Desde o início de Delicious Party Precure, me perguntei o motivo que fazia Kome-Kome ganhar tamanha atenção do roteiro, quando comparada às outras fadas. Afinal, ela é a única que tem uma história de crescimento e que aparece transformada como humana no animê (nota: Pam-Pam e Mem-Mem tiveram até o momento suas versões humanas divulgadas como exclusivas de um filme).
A resposta para minha dúvida veio durante essa semana: Kome-Kome é a catalisadora do poder que oferece o novo ataque (além de um novo visual) às heroínas, uma função que ela parece ter herdado de fadas de temporadas passadas.
O anime buscou preparar terreno para essa apresentação do novo poder da fadinha. Por isso, a companheira de batalhas de Yui ganhou bastante destaque nos capítulos mais recentes, além de muita interação com as outras heroínas da história – o que infelizmente não significa que o resultado final foi dos melhores.
Problemas com os ingredientes
O 26º e 27º episódios buscaram desenvolver a pequena fadinha rosa e ao mesmo tempo trazer algum ensinamento básico em seu plano de fundo.
No capítulo 26, por exemplo, Delicious Party tentou mostrar a importância de se alimentar direito comendo verduras e alimentos nutritivos. Infelizmente, fez isso com uma história sem graça e pouco interessante sobre a aversão de Kome-Kome por pimentões verdes.
Talvez para crianças (bem) mais novas, uma narrativa tão rasa e boba como essa não seja um problema. Mas mesmo sendo infantil, Precure é uma franquia de ação e que no passado não teve medo de tratar de diversos temas, alguns muito sérios, de forma bastante madura para seu público. Jamais esquecerei (e aqui vai um spoiler do passado) quando o pai de uma das protagonistas foi morto por um vilão na frente de todo o público.
O que este episódio de Delicious Party apresentou é um problema recorrente desta série: um enredo sequer minimamente interessante, algo que afeta desde os episódios mais simples, até os com grandes acontecimentos.
Ver uma franquia que já trouxe debates tão diversos apresentando enredos tão fracos é bastante triste. Entretanto, talvez o pior seja notar que este foi um episódio com sequências de animação muito bonitas, mas com um roteiro que não desperta qualquer interesse.
Fada em crescimento
O capítulo seguinte foi um pouco mais interessante. Com o plano de fundo da já conhecida lição do “aceite-se como você é”, este foi um dos poucos episódios que o foco não foi alguma comida (ainda que este elemento tenha estado presente), trazendo algum respiro à série.
O foco constante em “cozinhar” ou “comer” coisas tem deixado o animê cansativo, uma vez que, como disse anteriormente, Delicious Party não tem conseguido tirar muitas histórias interessantes dessas situações.
O episódio ainda foi importante para expor ao público o fato de que Kome-Kome é a segunda de sua linhagem, tendo havido uma Kome-Kome 1 antes dela.
Tal informação ganhou destaque no capítulo seguinte, uma vez que Pam-Pam revelou que a Kome-Kome 1 tinha um poder especial único – e obviamente, Kome-Kome 2 possui tal dom.
Foi desse poder especial que Kome-Kome conseguiu tirar forças para canalizar a energia de um novo ataque para as precures.
Transformação sem emoção
Os episódios de Precure em que o time principal ganha um novo ataque e novas “formas” costumam ser momentos-chave nas narrativas. Justamente por isso, os roteiristas investem em grande tensão emocional para trazer certo senso de urgência para os espectadores.
Isso explica o motivo de, no começo do episódio, as heroínas serem derrotadas por Narcistoru. Não há explicação, porém, para o que vem em seguida: o vilão deixando a finalização do combate para outro dia.
A justificativa dada para tal atitude em nada faz sentido. Ele realmente iria perder perdeu a chance de finalizar seu plano só para ver os “olhares de medo” das protagonistas? Isto é inacreditável.
A reunião das protagonistas para se “acalmarem” e comerem juntos não adicionou nada à narrativa. No máximo, serviu para mencionar coisas que poderiam ter sido mais bem expostas em outros capítulos ou em outros momentos deste mesmo capítulo. Desse modo, a cena das garotas comendo bolinhos de arroz poderia ser totalmente deletada que não faria diferença.
Entretanto, o pior talvez seja o descaso do roteiro com Narcistoru como um todo: este deveria ser o episódio em que conheceríamos sua história de fundo, mas o modo como ela foi apresentada deixou diversas pontas soltas e não explicou as motivações do vilão.
Por fim, tivemos a sequência em que Kome-Kome libera seu poder especial sem qualquer grande impacto emocional que já não tivesse sido explorado anteriormente nesta mesma temporada.
Isto tem sido um grande agravante para Delicious Party: parece que os roteiristas estão apenas seguindo uma lista de “coisas” que precisam ser apresentados em uma série Precure, mas sem se preocupar em realmente causar alguma emoção no público.
Precisam redimir a vilã e torná-la a precure nova do meio da temporada? Ok, mas nada de se preocupar nos impactos disto para o time principal ou para a nova personagem. A fada principal precisa crescer? É possível fazer isso com um desenvolvimento pífio que o público nem vai notar. Chegou a hora do novo golpe em grupo? Vamos copiar e colar o que já fizemos no passado, sem pensar muito bem na organização dos elementos.
Quando tudo no roteiro de uma série parece ser feito na base da “checklist” e com uma preguiça estranha, não há animação bonita (e o episódio 28 teve sequências lindamente animadas) que salve o produto final.
P.S.: Acredito agora que a avó de Yui tenha sido uma precure do passado e que a Kome-Kome 1 era sua fada parceira. É uma ideia boa e que explica a importância dessas duas personagens. Veremos se tal hipótese se confirma e se a série saberá desenvolver essa história.
Confira as outras resenhas da série:
Episódio 1, 2-4, 5-7, 8-11, 12-15, 16-18, 19-22, 23-25.
Delicious Party Pretty Cure é exibido pela Crunchyroll com legendas em português de forma simultânea com o calendário japonês. A empresa fornece ao JBox um acesso à plataforma.
O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
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