Por muitas vezes, mangás pós-apocalípticos contam com histórias reflexivas sobre a humanidade e o que representa o fim dela. Normalmente esse tipo de história me cativa e, durante as páginas iniciais de Alma pensei que teríamos algo nessa vibe. Infelizmente logo fui provado do contrário.

Alma é um mangá de Shinji Mito onde conhecemos Ray, um jovem rapaz que vive isolado junto de Rice e seu hamster Lambda. Os três, mesmo passando por uma vida complicada, vivem felizes juntos. No entanto, certo dia isso é interrompido quando um robô humanoide ataca e revela um grande “segredo”.

Foto: Talles Queiroz/JBox

Ainda que as coisas não comecem a desandar a partir do momento do ataque, foi nele que notei que Alma não era um mangá para mim. Apesar do quadrinho não deixar totalmente de lado o aspecto mais sensível que parecia prometer, o roteiro que vem a seguir é raso e, no fim do primeiro volume, o que vemos é que se trata apenas de mais uma batalha da humanidade contra robôs. A despeito do protagonista se tratar de uma situação especial, não é assim que funciona com o resto.

Claro, um mangá de “guerra” pode muito bem andar lado a lado com histórias mais reflexivas, mas Alma não demonstra seguir essa direção, ao menos não muito bem. O sentimento que tive com a obra foi parecido com o de Uma Vida Imortal, que inicialmente parecia que teria foco principal numa grande jornada de descobrimento de Fushi, mas, apesar de ainda tentar seguir essa direção, atrapalha as coisas com um roteiro inútil envolvendo um inimigo desnecessário.

Outra coisa que pode atrapalhar a experiência é o fato dos personagens da história não serem muito convincentes. É difícil criar uma relação simbólica com Ray; Lambda acaba sendo só um mascote engraçadinho que, quando gera uma situação interessante, o caso é deixado de lado; e Rice, bem, acaba sofrendo com as consequências que o roteiro do mangá propõe ainda no primeiro capítulo.

No quesito artístico, Alma também não se destaca tanto. O título até tem cenários bem desenhados, mas os personagens parecem só um misto de várias coisas que vemos por aí. Os robôs humanoides, principalmente, só parecem uma reprodução genérica de qualquer história pós-apocalíptica um pouco mais violenta. No fim, não há muita identidade própria.

Foto: Talles Queiroz/JBox

A edição brasileira também não é de se destacar, sendo apenas o padrão gráfico de volumes mais simples atualmente. A adaptação funciona, mas incomoda um pouco quando uma personagem com um “tique de miado” aparece e, curiosamente, nem é pela inserção de “miau” em algumas palavras. Uma fala que achei bem mal adaptada foi, em um momento que Rice está nervosa com a “robô-gato”, fala: “‘Miau’ pra cá, ‘miau’ pra lá… Seu personagem é nojento!”.

É normal, realmente, ver esse uso em alguns mangás e animês, quando “personagem” se trata na verdade de uma identificação do traço de personalidade, normalmente clichê, que alguns personagens apresentam.

No entanto, o sentido é isso: personalidade. Talvez aqui fosse mais válido usar “seu tipo de personagem é nojento!” ou até mesmo “sua personalidade é nojenta!”, mesmo que soe com outro significado fora de contexto. Essa situação foi a que deixou maior incômodo durante a leitura, por isso decidi pontuar.

No fim das contas, quase sempre é difícil julgar um mangá apenas pelo primeiro volume, mas Alma é curto o bastante para termos base o suficiente para definir o que podemos pensar sobre o resto da obra. Apesar de às vezes apostas fora do que é mais “mainstream” darem certo, não foi dessa vez que uma joia escondida surgiu no mercado brasileiro.

Alma conta com quatro volumes ao todo. A quarta e última edição será lançada no Brasil durante este mês de novembro pela Panini.


Galeria de fotos

Confira no álbum abaixo algumas fotos da edição brasileira de Alma.


Se interessou? Compre pelos nossos links:

Volume 1 | Volume 2 | Volume 3 | Volume 4


Essa resenha foi feita com base na edição cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Panini. 


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.


O JBox possui parcerias comerciais com a Amazon, podendo ganhar um valor em cima das compras realizadas a partir dos links do site. Contudo, o JBox não tem responsabilidade sobre possíveis erros presentes em recursos produto integrados ao site mas produzidos por terceiros.