ATENÇÃO: Este texto pode conter informações indesejadas sobre o filme para quem ainda não assistiu, mesmo eivtando detalhar o roteiro e os eventos importantes do longa.


ONE PIECE FILM RED é o primeiro filme da franquia a chegar dublado às telonas brasileiras — antes dele, contudo, STAMPEDE e GOLD chegaram dublados ao streaming (via Diamond). A Netflix ainda trouxe com dublagem os filmes Z, Strong World, o longa compilatório de Alabasta, e sem dublagem um filme trazendo uma versão alternativa de Drum Island, o longa Flor do Inverno, Milagre da Cerejeira.

indícios que a Diamond planejava colocar GOLD ou STAMPEDE originalmente como o primeiro One Piece nas telonas antes da pandemia, mas o fato é que, por várias circunstâncias, quem pegou esse posto foi RED.

O filme traz uma personagem nova, Uta, que alterna entre os papéis de protagonista, vilã e vítima ao longo da história. A Toei não poupa esforços na apresentação e desenvolvimento da personagem, feitos por meio de músicas e sequências que funcionam como se fossem clipes musicais, mas inseridos de forma coesa dentro da trama, e contribuindo para ela. O trabalho em cima da Uta é muito bem feito, não é todo filme de animê que consegue introduzir e amarrar pontas tão bem com um personagem novo e “não-canônico” (ela foi canonizada no mangá).

imagem: uta de perfil.

Divulgação: Toei/Diamond Films.

O objetivo da Uta é criar um mundo onde todos podem ser felizes e, para tal, ela aposta em sua música e monta um grande show. No princípio, todos parecem estar em frenesi com a ideia e com a experiência, mas vamos logo ver que não é só harmonia que constrói essa melodia.

Aqui temos um ponto importante: RED é um musical, mas existe um propósito para isso, e as músicas não são “soltas” ou simplesmente complementares à narrativa, elas contam e movem a história (por elas temos muito do caldo da Uta). Tudo sobre a Uta — a começar pelo seu nome, que soa do mesmo jeito que “canção” em japonês — envolve música. Até mesmo na batalha final os personagens precisam de sincronia e sintonia para derrotarem o inimigo, quase como num jogo de ritmo.

Por isso, a adaptação das músicas era algo essencial neste filme. Bianca Alencar faz um ótimo trabalho na interpretação, e toda a equipe da Unidub entregou adaptações excelentes das canções (ao menos aos ouvidos leigos) — não faria qualquer sentido dublar o filme e não adaptar as músicas, seria quase a mesma coisa que deixar tudo apenas legendado (o espectador já teria que passar metade do filme lendo legendas mesmo…).

A animação abusa de cores e há momentos muito bonitos — existe um jogo cor x sem cor. A sequência inicial, que apresenta a Uta, é deslumbrante, e a personagem é também bem expressiva visualmente, ajudando já a mergulhar no clima de idol (na verdade, todas as músicas funcionariam como clipes se cortadas do filme).

Os momentos finais, que trazem uma intensa luta, também não deixam a desejar — e há um certo toque aqui que lembra Madoka Magica, talvez por sequências que tenham uma pegada meio “psicodélica”, tudo bem bonito de ver, além do conceito visual do inimigo final. Contudo, em alguns momentos, a Toei usa um CG que destoa do resto da animação, mas isso não atrapalha tanto a experiência.

O maior problema do filme talvez seja sua duração — são quase 2 horas de aventura. Isso em si não é problemático, claro, mas ali no miolo a trama parece se perder, e passa a impressão de que o roteiro está apenas enrolando com eventos que poderiam ser mais rápidos ou contados de uma forma mais dinâmica. Felizmente, quando a reta final entra, a narrativa começa a se acertar e entra de volta nos trilhos, dando um fechamento satisfatório.

Ficaria melhor se alguns flashbacks, que são picotados, fossem mostrados em uma única sequência porque em algumas partes parece estranho interromper a ação só para mostrar um evento do passado — seria tranquilo se fosse uma ou duas vezes, mas como são vários cortes fica um pouco cansativo.

imagem: koby em cena.

Divulgação: Toei/Diamond Films.

RED claramente tenta agradar aos fãs fiéis da franquia, trazendo inclusive elementos do mangá que ainda não apareceram no animê, além de rostinhos conhecidos (incluindo alguns que nem apareceram na versão dublada do animê).

Dá para perceber o “fanservice” sem conhecer One Piece a fundo, pela forma como muitos deles são tratados pela trama. Mas isso não atrapalha em nada a experiência de quem sabe pouco ou nada da série — um caso é quem vos escreve, que não tem um grande conhecimento da série. É possível entender o enredo, curtir, (cantar) e se emocionar mesmo perdendo esses momentos especiais para os fãs.

Como uma produção para os fãs, como uma porta de entrada para conhecer mais de One Piece, ou como uma diversão pontual e descompromissada, é um bom filme, principalmente para quem gosta de um musical. É uma animação com momentos visualmente muito bonitos, provavelmente melhor para se ver nas telonas que nas telinhas, e uma trama capaz de entreter apesar de alguns tropeços.

 

Coletiva de imprensa

imagem: foto de telão de one piece red que estava na coletiva.

Foto: Laura Gassert | JBox.

Após o filme ser exibido na cabine de imprensa (no dia 28 de outubro), começou uma coletiva com o elenco principal: Glauco Marques (Zoro, e diretor da dublagem), Bianca Alencar (Uta), Carol Valença (Luffy), Agatha Paulita (Chopper), Adrian Tatini (Usopp), Wendel Bezerra (Sanji, e dono da Unidub) e Silvio Giraldi (Shanks) — mesmo quem não soubesse bem os nomes acharia fácil saber quem dublava quem pois estavam vestidos a caráter.

Durante a coletiva, muitas informações interessantes foram passadas. Uma delas é que a dublagem teve um prazo muito curto para ser realizada — o processo todo deve ter levado em torno de 2 meses, mas as gravações ocorreram em mais ou menos 8 dias. Nunca foi cogitado, neste caso, não adaptar as músicas.

A Bianca Alencar, voz da Uta, descobriu que tinha sido selecionada no dia 1º de outubro (o Japão demorou para aprovar, ela foi a última a ser aprovada) — ou seja, faltando um pouco mais de um mês para o filme sair nos cinemas, e com certeza um prazo bem menor para ele estar com a dublagem pronta. Ela tinha acabado de sair de uma gripe e gravou em um único dia, tendo obviamente se preparado de antemão.

Ela contou que não sabia da intensidade da personagem e teve medo de perder a voz, até por não ser o tipo de canto que está acostumada a fazer. Sendo assim, todo o preparo que pôde fazer antes foi muito importante, e contou com apoio do estúdio para tal.

Wendel Bezerra contou que houve uma entrega e uma dedicação muito grandes com esse projeto. Por exemplo, a mixagem ficou nas mãos de Gabriel Pestana, mas ele optou por passar o trabalho por um controle extra de qualidade, pedindo para outro profissional do estúdio revisar a mixagem.

O diretor Glauco Marques contou um pouco sobre todo o processo de dublagem da série, que começou em 2019, mas passou um tempo parado em 2020 devido à pandemia. Ele também contou que há um cuidado grande para abrasileirar as falas (para quem nunca viu, são comuns expressões bem brasileiras na dublagem), utilizando referências de vários lugares, mas há também alguns improvisos na gravação que casam bem com a série.

Dado todo o contexto de produção, a dublagem brasileira teve uma entrega incrível, e provavelmente será bem recebida pelo público que curte a versão dublada — talvez a dublagem também tenha tido um pouco de sorte da parte burocrática não ter atrasado a entrega do material. Mesmo com os prazos apertados, a Unidub entregou um excelente material e saber dos perrengues por trás daquilo que assistimos só ajuda a valorizar ainda mais este trabalho.

Apesar de ser um dos raros casos atuais de adaptação de músicas, dada a particularidade do projeto e do lançamento (nos cinemas), parece infelizmente pouco provável que o filme seja um pontapé para que mais músicas de animês sejam adaptadas, dada a conjuntura atual do mercado — mesmo os americanos atualmente tendem a não adaptar as músicas de animês, o que sugere que esse processo seja relativamente complicado.


ONE PIECE FILM RED entrou em cartaz nos cinemas brasileiros no dia 2 de novembro, com cópias dubladas e legendadas. O JBox participou da cabine de imprensa e de um evento de pré-estreia realizados, respectivamente, nos dias 28 de outubro e 1 de novembro. Na primeira ocasião foi exibida a versão dublada e, na segunda, a legendada.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.