Transformers é uma franquia com décadas de história, tanto das aventuras dos robôs que viram carro quanto os bastidores das diversas negociações, acordos e coincidências que os diversos empresários , engenheiros de brinquedos, artistas e cineastas envolvidos na sua criação.
Porém, um aspecto muito pouco reconhecido dessa história é a origem japonesa dos Transformers. Apesar de ser uma franquia americana, os robôs disfarçados na verdade devem sua existência a uma complexa porém profunda parceria entre Japão e EUA, parceria que perdura até os dias de hoje.
A gênese dos robôs tem origem no primeiro “action figure”: G.I. Joe, o boneco articulado de soldado americano de 40cm que vinha com diversas armas e equipamentos militares.
Se distanciando do termo “doll”, ou boneca, (Credo, coisa de menina!) o brinquedo foi um sucesso quando lançou em 1964, e foi exportado e licenciado mundo afora, inclusive no Brasil, onde foi vendido como o Falcon, e no Reino Unido como Action Man.
Houve uma tentativa de explorá-lo no Japão com o nome Combat Joe, mas a temática militar não atraiu a juventude japonesa. Ao invés disso, a empresa licenciante, Takara, decidiu utilizar o molde do boneco para criar algo completamente novo.
Daí nasceu Henshin Cyborg, um boneco robô de armadura transparente com circuitos internos visiveis, que poderia ser incrementado com acessórios e armas de laser (Vendidas separadamente, é claro).
Mas o fator mais atraente eram as armaduras que você podia colocar e transformar seu robô genérico em um dos outros personagens que a Takara vendia, como Ultraman, Mazinger Z, Kamen Rider e Devilman, dando todos os seus heróis favoritos em um boneco só!
Apesar de ser muito popular, a Takara foi severamente afetada pela Crise do Petróleo de 73 (junto com todo o resto do mundo, claro), pois o aumento do preço do petróleo encareceu severamente os custos de produção de plástico (se alguém não sabe, plástico é um derivado de petróleo).
Para contornar o problema, a Takara optou por encerrar o Henshin Cyborg e começar uma nova linha Microman.
Os bonecos teriam o mesmo molde, mas encolhidos para 9,5cm e agora com partes removíveis e recombináveis que as crianças podiam personalizar comprando diversos pacotes de acessórios para. A linha foi expandindo, adicionando mais armas, bases, trajes e veículos. Era tanta coisa que a linha ganhou uma SUBLINHA nova.
A Diaclone era uma espécie de spin-off da Microman focada em robôs para os bonecos pilotarem, que, como bônus, também podiam ser convertidos em naves e veículos futuristas.
Gradativamente abandonou-se a ideia de pilotos, levando o foco total para os robôs.
Em seguida, a linha expandiu para robôs que se tornavam veículos contemporâneos dos anos 70-80.
O sucesso foi tão grande que a linha Microman também seguiu esse caminho, reinventando seus mini bonecos em objetos domésticos (relógios, câmeras, toca-fitas, fitas cassete, microscópios e… pistolas) que se transformavam em robôs. Eles eram o Microchange.
Apesar da sucesso dos diversos brinquedos que nasceram a partir do G.I. Joe, ainda assim a Takara não teve sorte em exportá-los para o país que os originou. Por mais que eles dominassem o território japonês, a empresa não tinham estrutura para competir com o mercado americano.
Para isso eles precisam de um sócio que já estivesse lá. E por sorte, a Hasbro estava interessadíssima em comercializar seus “netos”. Assim, foi feita uma parceria entre as duas fabricantes para explorar os bonecos nos EUA.
Em 1983, a Hasbro licenciou as duas linhas da Takara para o mercado americano, combinando-as em uma só na marca Transformers. Um dos engenheiros principais da Diaclone e Microman, Hideaki Yoke foi à sede da Hasbro para instruir como funcionavam os robôs.
Para introduzir os bonecos nos EUA então usou a mesma estratégia de marketing que ganhou sucesso com o relançamento dos bonecos de G.I. Joe no começo da década: terceirizar, através da Marvel Productions, a elaboração de uma narrativa para os bonecos, e cada personagem teria nomes e personalidades, coisa inédita para uma linha de bonecos naquela época.
Daí nasceu a premissa da franquia: Os Transformers eram uma raça de robôs alienígenas que vieram à Terra após seu planeta natal Cybertron ser consumido pela guerra. Havia duas facções, os heróicos Autobots liderados por Optimus Prime e os malignos Decepticons liderados por Megatron.
Essa premissa foi a base da série animada – nos estúdios da Toei Animation – assim como uma série de histórias em quadrinhos, que serviriam essencialmente como comerciais dos brinquedos, estratégia possível após a desregulamentação de publicidade em programas infantis promovida pelo governo Reagan na época.
A franquia lançou em 1984 nos Estados Unidos e explodiu imediatamente. A marca virou uma das mais poderosas no mundo do entretenimento infantil nos anos 80. O desenho durou 4 temporadas e o gibi, inicialmente previsto para ser uma minissérie de 4 edições, foi concluído com 80 volumes.
No seu primeiro ano, os bonecos foram tão requisitados que houve uma falta de estoque na época do Natal. Como forma de promover a terceira leva dos bonecos, o longa-metragem Transformers: O Filme foi lançado em 1986, em que a maioria dos personagens das primeiras duas temporadas do desenho foram mortos e substituídos por personagens novos… uma decisão cínica.
A Hasbro logo percebeu ter sido uma má ideia, pois ao dar personalidades distintas para seus personagens, as crianças acabariam se apegando a eles, e matá-los aos montes pra abrir espaço denunciava uma falta de noção da empresa quanto ao que tinha em mãos com a franquia. Muitas das crianças viam o Optimus Prime como uma figura paterna, e a morte dele foi impactante para toda uma geração de fãs. Os Transformers já não eram brinquedos substituíveis.
Ainda assim, com o rendimento que a franquia teve, a Takara não pensou duas vezes e cancelou as linhas Diaclone e Microman, trazendo para o Japão a versão americanizada dos próprios produtos! Com o incrível nome Tatakae! Chō Robotto Seimeitai Transformers ou Lutem! Super Robôs Vivos Transformers, os Transformers (re)invadiram o Japão!
Mas o envolvimento japonês não para aí. Mais do que um mero licenciamento, a Takara tinha total autonomia para explorar a marca da forma que achasse melhor. Vários dos personagens tiveram seus nomes adaptados para ser mais fácil de digerir para o Japão.
O Optimus Prime manteve o nome Convoy, da sua contraparte Diaclone. Um mangá oficial foi publicado mensalmente pela TV Magazine, e a série animada teve aberturas exclusivas para o Japão, no melhor estilo J-Rock oitentista.
Além disso, a fabricante de bonecos optou por não exibir a temporada final do desenho. Ao invés disso, a Takara produziu sua própria continuação da história, com os animes Transformers: The Headmasters e Transformers: Super God Masterforce, e os OVAs Scramble City (que introduziu os bonecos do longa metragem, nunca exibido no Japão), Transformers Victory e Transformers Zone.
Animados nos estúdios da Toei, essas produções exclusivas ao Japão dariam continuidade à franquia até o ano de 1990, 3 anos após a marca ter saído de circulação nos EUA.
Esse período de tempo seria a primeira vez em que a franquia estaria em atividade no Japão mas de forma independente da marca nos EUA.
Mesmo quando a marca voltou a produzir conteúdo novo, como a fase Beast Wars nos anos 90, a Takara continuou produzindo simultaneamente os animes exclusivos ao Beast Wars II e Beast Wars Neo.
Entre 2002 e 2006, antes da chegada dos filmes live-action do diretor Michael Bay, a marca foi carregada primariamente por produções nipônicas: Transformers: A Nova Geração, de 2002 e a Trilogia Unicron, composta pelas séries Armada, Cybertron e Unicron.
Além, claro, dos diversos mangás que foram lançados lá, o mais famoso(?) sendo o Kiss Players, em que um grupo de idols que tem o poder de se fundir com os Transformers ao… beijá-los. Infelizmente, nem Transformers escapou da onda moe…
Devido a essas diferentes estratégias de marketing com a marca no território, acabou acontecendo que a franquia tem uma identidade distinta no Japão.
A mais perceptível entre elas é que o público alvo americano de Transformers é muito mais voltado ao colecionador antigo, enquanto no Japão, a série é muito mais agressivamente voltada ao público infantil.
Como consequência, diversas obras americanas de Transformers passam por localizações pesadas para se adequar ao público japonês. Desde o desenho Beast Wars, as versões japonesas das séries de Transformers optam por alterações bem radicais do material original.
Em geral, o texto é mudado para ser mais cômico, falas são inventadas para preencher momentos de silêncio, as vezes mudando todo o sentido do diálogo original, personagens têm suas personalidades alteradas para algum estereótipo japonês, cheio de frases de efeito e quebras constantes de quarta parede. O resultado beira à autoparódia, com qualquer seriedade sendo eliminada para dar espaço a piadas constantes. A 4Kids ficaria orgulhosa.
Quando a marca Transformers explodiu em popularidade com o filme live-action em 2007, todos os produtos subsequentes foram influenciado pelas estéticas e temáticas introduzidas pelo diretor Michael Bay. Isso trouxe diversos novos fãs, mas muitos não tem noção de como era o Transformers antes disso.
O desenvolvimento da franquia Transformers é uma história da troca entre as indústrias culturais americana e japonesa que resultou em um produto cultural que nenhuma das duas conseguiria produzir sozinho. Transformers ocupa um espaço muito singular na história da cultura pop daqui e do Japão, que mais otakus deveriam ter noção.
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transformers armada é genial, gosto de tudo nessa serie e acho que foi a segunda serie que eu sentei mesmo para ver paralelamente engolia materiais do g1 e animated na época cabo cheguei a ter TV a cabo, ela entra no meu top 3 de series preferidas da franquia.
Assisti quase todos eles via tv a sites de vídeo,é por vezes fica difícil,qual é o seu favorito,seja TF:G1,Headmasters,Victory e afins…Off.:Da trilogia Unicron gostava mais da versão japonesa como Micron Legends e sua sequência Super-Link e Galaxy Force…
Seria interessante ter um Sentai baseado na linha Microman.
Vai ter um live action dos Micronautas, que é a versão americana do Microman que a Hasbro produziu.
ótimo texto
Opa!! um novo redator no Jbox, isso é mt bom
Acho incrível como surgiram os transformers, inspiração americana que depois virou ícone de robôs veículos/animais.