Já há algum tempo, o JBox vem soltando algumas postagens em parceria com o Fora do Plástico, uma das principais referências sobre quadrinhos no Instagram. Nossa colaboração mais recente foi uma “consultoria” de mangás que poderiam ser lançados aqui.

Na nova postagem, resolvemos fazer uma brincadeira. Muitos live-actions hollywoodianos vêm sendo anunciados, como é o caso de Hellsing, mas a recepção não tende a ser muito positiva. Então, resolvemos brincar um pouco: quais diretores de cinema têm um portifólio de filmes a ver com algum mangá e, talvez, produzissem um resultado final interessante mesmo sem serem conhecidos por algum gosto por mangás?

Existem temáticas e questões nos quadrinhos japoneses, e na forma como seus autores levam suas narrativas, que são mais específicas da cultura do Japão, embora outros temas seja um pouco mais “universais”. A nossa ideia não é realmente propor que tais diretores adaptem algo, e sim apenas brincar e buscar obras que se encaixem no “perfil” deles.

Segue então a lista, contando com alguns nomes bem conhecidos e outros talvez nem tanto para nosso público:

Astro Boy por Steven Spielberg

Imagem: Astro Boy e Steven Spielberg.

O diretor já tem experiência com filmes sobre meninos robôs, como em Inteligência Artificial (2001), embora numa pegada um tanto diferente do mangá. Spielberg também sabe trabalhar com crianças, E.T. (1982), outro filme de ficção científica, foi um sucesso entre a crítica na época do lançamento. Dessa vez ele pode estar à frente do projeto desde o início, ao contrário de I.A. Talvez ele conseguisse produzir algo interessante trazendo o dilema e os “limites” do que seria a definição de “ser humano”. Quem sabe?

 

Ayako por Ana Carolina Teixeira Soares

Imagem: Ayako e Ana Carolina Teixeira Soares.

O que é ser mulher? Essa perguntinha parece estar presente em diversos níveis conceituais nas obras de Ana Carolina, explorando desde questões sociais concretas até o imaginário do que envolve a ideia de “ser mulher”. Ayako, um clássico de Tezuka, coloca várias dessas questões justamente nesses dois prismas, o estatuto de ser mulher na sociedade japonesa e a subjetividade que é construída a partir dessas condições, então a cineasta talvez fizesse um trabalho interessante com os temas da obra.

 

Berserk por Zack Snyder

Imagem: Berserk e Zack Snyder.

Zack Snyder é famoso pelo clima “sombrio” que traz em seus filmes, fator que os fãs de Berserk adoram apontar como ponto de qualidade da obra. O diretor gosta de misturar violência e heroísmo, como podemos ver em 300 (2006) e Watchmen (2009). Em certos aspectos, o mangá e o diretor até combinam… Entenda como quiser.

 

Blame! por irmãs Wachowski

Imagem: Blame e Wachowskis.

O clima lúgubre e distópico do futuro hipertecnológico de Blame!, cuja humanidade é uma raça em extinção, se associa quase que perfeitamente o projeto e cenário criado pelas irmãs Wachowskis em Matrix, um dos mais populares filmes de ficção de todos os tempos.

 

Dorohedoro por David Leitch

Imagem: Dorohedoro e David Leitch.

David Leitch, de John Wick (2014), Deadpool (2017) e Atômica (2017), tem um estilo de direção que leva os filmes de ação para um outro nível de violência, bem mais “seco” que o geral. Seria legal, com uma verba altíssima e uma boa equipe de efeitos especiais colocando a porrada pra estancar com os personagens doentes no mundo de Dorohedoro.

 

O Homem que Passeia por Hou Hsiao-Hsien

Imagem: O Homem que Passeia e Hou Hsiao-Hsien.

Em Café Lumière, Hou Hsiao-Hsien faz um trabalho lindo de elevar o comum do cotidiano a um lugar sublime e sutil, onde aquilo que é trivial se torna extraordinário apenas pela própria intenção da importância. Assim como Hou, Taniguchi também, de sua forma, coloca em evidência o mais comum, para que por meio desse destaque, se transforme em uma experiência particular e única.

 

Keep Your Hands Off Eizouken! por Edgar Wright

Imagem: Eizouken e Edgar Wright.

Edgar Wright, de Baby Driver (2017), Scott Pilgrim (2010) e da Trilogia Cornetto (2004-2013). O estilo “cartunesco” dele, brincando com a “forma” dos filmes, talvez funcionasse legal para uma adaptação de Eizouken, já que parte da graça está nelas quebrarem as regras “em tela” quando colocam a imaginação pra funcionar.

 

Nijigahara Holograph por David Lynch

Imagem: Nijigahara Holograph e David Lynch.

O surrealismo imagético e discursivo de David Lynch, em obras como Cidade dos Sonhos (2001) e A Estrada Perdida (1997), se assemelham muito com o pretenso “projeto” de Nijigahara Holograph, de Inio Asano, onde a tensão entre o choque e o sentido criam um desconforto que operam uma fissura entre o real e fantástico, brincando não apenas com a percepção, mas com as próprias bases do que é ordem e causalidade.

 

Uzumaki por Apichatpong Weerasethakul

Imagem: Uzumaki e Apichatpong Weerasethakul.

Uzumaki e Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives (2010) a princípio parecem ser profundamente distintos, mas ambos compartilham um desejo pelo mistério e o medo que envolve aquilo que aflige e confunde. O mistério da natureza, em si, é a própria força que coloca em movimento pela curiosidade e aflição, e paraliza pelo assombro e beleza. Não há lado único na experiência do sobrenatural e, em última instância, o sobrenatural é uma natureza escondida.

 

TEM MAIS:

Nossa lista originalmente conteria 9 mangás/diretores conforme combinado com o Fora do Plástico, mas, na hora de produzir, não quisemos deixar de citar esses:

The Promised Neverland por Bong Joon-Ho

Imagem: Promised Neverland e Bong Joon-Ho.

Diretor de Parasita (2019), Memórias de um Assassino (2003), Expresso do Amanhã (2013) e O Hospedeiro (2006), Bong Joon-Ho é expert em entregar filmes com várias camadas de interpretação e viradas de roteiro que deixam o público sem chão. Além disso, ele também já fez ficções científicas “políticas” (Okja, Expresso do Amanhã, O Hospedeiro), cujo formato de Promised Neverland comportaria muito bem.

Não entrou na lista acima devido a critérios previamente combinados com o Fora do Plástico com relação à produção da postagem. O perfil já produziu material do tipo antes e o nome de Bong Joon-Ho já havia aparecido, sendo mais interessante então trabalhar com diretores diferentes.

 

Rascal Does Not Dream of Bunny Girl Senpai por Ayuko Tsukahara

Imagem: Seishun Buta e Ayuko Tsukahara.

Assim como Rascal Does Not Dream of Bunny Girl Senpai (Seishun Buta Yarou), Café Funiculi Funicula (2018), adaptação do livro de Toshikazu Kawaguchi dirigida por Ayuko Tsukahara usa o recurso da fantasia para explorar temas sobre como as pessoas se relacionam com as outras.

Porém, enquanto em Seishun Buta, os fenômenos ocorrem de forma aleatória, em Café Funiculi Funicula, a premissa é sempre a mesma: um assento que permite voltar no tempo por algum tempo. Por fim, ambos contam subenredos individuais, que são amarrados no final por uma única história.

Como Bunny-Senpai é originalmente uma novel (embora tenha um mangá), resolvemos colocar aqui.

 

Great Pretender por Harry Bradbeer

com roteiro de Phoebe Waller-Bridge

Imagem: Great Pretender e Harry Bradbeer.

Harry Bradbeer, de Fleabag (2016-2019), Killing Eve (2018-) e Enola Holmes, com roteiro da Phoebe Waller-Bridge. Ela escreve roteiros irônicos e afiados e ele consegue usar esses roteiros em direções de humor e ação mais foras da casinha, com aquilo de quebra da quarta parede, coisas que funcionariam bem com a proposta mais jocosa de Great Pretender.

Embora tenha uma adaptação em mangá, Great Pretender é originalmente uma animação, mas talvez funcionasse bem em um filme com atores.


E aí, o que achou? Quem você gostaria de ver adaptando um mangá, animê ou novel? Conte para a gente nos comentários!