Atenção: o texto a seguir contém spoilers do décimo, do décimo primeiro e do décimo segundo episódios de “Digimon Adventure:”.
Anteriormente, em Digimon Adventure: (gravado assim mesmo, com os dois pontos): fomos do céu ao inferno em episódios, com o melhor da série até então trazendo muita ação em uma invasão dos digiescolhidos a uma fortaleza, e o pior de todos, numa luta sem sentido entre Taichi/Greymon e Ogremon, não terminando bem para nenhum dos envolvidos.
No décimo episódio, fuga, pântanos tóxicos e… MetalGreymon! Mas já?
Ao ter sua batalha de honra pelo chifre interrompida pela presença assassina do MetalTyrannomon, Ogremon decide trair as forças malignas e ajudar os digiescolhidos, indicando o caminho para que eles encontrem os digimons sagrados. Tipo, literalmente. Ele aponta e diz “é pra lá!” antes de morrer.
Cruzando as informações divulgadas com dados do local no computador do Koshiro (Izzy), a molecada reconhece que a dica é boa e decide seguir. O problema todo é que o lagartão gigante na forma perfeita lá ainda está na área, com eles precisando se esgueirar pelo caminho em alguns momentos.
Mas esse tipo de atitude não combina com a postura de herói de Taichi (Tai), que evoca a coragem que tem como brasão e decide enfrentar o inimigo, a fim de distraí-lo enquanto os colegas rumam ao caminho traçado para encontrar ajuda para lidarem com a situação caótica do Digimundo e, consequentemente, livrar a cidade de Tóquio do apagão que vem acontecendo.
E como nada é fácil nessa aventura, as crianças encontram dois obstáculos no meio do caminho. O primeiro é um pântano mortal com águas cobertas por um miasma, que parece ser a fonte de poder dos adversários que eles vêm combatendo episódio a episódio, mas é totalmente corrosivo para todo o resto (incluindo um livro de pré-vestibular do Joe). E fedorento. Bastante fedorento. Vejam a reação da Mimi e da Palmon:
Isso estaciona o grupão, que não tem como passar dali. O outro problema é que o MetalTyrannomon é absurdamente mais poderoso que o imaginado, visto estar um nível acima em digievolução. Greymon e Taichi não têm a menor chance e passam a maior parte do tempo apanhando. Mas a coragem da dupla em não abaixar a cabeça amplifica seus poderes, ativando um novo modo de energia em seu digivice.
Então, Greymon digivolve para…
MetalGreymon!
A SuperDigievolução ocorrer assim tão cedo, a princípio, me pareceu uma decisão de roteiro esquisita, apressada demais. No entanto, levando em conta que a ideia desse reboot, aparentemente, é dialogar com o público infantil consumidor de animês atual, até que faz sentido. A galera mais nova está acostumada a narrativas mais ágeis, não deve ter muita paciência para aguardar dois arcos inteiros passarem para que, enfim, os digimons comecem a digievoluir para formas mais poderosas.
Enquanto isso parece distanciar os paralelos iniciais com a série de 1999, uma porção de novas possibilidades são abertas. Com mais tempo livre, é provável que não só Taichi e Yamato (Matt) cheguem à MegaEvolução, mas também todo o resto do elenco. O que é potencialmente bem legal de se aguardar.
MetalTyrannomon é destronado pelo MetalGreymon numa luta bacaninha de assistir, bem melhor animada que no episódio anterior, o que resolve um dos problemas. Mas o outro ainda está lá e eles precisam lidar com isso. Como o lago de miasma é grande demais e impossível de passar por dentro, eles resolvem se dividir em dois times de três integrantes cada, que irão por caminhos opostos, acumulando assim o dobro de chance de chegarem onde os digimons sagrados estão.
No décimo primeiro episódio, a amizade aflora no meio do deserto…
Agora divididos numa dupla de trios, os digiescolhidos separam-se, indo por locais opostos, mas com o mesmo destino final. O primeiro grupo, composto por Taichi, Koshiro (Izzy) e Mimi caminha por uma paisagem mais fria e de espaços pouco apropriados para andar a pé. A pobre da Mimi mal se aguenta em pé:
Mas já já voltaremos nesses três.
Enquanto isso, do outro lado, atravessando um deserto escaldante, Yamato, Sora e Joe sofrem com o calor e…
Espera, eles deram um jeito de montar um cesto e usar a Birdramon como “balão” para passar planando pelo deserto? Na verdade, essa é uma… ótima ideia!
E teria funcionado com certa facilidade, caso eles não encontrassem um enxame de SanYamamons pelo caminho, que causaram uma tempestade de areia, derrubando as crianças, que ficaram a merce de ainda outro digimon, fatalmente mais poderoso mesmo que os SanYamamons: o Scorpiomon, também dominado pelo miasma, também no nível super, guiando seus ataque pela vibração causada pelos passos no chão. Deu para fugir, mas por pouco.
Eles encontram Neamon (sim, o mesmo espécime do sensacional coelhinho atrapalhado de Digimon Frontier) e seu bando de digimons fofinhos e assustados abrigados em um esconderijo, que explica estar tentando atravessar o deserto para encontrar o Leomon (!), que está reunindo uma resistência de digimons (!!) para enfrentar a ameaça viral que vem fazendo a cabeça de outras criaturas digitais e levando-as pro lado do mal, fazendo com que elas ataquem seus semelhantes.
Bacana esse ser o plot por trás do Leomon, que teve um papel tão importante no primeiro arco do animê original. É uma maneira inteligente de aproveitá-lo, pois não só atrai a atenção dos fãs das antigas, que sabem quem é o dito cujo, como os mais jovens, visto essa estratégia de construir um mito por baixo do personagem ser comumente certeira.
Sora e Joe compram a história e decidem ajudar eles a atravessar o poço de areia. Já Yamato, crê que eles mais atrapalharão do que ajudarão no fim das contas, deixando o local sozinho. Ao menos até ele, com ajuda do Gabumon, se dar conta de que não é tão bacana assim deixar de lado uma amizade que vinha sendo construída mesmo num cenário tão perturbador. Ao sucumbir a seus sentimentos, o brasão da amizade no digivice brilha em azul e Garurumon digivolve para…
WereGarurumon!
Ao fim, Yamato revela que estava usando os colegas como isca para derrotar Scorpiomon numa emboscada, se abrindo também sobre seu irmão caçula, Takeru (TK), que está em Tóquio e provavelmente assustado com o apagão. Que sua pressa para resolver aquilo é para livrar o menino de qualquer perigo o mais rápido possível, ficando aliviado ao desabafar e estabelecer esse mais novo vínculo com seus novos amigos.
Sora, Joe e ele atravessam o deserto, levando Neamon e os outros prum lugar seguro e seguem viagem rumo aos digimons sagrados. Enquanto isso, no caminho oposto do pântano…
Taichi, Koshiro e Mimi encontram um conjunto de ruínas misteriosas, com a Mimi e a Palmon caindo num buraco após acionarem uma armadilha na parede. E assim, perdemos nossa protagonista moral.
No episódio 12, máquinas também sabem amar…
Brincadeira, a Mimi não morre. Na verdade, ela vai parar num ambiente fabril subterrâneo à ruína onde eles estavam antes. O local parece ser um cemitério de digimons robotizados, quase como o cenário de um filme de terror tecnológico esquisito – o que parece ter sido a meta do roteiro desse episódio, pois é bem nessa linha que a trama se desenrola. Tem desde cenas jumpscare (aquelas onde tudo está normal, até que algo assustador pula na tela) a momentos de agonia psicológica, em que os personagens quase morrem de verdade. E ainda rola uma subtrama esquisita sobre uma máquina se apaixonando por uma humana. Para este que vos escreve, é o melhor dessa trinca. Quiçá o melhor da série até então.
Alguns momentos dessa construção narrativa:
Tudo começa com a Mimi limpando a poeira de um robô caído no “cemitério” improvisado de ferros velhos. Ao terminar, ela se observa no reflexo e sorri espontaneamente.
Até que, no take seguinte, ela dá de cara com o temível Andromon, que imediatamente a identifica como um alvo e começa a atacá-la. Por sorte, ela é salva por Palmon na última hora. O digimon máquina, no entanto, funciona como um robô deve funcionar, raciocinando em zeros e um. Mimi é o alvo, Mimi deve ser destruída. Sem chance de diálogo, sem muito tempo para as adversárias pensarem em algum plano.
Nem mesmo após evoluir Palmon para Togemon a dupla manifestou qualquer chance ante o androide de destruição. Bom demais observar o Andromon como um adversário realmente perigoso, quase imbatível. Na série original, ele foi demasiadamente subutilizado, sendo derrotado pelo Kabuterimon recém-evoluído. Aqui, ele derrota não só a Togemon, mas, mais pra frente no episódio, o próprio Kabuterimon, que desceu pelo buraco com Koshiro, Taichi e Agumon para encontrar a Mimi, e, vejam só, o MetalGreymon, que leva uma coça bonita de assistir.
A chance de Mimi se salvar (sério, o Andromon quase consegue assassinar ela) vem quando Guardromon desperta, servindo de escudo para sua amada. É, sua amada. Explicarei.
Lembram o momento mais acima, da Mimi limpando a carcaça de metal e sorrindo para o próprio reflexo? Pois bem, na verdade, aquela carcaça caída era o Guardromon, em modo de descanso, que entendeu aquele gesto narcisista como um… flerte.
Literalmente: ele se apaixonou…
Mas voltando ao segmento aterrorizante, como mencionado, Andromon é uma criatura muito mais poderosa que o geral, acabando com Kabuterimon, MetalGreymon e com o Guardromon (a cena é ligeiramente pesada, com ele enfiando o pé na cabeça e amassando a lataria do Don Juan parafusado).
Aparentemente, a dor de observar seu maior fã sendo executado a sangue frio poucos centímetros a sua frente despertou a sinceridade (não tentem questionar, apenas sigam em frente) do brasão de Mimi, fazendo com que, num último suspiro de esperança para salvarem suas vidas, Togemon digievoluice para…
Lilimon!
Achei muito legal a maneira como a batalha entre a Lilimon e o Andromon foi construída, rolando um desfecho poético onde “a natureza encontra a máquina” que ficaria em casa no final de algum longa metragem no estúdio Ghibli.
E não falo só pela mensagem, mas visualmente isso foi muito bem representado, com o verde tomando o entorno, trazendo vida de volta ao lugar que antes era interpretável como um cemitério:
Ao fim, após desabar em choro, Mimi presta uma homenagem ao Guardromon, que deu sua vida para salvá-la. Então, ela coloca um sorriso no rosto e segue em frente, no desenvolvimento emocional de personagem mais bonito apresentado no animê até esse ponto.
Será que Digimon Adventure: vai bolar algum outro episódio tão brilhante quanto esse daqui em diante? Difícil, mas a vontade de acompanhar foi lá para cima.
Comentários dos episódios 1, 2, 3, 4 e 5, 6 e 7, 8 e 9.
Com transmissão simultânea ao Japão por aqui através da Crunchyroll, Digimon Adventure: é um reboot do animê original de mesmo nome (mas sem os dois pontos), produzido pela Toei Animation, em 1999. Assista aqui.
Sinopse pela Crunchyroll:
É o ano de 2020. A Rede tornou-se algo indispensável para a vida dos humanos. Mas o que eles não sabem é que, por trás da Rede, existe um mundo de luz e trevas conhecido como o Mundo Digital, habitado pelos Digimons. Quando Taichi Yagami tenta salvar sua mãe e sua irmã, que estão a bordo de um trem desgovernado, ele entra na plataforma… e um estranho fenômeno o leva para o Mundo Digital. Ele e outros Digiescolhidos encontram seus parceiros Digimons e embarcam numa aventura em um mundo desconhecido!
O roteiro é assinado por Atsuhiro Tomioka, que já trabalhou em várias séries infantis como Bucky, Hamtaro, Super Onze e Pokémon. No Japão, o animê substitui o horário de GeGeGe no Kitarou na FujiTV, série que se encerrou ao fim da última temporada de inverno japonesa e também foi exibida por aqui pela Crunchyroll.
As Duas Próximas Semanas dizem que sim…
No Aguardo de Mais Surpresas, incluindo o Joe…
Esse episódio 12 foi o que menos gostei até agora, achei inclusive que houve um excesso de elementos que os roteiristas tentaram acrescentar em 20 minutos de episódios que acabaram não tão bem colocados, e sinceramente…é sério que alguém realmente simpatizou com a ideia de um digimon, que é praticamente uma máquina, se apaixonar por um ser humano? Se bem que no anime de 99, a Mimi consegue conquistar alguns Numemons com o seu charme, então…esquece.