Atenção: o texto a seguir contém spoilers do quarto e do quinto episódio de ‘Digimon Adventure:’.
Anteriormente, em Digimon Adventure: (gravado assim mesmo, com os dois pontos): pouca coisa aconteceu em termos de trama, mas fomos brindados com uma porção de cenas bem animadas e fanservice a granel, o que teria sido plenamente aceitável caso sanduichado entre duas semanas de muito agito em vez de um intervalo de meses por conta dos problemas com a COVID-19.
No quarto episódio, Sora e sua sensatez…
Seguindo a linha pré-estabelecida de reler alguns dos pontos mais importantes do animê original de 1999, mantendo fatos essenciais, mas contados utilizando outras peças ou jogadores dentro do tecido narrativo, esse quarto episódio serviu para inserir a terceira relação “digiescolhida X digimon” de maior importância na escadinha de protagonistas da série: a Sora com a Piyomon. Tal como na original, ela é a terceira digiescolhida a digievoluir sua amiguinha digital, o que eventualmente ocorre a partir de algum conflito no qual ela é colocada.
E enquanto duas décadas atrás tivemos um episódio “monstro da semana” mais amarradinho para que a sensação de perigo fosse melhor construída (Meramon incendiário, bastante icônico) e as virtudes da Sora e da Piyomon (no caso, o “amor”) fossem melhor exploradas (aquela cena dela despachando todas as Piyocomons da vila e fazendo uma prece em agradecimento, com o Meramon enfim a alcançando, ainda é bem legal de ver), dessa vez a interação delas e todo o jeito como o poder é descoberto é bem menos… memorável.
É interessante que a Piyomon surja fugindo de um predador (Snimon) que quer devorá-la, pois isso passa uma impressão mais selvagem do Digimundo que, ao menos no que me lembro, ainda não havia sido tão abordada (digo, faz sentido que alguns digimons maiores e mais ferozes se alimentem de outros menores). Quando isso é repetido mais pra frente, no segmento do rio, com eles sendo caçados pelo Coelamon, a sensação de cadeia alimentar fica ainda mais evidente e comprável.
Mas a impressão que tive é que, o que deveria ser o principal do episódio, que é a já citada interação entre as duas para que ocorresse a digievolução, foi feita rápida demais e de modo bem pouco memorável. Talvez a culpa disso seja da maneira como construíram a Sora aqui? Quer dizer, ela era mesmo a mais “madura” (pros parâmetros de uma criança retratada num animê infantil) de sua equipe antes, mas dessa vez ela está tão mais… sensata que o necessário. Diferentemente do Taichi (Tai) e do Koshiro (Izzy) que já vinham conhecendo aquele universo há alguns dias, salvado o mundo e por aí vai, ela era totalmente ignorante até ser levada ali, mas não parece ter se impressionado com… nada. Nem com estar em outro mundo, nem com a aparência fantasiosa do local, nem com os enormes digimons, nem com o Agumon falante cuspindo fogo, ou a Piyomon soltando uma espiral de chamas verdes.
Ou talvez a culpa seja do roteiro mesmo, que anda priorizando mais os acontecimentos gerais em vez dos desenvolvimentos individuais. Isso fica ainda mais claro na sequência:
No quinto episódio, muito lore e pouco Tentomon…
A missão do dia que Taichi e Sora deveriam executar era chegar numa montanha colorida, que parecia importante por conta de sinais direcionados a ela. Ao chegarem, ficamos por dentro de parte da mística que ronda esse Digimundo, com parte do folclore sendo explicado e uma porção de possibilidades sendo posicionadas. Vários digimons importantes dentro do lore, mostrados em outras temporadas, são expostos em tela, podendo ou não ser utilizados dali pra frente (confesso ter ficado bem empolgado com uma eventual participação do Cherubimon, um dos meus personagens prediletos em toda a história). E imagino que a galera que acompanha a franquia ainda mais a fundo, indo pros jogos e demais meios, deve ter ficado ainda mais empolgada, reconhecendo outros que também devem ter bastante importância nessa mitologia.
Toda essa sequência expositiva foi lindíssima de assistir, bem animada, montada. A transição de realidade para ilusão do passado, com os destroços da montanha sendo substituídos pelo panteão radiante e paradisíaco, apenas para que tudo aquilo, logo depois, fosse invadido pelas sombras da horda de vírus, com a trilha sonora, com o paralelo do Orgemon e os Dokugumon atacando os digiescolhidos… bom demais. Certamente, entrará para o ponto alto de momentos animados nesse ano.
Entretanto, com todo esse enfoque para o núcleo com o Taichi, sobrou pouco espaço para que a relação “digiescolhido X digimon” do episódio se desdobrasse. Foram pouquíssimas as linhas de desenvolvimento para o Koshiro e o Tentomon, com o segmento deles na rede com Whamon e Tylomon sendo secundários demais. O que é uma pena, pois os conflitos deles eles são sempre bastante divertidos. Aquele diálogo ao fim, com o Koshiro todo envergonhado falando que devia ter sido mandado para ali justamente para encontrar o Kabuterimon, com ele não ouvindo direito na hora, ofereceu um misto de graça cômica e bonitinha de assistir. Queria mais.
As releituras de elementos antigos dentro desse episódio também foram muito boas, com, novamente, os digimons sendo controlados por algo em prol de algum plano maquiavélico que deve ser revelado mais para frente, agora que o (maravilhoso) Devimon foi introduzido. No Adventure anterior, o capetão dominava os monstros usando engrenagens negras. Dessa vez, isso é feito utilizando os poderes de outro digimon, o Soundbirdmon. Mal posso esperar pelo que mais isso acarretará.
E no próximo episódio tem a Mimi. Episódios com a Mimi sempre dão um quentinho no coração. Pode entrar, Mimi, todos estamos esperando você, verdadeira dona dessa franquia.
Com transmissão simultânea ao Japão por aqui através da Crunchyroll, Digimon Adventure: (gravado assim mesmo, com os dois pontos) é um reboot do animê original de mesmo nome (mas sem os dois pontos), produzido pela Toei Animation, em 1999. Assista aqui.
Sinopse pela Crunchyroll:
É o ano de 2020. A Rede tornou-se algo indispensável para a vida dos humanos. Mas o que eles não sabem é que, por trás da Rede, existe um mundo de luz e trevas conhecido como o Mundo Digital, habitado pelos Digimons. Quando Taichi Yagami tenta salvar sua mãe e sua irmã, que estão a bordo de um trem desgovernado, ele entra na plataforma… e um estranho fenômeno o leva para o Mundo Digital. Ele e outros Digiescolhidos encontram seus parceiros Digimons e embarcam numa aventura em um mundo desconhecido!
O roteiro é assinado por Atsuhiro Tomioka, que já trabalhou em várias séries infantis como Bucky, Hamtaro, Super Onze e Pokémon. No Japão, o animê substitui o horário de GeGeGe no Kitarou na FujiTV, série que se encerrou ao fim da última temporada de inverno japonesa e também foi exibida por aqui pela Crunchyroll.
Esse fato da Sora está mais sensata ou ficar menos surpresa a realidade do digimundo, também era um pouco mostrado na série original, só que agora está mais evidente. Na série clássica quando a Sora conhece seu digimon, ela foi uma das poucas crianças que não ficou surpresa. Lembrando também que o brasão do amor da digiescolhida está mais relacionado ao amor maternal, a proteção,o cuidado,.. e isso é demonstrado pela personagem com a Pyomon nesse 4 episódio.
O que eu mais gostei nesse 5º episódio foi a revelação das formas megas de todos os digimon dos protagonistas (mesmo que apenas em sombras), mostrando que todos chegarão a forma final nessa nova história. E o mais legal é que dessa vez a Tailmon irá mega digivolver na Ofanimon. <3 É mostrado dois grupos lutando na guerra da luz contra as trevas: o grupo dos Guerreiros Lendários (parece até Digimon 4, só que não :v ), formado pelo Wargraymon, Metalgarurumon, Phoenixmon, HerculesKabuterimon e Rosemon; e o grupo dos Digimon Sagrados, liderados pelo Valdurmon, Serafimon, Ofanimon, Cherubimon, ClavisAngemon, SlashAngemon e Rasielmon (provavelmente os 2 dos 3 Arcanjos são os Digimon da Kari e do TK). Não duvidaria se o Cherubimon e a Rasielmon fosem respectivamente os digimon do Walace e da Meiko, e que os dois personagens fossem incluídos como 9º e o 10º digiescolhido desse reboot. :D
Ah, não, a Meiko não, A MEIKO NÃO AAAAAA VAMOS TODOS FINGIR QUE O TRI NÃO EXISTIU AAAA
Muita gente não gostou do desfecho da Meiko e da Meicoomon então não duvido eles melhorarem as coisas dessa vez.
Não curti muito o reboot. Está parecendo muito Digimon Cros Wars. Muito foco na lore e na história, mas pouca importância pro desenvolvimento dos personagens. A Sora não está mais madura nesse reboot, está apática, borderline psicopata. Tem uma cena em que ela literalmente nem pensa duas vezes antes de sugerir ao Taichi que pulem do penhasco. Personagens muito flanderizados e unidemensionais. Espero que esses problemas vão mudando com o decorrer da série, até porque o world building está ficando muito bom, bem melhor até do que o do Adventure original e parece que dessa vez a história vai ficar bem amarradinha (e a Tailmon vai se tornar Ofanimon, finalmente). Será um pecado se o desenvolvimento dos personagens continuar raso do jeito como está.