Foi anunciado no final de semana uma surpresa que deixou os fãs de Saint Seiya em polvorosa: uma história em quadrinhos oficial da série vai sair na França, com autoria de Jérôme Alquié (aquele dos trailers de Hades de 2001) e Arnaud Dollen.

Segundo matéria do site Santos de Bronze, essa não é a primeira vez que Alquié trabalha com mangás: ele já já produziu um spin-off de 3 volumes de Captain Harlock para o público francês, intitulado Capitaine Albator – Mémoires de l’Arcadia. Trabalhos anteriores da editora levam a crer em um produto de luxo com supervisão da Kurumada Pro.

Mas, enfim, além da obra em si e da vontade de vê-la publicada no Brasil, o que essa novidade pode representar?


Imagem: Os 5 Cavaleiros de Bronze no mangá.

Divulgação: Kurumada Pro.

Bem, para começar, além da Kurumada Pro, para mim não está claro como vai funcionar isso, se há envolvimento da Akita Shoten, com quem a editora Kana parece ter uma boa relação. Sabe-se que envolveu diretamente aprovação pelo próprio Masami Kurumada (algo pouco comum na indústria de mangás, diga-se de passagem).

Digo isso pois no trecho postado no Twitter, a editora é creditada pela série original, de 1985, que deveria ser da Shueisha. Mas aqui entramos novamente em uma discussão sobre os direitos da série e quem aprova o que. Provavelmente, a decisão é do autor original, mas a Akita poderia se envolver se fosse pertinente para alguma das partes… ou, sei lá.

Aliás, aproveitando a deixa para fazer uma digressão, de acordo com a editora argentina Ivrea, a dona da Shonen Jump está atualmente com os direitos de comercialização internacionais dos materiais relacionados à história original e não teria intenção de comercializar as publicações que não são dela. A informação veio com o anúncio da publicação do Kanzenban por lá.

Imagem: Capa do volume 12 do Kanzenban de CDZ nacional.

Divulgação: JBC.

Bem, sabemos já de outras “guerras santas” que, desde o anúncio da tal Final Edition pela Akita Shoten (que deve começar a sair junto com a próxima leva de Next Dimension), os direitos de Cavaleiros parecem uma enorme bagunça para quem olha de fora.

Aparentemente, a nova edição conta com mudanças em quase todas as páginas – e aqui dou os parabéns aos envolvidos pois eu nunca faria isso se tivesse escrito uma série de 28 volumes.

Ainda segundo a publicação da Ivrea, os direitos internacionais dessa edição também estão nas mãos da Shueisha, as chances da nova edição vir para cá são basicamete nulas.

Eu não duvido nada sobre essa salada de copyright, mas particularmente tenho um pé atrás com esse raciocínio.

Não é porque a postagem mais recente promete um big bang de Cavaleiros no mundo todo”, mas sim porque iniciativas recentes da franquia mostram no mínimo uma preocupação em romper as fronteiras do Japão – esse novo anúncio da editora Kana reforça isso.

Para deixar claro, não duvido que a Shueisha tenha avisado que não pretende comercializar a obra. Mas essa postura me parece um pouco rígida demais. Por um motivo muito simples: a maioria dos países onde Cavaleiros faz sucesso eventualmente vai (ou já foi) atrás de publicar o original e o kanzenban.

Ou seja, vai chegar um momento em que apenas a Final Edition é uma novidade relevante o suficiente para compensar uma nova publicação. É neste momento que a Shueisha vai perceber (se já não percebeu) que comercializá-la não custa nada – pelo contrário, traz dinheiro em caixa (afinal, se ela negocia, ela também recebe).

Assim, na minha visão, os direitos internacionais não vão ser vendidos para nenhum país que ainda não tenha publicado o kanzenban. Eu acredito que essa edição ganha versão internacional algum dia. Mas é só um chute, do qual infelizmente só poderemos saber daqui a alguns anos, até porque, se isso ocorrer, nenhuma editora emendaria as duas publicações desse porte em um espaço curto de tempo.

Imagem: Visual exclusivo quadrinho de CDZ.

Divulgação: Kana.

Enfim, saindo desta digressão que já ocupou mais da metade do texto, essa nova série é um teste? Uma sorte? Uma exceção? Bem, primeiro, não sabemos nem o que é exatamente, temos apenas uma imagem promocional. O curioso é, ao contrário dos spin-offs japoneses, utilizar logo de cara os personagens clássicos.

Faz parecer que teremos ou uma história recontando o original de uma perspectiva diferente – um reboot francês – ou uma história extra com os protagonistas, algo próximo aos filmes, uma aventura não necessariamente localizada em um ponto específico da cronologia contra algum deus mitológico.

Sinceramente, eu gosto das duas ideias (principalmente se o reboot se passasse na França). Respostas mais exatas dependem provavelmente tanto da narrativa dessa série, que nos indicará quanta liberdade os autores tiveram e com o que podem ou não mexer do original, quanto de seu sucesso comercial.

De qualquer modo, fica aberta a possibilidade de eventualmente termos um mangá oficial de “Seiya & Os Outros” produzido no Brasil (creio eu, isso não vem tão cedo, se vier). Por enquanto, a editora com a maior “vantagem” de conseguir em um futuro mais próximo é a JBC, não só por trabalhar há anos com a série mas por já ter feito algo do tipo com o mangá de Jaspion.

Imagem: Aiolia em 'Episódio G'.

Divulgação: Megumu Okada/Akita Shoten.

A NewPOP talvez tenha alguma chance já que vai trazer Episódio G, mas parece ser uma relação muito inicial com o “time” de Saint Seiya, talvez precisaria de mais alguns anos, além da editora não ter muito investimento em produção própria, como a JBC vem apostando com o JBStudios (e já engatinhava com o Hensin! Mangá).

Particularmente, não consigo ver editoras nacionais que investem já há um bom tempo em produção nacional, como a Draco, fazendo isso sem ter uma relação mais próxima com o mercado japonês.

Me parece que aceitariam a produção de quem entende de mercado nacional, mas também do mercado de lá… Mas vai saber, né?

Voltando ao começo, acho importante saber qual o envolvimento da Akita Shoten nisso tudo pois Saint Seiya parece ser uma série de peso para a editora, que pelo jeito faz sempre questão de ter alguma coisa da franquia pelo menos na Champion RED.

Se uma negociação também inclui os pitacos da editora (seja na aprovação, seja na hora de trocar uma ideia com o Kurumada), eu creio que ela só botaria isso na mão de gente de confiança. Nesse ponto, não temos ninguém que já tenha feito algo similar às publicações da editora Kana de Harlock, que certamente serviram para a editora japonesa ver como funciona a rotina e qualidade de publicações originais dos franceses.

Imagem: Aldebaran no mangá.

Por enquanto este é o ‘Cavaleiros’ brasileiro que temos. | Divulgação: Kurumada Pro.

Acho que fica também inevitável perguntar qual poderia ser uma história brasileira de Cavaleiros. Bem, se os franceses fizerem o reboot deles, nós poderíamos fazer o nosso… Ou uma aventura da turma principal por aqui.

Imagina o Seiya vivendo como entregador de comida, tipo o Hinata em Haikyu? Claro, também há quem ache que seria bacana abordar o Aldebaran, talvez seu passado (no Pará, quem sabe?). Ou quem sabe o sonhado spin-off do Jabu.

Bem, vocês me conhecem. Eu gosto mesmo é da Saori,e não escondo de ninguém. Não consigo delinear bem qual linha acharia legal uma história oficial brasileira de Cavaleiros seguir, mas a minha com certeza teria muito desenvolvimento em cima da Saori (e, já que o fã-clube dela no Brasil deve ser composto por mais 3 pessoas além de mim, talvez não tivesse muito apelo comercial).

A questão é que talvez seja a hora de começar a imaginar qual seria uma história interessante da série feita aqui no Brasil, porque parece possível que um dia pipoque uma. A França, novamente, está abrindo as portas para a franquia, trazendo a possibilidade de outros países inventarem suas próprias histórias oficiais de Cavaleiros.


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