Pokémon é uma franquia enorme. E digo isso não no sentido de, de fato, essa ser a propriedade intelectual mais valiosa da atualidade, mas por ela dispor de muitos produtos, que vêm em diferentes formatos, e para variados públicos.
À distância de um clique, estão disponíveis jogos eletrônicos (pagos para videogame ou free to play), jogos de cartas, filmes em animação e um live-action, um animê seriado pra TV, outros projetos direto pra YouTube, além de toda possibilidade de quinquilharias marquetáveis – eu mesmo ganhei de natal uma pelúcia oficial bochechuda do Pikachu.
Nesse oceano de opções, estão seus mangás. Há vários títulos no Japão, e o principal deles, Pokémon Adventures (ou Pocket Monsters Special) é publicado no Brasil pela editora Panini. Essa é uma série contínua, iniciada em 1996, ainda em andamento, já com 61 volumes, da editora Shogakukan, que passou por diferentes revistas infantis.
Contudo, a cada arco narrativo, que são livremente baseados em personagens e elementos dos jogos principais da franquia, o foco no protagonista muda. Junto com ele, os “subtítulos” do mangá. Mas é uma história só, com as resoluções dos arcos anteriores ecoando nos que vêm posteriormente. Nessa ordem, a Panini já está no sexto ciclo: Pokémon Emerald. Antes desse, vieram Red, Green & Blue, Yellow, Gold & Silver (resenhado aqui no site à época do lançamento), Ruby & Sapphire, e FireRed & LeafGreen.
Na trama, após o desfecho trágico em FireRed & LeafGreen, um menininho chamado Emerald, ao lado dos dragões lendários Latias e Latios, é enviado para a ilha onde ocorrerá a Batalha da Fronteira (ou Fronteira da Batalha, mas prefiro ficar com a tradução estranha do animê que cresci assistindo).
Essa é uma ilha montada com sete desafios de alto nível para treinadores pokémon, que podem conquistar o direito de enfrentar os chefões em cada um. Porém, por baixo dos panos, acontece uma busca de um misterioso cavaleiro de armadura pelo Jirachi, o lendário pokémon estrela com a capacidade de realizar desejos, que pode colocar todos ao redor em perigo.
Essa não é a parte do mangá com o enredo mais interessante ou criativo. O plot, num todo, é bem simples e talvez soe como um momento de transição quando comparado com o que vem antes e depois. E o sistema todo da Batalha da Fronteira pode soar meio maçante, já que quadros e quadros são dedicados às explicações e execuções das regras de cada local. No entanto, esses pontos negativos se tornam irrelevantes à luz do que de melhor há no gibi.
Da leva de personagens apresentados até então, o Emerald é o protagonista mais interessante em todos. Ele é daqueles exemplares bem escritos, que descobrimos diferentes camadas conforme é trabalhado nos capítulos. O que já era diferente e legal no início se torna tocante e relacionável ao fim.
É possível traçar nele um paralelo com aquele clichê de ficção científica sobre um robô adquirindo alma: Emerald é apresentado como um moleque debochado, bocudo, arrogante, porém metódico, com um vasto conhecimento, e certa frieza ao tratar sobre batalhas e pokémons. Essa estética é refletida em sua imagem, com um penteado diferente, sapatos plataforma de compartimentos secretos e braços mecânicos esticáveis com demais gadgets, que ele utiliza como se fosse uma versão nipo-tradicional do Inspetor Bugiganga.
Com o desenrolar dos eventos, Emerald deixa, aos poucos, transparecer suas fragilidades. Ele cria afinidade com as demais pessoas na ilha, passa a entender como é ser amigo dos pokémons, e enfim se abre para as felicidades que a infância pode oferecer. Concomitante a isso, ele perde as sandálias, os braços mecânicos, e mesmo o cabelo penteado é molhado e se bagunça no ápice. Ele vira uma criança em sua imagem quando, enfim, se aceita como uma criança em seus sentimentos. E isso é puro ouro narrativo.
Porque essa é uma construção lenta (levando em conta a quantidade de volumes), gradual, bem pensada. E aquele flashback dele, onde é mostrado tudo o que ele sofreu por conta de seu físico, o quão o bullying machucou sua cabeça, e as primeiras fagulhas que voltariam a acender sua alegria, é certamente um dos momentos mais emocionantes de toda a franquia Pokémon. É narrativa gráfica simples, mas excelente.
É essa trajetória do Emerald que faz valer todo o mangá. Tem vezes que basta a simplicidade de um bom desenvolvimento de personagem para despertar boas emoções. E nisso, Pokémon Emerald é mágico.
Como dito, o mangá Pokémon Adventures adapta (bem) livremente elementos dos jogos principais da franquia da Nintendo. À época do arco do Emerald, o título vigente era (adivinha?) o Pokémon Emerald, para o portátil Game Boy Advanced, que é a versão “remix” da dupla de games dessa mesma geração Pokémon Ruby e Pokémon Sapphire. Nele, o maior ganho é, justamente, a parte final com a Batalha da Fronteira.
É válido alertar que o mangá de Pokémon não tem nada a ver com o animê de Pokémon. Nos quadrinhos, você não encontrará o Ash ou o Pikachu do Ash. Os personagens nele são versões dos personagens dos jogos. Mesmo os líderes de ginásio, cérebros de fronteira nesse caso, e demais coadjuvantes que se repetem em ambas as mídias têm comportamentos, personalidades e histórias diferentes das vistas no desenho animado.
O arco da Batalha da Fronteira é bem diferente do apresentado no animê. Lá, Ash enfrentava os desafios pela região de Kanto como se estivesse em ginásios. Aqui, são outras regras, outras abordagens, a pegada é não tem nada a ver.
Confira algumas imagens da edição brasileira pela Panini na galeria abaixo:
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Pokémon Emerald é publicado pela editora Panini em 3 volumes. Originalmente, a obra é contada em quase 4 tomos, indo de parte do volume 26 ao 29 de Pokémon Adventures — a primeira parte do volume 26 é dedicada ao desfecho da aventura de Pokémon FireRed & LeafGreen. Na versão brasileira, a Panini dividiu essa edição entre o volume final do arco anterior e o inicial desse.
Essa resenha foi feita com base na história completa de Emerald, cujo primeiro volume foi enviado pela Panini à redação do JBox como material promocional à imprensa.
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“a Batalha da Fronteira (ou Fronteira da Batalha, mas prefiro ficar com a tradução estranha do animê que cresci assistindo).”
Foi essa escolha bizarra da Panini que tirou um pouco o gosto de ler a história (que até é divertida). Dane-se se a tradução do anime é estranha, que seja pelo menos coerente com as traduções já usadas aqui no passado. Panini sendo incompetente como sempre. Graças a Deus, tenho comprado cada vez menos coisas deles.
Esse foi sem dúvidas o melhor final de temporada até agora. Estou ansioso pro que vão fazer no próximo arco ♥️