Sucesso desde 1988, quando Jaspion e Changeman estrearam no Clube da Criança, o tokusatsu na extinta Rede Manchete sofreu uma espécie de boicote dentro da própria emissora em idos de 1992. O comando partiria da própria Angélica, apresentadora do programa infantil, e causou revolta imediata do público-alvo naquele ano.

Em janeiro de 1992, em matéria do jornal O Fluminense, eram dadas as cartas do que viria ser a reformulação do Clube da Criança e da programação voltada aos pequenos. Saíam os chamados “filmes” japoneses para que, após o encerramento do infantil, entrasse no ar o americano Vila Sésamo. Os planos estavam previstos para abril e, inclusive, os contratos já estavam encaminhados para assinatura em Nova Iorque.

imagem: recorte do jornal O Fluminense

Matéria do jornal O Fluminense, publicada em 26 de janeiro de 1992. | Imagem: Reprodução/Biblioteca Nacional

Apesar da Vila Sésamo nunca ter estreado na Manchete, a saída dos heróis japoneses foi efetivada na grade do programa. Como forma de “aquecimento”, o educativo Rá-Tim-Bum (sim, o mesmo da TV Cultura) chegou a fazer parte do Clube da Criança naquele ano de 1992. As séries tokusatsu Spielvan, Cybercop e Black Kamen Rider seguiram dentro do Cometa Alegria pelo horário da manhã até 1º de maio, dando lugar no dia 4 ao “novo” Clube com Angélica, sem nenhum herói soltando faísca.

Entre os meses de maio e julho de 1992, a criançada só tinha Maskman de tokusatsu para assistir na Manchete, série essa que era exibida de forma independente ao meio-dia. Vamos lembrar que um período de dois meses, ainda mais em uma época sem internet, podia ser uma eternidade para um telespectador infantil. Logo a emissora perceberia o tiro mal dado com a reação da audiência e Angélica teria que engolir que o grande sucesso de seu programa estava nos tais “filmes”.

Em entrevista concedida ao Programa Livre, de Serginho Groisman, em julho de 1992, Angélica confessa a sua ideia de remover os “Jaspions” da grade:

No meu programa, eu até fiz uma experiência. Por achar […] uma coisa muito ousada pra criança, a gente começou a colocar esses desenhos mais antigos, e tiramos os filmes de guerra. O que aconteceu? Chegaram cartas das crianças desesperadas que queriam de volta os filmes que eu não gostava e que muita gente criticava. A gente teve que voltar com tudo isso. Então eu não sei nem se a criança tá mais violenta, […] a moda agora são esses ‘desenhos’, a criançada curte esses ‘desenhos’, todos os lugares têm.

imagem: Angélica sendo entrevistada por Serginho Groisman

Clique na imagem para acessar o vídeo. | Imagem: Reprodução/SBT/YouTube

▶ Acesse o vídeo da entrevista clicando aqui (o trecho começa aos 5 min. e 10 seg.)

 

Em julho, o Clube da Criança com Angélica voltaria para as tardes, após o baixo desempenho matutino. Embora de fato nunca tenha voltado a ter tokusatsu no programa, os heróis regressaram para a estreia do Dudalegria, que preencheu a grade da manhã com Black e outros heróis para acalmar a ira das crianças.

A “tentativa de golpe” da loira saiu feia, pois foi justamente com Jaspion e Changeman que Angélica foi lançada ao estrelato no fim dos anos 1980. A carona no fenômeno, que chegou a bater 12% na audiência (algo que nem Os Cavaleiros do Zodíaco alcançaram) catapultou o nome da apresentadora, que também chegou a apresentar o circo-show dos heróis, que rodou o Brasil.

Curiosamente, no mesmo ano de 1992, outro produto japonês (uma animação) chegaria ao Clube da Criança: Doraemon. Mas essa é outra história…

Agradecimentos ao Matheus Mossmann, que colaborou integralmente com a pesquisa para esse texto.

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