Um fato no mínimo inusitado tem tomado parte do tempo da Editora JBC nos bastidores, nas últimas semanas. O assunto é velho e persistente: pirataria. A forma, no entanto, é moderna. Isso porque foram encontradas, na loja brasileira do Amazon Kindle (a plataforma de livros digitais da gigante americana Amazon), versões piratas do recém lançado one-shot especial de Death Note, de Takeshi Obata e Tsugumi Ohba.
Num primeiro momento, os ebooks piratas nos idiomas português, francês, espanhol, chinês, italiano, inglês e árabe ficaram disponíveis por alguns dias no nome de um mesmo autor (preferimos não indicar detalhes como print, link da publicação e coisas do tipo), até que foram completamente retirados pela equipe da Amazon. Alguns dias depois, houve uma segunda tentativa de publicação dos mesmos arquivos na loja do Kindle. Constatamos que, assim como na primeira vez, todas as versões foram registradas sob o nome de um mesmo autor (apenas houve a mudança em relação ao nome escolhido quando da primeira publicação).
A maior parte do material pirata que foi encontrado fazia parte do catálogo do Kindle Unlimited — um serviço oferecido pela empresa americana no qual o assinante paga um valor fixo (mensal, trimestral, semestral ou anual) e pode ler de forma irrestrita diversos livros que estejam dentro do acervo oferecido.
O novo mangá da franquia Death Note foi lançado, no Japão, em 3 de fevereiro desse ano. No Brasil, a JBC, responsável também pela publicação da série original, trouxe a história de maneira oficial no dia 12 do mesmo mês pelo preço de R$ 12,90, nas plataformas digitais Amazon Kindle, Google Play Books, Kobo e iBook.
O JBox conversou com Edi Carlos, gerente de marketing da JBC, para saber como a editora lida com a situação. Segundo Edi, para evitar que os piratas ganhem a preferência do consumidor, a JBC está “adiantando os lançamentos japoneses ao máximo“, referindo-se às séries que a editora paulista lança em simultâneo com o Japão (como The Seven Deadly Sins, Edens Zero, Card Captor Sakura Clear Card Arc e The Ghost in The Shell Human Algorithm). “Existe um sistema para reclamações caso ocorra alguma infração no direito autoral de alguma obra.” – completa Edi.
Um detalhe curioso é que, não bastasse o inconveniente de um produto pirata ser disponibilizado numa plataforma que deveria reunir apenas material oficial, os responsáveis pelo registro das scans piratas tentaram obter algum lucro. O Amazon Kindle Unlimited possui uma política para repassar os royalties dos livros registrados no serviço, que variam de acordo com o número de páginas de cada livro, a quantidade de páginas efetivamente lidas pelos assinantes e o preço estabelecido pelo autor na loja (você pode entendê-la melhor aqui). Dessa forma, como se não pudesse ficar pior, os preços estipulados foram colocados lá em cima, variando de aproximadamente R$ 85 (versão portuguesa) até ainda mais assustadores R$ 400 da versão árabe. Dos ebooks mencionados, apenas o de idioma espanhol não era coberto pelo Kindle Unlimited e estava custando R$ 130. Os valores absurdos são, provavelmente, uma estratégia para interferir no repasse da Amazon para o “autor”.
Ainda de acordo com o gerente de marketing da editora brasileira, essa é a primeira vez que a JBC toma conhecimento de um acontecimento como esse nas plataformas oficiais de distribuição de material digital. O caso, aliás, abre precedentes para que o conteúdo pirata ocupe espaço generalizado em serviços como o Kindle, por exemplo. Além de ser um inconveniente com as editoras, que acabam lesadas pela falta de supervisão de uma gigante como a Amazon, o próprio leitor e assinante dessas plataformas deve passar a ter maior desconfiança no que diz respeito à qualidade e à procedência do material oferecido, já que muito desse material pode acabar passando despercebido.
Para ter certeza que o material que você está lendo é o oficial, recomenda-se buscar a informação na descrição do produto de qual editora está fornecendo o conteúdo (nesse caso, a Editora JBC, como mostrado na imagem abaixo). Geralmente, as cópias piratas também apresentam uma qualidade de imagem bastante inferior comparada à oficial.
PS: Muitos leitores questionaram o fato da edição nacional do one-shot de Death Note ter chegado ao Brasil custando R$ 12,90, ao invés de ser gratuita como as versões oferecidas oficialmente pela editora Shueisha no app MANGA Plus. Segundo Edi Carlos, “são vários os fatores que implicam que a versão brasileira seja paga. A primeira é que pagamos por todo o licenciamento e materiais para viabilizar o lançamento e depois distribuímos por plataformas de terceiros. No caso da Shueisha, ela tem total direito sobre a obra, não é um intermediário como nós, e no fim o Mangá Plus é um serviço deles, que fornece leitura gratuita de mangá desde seu lançamento“.
Desejo muito que algum dia as editoras japonesas comecem a seguir mais o exemplo de empresas coreanas e chinesas, criando plataformas digitais globais pra distribuir seus mangás de forma mais acessível (gratuito com propagandas), para o maior número de idiomas possíveis, incluindo o português, em vez de depender de intermediários como a JBC que depende de plataformas de terceiros como o Kindle.
O Manga plus é uma primeira tentativa, mas ainda precisa melhorar muito pra chegar ao nível do Line Webtoon, do Toomics, do Mangatoon e do ToryComics. Ou mesmo o MR Comics, que é a futura plataforma legalizada dos criadores do finado Manga Rock.
Finalmente os scanlators br estão conseguindo o que no fundo sempre quiseram com toda a sua arrogância: faturar em cima dos otários
Parece que que não tem o “Feito de fãs para fãs. Não venda e nem alugue.”