Atenção: o texto a seguir contém spoilers do segundo episódio de ‘Digimon Adventure:’.


Anteriormente, em Digimon Adventure: (gravado assim mesmo, com os dois pontos): Taichi é enviado para um mundo digital, de modo a impedir que, pelas ações de um vírus, uma linha de trens descarrilhe e fatie a vida de milhares de transeuntes – incluindo sua mãe e sua irmã mais nova, Hikari.

No segundo episódio, conexões…

Um dos pontos mais destacáveis no episódio de estreia de Digimon Adventure: era a boa “atualização” de signos trabalhados na série original, de 1999, para a realidade atual. Convenhamos, o mundo mudou bastante nas últimas duas décadas, com uma porção de conceitos consideráveis “futuristas” de uma forma fantasiosa à época, agora sendo facilmente aplicáveis às nossas vidas. Uma conexão online entre pessoas, por exemplo, parecia distante e pouco convencional, mas já é parte fundamental de uma parcela da população mundial. Essas conexões são bem exploradas em dois fronts nesse segundo episódio.

Dando continuidade à aventura num ambiente online vivida por Taichi, que conseguiu impedir uma desgraça de proporção imensa ao eliminar um vírus que poderia descarrilhar uma série de trens em Tóquio, o perigo agora é ainda maior, já que aquele era só um “pedaço” do inimigo, que estava assolando também uma rede militar dos EUA, com o intuito de disparar um míssil de um submarino para destruir a já citada cidade japonesa. Para ajudar o recém adquirido amigo, Koshiro, do lado de fora, utiliza seu novo tablet com o boost de capacidade adquirida ao contato com seu digivice, para estabelecer conexões mundiais e recolher o tanto de informações necessárias que localizariam o problema, ajudando a resolvê-lo. Em tela, são mostrados chats, threads, fóruns, timelines e demais ambientes de rede que, hoje em dia, já são normais ao usuário comum.

 

E a conexão principal…

Mas a conexão mais importante aqui é ilustrada muito bem. Os computadores, a internet, são um meio, mas o principal é o que ela liga: as pessoas. Levando em conta que são várias as mídias sociais hoje (Twitter, Facebook, Instagram, Tinder, etc.), Digimon Adventure: conseguiu, já no segundo episódio, utilizar esse conceito de união através da rede para juntar dois dos principais personagens da trama: Taichi e Yamato (Matt). Esse segundo, vindo de qualquer lugar que agora pouco importa, surge como ajuda para a aventura, unindo-se a Taichi como uma dupla, agora com chances maiores de impedir as desgraças resultáveis da ação do vírus – dessa vez ainda maior, mais poderoso, mais evoluído. Enquanto no animê original, o laço entre os dois precisou surgir através do contato físico, agora, isso é totalmente extrapolado para o digital.

Novas parcerias de trabalho, estudos e até amizades, hoje em dia, podem começar assim. É uma ilustração bem bacana dos dias de hoje, utilizada corretamente para tocar a trama para frente.

 

Sensação de perigo…

Outra ideia adaptada da obra original é a de que a Hikari e o Takeru (Kari e TK), com seus digimons “anjos”, são os responsáveis pela evolução e fusão de Agumon e Garurumon para Omnimon, que aparece ao finzinho do episódio, como esperança para salvar o dia. Quando os dois tocam as penas vindas do céu, a digievolução ocorre, com essa interferência “divina” sendo deixada no ar. Não vejo a hora de os demais personagens originais serem inseridos na história, com suas narrativas também sendo reinventadas, mas sem deixar os pontos principais passarem.

Aliais, o roteiro está conseguindo ir muito bem nisso de pegar a linha principal de cada um e adaptar dentro do novo universo criado (o Yamato surgindo quando a ameaça é contra os EUA, sendo que ele vinha justamente de lá na história original, por exemplo). E com as sensações de perigo também bem trabalhadas (o míssil saindo do submarino e toda a fotografia mudando pruma paleta mais escura) e a animação absurdamente mais fluida e detalhada que o esperável de uma série de Digimon, que costumeiramente aposta em takes repetitivos, temos aqui ainda outro ótimo episódio e a sensação de que Digimon Aventure: ainda renderá muito assunto nas próximas semanas.

Com transmissão simultânea ao Japão por aqui através da Crunchyroll, estreou semana passada (05/04) Digimon Adventure: (gravado assim mesmo, com os dois pontos), reboot do animê original de mesmo nome (mas sem os dois pontos), produzida pela Toei Animation, em 1999. Confira aqui.

Sinopse pela Crunchyroll:

É o ano de 2020. A Rede tornou-se algo indispensável para a vida dos humanos. Mas o que eles não sabem é que, por trás da Rede, existe um mundo de luz e trevas conhecido como o Mundo Digital, habitado pelos Digimons. Quando Taichi Yagami tenta salvar sua mãe e sua irmã, que estão a bordo de um trem desgovernado, ele entra na plataforma… e um estranho fenômeno o leva para o Mundo Digital. Ele e outros Digiescolhidos encontram seus parceiros Digimons e embarcam numa aventura em um mundo desconhecido!

O roteiro é assinado por Atsuhiro Tomioka, que já trabalhou em várias séries infantis como BuckyHamtaroSuper Onze Pokémon. No Japão, o animê substitui o horário de GeGeGe no Kitarou na FujiTV, série que se encerrou na última semana e também foi exibida por aqui pela Crunchyroll.


Aqui no Brasil, Digimon foi um fenômeno cultural. Trazida ao Brasil como forma de contra-ataque à mania Pokémon, a animação ganhou grande destaque na programação da Rede Globo a partir de julho de 2000, sendo exibido também pelo extinto canal pago Fox Kids. Dublada nos lendários estúdios da Herbert Richers (aposto que você leu com aquela entonação), foi um enorme sucesso comercial, rendendo inúmeros produtos estampados com a marca, como materiais escolares, alimentos, revistas, jogos e brinquedos.

Inspirado no popular Tamagotchi, Digimon surgiu em 1997 pela Bandai, como uma série de bichinhos virtuais que também podiam batalhar. Em 1999 a Toei Animation lançou uma série animada derivada, sob o título de Digimon Adventure.

Creditada a uma equipe criativa denominada como Akiyoshi Hongo, Digimon Adventure fez sucesso suficiente para render uma continuação no ano seguinte, com Digimon 02. Depois foi a vez de Digimon Tamers Digimon Frontier, séries que possuíam seus próprios enredos, sem dar continuidade às duas primeiras. Após uma pausa, o título voltou com mais uma série original em 2006, intitulada de Digimon Savers (Data Squad no Ocidente). Entre 2010 e 2012 foi a vez de Digimon Xros Wars (Fusion) e em 2016 chegou Digimon Universe: App Monsters.

Parte dos episódios da 1ª série foi lançada em DVD pela Focus Filmes. Atualmente, pode ser vista na íntegra com a dublagem original pelo serviço de streaming Looke. Entre 2015 e 2018, uma série de 6 filmes foi lançada, trazendo os personagens do animê original na adolescência. Chamada de Digimon Adventure tri., foi exibida aqui no Brasil com os filmes divididos em episódios de meia hora, através da Crunchyroll.