O streaming veio para ficar, disso não há dúvidas. O ano de 2020 marca inclusive um momento talvez novo para o mercado de animês no Brasil: com a chegada de grandes players internacionais, como Funimation e Pluto TV, as coisas talvez comecem a “esquentar” um pouco mais aqui dentro, para além de Crunchyroll, Netflix e Amazon Prime.
Mas o streaming também traz alguns reveses para o consumidor – muita gente já está reclamando que assinar múltiplos serviços anda ficando cada vez mais caro, tão caro quanto planos de TV a cabo. No fim das contas, o atrativo inicial era ter muitas opções a um custo bem mais baixo que a TV paga.
Isso valeria uma outra discussão sobre monopólio e acessibilidade, afinal, ter apenas um serviço talvez não seja uma boa ideia. É notável que bastou uma leve ameaça de concorrência mais sólida para mudanças importantes acontecerem no cenário nacional. Mas realmente a conta no fim do mês pode pesar para quem quer consumir coisas de diversos catálogos.
Este post, no entanto, vai tratar de um outro problema, um que vem de carona na forma como os animês são licenciados: às vezes, as temporadas se dividem entre vários catálogos de forma meio “Frankenstein”, com uma temporada aqui, outra ali e o pior, nem sempre com o mesmo título ou com as mesmas opções.
Se você acessar a Amazon Prime Video, vai encontrar completinha toda a primeira temporada de Um Chute no Meu Diabo! (Jashin-chan Dropkick, no original) com legendas em português. Os episódios saíram num modelo meio “atrasocast”, ou seja, episódios eram adicionados toda semana mas com um atraso de alguns dias em relação à transmissão original japonesa.
Mas a segunda temporada foi disponibilizada pela Crunchyroll com o título em inglês, Dropkick on my Devil!, apesar de não vivermos em um país que fala inglês (talvez a sede americana ainda não tenha descoberto isso). Os episódios saíram junto com o Japão e foram adicionados de uma vez só na plataforma com legendas em português.
Há uma terceira temporada para sair e só as deusas sabem em qual plataforma virá. Talvez volte para a Amazon, talvez volte para a Crunchyroll… Ou quem sabe saia pela Netflix ou Funimation? Muitas séries são acordadas por temporada, possivelmente os produtores estão negociando ou ainda irão negociar com as plataformas (se nenhuma delas estiver envolvida na produção, claro), então poderia sair em qualquer uma… ou duas, ou três. Depende do contrato.
Esse modelo é por vezes bom para a produção do animê, que a cada temporada poderia renegociar um contrato mais interessante dependendo da repercussão das temporadas anteriores. É provável que, tendo uma boa relação e bom retorno, a empresa tenha maior preferência ao tentar “renovar” a série. Mas, por vezes, as licenciantes mudam.
Às vezes, nem é culpa diretamente do Japão. Muitas séries são licenciadas para empresas nos EUA e sublicenciadas por elas para serviços de streaming. É o caso de muitas séries da Sentai Filmworks parando na Crunchyroll. Mas, claro, a Sentai pode mudar de ideia e deixar de renovar os contratos, como aconteceu ainda neste ano com Shirobako e outros títulos.
Ainda há casos de licenças para vários streamings. The Promised Neverland, da Aniplex, exibida simultaneamente pela Crunchyroll aqui (e pela Funimation também nos EUA), entrou recentemente na Netflix com legendas. A Netflix também fechou um pacotão de títulos da Sentai e está adicionando episódios com opção dublada.
DanMachi entrou nessas: a Crunchyroll possui as três temporadas da série com legendas (e nome em inglês) em seu catálogo. A Netflix possui a primeira temporada com opção dublada, sob o nome DanMachi: É Errado Tentar Pegar Garotas em Uma Masmorra e um filme, com o título em inglês – Is It Wrong to Try to Pick Up Girls in a Dungeon?: Arrow of the Orion – e só com legendas.
Outra série do “pacotão da Sentai’ foi Shokugeki no Soma (ou Food Wars!), que até então só estava disponível legendado na Crunchyroll – mas como a Sentai só tem duas temporadas da série, só elas estrearam na Netflix.
E Takagi: A Mestra das Pegadinhas? A primeira temporada está legendada na Crunchyroll com nome em japonês e a segunda, com dublagem na Netflix e nome em inglês (obrigada por lembrar nos comentários, João Herbert!).
Ainda há casos em que as plataformas não mudam, mas as opções sim. A Crunchyroll dublou a primeira temporada de Free!, mas aparentemente não tem o mesmo direito sobre as demais. Com isso, quem começar a ver a série dublada vai ser obrigado a assistir legendado se quiser ir até o final.
É óbvio que para as plataformas o ideal é ter todas as temporadas de uma série com as mesmas opções em todos os episódios. Talvez o melhor mesmo seja ter o máximo de conteúdo dublado o possível – segundo a Netflix, 84% de seu público brasileiro prefere conteúdo dublado.
Mas, no caso de conteúdo licenciado, que compõe a maioria dos animês nos catálogos dos streamings, isso depende também da vontade e termos do detentor da licença na hora de assinar o contrato. Se para a empresa é ruim não oferecer a série completa, é pior ainda para o consumidor ter que pagar outro serviço para poder ver uma série inteira… Ou buscar meios um tanto “alternativos”.
Esse problema não é “invenção” do streaming. Por exemplo, a série Dragon Ball estreou na TV aberta pelo SBT em 1996, mas a continuação, Dragon Ball Z, estreou na Band em 1999 – só que a TV aberta é… bem, gratuita. O custo de assistir em outro canal é baixo para o consumidor. No máximo torra sua paciência.
Claro, o Brasil, como muitos países da “periferia do capital”, também sofre com o fato de basicamente todos os streamings com animês serem de empresas estrangeiras. Muitas vezes, essas empresas até possuem as séries… mas não o direito de exibí-las aqui.
É por isso que o catálogo brasileiro da Crunchyroll, por exemplo, é bem mais murcho que o americano. O mesmo deve ocorrer com a Funimation assim que legendarem todo conteúdo que puderem/conseguirem/quiserem. Mas, assim como o streaming, esses são muito provavelmente problemas que vieram para ficar.
O texto presente nesta coluna é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
O streaming veio pra ficar, fato. Ter mais opções de streaming trazendo animes para o mercado é muito interessante. Contudo, essa situação de certo anime ter dublagem de uma temporada em um serviço, mas só ter legendada em outro é bem complicado. Não só os animes da Sentai Filmworks que tem esse problema. O anime da Takagi, mestra das pegadinhas (aliás, ótima adaptação do nome pro português), tem a segunda temporada dublada na Netflix, mas a primeira legendada na Crunchyroll.
Obs: Free!, o anime dos nadadores gente boa, lá fora é distribuída pela Funimation. Talvez, eles tragam pra cá em algum momento.
Acho também que as empresas poderiam explorar um pouco mais o “saudosismo” dos consumidores por dublagens antigas de animes, pegando como exemplo, ZILLION, recentemente adquirido pela Funimation. Se um dia esse anime receber uma opção de dublagem pela plataforma, tenho 99,9% de certeza que jamais será a clássica dos anos 80 que fez a alegria de fãs mais antigos da série, e acabará com a nostalgia que a série poderia agregar, o que é ruim para um anime clássico oitentista que teve passagem nessa mesma época por aqui antes. Com o uso que muitos fãs nostálgicos fazem da internet, não deveria ser difícil para as empresas saberem sobre a existência de certas dublagens, a demanda de uma parte do público para elas, e a cogitação de as adquirirem remasterizando esses áudios a fim de incentivar ainda mais o consumidor a assistir animes por vias oficiais do que recorrer à pirataria para ter acesso a elas.
Na verdade, a Crunchyroll que distribui a 1° e a 3° temporada de Free!. A Funi tem os direitos só dá 2° temporada e dos filmes (por isso só tem 1 temporada disponível na Funi por aqui).
Mas o problema, é que estão ficando cada vez mais numerosos demais e poderam ficar bem mais caros quanto a tv a cabo é agora.
A única forma de vencer/retarda a pirataria, é reduzir os preços de produtos originais pros consumidores terem acesso a ele.