Meu ator predileto é o Jackie Chan. Adoro a grande maioria da filmografia dele entre o comecinho dos anos 1980 e o final dos 90, onde ele dirigia e era dirigido em um sem número de longas-metragens policiais de kung-fu que faziam sucesso de Hong Kong aos Estados Unidos. São todos bem parecidos: geralmente há um grupo criminoso que entra em embate com um grupo de mocinhos; geralmente esse mocinhos têm na figura do Chan um centro; geralmente há uma garota. Mas com pequenas diferenças: tem vezes que o Jackie interpreta um policial (na maioria delas); tem vezes que ele é só um cara normal que trabalha como cozinheiro, ou arqueólogo, ou tem um irmão gêmeo que nunca foi apresentado.
Os filmes antigos do Jackie Chan nos ensinam uma importante lição a respeito de produtos da cultura pop: dentro do entretenimento, não é necessário de verdade que as coisas sejam 100% originais para, ahn, “entreterem”. Obras podem utilizar elementos parecidos e massivamente já explorados e, ainda assim, divertirem os consumidores sem muitas ressalvas. Caso de Jujutsu Kaisen – Batalha de Feiticeiros, mangá da Weekly Shounen Jump, escrito por Gege Akutami, iniciado em 2018 e ainda em andamento, que chega aqui no Brasil pela editora Panini.
Na trama, um moleque chamado Yuji Itadori, membro de um clube de ocultismo em sua escola, engole um dedo de um famoso espírito amaldiçoado, o lendário Ryoumen Sukuna, e se transforma num hospedeiro para seus poderes. Por consequência, ele acaba sendo recrutado por um colégio de feiticeiros para caçar e comer os outros dedos da criatura, enfrentando ameaças sobrenaturais com seus novos colegas de classe e um professor misteriosamente poderoso.
Não há um só fio de originalidade em Jujutsu Kaisen, seja estética ou narrativamente. Absolutamente tudo lembra uma porção de mangás e animês que vieram antes e fizeram bastante sucesso. Naruto, em especial, parece ter servido de molde em uma porção de elementos. Tem o protagonista órfão mais fanfarrão e de cabelo bagunçado (Yuji/Naruto) que carrega um imenso poder maligno selado em seu corpo (Sukuna/Kurama). Tem o colega soturno de cabelo preto mais jogado, aparentemente mais poderoso, inteligente e com um talento natural (Megumi Fushiguro/Sasuke). Tem a bad girl tsundere de cabelo chanel que gosta de bater nos outros (Nobara Kugisaki/Sakura). Tem até o mentor extremamente poderoso e requisitado que cobre alguma parte do rosto (Satoru Gojo/Kakashi).
Contudo, ao fim, isso chega a ser um problema? Na verdade, não! Nesse primeiro volume, o mangá usa tão bem todos os clichês possíveis de histórias shounen, replicando tão bem estratégias narrativas que tanta gente já usou, que o resultado é um começo de história aconchegante de tão familiar. É agradável de ler, com personagens legais de acompanhar, uma premissa interessante, um universo com diversas possibilidades e momentos de pura diversão descompromissada.
Gosto bastante de como pequenas gags visuais de humor nas expressões faciais dos personagens são inseridas. É uma ideia narrativa que, junto com aquilo de adicionar dos balões os pensamentos deles em contraposição ao que está sendo dito, constrói uma quebra de clima divertida que deixa o tom mais “sombrio” da trama ligeiramente descontraído. Os momentos de gore, embora poucos, são certeiros. O jeito como os corpos deformados são colocados em quadro impressiona. E o segmento no sétimo capítulo com o Yuji, numa batalha, conversando com o Kusuna para que ele o ajude a sobreviver, mas a criatura dizendo que, antes de derrotar o inimigo, assassinaria os amigos do rapaz, é bacana em delinear os perigos que os personagens correm ao tratar com forças tão obscuras.
Em suma, Jujutsu Kaisen – Batalha de Feiticeiros é uma boa opção de entretenimento para fãs de aventuras shounen. É um gibi que desce redondo, embora não reinvente a roda em momento nenhum – e não é como se precisasse disso para divertir. Particularmente, o incômodo fica pela não tradução de algumas palavras que estão em inglês. Não me faz muito sentido o uso de “Tokyo” em vez de Tóquio, visto estarmos no Brasil e falarmos português.
O problema, para novos leitores, é que o primeiro volume do mangá, aparentemente, já está esgotado. No momento em que esse texto vai ao ar, ele não se encontra na loja oficial da Panini, na Comix e nem pelo preço de capa na Amazon (mas vendido bem mais caro por terceirizados). No site Enjoei, dá para adquiri-lo pela bagatela de R$65,00. Uma pena, pois o mesmo saiu por aqui em agosto desse ano e, com a estreia e sucesso recente do animê (incluindo dublagem em português), é certo que sua procura deve aumentar (no Japão foi assim).
Esse texto foi feito utilizando uma cópia do volume 01 de Jujutsu Kaisen – Batalha de Feiticeiros enviado pela editora Panini como material promocional para a imprensa.
Pois é, tem algumas semelhanças com Naruto, assim como Naruto tem, e muita, com Dragon Ball. Mas acho que algumas “semelhanças” fazem parte da “receitinha da Shonen Jump”, afim de manter certos clichês que atraem os leitores. Se você for comparar com outros animes como Yu Yu hakushô, Hunter x Hunter também vai encontrar alguns dos mesmos clichês que citou. Acho que o autor é fã de Naruto e isso o fez focar só em Naruto. No entanto, na minha humilde opinião, Jujutsu Kaisen tem um roteiro bem mais elaborado, Naruto é clichezão também, mas pra molecada…