Traduzir materiais japoneses até os anos 1990 não era uma tarefa para qualquer um. Geralmente os animês chegavam por aqui depois de algum “atravessador” estrangeiro, dublado em espanhol ou inglês, idiomas mais comuns para quem trabalhava com a adaptação de textos. Mas o que acontecia nos casos onde a série chegava no idioma original?
Há algumas semanas, o cantor Ricardo Cruz publicou em seu canal do YouTube uma ótima entrevista com Nelson Machado, profissional de dublagem veterano e mais conhecido do meio por ter dado voz aos personagens do ator mexicano Carlos Villagrán no Brasil, o Quico da série Chaves. Mas Nelson fez muito mais coisa, obviamente, já que são décadas dublando e dirigindo em estúdios, sendo outro de seus trabalhos de destaque o animê Street Fighter II-V.
Street Fighter II chegou aqui em uma velocidade até então nunca vista na TV, alguns meses após a estreia no Japão. Na época, a marca já havia sido explorada em outras mídias com aquele tenebroso filme americano protagonizado pelo Van Damme, e a Columbia Tristar precisava suprir o desejo de Silvio Santos de ter um desenho “semelhante” a Os Cavaleiros do Zodíaco para exibir no SBT (que também exibiu mais tarde o desenho animado americano). O animê foi “descoberto” por meio dos representantes da Capcom no Brasil, que avisaram a Columbia sem nem saber como era o conteúdo, com a empresa apostando também sem conhecimento (essa história é contada em entrevista de Sílvio Puertas, antigo funcionário da Romstar no Brasil, ao canal WarpZone). Como era um material muito recente, o animê veio do jeito que foi exibido no Japão mesmo e em japonês.
A Columbia levou a série para ser dublada inicialmente na Megassom, em São Paulo, onde Nelson Machado foi escolhido para a direção do trabalho (o estúdio faliu no meio do processo, tendo o trabalho transferido para a Master Sound). Ele conta que o único material que veio em inglês era uma leva de cartões enormes, que traziam a imagem do personagem e algumas descrições, como nome de golpes. Primeiramente, o desafio do estúdio era de simplesmente conseguir traduzir o animê, já que não havia tradutores de japonês no mercado. Segundo Nelson, coube ao dono do estúdio chamar um amigo japonês que falava português para sentar, assistir ao vídeo e ir dizendo o que entendia, para que depois disso alguém adaptasse para uma linguagem que coubesse na dublagem.
Mas a grande virada pra garantir um bom resultado para os fãs veio de uma experiência do próprio diretor. Conferindo os tais cartões dos personagens, Nelson percebeu que aquelas figuras lhe eram familiares e que alguma coisa estava errada. No cartão que correspondia ao Ryu, por exemplo, estava descrito que seu golpe principal (o Hadouken) se chamava “Fire Ball”, o que inevitavelmente seria traduzido como “Bola de Fogo”. Terrível se você não for o Greymon, né?
“Alguma coisa bateu na minha cabeça. ‘Eu já vi essas figuras, não sei onde, porque eu nunca vi esse desenho japonês’. Eu lembrei: ‘sabe onde eu vi? No shopping!“ – conta o diretor de dublagem na entrevista. Nelson se recordou então que aqueles personagens faziam parte de um jogo de fliperama, que a molecada passava o dia inteiro jogando. Ele teve a ideia então de ir ao shopping, colar do lado de cada jogador, munido de um bloquinho de anotações, para perguntar os nomes de cada personagem e seus golpes. Notando que era uma franquia que o Brasil já conhecia, com seus nomes já presentes no imaginário dos fãs, Nelson logo percebeu que se desse carta branca para coisas como “bola de fogo” todos iriam querer matá-lo.
O diretor levou então as suas anotações para a Columbia, que aprovou o uso dos nomes que o público já conhecia. Ele conta também que se encantou pela série por notar o estilo de novela, com uma trama que se amarrava entre os episódios (algo pouco visto entre as séries japonesas no Brasil até então, que acompanhou mais tramas episódicas antes da chegada dos Cavaleiros do Zodíaco). Nelson assistiu vários episódios, deu início à dublagem, mas ainda teve mais um desafio peculiar: a adaptação das músicas de abertura e encerramento. “Eu fiz uma letra” – afirmou. Sem ter alguém para traduzir, o diretor teve que imaginar uma composição com base no que via e recém conhecia da série e depois encaixar na melodia original.
Os temas em português de Street Fighter II foram interpretados pela saudosa Elisa Villon, mas não foram exibidos pelo SBT, que substituía por uma vinheta esquisita com gritos dos lutadores. As músicas só foram escutadas no lançamento de episódios em VHS e mais tarde pela reprise do Cartoon Network nos anos 2000.
Você pode conferir a entrevista completa no link abaixo. O papo ainda traz mais curiosidades relacionadas às séries japonesas, como um animê que chegou sem som e o trabalho de Nelson Machado para os roteiros do Circo Show de Jaspion e Changeman.
Fonte: Canal do Ricardo Cruz
Baseado na série de games da Capcom, Street Fighter II-V narra a jornada de dois amigos lutadores de artes marciais, o japonês Ryu e o americano Ken Masters, que viajam pelo mundo inicialmente em busca de enfrentar oponentes mais fortes e aprimorar suas técnicas. A saga se torna mais perigosa quando a dupla e outros aliados precisam enfrentar a organização criminosa Shadaloo, liderada pelo misterioso Bison.
O animê estreou no SBT em outubro de 1995, enquanto o final ainda não havia ido ao ar no Japão. Os 29 episódios são uma produção do extinto estúdio Group TAC (de Patrulha Estelar), com direção de Gisaburou Sugii. Além do SBT, a série também foi exibida pelo Cartoon Network e está disponível atualmente pela Netflix e Amazon prime Video.
Eu posso estar enganado, mas na época, já tinha saído o Street Fighter Alpha/Zero pro PS1 e Saturno, e o anime aproveitou o embalo….pra esquecer do “sofriveis” filme e games derivado do SF:The Movie….Off.: Bons tempos aqueles em que o SBT exibiam animes, diferente de hoje….deixei de assistir tv devido ao desrespeito em relação a games,desenhos,animes e outros por parte de certos apresentadores ,emissoras e outras como F.Bernardes, S.Abravanel e outros bem como o falecimento de meus entes queridos…..Off.:Sinto muito não poder apoiar o N.Sato e outros, mas também estou magoado com a Toei dado o que fizeram com o Jaspion e Jiraya nos filmes do Gavan-G e o final de KR Zi-O….mas enfim….agora KR Zero One estou gostando e arrancando o gosto amargo de Zi-O…..
Verdade, a Sílvia Abravanel simplesmente arruinou a programação infantil do SBT…
Por que não chamaram o amigo japonês do Nelson para traduzir os temas do anime?
Oloko que história hein, ainda não vi esse anime pois é mais antigo que eu kkkk, mas se eu ver um dia vou conferir essa dublagem que deu um trabalhão.😋🍦
Esse anime me traz boas recordações uma pena as masters com a dublagem Brasileira estarem com a Sony Pictures Entertainment dificilmente veremos esse anime com boa qualidade de áudio pois um camarada chamado Nelson Sato fez algo imperdoável comprando o anime com outra distribuidora americana totalmente diferente da versão original com diversos cortes com áudios da época da primeira exibição do Cartoon Network cheio de ruídos e com som abafado retirados da internet.
Isso q é profissional. O cara n só adaptou e cabou. Ele procurou conhecer o produto e fazer uma versão q atendesse tanto o conhecimento dos fãs como ainda fosse fiel ao jogo.
Realmente muito bom, parece q isso se perdeu em algumas dublagens e adaptações hj em dia.
Assista que vale muito a pena. O anime é ótimo e a dublagem é 10
Na verdade isto é mais comum hoje do que era na época, com a internet e tudo mais. Street Fighter foi uma exceção daquele tempo, e não a regra.
Porém, o ritmo industrial aperta os prazos e as vezes força diretores e envolvidos e fazerem do jeito que dá. É o grande contra de hoje em dia.
Ele tá no Netflix e na Amazon Prime dublado.
Grande dublador e diretor. <3
Melhor anime baseado em games. Pode parecer nostalgia, mas é pura verdade ^^
Nelson Machado como sempre incrível. Além de um ótimo dublador, mostra toda sua sabedoria, experiência e talento em obras onde atua como diretor, tradutor, compositor… Que o tenhamos por muitos anos.
Me fez lembrar do filme Mortal Kombat, que decepção na época em escutar o Scorpion dizendo “venha para cá”, depois de muito tempo ainda me lembro da frustração nem tive vontade de terminar o filme.
Street Fighter merecia uma nova série animada…
Assiste hi score girl na Net Flix .pura nostalgia .
O Silvio Puertas, ex-funcionário da Romstar do Brasil deu uma outra explicação pra chegada do anime numa live com o pessoal da Warpzone (Capcom no Brasil dos anos 90), segundo ele, ficaram sabendo do anime pela Capcom e como já tinha contato com o SBT (que já tinha comprado o Megaman, mas ainda não tinha exibido), ele disse que o Silvio Santos queria um equivalente de Cavaleiros do Zodíaco, foi quando ele então pessoal no anime (mesmo sem ter assistido) e sugeriu que a Columbia também distribuísse, depois viria o desenho americano, quanto a dublagem, o filme foi dublado na Megassom, que faliu, vários membros do elenco foram mantidos, mudaram Bison e Guile, o Nelson por exemplo, era o Blanka, tanto que continuou no cartoon, já o filme animado foi dublado em Miami, a Master Sound só foi dublar quando saiu em vídeo, mudando um outro no elenco. Foram 3 empresas que trabalharam com a franquia, a Romstar do Brasil, que trabalha com os arcades (o Silvio que era da área de informática, acabou indo para no licenciamento e hoje trabalho com dublagem), a Character Comércio e Serviços (que trabalhava com licenciamentos, como álbuns de figurinhas e quadrinhos, hoje o Luiz Angelotti, um ex-funcionário tem sua própria empresa) e a Columbia, que trouxe os filmes e desenhos.
Beleza quando eu puder vou ver sim.😋🍦
Não tenho nenhum dos dois kkkk.😋🍦
O filme animado na época foi dublado para cinema em Los Angeles, não em Miami. Depois, redublaram na Mastersound com a maior parte do elenco da série de anime.
Curiosamente, os mais recentes filmes de Street Fighter Alpha que estão na Amazon Prime também foram dublados em Los Angeles.
Legal, não tínhamos visto essa entrevista. O parágrafo foi alterado ;)
Eu tentei postar o link, mas consegui postar (deve ter ido pra spam, acontece algumas vezes)
Por que ele não comprou com a Sony?
Ainda falando sobre a S. A., em 2016 a Saban(então detentora dos direitos de Power Rangers) quis fazer um acordo com o SBT para exibir a série no SBT e adivinha o que aconteceu? A apresentadora simplesmente VETOU, alegando que era “violento”, dá para entender?
E se a Sony que não quis vender pra ele, ou não está liberando pra ser licenciado por algum tempo por algum motivo ou cobrou um valor absurdo dele? Infelizmente nunca vamos saber ou só se alguém perguntar diretamente pra ele para saber porque ele pegou de outra distribuidora etc…
pena que a série não foi lançada completa em VHS. Se tivesse sido quem sabe poderiam ter usado os audios dos VHS originais que a qualidade com certeza estaria ôtima ainda,
Não só SF, vários jogos mereciam versões anime. Eu acho que devido ao tempo de vários episódios de uma série serem mais longos que um filme, videogames funcionam melhor nessa mídia. Além disso, japoneses demonstram muito mais carinho e são mais fieis com suas obras do que adaptações americanas.
De todo modo, eu adoraria um anime de Tekken, contando desde a história do 1 até o 7 (e sim, eu sei que tem um filme animado também).
Só uma pequena correção: a abertura original com a música em português foi exibida uma única vez no SBT no dia da estreia. Sei porque gravei esse momento único em VHS naquela manhã de domingo.
Street Fighter 2 Victory foi um dos anime que marcou minha infância.É muito foda.Atualmente estou vendo o primeiro filme do Street Fighter Alpha na Amazon.
Foi uma pena não terem procurado ele pra fazer a dublagem dos Ovas de Street Fighter Alpha. …. Ele teria chamado a maioria do elenco Clássico Possível
Até entendo e vc tem razão, exagerei na exaltação ali.
É pq hj fica dificil pensar isso com algumas adaptações q visam cada vez mais fazer graça botando meme e fazendo palhaçadinha q n casa com o roteiro q realmente fazer uma dublagem q adapte realmente. Tivemos algumas polêmicas de uns anos pra cá q me deixam ate cabreiro.
Seja o santo que seja, o fato é que o Bom Dia & Cia devia ser terminado, diante de tanta hipocrisia tanto por parte dos responsáveis pelo setor infantil, da apresentadora e afins…..Off: Eu assisto várias séries japonesas,animes e afins no YT …..deixei o passado pra trás já algum tempo….o fato é que não tenho coragem de rever Jaspion e cia diante do fato em que máquinas como o PS5 batem a minha porta….
detalhe que a dublagem de Los Angeles do longa fez EXATAMENTE o que o Nelson queria evitar:Chamaram o Hadouken de Bola de Fogo,Shoryuken de Soco do Dragão,Sonic Boom de Barreira de Som,e eu tenho quase certeza de lembrar de soltarem um Hadouken como “Chute do Dragão”(!?)
Eu até fico triste de não ter gravado essa dublagem quando passou no Cartoon.Agora mais velho e maduro,percebo que ruim ou não,eu tinha que preservar e soltar na internet pra todo mundo relembrar essa “pérola”(se alguem aparecesse aqui nos comentários dizendo “eu tenho essa dublagem gravada.”,estaria realizando um antigo sonho meu…)…
seria legal postar isso no youtube.
Como é que Saban Brands procurou o sbt para fazer acordo sobre a franquia se a mesma estava com contrato em vigência com a Band?
O contrato com a Band encerrou-se em setembro de 2017.
Isso é mais uma história pra boi dormir que esse pessoal espalha pela Net e é toda como realidade.
A dublagem usada nos serviços de Stream é a dos episódios do Cartoon Network gravados em 2003/2004, nem pra se dar o favor de conseguirem os áudios da versão de dvd feita pelo Sérgio que são direto das fitas vhs lançadas no mercado e do sbt tudo em qualidade SP.
Sim, o elenco foi quase o mesmo ainda no filme, já que segundo o Silvio, ele vendeu a ideia de trazer o anime via Columbia TV (embora não fosse a mesma Columbia do cinema, mas era fácil o acesso), mudaram o Guile, Bison e Balrog que não combinava na voz como no filme, acabaram continuando no desenho americano.
Acho que isso valeria apenas para as novas temporadas. Mas acredito sim que a Sílvia vetou esse acordo porque queria deixar o programa infantil demais…