Os fãs de Precure nunca esperaram tanto para conhecer uma das heroínas do grupo inicial de alguma temporada. Nesse quesito, Delicious Party Precure se superou em demora, ainda que de forma não intencional.

Acontece que a atual série da franquia apresentou ao público Cure Yum-Yum, a terceira integrante do trio principal, somente em seu 7º episódio. Dessa forma, em seu início a série pode explorar as duas primeiras heroínas em blocos de três episódios focados em cada uma: os três primeiros capítulos eram focados em Cure Precious, enquanto que os episódios de 4 a 6 foram estrelados por Cure Spicy.

Apesar de longa, a espera pela estreia de Yum-Yum não seria tão grande. Entretanto, um ataque hacker realizado contra a Toei fez com que todas as produções do estúdios tivessem seus episódios adiados.

Com isso, passou-se mais de um mês, considerando o calendário inicial da série, para que Cure Yum-Yum finalmente desse às caras no anime. Mas a introdução dessa terceira precure foi boa?

Antes de tentar responder essa pergunta, vale falar um pouco sobre os dois últimos capítulos focados em Cure Spicy, que acabaram não sendo dissecados por essa coluna.

Uma heroína não tão apimentada

Imagem: Kokone, como cure Spicy.

Reprodução: Toei/Crunchyroll.

Quando Kokone foi apresentada ao público, o modo como ela se vestia e se destacava das demais precures de seu time fez com que muitos considerassem que ela seria um estereótipo da “garota bonita” ou da “ojou-sama” pelo seu jeito fashionista.

Embora de fato Kokone se enquadre nessas duas predefinições, ela é bem diferente do que se esperaria da “precure bonita” da temporada.

Veja bem: em geral, garotas bonitas e/ou fashionistas em precure possuem uma personalidade forte e conseguem se relacionar bem com os outros. A Cure Berry de Fresh Precure talvez seja o melhor exemplo do estereótipo com essa personalidade. Porém, Kokone não é nada disso.

O que os episódios 5 e 6 mostraram foi uma garota cheia de inseguranças e incertezas em relação a fazer amizades com os demais. Desse modo, ela se assemelha muito mais ao tropo da “precure tímida” do que o da “garota bonita”.

Embora outras “belas garotas” de Precure também tivessem dificuldades para se relacionar com outras pessoas, isso nunca esteve ligado a um problema de comunicação. As cures Mermaid (Go! Princess) e Macaron (Kira Kira Precure a La Mode), por exemplo, também não tinham muitos amigos, mas não tinham medo de se expressar.

Os dois episódios focados em Kokone, porém, mostram que até mesmo falar em alguns momentos é uma dificuldade para ela. Na verdade, tem sido graças a Yui que ela tem se soltado mais, como mostrado no episódio 5 no momento em que Kokone se aproxima de Rosemary, uma pessoa que ela tinha certa dificuldade de conversar.

Este caminho da “timidez” pode ser bem interessante para se tomar com a personagem, caso ele não seja extrapolado. Uma pena apenas que o episódio 6 tenha perdido um pouco a chance de tratar melhor essa questão, já que a trama de Kokone acabou sendo “engolida” pela história do “monstro” que vivia na escola.

Hora da refeição com Yum-Yum

Imagem: Ran em roupas civis.

Reprodução: Toei/Crunchyroll.

Depois de muita espera, a energética Ran, também conhecida como Cure Yum-Yum, entrou na equipe principal de Delicious Party. Entretanto, a sensação que a estreia de Yum-Yum trouxe não foi de novidade e sim de déjà vu.

Isso porque a história de Ran é muito parecida com a de Hiramitsu Hinata, a Cure Sparkle de Healin’ Good Precure (2020). Assim como Hinata, Ran é uma garota super agitada que fala muito e cria um vínculo de amizade com sua fada parceira bem antes de se tornar uma precure. Em ambos os casos, também foi essa fada quem convidou a futura heroína para participar do embate contra os vilões.

Adicione a essa receita o fato das duas serem morenas que viram loiras com roupas amarelo-alaranjadas em sua transformação e temos uma explosão de similaridades. Talvez a única diferença de Ran com Hinata é que a primeira parece ser bem mais estudiosa (ela foi à biblioteca procurar informações sobre os recipepes), enquanto a segunda tinha certa aversão aos estudos.

Claro, não é incomum que semelhanças entre personagens aconteçam em Precure, mas é chocante ver tamanha similaridade entre duas heroínas com apenas 2 anos (ou menos) de diferença em suas séries. A situação ainda piora quando notamos que Precious e Spicy também são parecidas Grace e Fontaine de Healin’ Good (ainda que em um grau menor de equivalência). A sensação que a temporada traz é de reciclagem, como se os roteiristas nem ao menos tentassem algo novo.

Voltando a falar de Ran, fora as semelhanças com o passado, ela parece ser uma personagem bem promissora. Em geral, heroínas agitadas costumam render boas sequências de comédia e seu episódio de “estreia” foi bem prazeroso de assistir. O único problema foi a luta final, que acabou sendo um tanto rápida e sem graça, mas é esperado que Cure Yum-Yum tenha a chance de brilhar em outras batalhas daqui para frente.

Uma vilã misteriosa

Imagem: Amane, ou Gentlu, em forma civil.

Reprodução: Toei/Crunchyroll.

Além da personalidade de Kokone e da Cure Yum-Yum, os episódios recentes apresentaram ao público uma personagem bem interessante: Amane, a presidente do conselho estudantil da escola das protagonistas.

Os episódios deixaram bem óbvio uma coisa: Amane é Gentlu, a vilã integrante da Gangue Bundoru. Não, isso não é um spoiler, como alguns poderão dizer, mas também não é uma teoria e sim uma confirmação.

Mesmo que a Toei não tenha revelado de forma explícita que ambas as personagens são a mesma pessoa, basta somar “1+1” para ligar os pontos. Ambas têm a mesma voz, design similar (mudando apenas o cabelo), usam roxo e vale ainda ressaltar o fato de que Amane sempre desaparece quando Gentlu surge. Se não forem a mesma pessoa, elas ao menos seriam gêmeas, mas não vejo isso acontecendo na série.

O interessante agora é entender o que fez a colegial Amane virar a malvada Gentlu e qual sua ligação com a Gangue Bundoru. A motivação do grupo de vilões, aliás, ainda não foi bem esclarecida.

É verdade que Precure apenas revela as verdadeiras intenções dos seus antagonistas mais para o final de cada história, mas em temporadas passadas era possível “compreender” o que os motivava.

Dominação de um reino mágico, destruição mundial, invocação de um ser das trevas, são motivos “fáceis” de assimilar e que não precisam de muita explicação. Caçar fadas de comida para alimentar um líder sombrio? Comprar uma refeição em um restaurante parece uma atitude mais fácil. Por isso, entender Amane/Gentlu será crucial para entender os vilões no geral.

O problema do hiato

Imagem: Yui e o menino com cara de decepção.

O grande vilão de Delicious Party, entretanto, talvez não seja a Gangue Bundoru e sim o hiato que a série sofreu no último mês.

Veja bem: apesar da Toei ter colocado todos os seus animes em hiato após o ataque hacker, Delicious Party talvez seja aquele que mais sofreu com esse acontecimento.

Enquanto One Piece, Dragon Quest e Digimon estão no meio de suas histórias e já têm um público cativo, a atual temporada de Precure estreou há pouco tempo e ainda estava criando sua audiência. Um hiato logo nesse início, sem nem ao menos apresentar todas as suas protagonistas, pode acabar afetando o interesse das pessoas.

Claro, Precure é uma franquia longa e quem é fã sempre vai voltar para ver, mas ainda há aquele público não tão fiel, que assiste uma ou outra vez séries desse gênero e que talvez tenha perdido a empolgação com um hiato tão no início do anime.

Se essas informações fossem mais fáceis de acessar, seria até mesmo interessante acompanhar os números de visualizações da série em plataformas de streaming, fora a audiência no Japão. O hiato neste início pode afetar demais a receptividade da temporada e fazer com que ela pareça mais “longa” ou “enrolada” do que realmente se mostra.

Caso a audiência comece a sentir isso, Delicious Party pode ter uma boa dificuldade para cativar os espectadores. Aos fãs, resta torcer para que isso não aconteça e que a série apresente um desenvolvimento satisfatório, que não prolongue ainda mais a sensação de que pouca coisa está acontecendo, mesmo que essa seja uma série focada em monstros da semana e situações do cotidiano.


Confira as outras resenhas da série: Episódio 1, 2-4.


Delicious Party Pretty Cure é exibido pela Crunchyroll com legendas em português de forma simultânea com o calendário japonês. A empresa fornece ao JBox um acesso à plataforma.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.