Demorou uma “eternidade” para que o Brasil tivesse lançamentos das obras de Shotaro Ishinomori (1938~1998), também coroado como o rei do mangá. Assim como Osamu Tezuka, Ishinomori tem a sua importância na cultura pop japonesa, principalmente por sedimentar o henshin boom do gênero tokusatsu na década de 1970.
Do começo de 2021 pra cá tivemos uma boa quantidade de títulos assinados por Ishinomori que vieram para o Brasil e/ou que estão para serem lançados. Em parceria com a loja Comix, o JBox destaca 6 títulos importantes da “Mangrafia” do artista que finalmente foram anunciados e boa parte delas já se encontra à venda.
1) Hokusai
Editora brasileira: Pipoca & Nanquim | Editoras japonesas: Seikai Bunka, Futabasha e Kadokawa Shoten | Volume único | Concluído no Japão | 1987
Ishinomori é bastante conhecido por ter sido um prolífero criador de super-heróis na Terra do Sol Nascente. Mas ele também contribuía para outras obras fora dessa esfera. E uma delas é Hokusai.
Muitos fãs de Ishinomori esperaram por anos que alguma editora publicasse títulos do rei do mangá. Enquanto a JBC e a NewPOP estavam planejando seus lançamentos, a Pipoca & Nanquim saiu na frente e lançou Hokusai em 30 de abril de 2021 – sendo a primeira obra de Ishinomori em quadrinhos por aqui.
O título conta a vida de Katsushika Hokusai, grande nome da pintura em xilogravura japonesa que viveu de 1760 a 1849, durante a era imperial Edo. A composição de suas gravuras é parte do estilo ukiyo-e. Sua principal criação são as Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, série com 46 xilogravuras publicada na década de 1830 (ou seja, são mesmo 46 gravuras feitas sobre madeira). A mais conhecida delas, A Grande Onda de Kanagawa, é a imagem que ilustra a capa do mangá de Ishinomori.
No Japão, Hokusai teve 3 volumes publicados pela editora Sekai Bunka, em 1987. Mais tarde, em 1996, ganhou uma nova edição pela Futabasha, com dois volumes encadernados. E finalmente, em 2005, ganhou volume único pela Kadokawa Shoten.
2) Kamen Rider
Editora brasileira: NewPOP | Editora japonesa: Kodansha | 3 volumes | Concluído no Japão | 1971
Sem dúvida, a publicação do mangá original de Kamen Rider era uma das mais aguardadas pelo público brasileiro. E não é à toa, pois esta é a sua principal obra e que abriu caminho para a formação de uma das principais franquias de sucesso até hoje.
Independentemente do leitor conhecer apenas a série de TV, ter assistido alguma outra série das eras Showa, Heisei e Reiwa ou não ter tido contato com a franquia, este mangá pode servir como porta de entrada para se aprofundar um pouco mais na essência da obra, na genuína visão de Ishinomori.
A saga conta a luta do motoqueiro Takeshi Hongo contra a organização terrorista Shocker, que quase o transformou num ciborgue do mal. Mas antes de ter sua memória apagada, Takeshi consegue escapar da base secreta da Shocker. Com novos poderes, ele se transforma no Kamen Rider, o guerreiro da justiça enviado pela Mãe Natureza.
Alguns dos episódios da série televisiva, que estreou na noite de 3 de abril de 1971, foram baseados nos primeiros capítulos do mangá, que começou ainda em janeiro do mesmo ano através das páginas da Weekly Shonen Magazine. Mas depois a trama do mangá seguiu caminho próprio, muito mais em função da chegada do segundo Kamen Rider na série de TV, criado para suprir a ausência do astro principal Hiroshi Fujioka, que havia sofrido um acidente de moto nas gravações.
Após o fim da publicação, Kamen Rider ganhou 4 volumes encadernados pela editora Kodansha, entre abril e junho de 1972. Aqui no Brasil, a Editora NewPOP publicou a série em 3 volumes, entre junho e setembro de 2021, para celebrar os 50 anos da franquia.
Leia a nossa resenha sobre o primeiro volume de Kamen Rider aqui.
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3) Kamen Rider Black
Editora brasileira: NewPOP | Editora japonesa: Shogakukan | 3 volumes | Concluído no Japão | 1987
Outra importante obra de Ishinomori foi publicada pela NewPOP. Trata-se de Kamen Rider Black, que serviu de base para a criação da série televisiva de 1987.
O leitor que acompanhou a série tokusatsu – que fez bastante sucesso pela extinta Rede Manchete entre 1991 e 1994 – deve ter em mente que esta é a visão que Ishinomori realmente tinha para o título, ao invés das mudanças que aconteciam no roteiro, principalmente pelas interferências na equipe de produção que fizeram com que o Shozo Uehara (1937~2020), roteirista principal dos primeiros episódios, decidisse pela sua saída do projeto (saiba mais aqui). Em outras palavras, o teor do mangá é muito mais sombrio do que o da série de TV.
A trama original conta a saga de Kotaro Minami, um jovem que perdeu sua memória, mas que conseguia se lembrar apenas de seu próprio nome e que ele veio do Japão. Minami parte para uma jornada em busca da sua verdadeira origem. No entanto, ele tem que enfrentar as criaturas da organização secreta Gorgom.
Os capítulos de Black foram publicados originalmente pela revista Weekly Shonen Sunday e mais tarde, de março de 1988 a janeiro de 1989, foram reunidos em seis volumes pela editora Shogakukan. A NewPOP lançou a série em 3 volumes, publicados entre março e abril deste ano.
Uma excelente oportunidade para conferir antes da estreia do reboot Kamen Rider Black Sun, que será exibido mundialmente pelo Amazon Prime Video e vai celebrar os 35 anos do mangá e também da clássica serie tokusatsu.
4) Zelda: A Link do the Past
Editora brasileira: Panini | Editora original: Nintendo of America (Japão: Shogakukan) | Volume único | Concluído | 1992
A história desse mangá é meio curiosa, porque ele não foi escrito para o público japonês: a revista americana Nintendo Power encomendou a série publicada em 12 capítulos em suas páginas ao longo de 1992, com assinatura de ninguém menos que Shotaro Ishinomori — em 1993, ela foi compilada em volume único pela primeira vez nos EUA. Por causa disso, o sentido original de leitura é o nosso padrão, da esquerda para a direita.
Não demorou muito para o quadrinho chegar ao Japão: em março de 1993, a Shogakukan lançou a obra por lá, mantendo o sentido americano de leitura.
Esse não foi o primeiro mangá de Zelda — antes de adotar a dupla Akira Himekawa (que também fez uma versão de A Link to the Past) como responsável por praticamente todos os mangás da franquia, a Nintendo já vinha trabalhando com nomes como Yuu Mishouzaki e Maru Ran para adaptar Zelda 1 e Zelda 2 (ambos fizeram suas versões dos dois jogos), entre alguns outros.
Mas esse foi certamente o primeiro quadrinho de A Link to the Past, pois a seriação começou meses antes do 4-koma Manga Theater e do 4-koma Manga Kingdom (ambos começaram em 1992). Também é o único Zelda de um mangaká tão lendário — e o mais divertido, um quadrinho que tecnicamente nem foi feito para os fãs de Ishinomori.
Quanto à história em si, ela não tem nada de tão genial, e talvez até não poderia — apesar de não seguir a trama do jogo de forma tão fiel, Ishinomori provavelmente tinha um escopo pré-definido, e algumas limitações editoriais com as quais deveria trabalhar. Enfim, vemos Link tentando salvar a princesa Zelda de Agahnim (e Ganon).
Em 2015, o quadrinho teve um revival nos EUA, ganhando uma edição especial pela VIZ. A editora Panini publicou a obra por aqui em 2021.
5) Kamen Rider Kuuga
Editora brasileira: JBC | Editora japonesa: Shogakukan | Volume único | Em andamento no Japão | 2015
Embora o roteiro deste mangá seja de Toshiki Inoue e as artes de Hitotsu Yokoshima, Kamen Rider Kuuga vale estar nesta lista por justamente ser uma obra idealizada pelo próprio Ishinomori pouco antes de sua morte, ocorrida em 28 de janeiro de 1998.
Só pra contextualizar: em 31 de janeiro de 1999, a Toei lançou Moero!! Robocon, a primeira obra póstuma do rei do mangá e exibida pela TV Asahi, na faixa dominical das 8h da manhã. O sucesso da releitura de Ganbare!! Robocon (série tokusatsu criada por Ishinomori em 1974) permitiu que Kamen Rider Kuuga, a segunda obra póstuma do mangaká, finamente fosse lançada em 30 de janeiro de 2000, ainda que sem nenhuma pretensão de estabelecer uma continuidade da franquia para a TV.
O mangá de Kuuga atualizou o clássico, mas sem deixar de lado sua essência. Ambientado em 2015, a trama gira em torno de uma série de assassinatos que ocorrem em Tóquio, ligados diretamente ao renascimento do antigo clã Grongi. Enquanto isso, surge na trama um jovem aventureiro chamado Yusuke Godai, que acaba se envolvendo na descoberta de um misterioso cinto e se transforma em Kamen Rider Kuuga.
Inoue – que é um roteirista bastante conceituado pelos fãs de tokusatsu por ter contribuído para séries do gênero como Jetman, Changéríon, Kamen Rider 555 (Faiz), Kamen Rider Kiva, Cutie Honey: The Live e atualmente em Donbrothers – chegou a escrever 9 episódios de Kuuga, além de ter sido o roteirista principal de Kamen Rider Agito, que era uma sequência do primeiro Rider da era Heisei.
Por se aprofundar no drama de cada personagem, Inoue foi indicado pelo produtor Shinichiro Shirakura para esta adaptação, que também faz uma releitura de Agito, criando uma conexão mais direta e expandindo a mitologia dos dois primeiros Riders da era Heisei.
Com capítulos publicados originalmente pela revista Hero’s, Kamen Rider Kuuga tem 19 volumes encadernados publicados, até o momento, pela editora japonesa Shogakukan. No Brasil, a Editora JBC está publicando a série no formato big, reunindo dois volumes originais em um só. O primeiro volume saiu por aqui em novembro de 2021 e atualmente está no terceiro.
Leia a nossa resenha sobre o primeiro volume de Kamen Rider Kuuga aqui.
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6) Gorenger
Editora brasileira: NewPOP | Editora japonesa: Shogakukan | Volume único | Concluído no Japão | 1975
Quando Gorenger* foi criado, Ishinomori não tinha a menor intenção de formar uma franquia com cinco integrantes que lutavam para defender o Japão contra as forças do mal. Mas só depois de 20 anos é que esta obra e também JAKQ foram incluídas como as duas primeiras séries da franquia Super Sentai, que deu origem aos Power Rangers nos EUA (saiba mais aqui).
Com o nascimento do Exército da Cruz Negra, a organização secreta EAGLE entra em ação para conter a ameaça. Sob as ordens do Comandante Gonpachi Edogawa, o quinteto formado pelos agentes Tsuyoichi Kaijo/Aka Ranger, Akira Shinmei/Ao Ranger, Daita Oiwa/Ki Ranger, Peggy Matsuyama/Momo Ranger e Kenji Asuka/Mido Ranger entra em ação para deter os planos do diabólico Führer da Cruz Negra.
Com seriação da Shonen Sunday, Gorenger teve 3 volumes encadernados pela editora Shogakukan. O mangá será publicado ainda este ano pela NewPOP em volume único.
*OBS: Embora a editora brasileira tenha anunciado a série como “Goranger”, é preciso que se diga que, independentemente da escrita em katakana (alfabeto japonês utilizado para nomes estrangeiros; no caso, ゴレンジャー pode ser traduzido como “Ranger”), a romanização oficial do título sempre foi Gorenger (com E) desde o início, incluindo os primeiros produtos da série no Japão e até as mais recentes (saiba mais aqui). Fora do Japão, o mangá de Gorenger foi lançado com esta mesma romanização oficial nos EUA, na Espanha e em breve na Alemanha e na França.
Vale aqui também uma menção honrosa a mais um mangá de autoria de Ishinomori no Brasil: um é Miyamoto Musashi (1974), que será publicado em breve pela Pipoca & Nanquim. Mas com certeza os fãs do artista ainda sonham em ver outros clássicos de sua carreira como Cyborg 009, Skull Man, Kikaider, Kamen Rider ZO e tantos outros. Quanto mais reconhecimento do rei do mangá no Brasil, melhor.
As opiniões contidas neste artigo são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião do site JBox ou da loja Comix.
Interessante em saber que Kuuga mesmo não sido feito por Ishinomori, ele ja tinha a ideia alguém pode ter levado pra frente e feito o sucesso merecido.
Um gênio da narrativa