Tendo estreado aqui no Brasil no dia 6 de julho, The God of High School é o mais recente animê com o selo de original da Crunchyroll a ver a luz do dia. Sua história é uma adaptação de um manhwa, uma “mangá sul-coreano”, escrito e ilustrado por Yongje Park, e seriado digitalmente na plataforma Naver Webtoon desde 8 abril de 2011, totalizando 11 volumes encadernados publicados pela editora ImageFrame até então. Essa já é a segunda produção original da plataforma de streaming nesse ano baseada em alguma publicação da Coreia do Sul. Na temporada passada, sua grande aposta foi Tower of God, oriundo de outra webcomic do país.
Na história, ocorre um grande torneio chamado “God of High School”, que se propõe a encontrar o estudante colegial mais poderoso em todos, premiando o grande vencedor com a realização de qualquer desejo que ele tenha em mente. Para isso, são realizadas eliminatórias em diversas partes da Coreia do Sul. E nosso ponto de partida é a seletiva de Seul do embate, com o foco principal no trio de personagens Jin Mori, Han Daewi e Yu Mira.
Jin Mori é um elétrico praticante de artes marciais que carrega uma porção de mistérios em seu passado, envolvendo seu avô e habilidades místicas que ele pode estar destinado a herdar. Ele aceita participar do torneio para aproveitar a oportunidade de enfrentar outros lutadores tão fortes quanto ele. Daewi encara o arquétipo de calado, sério, maduro, e porta um background mais sombrio, já que um de seus melhores amigos vem sofrendo as consequências de um câncer no hospital. Seu intuito com a competição é mais prático: ganhar dinheiro para ajudá-lo. Já Mira vai mais pelo coração. Sendo a última de sua família a portar as habilidades da luta de espada da Luz da Lua, seu eventual desejo, caso vença, é restaurar seu dojo e espalhar o estilo do clã pelo mundo.
O argumento é manjado, com vários animês, mangás, filmes e séries já tendo explorado a ideia “gamer” de uma competição de artes marciais com um grande prêmio ao ganhador, seja como fio condutor principal, ou parte de alguma saga específica. Mas The God of High School consegue se destacar e soar fresca em tal nicho ao caprichar na “forma” como isso é contado. No caso, vai fundo nisso de torneios de luta parecerem videogames, efetivamente usando a estética e os “truques” que jogos trazem.
No literal, as lutas nas chaves são ilustradas com aquelas animações 2D onde as fotos dos participantes são colocadas lado a lado, indicando que um está contra o outro. No mais alegórico, os personagens portam braceletes oferecidos pela organização do torneio, que medem seus “levels” naquele momento e o quanto de “hp” eles ainda têm até serem derrubados. Mais que isso, nanorrobôs são ingeridos por todos, de modo que, ao fim de cada luta, seus ferimentos (de arranhões a pescoços quebrados) são curados, com eles sendo restaurados para próximos rounds, literalmente como em games. O evento em si é tratado como uma competição gamer de imenso porte, como campeonatos de jogos como League of Legends, Free Fire e variações, com grandes comunidades de fãs acompanhando (e comentado) as rodadas em tempo real via streaming. As referências são bem claras.
De ponto positivo, The God of High School conta também com um trabalho de animação especial do estúdio Mappa (Dorohedoro, Banana Fish), que brinca com a fluides em ângulos e takes bem mais ousados que o comum dentro de desenhos feitos para TV (o cuidado remete mais a OVAs e longa-metragens). E levando em conta que a maior parte do tempo dos episódios é dedicada a cenas de ação e lutas, o resultado é interessantíssimo de acompanhar, empolgante, inclusive compensando alguns defeitos que a série já vem apresentado em outros quesitos.
Até então, quatro episódios já foram ao ar. Entretanto, no que diz respeito ao andar da história, é como se ela já estivesse lá pelo décimo ou décimo segundo, em fim de temporada, não em começo. Há uma grande impressão de que a trama está muito corrida, que desenvolvimentos maiores estão sendo comprimidos em prol de andar com a carruagem, sabe-se lá o motivo para isso. E não existiria problema em adiantar a história toda, se isso fosse feito de maneira orgânica. Só que a tesoura passada aqui é com a sutileza de um cachorro hiperativo correndo por uma loja de vasos de cristais e derrubando todo seu estoque no chão.
O primeiro episódio, por exemplo, é uma coisa linda de assistir, já sendo fácil um dos grandes destaques de 2020 até então. Sua primeira metade é tomada por uma enorme perseguição de bicicleta dos protagonistas contra um motociclista ladrão de bolsas no meio da rua. É tudo criativo, empolgante, energético, entretenimento puro do início ao fim. Já na segunda metade, o trio chega ao estádio onde ocorrerá a competição, com ela começando em um combate battle royale eliminatório (aqueles onde vários combatentes se enfrentam ao mesmo tempo, até que sobre um ou mais vencedores) também muito divertido de assistir, carregado na ação, violência e em “momentos introdutórios cool” para demais participantes que também terão destaque dali em diante (incluindo o possível vilão). Ele termina com um gancho muito bom, dando a entender que, no capítulo seguinte, o desfecho será naquele mesmo nível.
Contudo, quando iniciamos o segundo episódio, isso é pulado, com a fase já tendo sido encerrada e os acontecimentos apenas sendo vislumbráveis através de comentários dos participantes. É como se, numa partida de futebol, cortassem todo o segundo tempo, onde vários passes impressionantes e gols emocionantes aconteceram, pulando já para os comentários de uma mesa redonda. Demonstra bastante pobreza da parte da direção. Literalmente, pois dá a entender que animar aquele segmento demandaria muito tempo e verba. Broxante.
The God of High School peca ao não tomar tempo quando deveria para contar a história. As coisas acontecem tão rápido e em quantidade tão grande que é difícil enxergar urgência, ou importância mesmo, quando várias viradas de mesa são sobrepostas de um episódio para outro. No segundo episódio, por exemplo, já ocorre uma situação “Naruto despertando a raposa” com o citado eventual vilão em uma luta. Do final do segundo para o terceiro, Jin já é apontado como “o escolhido”, passando por uma transição de poderes forçada pelo líder dos organizadores do torneio, sendo capaz de bater quase de igual um dos juízes. E esse juiz, então, usa um outro tipo de poder, bem mais estilizado que tudo o que havia sido mostrado até então. Ainda no terceiro episódio, é inserida uma organização secreta de vilões (tipo a Akatsuki, de Naruto, ou a Aranha, de Hunter X Hunter), que já começa a operar com um plano super mirabolante no quarto episódio. Isso tudo enquanto ainda acontece a seletiva do torneio na Coreia do Sul. É informação demais num curtíssimo espaço de tempo, fica difícil de acompanhar.
Talvez isso seja um sinal dos tempos, do novo público que consome animê e não quer esperar uma temporada inteira para saber o final de um torneio, depois mais outra para que o time de vilões misteriosos comece a operar e os protagonistas manifestem habilidades ocultas. Nesse sentido, The God of High School acerta em cheio. Os episódios todos são tuítes narrativos, juntam o máximo de artifícios “legalzudos” no menor espaço possível. É entretenimento garantido, que não se propõe a ir muito além.
Tendo isso em mente, não esperando nada mais, vale bastante a pena acompanhar. A animação é espetacular. Os personagens, com a profundidade de um pires, são hilários (tem um avulso de óculos cuja habilidade de luta é ler as fraquezas de estilos num livro enquanto bate nos adversários com um taco de beisebol, mais player de fliperama que isso é impossível). A trilha sonora é super jovem e bacana. Toda a experiência é como assistir a múltiplos videoclipes ultra-estilizados, um atrás do outro.
E o texto é o puro suco do clichê, com inúmeras linhas impressionantemente cafonas a cada cena. Algumas das minhas prediletas até então:
“Minha família tem um lema: ‘Faz o que você quiser!'” – relata Jin após ser penalizado por interferir em uma luta alheia, para defender um participante que ele havia conhecido cinco minutos antes de apanhar mais, mesmo todos ali tendo ciência de que ninguém sairá machucado de verdade no final do dia.
“Sapiência e violência… com o poder dos dois, ninguém vai me vencer. Essa é a teoria que eu desenvolvi. Entrei nesse torneio para comprovar essa teoria.” – explica o genial quatro-olhos do bastão de beisebol segundos antes de sua estratégia infalível falhar ante uma sequência de porradas do Daewi.
“Meu avô disse que os atores de TV curtem umas taras depravadas.” – emulando um personagem de pornochanchada, Jin comenta pro Daewi enquanto eles tentam salvar Mira de um súbito casamento por interesse que ela se mete com um cara vinte e tantos anos mais velho que ela.
Mal posso esperar pelo resto.
Sinopse oficial: Jin Mori diz a todos que é o colegial mais forte que existe. Sua vida muda quando é convidado a participar do “God of High School”, um torneio que decidirá quem é o colegial mais forte de todos, e que garantirá ao vencedor a realização de qualquer desejo que ele tiver. Todos os participantes são poderosos guerreiros que lutarão com afinco para alcançar seus sonhos. Uma batalha caótica entre lutadores colegiais inacreditavelmente fortes está prestes a começar!
Os quatro primeiros episódios estão oficialmente disponíveis aqui no Brasil através da Crunchyroll (assista aqui).
O anime tosco da vez.
Bom so to vendo pelas lutas , eu sei q a historia é MUITO grande então nen tenho esperança, se fosse como black clover e tivesse algo em media de 200 eps daria pra explicar direito a historia de cada personagem ,mas como são doze, vão rushar a historia porem com cena boa de luta
Esse anime é feito como se tivessem pegado a história de fundo de um jogo de luta de arcade e tivessem adaptado para a tela privilegiando justamente o principal de um jogo assim: As lutas, os poderes e a aparência dos personagens estilosos. Desde Tenjou Tenge não via algo assim, e continuando divertido, que bom que é assim, mas preferia que ele tivesse 24 ou 26 episódios, e não apenas 12, justamente para não parecer tão apressado quanto está parecendo.
Eu vim seco achando que vocês iam falar mal, aaaaaaah!