Quem de nós nunca esquece aquela clássica situação na qual um amigo te recomenda um animê, elogia, diz que você vai amar, mas já manda o “fica bom MESMO depois de episódio X”? Já é meio suspeito para alguém que quer que você experimente, afinal, ninguém vai causar uma boa impressão da obra se precisa avisar que uma hora vai ficar bom.
Mas cá estamos. Depois de duas temporadas boas, mas com falhas notáveis, Transformers: O Reino é um exemplo perfeito de deixar o melhor pro final. A temporada conclui de forma mais que satisfatória a trilogia, encerra a narrativa de diversos personagens, resgatando tramas de desde o primeiro capítulo, tudo isso incorporando organicamente (!!) um crossover nostálgico, numa conclusão tão boa que melhora retroativamente os capítulos anteriores, fazendo a jornada valer a pena apesar dos problemas.
Seguindo diretamente de onde O Nascer da Terra terminou, O Reino traz o confronto entre os Autobots e Decepticons em busca do Allspark para o campo de batalha final: A Terra pré histórica! Caindo no planeta, as duas facções se veem no meio do conflito de outros Cybertronianos: Os Maximals e Predacons. Introduzidos inicialmente na série Beast Wars, as novas facções de robôs são descendentes dos Transformers capazes de se transformar em animais.
O Megatron, líder dos Predacons que se nomeou em homenagem ao seu ídolo, voltou no tempo munido de um misterioso Disco Dourado, contendo as memórias do Megatron original, com intuito de usar a informação do futuro em benefício do líder Decepticon. Na volta, eles foram perseguidos no passado pelos Maximals, liderados por Optimus Primal.
A ver pela sinopse acima, essa temporada é bem densa. O primeiro episódio apresenta nove personagens novos e o ritmo só acelera a partir daí. Cada vez mais histórias pregressas, conceitos e novas relações de personagens aparecem, ameaçando deixar o espectador pra trás. E esse capítulo precisa funcionar só como uma conclusão da narrativa construída nas duas temporadas anteriores, funcionar como uma história contida e satisfazer fãs com um crossover muito aguardado.
Felizmente, os roteiristas Tim Sheridan (Superman: O Homem do Amanhã, Mestres do Universo: Salvando Eternia) e Mae Catt (Transformers Cyberverse, Justiça Jovem) costuram com maestria a trama dos seis episódios, amarrando todos os elementos e personagens em prol dos temas principais da trilogia sem nunca deixar o fanservice atropelar a história.
Se O Cerco foi uma filme de guerra, O Nascer da Terra uma minissérie episódica de viagem espacial, então O Reino é o mais próximo que a trilogia chega da estrutura tradicional dos desenhos de Transformers: as facções caem na Terra, cada uma monta sua base de operações, lutando nas diversas paisagens terrestres como desertos, florestas e montanhas.
Mas mais do que isso, há uma confiança maior na identidade da série, como se os roteiristas não tivessem mais medo do público estranhar as idiossincrasias de Transformers. E isso funciona, é bem mais fácil aceitar as bizarrices da série quando a série em si não vê a necessidade de justificá-las. Independente do nível de seriedade, Transformers é um conceito pirado, e é quando os roteiristas estão confortáveis com isso que ele brilha.
Ao longo da trilogia, o conflito central entre Optimus Prime e Megatron foi o fio condutor da história, definindo tanto desenvolvimento dos dois rivais e a guerra subsequente moldando o estado do mundo ao redor deles. Essa temporada leva esse conflito às últimas consequências: apresenta os personagens de Beast Wars como os habitantes de um futuro onde o Allspark nunca voltou, Cybertron nunca se recuperou da guerra e todos os sobreviventes vivem um mundo pós apocalíptico assolado por forças piores ainda.
Através dos seus descendentes, vemos as consequências que as ações deles tiveram em uma nova geração. Primal culpa Prime por ter abandonado Cybertron para morrer enquanto o Megatron (Dinosauro) idolatra Megatron (Tanque) como um ídolo, quem teria salvado o planeta se não fosse pelo Prime.
O tema de legado e de ser influenciado pelo futuro prenunciado na temporada anterior aparece aqui de forma tangível. É uma forma muito eficiente de progredir os temas de consequências, responsabilidade e legado ao mesmo tempo em que introduz um crossover de forma não forçada. E os animais são muito bem representados.
Diferente dos Autobots, soldados, os Maximals são uma família. O conflito entre a geração que causou o desastre e a que sofreu as consequências é tudo que um fã poderia pedir do encontro desses personagens, e as conexões que a série faz são perfeitas.
O Megatron Dinossauro sendo um bajulador do original, o Optimus Primal desdenhando o Prime, ou até a simples diferença logística entre robôs que viram veículos e robôs que viram animais é muito bem sacado, dá pra ver que os roteiristas se divertiram muito colidindo esses mundos.
Mas os personagens que roubam a cena nessa temporada são Starscream, Blackarachnia e Dinobot. Ao longo das diversas versões de Transformers, esses três personagens eram conhecidos por traírem suas facções iniciais, por diferentes razões.
Logo, a série toma a decisão genial de formar uma aliança entre os três. Com eles, são abordadas a questão da lealdade, e como cada um enxerga isso diferente conforme os ideais e experiências, e por que fazer uma facção composta unicamente de traidores é uma má ideia.
Em particular, o Starscream, sem muito destaque além da personalidade traiçoeira tradicional nas temporadas anteriores, teve seu personagem muito mais aprofundado em O Reino, abordando várias camadas da sua personalidade e dando a ele um papel inesperado.
Já com o Dinobot e Blackarachnia, cujos arcos são tão icônicos em Beast Wars, a série decide simplesmente recriar a história original deles nesse novo contexto, e o fato de encaixarem tão bem diz muito sobre o motivo desses personagens serem tão amados pelo público.
Mas nem todos tiveram esse mesmo tratamento. Outros personagens têm mudanças para melhor se inserirem na nova história, como é o caso do Megatron (Dinossauro). Antes um líder excêntrico e carismático, vira aqui um adorador do Megatron original, mas seu novo papel não é muito aproveitado além disso.
Enquanto isso, vários personagens novos e antigos estão lá só de enfeite. E se você esperava um retorno triunfal do núcleo em Cybertron, vai ficar decepcionado com o desfecho desses personagens.
Nessa temporada, a trama finalmente cumpre as promessas feitas ao longo das temporadas quanto aos mistérios de Cybertron, as forças que vêm manipulando a jornada dos personagens nas sombras além da conclusão da guerra Autobot/ Decepticon.
Até o Allspark, que desde a sua introdução nos filmes do Michael Bay servia mais como uma desculpa para o conflito entre os robôs, têm sua natureza e relação com os Transformers explorada de uma forma que justifica a sua importância.
Na reta final, O Reino mostra a que veio. Sempre norteado pela progressão dramática dos personagens, o conflito culmina em uma batalha final de proporções apropriadamente gigantescas, graças à equipe da Polygon Pictures, servindo como um clímax para toda a progressão dos diversos personagens, em um final conclusivo e satisfatório. No penúltimo episódio.
O episódio final, servindo mais como um epílogo da série, consegue encaixar em 22 minutos o que poderia ser a trama de uma temporada inteira sem parecer corrido. Sem spoilers, contextualiza todos os eventos que vêm acontecendo desde o primeiro episódio, conclui a história de maneira definitiva, mas deixando um gancho bem claro para onde a trama pode prosseguir.
O caminho da Trilogia War for Cybertron foi meio turbulento. Desde o começo dava para ver as limitações técnicas que a equipe teve de contornar, nem sempre com sucesso. Mas agora o Reino conseguiu trazer um desfecho empolgante e satisfatório para quem embarcou nessa jornada desde o começo, além do retorno triunfal do elenco de Beast Wars que os fãs pedem há anos. Resta saber se a recepção (e principalmente, a venda de bonecos) vai ser suficiente para uma possível parte 4 dessa trilogia.
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Transformers: O Reino está disponível com dublagem e legendas em português exclusivamente na Netflix, integrando a trilogia War of Cybertron. Confira as resenhas das séries anteriores: O Cerco (série 1), O Nascer da Terra (série 2). Leia também a relação entre Transformers e Japão aqui.
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sinceridade eu vi mtas críticas ruins sobre essa série, mas como sou fã de transformers, resolvi acompanhar por mim mesmo
que agradável surpresa eu tive eu ver que a série, mesmo com alguns defeitos, consegue superar todos em meio a uma boa narrativa, o foco 100% nos robôs (diferente dos filmes onde apenas vemos humanos) e que mesmo fazendo algumas mudanças em relação a algumas narrativas, não deixam elas ruins ou mesmo incômodas para os fãs da série
não abusam do fanservice, deixando ele natural e bem orgânico ali ao longo das 3 partes, foi simplesmente uma das melhores adaptações recentes da série q vi
Vi essa trilogia como quem n quer nada e curti bastante. Realmente foi algo bem maneiros de acompanhar e uma grata surpresa. Gostei bastante do clima de cada série e foi muito bom ver a utilização da mitologia de cada serie dos Transformers e se mesclarem de maneira tão orgânica, até mesmo o disco de oura da Voyeger q é um elemento do Beast Wars original foi utilizado. Realmente foi algo bem divertido acompanhar.
GOSTEI MUITO !!!