Anos atrás, a Pepsi soltou um comercial no Brasil com a seguinte premissa: “Só tem Pepsi, pode ser?”, onde indicavam que o “pode ser” poderia ser muito bom. E aí, ele apresentava diferentes situações onde essas únicas opções, os “é o que tem pra hoje”, excelentes.
A única amiga que uma menina poderia desenrolar para um rapaz numa festa era lindíssima e caminhava em câmera lenta; o único cara que sobrou para o time da pelada na pracinha era o jogador Paulo Henrique Ganso, que à época formava uma dupla de ouro com o Neymar no Santos; num programa de TV, a única atração era um peixe que canta com uma voz de tenor.
A campanha foi um sucesso e se estendeu para outros comerciais. Ali, a Pepsi transformou um problema (“só ter Pepsi”) em uma tirada divertida que se se converteu em marketing positivo para a marca.
Mashle: Magia e Músculos, mangá recém-lançado pela editora Panini por aqui, é um bom exemplo de “pode ser?”. Porque nada nele é inovador ou original, ele é assumidamente um pastiche de outras obras melhores que não se sustenta por si só, apenas pelas referências. Mas ainda assim é uma boa opção de entretenimento, um exemplo de que o “pode ser?” pode ser muito bom.
Escrito e desenhado pelo mangaká Hajime Komoto, Mashle é serializado desde 2020 na revista Shounen Jump, da editora Shueisha. Ainda em andamento, o gibi já rendeu 11 volumes encadernados de lá pra cá.
Na trama, em um mundo onde a magia é de uso comum e o nível dela nas pessoas dita seus rumos na sociedade, acompanhamos as aventuras de Mash, um marombeiro fortão, apaixonado por choux cream (doce muito popular no Japão, semelhante ao profiterole), mas que não tem um pingo de poderes mágicos em seu corpão monstrão.
Ele vive isolado com seu pai adotivo, até que, ao sair escondido para comprar choux cream, sua existência é descoberta pelas autoridades policiais do local, que precisam detê-lo, já que não ter magia é algo antinatural, um tabu, um pecado.
Por arremedos do destino, que envolvem surras do Mash nos policiais, um dos agentes da lei arma um plano para que o garoto entre numa renomada escola de magia com o propósito de adquirir status o suficiente nela a fim de se tornar um Visionário. Atingindo esse posto, ele poderá interferir na maneira como aquele mundo é governado, e assim salvar as pessoas que nascem sem magia dos destinos cruéis que tal status quo reservam à elas.
Parece — e é — uma trama simples de mangás shounen de aventura. Um underdog social, que carrega dificuldades de nascença, necessita se inserir no sistema e derrubá-lo nem que seja à força. Naruto e tantos outros são sucessos que partem dessa premissa. Mas o que dá charme ao mangá é o modo deliciosamente estúpido que o autor decide contar essa história.
Sabe Harry Potter? Ele pega vários elementos desse universo e tira sarro. Quando Mash faz a prova de admissão pra escola, ele encontra um professor elitista e linha dura cujo visual lembra o do Severo Snape. A contrapartida desse professor é o diretor do colégio, mais aberto às diferenças, que é a cara do Alvo Dumbledore. Há um “chapéu seletor” que encaminha os novos alunos para as diferentes casas da escola.
Um dos esportes mais populares no campus é um jogo de bola onde os participantes voam em vassouras. Um dos moleques que pratica bullying é parente de gente grande no governo, como o Draco Malfoy. Dentre as tarefas que eles precisam executar nos primeiros volumes, está extrair um chá de uma raiz chorona. E por aí vai.
Mas todas essas referências são mergulhadas em deboche, elas retiram qualquer cerimônia ou pretensa seriedade que os fãs das histórias do bruxinho poderiam esperar. É uma sátira. Sátira essa que também abarca obras da cultura pop japonesa. Mash é estética e conceitualmente uma mistura entre o Saitama, de One-Punch Man, e o Mob, de Mob Psycho 100. É fortão, consegue resolver tudo na porrada em poucos movimentos, mas tem uma atitude mais tímida, desconfortável e positiva com os outros.
O único porém é que o Hajime Komoto tem a sutileza de um rinoceronte. Isso funciona pro humor da obra, pois ser tão descarado cola dentro da sátira, mas pro resto da trama, há sempre um ar de “já vi isso melhor em algum lugar antes” (no caso, em One-Punch e Mob, pois é parecido demais). Se isso não for algo crucial em sua apreciação, dá pra ler e se divertir bastante com a história.
Na falta de algo original, pode ser Mashle? Por mim, pode!
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Essa resenha foi feita com base no primeiro volume de Mashle, enviado pela Panini à redação do JBox como material promocional à imprensa.
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