Com a chegada do DVD, o formato de fita VHS começou a viver sua reta comercial final no começo dos anos 2000. Nesse cenário, e aproveitando o sucesso estrondoso de Dragon Ball Z na televisão (que passou a ter uma exposição gigante com a exibição da saga de Majin Buu pela Globo), a Editora Abril resolveu apostar no barateamento das fitinhas e explorar o mercado de bancas que ela dominava na época.

A empresa ressuscitou em outubro de 2001 o nome Heróis da TV — que já havia usado em publicações de quadrinhos de personagens da Hanna-Barbera, Marvel e até de tokusatsu — para fazer uma espécie de “cópia da Herói” (naquele momento, publicação da Conrad) como desculpa pra vender de forma casada um VHS de animê.

imagem: coleçao de revistas Heróis da TV

Diversas revistas ‘Heróis da TV’, que traziam os filmes de Dragon Ball Z. | Foto: Reprodução/Facebook

Assim, ao longo de 1 ano de publicações mensais e algumas especiais, a Abril levou para as bancas todos os 13 filmes para cinema de Dragon Ball Z que existiam naquela época, além de 2 especiais para TV, cada um acompanhando uma revista informativa de cultura pop. Sem mais material do “Z” disponível, a Heróis da TV enfim decidiu arriscar nos 3 filmes clássicos de Dragon Ball, com o Goku criança, para o que seriam suas últimas edições regulares.

Naquele momento, o Brasil ainda estava acompanhando os episódios finais da 1ª série da franquia pela Globo, o que também ajudaria. Vale lembrar que Dragon Ball teve apenas 60 episódios exibidos pelo SBT a partir de 1996 e reprisados pela última vez no ano 2000, já no fim do contrato. Depois de terminar DBZ, assim como a Abril, a Globo resolveu ir atrás da saga inicial como forma de ter novas aventuras da TV (antes de poder pegar a série GT).

imagem: foto mostrando coleção de fitas VHS de Dragon Ball

Em destaque, as capas dos três filmes de Dragon Ball. | Foto: Rafael Brito/JBox

No entanto, os filmes A Lenda de Shen-Long, Uma Aventura Mística e O Castelo do Diabo foram exibidos primeiro pelo sistema pay per view da SKY antes de parar nas fitinhas (não conseguimos precisar quando, mas foi certamente, ao menos, meses antes). Quem (literalmente) pagou pra ver, já havia tido a surpresa: as produções foram enviadas para os estúdios da BKS, ao invés da Álamo (responsável pela série DBZ) ou da DPN (que dublou os últimos episódios de Dragon Ball). A empresa aparentemente não teve nenhuma preocupação em manter o elenco que o público acompanhou em qualquer versão da TV.

Goku ganhou então uma nova voz: Márcia Gomes. Enquanto isso, Bulma foi dublada por Daniella Piquet (a Sakura de Sakura Card Captors) e o Mestre Kame por Eleu Salvador (que tinha feito o pai da Bulma em DBZ). Do elenco consagrado da Álamo, apenas Fábio Lucindo (Kuririn) e Alexandre Marconato (Tenshinhan) retornaram aos seus personagens (um sinal de que alguma lista de atores a BKS deve ter tido acesso).

Mas o que realmente “marcou” essa versão BKS de Dragon Ball foram suas músicas. Tudo da franquia que recebíamos na época vinha da versão mexicana, adaptada pela Intertrack, mas não conseguimos encontrar nenhum sinal de que o que aconteceu com a trilha dos filmes por aqui tenha acontecido em algum lançamento dos filmes por lá.

Por algum motivo bizarro, o instrumental de “We Gotta Power” (2ª abertura de Dragon Ball Z”) e “We Were Angels” (2º encerramento de Dragon Ball Z) foram utilizados no lugar da abertura e dos créditos finais dos filmes. Mas por cima, eram cantaroladas letras e melodias totalmente novas, que não eram nem dos temas de Dragon Ball e nem correspondentes aos instrumentais utilizados.

Nisso, pérolas como “Dragon Ball, logo brilhará o sol” nasceram. Confira:

Em 2006, esses três filmes foram devidamente redublados pela Álamo com o elenco já conhecido das séries e com as mesmas músicas da TV. A exibição ocorreu dentro do Toonami do Cartoon Network, na época transmitido depois da meia-noite. Apesar de não se encaixarem no resto do animê, já que se tratam de histórias isoladas, as produções foram transmitidas alternadas com a exibição regular da série Dragon Ball no canal pago.

Mais pra frente, essa redublagem também foi usada para o lançamento dos filmes no catálogo digital do iTunes e se tornou a “versão oficial”.

E você? Tem alguma lembrança desse lançamento? Comente 😊

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