De vez em quando troco ideia com alguns amigos sobre como os japoneses andam ressuscitando o que chamo de “medalhões” para causar burburinho e faturar mundialmente, aproveitando-se da memória afetiva coletiva mundial. Sailor Moon, Dragon Ball, Saint Seiya, Digimon e outros ganharam suas continuações ou reboots nos últimos anos e era só uma questão de tempo até uma produção marcante como InuYasha (2000-2004; 2009-2010) ter alguma novidade anunciada – por mais desnecessário que pudesse ser…

Eis que, em 2020, um ano tão cheio de infortúnios, o anúncio de uma continuação da saga do meio-youkai estrelado por sua filha e sobrinhas (filhas de seu irmão, Sesshoumaru) veio ao mundo, gerando uma grande expectativa.

Apesar da suposta supervisão da autora Rumiko Takahashi, as possibilidades da coisa toda ser um grande pastiche sem personalidade nas mãos da equipe de produção (liderada por Teruo Sato, diretor que já trabalhou com a série no passado) eram grandes.

Mas diferente do que vimos em Os Cavaleiros do Zodíaco: Ômega ‒ um grande engodo que não conseguiu construir uma personalidade própria ‒ YashaHime optou por não ofender nenhum fã que acompanhou a história clássica e até o presente momento (só foram ao ar 2 episódios) entrega uma continuação que podia ter sido lançada há muito mais tempo.

InuYasha… SENTAAAA!!! | Reprodução: Crunchyroll



Sendo honesto e sincero com a intenção de agradar aos fãs, o primeiro episódio apresenta um epílogo que serve para nos reconectar com toda a turma. Com o mesmo tom que conquistou uma geração, duas décadas atrás, o episódio 1 deixa qualquer “não iniciado” na história de InuYasha completamente à deriva. O episódio praticamente faz o papel de “cartão de visitas” da nova equipe de produção aos fãs antigos ‒ que podem respirar aliviados.

Deixadas algumas pistas sobre o possível novo “Naraku” da história, somos apresentados às protagonistas da série apenas no episódio dois. Towa, a garota meio-youkai que lembra o jeitão da Haruka Tenoh (a Sailor Uranus de Sailor Moon) é o fio condutor que nos apresenta o possível plot da trama.

Atenção: A seção abaixo contém spoilers dos episódios, clique aqui para pular.


Separada de sua irmã gêmea, Setsuna, quando bem pequena, a garotinha vem parar em nosso mundo através de um portal misterioso – aberto por ela mesma a partir de uma pequena joia chamada “Pérola Arco-íris” (que me fez lembrar da pérola que ficava no olho de InuYasha e podia levá-lo ao túmulo de seu pai, que sempre pareceu uma outra dimensão). Chegando em nosso mundo, a pequenina se depara com um adulto Souta – o irmão Kagome!

Filhotinhas do Sesshoumaru | Reprodução: Crunchyroll

A menininha acaba ficando por aqui e é adotada pelo rapaz (o qual ela chama de papai) e uma passagem de 10 anos se dá. Brigona, Towa coleciona desafetos e um belo dia, um destes covardemente sequestra sua irmãzinha Mei (filha legítima de Souta) e também sua “avó” (a mãe da Kagome!) e seu “bisavô” (o vovô Higurashi, que deve tomar muito Cogumelo do Sol® e iogurte da Top Therm® , já que não envelheceu quase nada).

Enquanto isso, no mundo feudal que conhecemos, reencontramos um Kohaku adulto e Kirara – agora usada por um dos filhos de Sango e do Monge Miroku, Hisui, já adolescente. Ele estava no encalço de Moroha, uma meio-youkai com vestes vermelhas e um jeito abusado que logo nos remete a seu possível pai, InuYasha. 

Setsuna, que se tornou uma exterminadora de Youkais, ameaça Moroha, mas durante uma disputa emite um brilho de sua Pérola Arco-íris. Esse brilho atrai uma tal de “Senhora de Três Olhos” – que é uma nova versão da Mulher Centopeia – sem sutiã digital, para desespero dos possíveis censores no futuro.

Primas | Reprodução: Crunchyroll



Na luta com a youkai, as misteriosas pérolas de Setsuna e Moroha são absorvidas, tornando o demônio muito mais poderoso. Um misteriosa voz vinda de uma árvore (que penso ser a mesma árvore em que InuYasha estava lacrado) faz abrir um buraco interdimensional que arrasta as garotas e a Mulher Centopeia pro nosso mundo diante dos olhos de Towa – momentos depois dela salvar sua família.

Towa se ergue com ímpeto pra cima do demônio com sua espada, Kikujumonji, que se parte na dura couraça da youkai. Pra deixar a coisa mais tensa, Setsuna não se recorda de sua irmã e assim é dado o gancho pro episódio seguinte.


É um mérito e tanto da direção de Teruo Sato emular todos os elementos que consagraram a série original neste spin-off (do ritmo de desenvolvimento da história, passando pela trilha sonora e acertando no visual dos personagens). Não sou capaz de avaliar se tudo isso é capaz de atrair novos fãs para a série, mas o trio principal parece ter potencial para sustentar uma boa trama. Enquanto ela não engata, devemos conhecer mais profundamente as protagonistas até chegar ao ponto dos eventos do primeiro episódio ‒ que deixou um ar de mistério envolvendo a clássica síndrome de De Volta para o Futuro: alterar eventos do passado, poderá comprometer o futuro

A versão apresentada pela Crunchyroll se deu a liberdade de utilizar os nomes dos personagens como ouvimos na versão brasileira. Então Kagome virou Agome; Miroku é Mirok(i) e Naraku, Narak(i). Li alguns comentários de uma galera xingando o serviço por isso e me pergunto qual o problema dessa galera… Duvido que o primeiro contato com InuYasha não tenha sido no Toonami, via Cartoon Network, em 2002. Seria melhor não ter essas adaptações? Penso que sim, mas isso não chega ao ponto de prejudicar a qualidade do que é apresentado. 

Esse dois juntinhos traz um calorzinho ao coração | Reprodução: Crunchyroll

Só dois pontos que achei meio “meh”: a abertura e encerramento. A abertura parece ter saído de algum episódio perdido de Naruto, One Piece ou Yowamushi Pedal, com o clipe trazendo cenas meio genéricas e cenas clichê – como as corridinhas. O encerramento é menos desinteressante (no que diz respeito ao clipe) e se salva bela voz da intérprete, Uru.

Com um primeiro episódio flechando o coração dos fãs da série, e um segundo apresentando uma trama que nos motiva a acompanhar para descobrir mais sobre os personagens, YashaHime é uma diversão que não fere a memória de ninguém, ainda que a cronologia do tempo soe meio perdida. Vamos assistir mais para entender melhor.