacífico (1941-1945). A intenção era alertar sobre os perigos de utilizar o conhecimento para a destruição, mas um vídeo do carro alegórico acabou se espalhando pelas redes sociais no Japão, causando revolta em muitas pessoas.
Carro da Águia de Ouro sobre o bombardeio de Hiroshima, quando a complexidade do conhecimento significou a destruição. Enredo é sobre o poder do saber. (📸:Paula Paiva) #Globeleza pic.twitter.com/OiL6rKCAgJ
— g1 São Paulo (@g1saopaulo) February 23, 2020
Os ataques a bomba atômica sofridos pelo Japão são um tema muito delicado no país, por isso, muitos japoneses se sentiram ofendidos. Tanto uma postagem do G1 quanto do portal japonês AFPBBB News estão repletas de comentários em japonês chamando o caso de “revoltante”, “repugnante”, com muitos se dizendo decepcionados. Alguns outros dizem que, embora tenham se sentido mal ao ver o vídeo, desconhecem o contexto ou significado da imagem. Ainda há usuários que parecem não ver problema na representação, afirmando entender que há uma mensagem crítica. O site Brasil x Brazil, que faz postagens sobre o Brasil em japonês, tenta explicar o Carnaval e a apresentação.
どういう意図があって「ヒロシマ」を祭りのモチーフにしたのか。仮に原爆反対だとしてもお祭り騒ぎの中でやる事か?完全に理解不能です。
— samuiiii@夏バカまで予定無し (@samuiiii) 23 de fevereiro de 2020
“Qual a intenção ao fazer de “Hiroshima” um tema de festival? Mesmo que fosse um protesto contra a bomba nuclear, fizeram isso no meio de uma folia? É incompreensível para mim.”
原爆のために日本の広島、長崎では沢山の人が亡くなりました
お祭りにこんな風に使うなんて非常に不見識ですし、日本人として不快に思います— 日々感謝 (@mizuho890) February 23, 2020
“Muitos morreram nos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Usar isso em um festival desse jeito é muito insensível. Como japonesa, me sinto indignada.”
知識は力なりってテーマで、悪い側面として原爆をチョイスしたみたいですね。不謹慎という人がいるけど、タブーとして触れないのではなく、触れやすいようにするのは風化を防ぐためにはとても大切だと思う。1番クソなのは日本語の記事とタイトル。
— あたおかくーにゃん@くまるちゃんは待機中 (@qooniangniang) 23 de fevereiro de 2020
“O tema é “o poder do saber” e parece que utilizaram os bombardeios como um aspecto negativo. Alguns acham desrespeitoso, mas eu acredito que é mais importante abordar o assunto do que deixá-lo morrer como um tabu intocável. A pior coisa são as manchetes das matérias japonesas.” [posteriormente, o usuário diz que os títulos das notícias japonesas sobre o assunto criam um mal-entendido].
原爆のようなこういう負についての事を伝える事はいいと思うが、カーニバルの様な人々のはしゃぐ様なもので伝えるのはどうかと思う。
カラオケを病院の中でするみたいな。— さんしょ〜 (@sansyo_taiko) 23 de fevereiro de 2020
“Acho que é importante tratar de temas negativos, como as bombas atômicas, mas não sei se dá para falar disso com as pessoas se divertindo em carnavais. Parece tipo cantar karaokê num hospital.”
Em 1945, durante a Guerra do Pacífico (muitas vezes incluída como parte da Segunda Guerra Mundial), as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram alvos de bombardeamentos atômicos pela Forças Aéreas dos Estados Unidos, levando à rendição do Japão. Os danos causados pelos efeitos da radiação, até então não muito bem conhecidos, chocaram o mundo quando vieram à tona. Além de morte por envenenamento, a radiação pode trazer doenças a médio e longo prazo, como má-formação fetal em gestantes expostas a um alto nível de radioatividade, desenvolvimento de anomalias e câncer. Ambas as cidades de Hiroshima e Nagasaki possuem museus dedicados aos ataques e perigos de armas nucleares, respectivamente, o Museu Memorial da Paz de Hiroshima e o Museu da Bomba Atômica de Nagasaki.
Keiji Nakazawa, um sobrevivente do ataque à Hiroshima, escreveu Gen Pés Descalços (Hadashi no Gen), uma história baseada em sua experiência com relação aos bombardeios. O mangá foi seriado entre 1973 e 1987, com 10 volumes compilados, e foi lançado no Brasil pela editora Conrad. Uma adaptação animada de 1983 foi lançada em DVD por aqui pela Versátil Home Video.
Mais uma polêmica desnecessária causada pela falta de informação. Segue o baile
Otakinho imbecil: “Nossa! No ocidente problematizam tudo e enfiam mimimi em tudo! Bom mesmo é o Japão, que não liga para quem se ofende com qualquer coisinha e quer enfiar a todo custo goela abaixo esse maldito politicamente correto! Não mude nunca Japão!”
Japão: ESSA notícia
Cada um sabe onde o calo aperta, e se não sabe, uma hora alguem descobre… 😒
Parabéns aos envolvidos. Esse é carnaval no Brasil, pessoas seminus que acham que sabem o que estão fazendo quando na verdade não sabem nada. Lamentável.
Bem de boas intenções o inferno está cheio né, mas esse japonês fez a melhor analogia sobre essa polêmica: “Parece tipo cantar karaokê num hospital.”
O curioso é que mesmo com a polêmica, essa escola foi a CAMPEÃ entre o desfile das escolas de samba de São Paulo, justamente pela maneira como executaram o tal tema.
Pelo menos ganharam kkkkkk, e nem lacraram diferente daquela Vigários (lembrei dessa porque um caminhão com dr$gas foi pego essa semana na cidade de Vigários kkkkkk).
Foi lindo o desfile e mereceu ganhar.