A série Kamen Rider Black é um dos clássicos de tokusatsu mais aclamados até hoje, tanto no Japão quanto aqui no Brasil, onde foi exibida pela extinta Rede Manchete, entre 22 de abril de 1991 e 15 de julho de 1994. Black estreou na TV japonesa em 4 de outubro de 1987, portanto há 35 anos. Em 28 de outubro deste ano, ganhou uma série reboot pelo serviço de streaming Amazon Prime Video intitulada Kamen Rider Black Sun.

Seja para celebrar o aniversário ou para embarcar na releitura lançada recentemente, é importante que o fã/leitor conheça o mangá original de Kamen Rider Black, que foi lançado no Brasil ainda este ano, em três volumes, pelo selo Xogum da editora NewPOP.

Kamen Rider Black foi publicado originalmente pela revista japonesa Weekly Shonen Sunday, entre 23 de setembro de 1987 e 23 de novembro de 1988, totalizando 23 capítulos. A série ganhou uma versão encadernada em seis volumes, publicados no Japão entre abril de 1988 e fevereiro de 1989 — aqui no Brasil ele veio em formato “2 em 1”, com 3 volumes.

Se você está mais acostumado com a versão que assistimos na época da Manchete, é preciso entender que o mangá, que começou 11 dias antes da série de TV, foi contado pela visão do saudoso mangaká Shotaro Ishinomori (1938~1998), também conhecido como o rei do mangá.

Ishinomori costumava mostrar as organizações malignas, como, por exemplo a Shocker do mangá do primeiro Kamen Rider (também publicado no Brasil pela NewPOP), se infiltrando na sociedade para criar um “mundo ideal”, ameaçando a existência humana. Elementos do tipo foram utilizados em Black e adaptados para uma visão pós-apocalíptica que Ishinomori tinha, apresentando a verdadeira filosofia de Gorgom“a reconstrução através da destruição”“extermínio e ressurreição”.


Os filhos de Gorgom

imagem: quadro do mangá com a transformação do herói.

A metamorfose de Kamen Rider | Foto: Lídia Rayanne

Na época da publicação, o ano 2000 era de grandes expectativas para muitos e o fim para outros. Ishinomori era adepto da profecia de Nostradamus, que pregava o fim do mundo antes da tal “virada do milênio” — mais precisamente durante um eclipse solar onde planetas do nosso sistema solar formaram uma cruz, mais precisamente em 11 de agosto de 1999.

O mangaká realmente não acreditava que a humanidade chegaria ao ano 2000, algo que influenciou bastante suas obras, especialmente o mangá de Kamen Rider Black. Ironicamente, Ishinomori morreu em 28 de janeiro de 1998, três dias depois de completar 60 anos de idade. Ou melhor, faltando menos de dois anos para a chegada do ano 2000.

Polêmicas à parte, isso tem muito a ver com o mangá. A série de TV tinha sim uma carga dramática sombria, às vezes com momentos dignos de filme de terror e que só foi o que conhecemos por causa de constantes mudanças no staff de produção, que até ocasionou na saída do roteirista principal Shozo Uehara (1937~2020), que queria levar a trama para um ambiente de terra arrasada (saiba mais aqui).

Por ser um mangá, Ishinomori tinha mais liberdade que os produtores da Toei para tocar pra frente a trama, equilibrando o enredo inicial entre o suspense com pitadas de alívio cômico.

imagem: quadro do mangá com forma alternativa do black.

Uma forma improvisada de Kamen Rider Black | Foto: Lídia Rayanne

Grande parte do mangá gira em torno de viagens para outros países, tendo Nova Iorque como local de introdução do personagem Kotaro Minami (Issamu Minami, na dublagem clássica; seu nome original foi mantido na publicação brasileira), um jovem com amnésia que lembra apenas de seu nome e que veio do Japão.

Um dia, ele enfrenta um homem-crocodilo que ataca uma equipe de um programa de TV, enquanto investigava um fenômeno sobrenatural. Kotaro se transforma numa espécie de homem-gafanhoto que fica ainda mais forte quando seu corpo fica mais escuro.

Ao salvar o produtor Sam e a repórter Kate, Kotaro passa a se integrar à equipe de TV e viaja para vários locais do mundo, onde descobre que quem está por trás das aparições de monstros é uma sociedade secreta chamada Gorgom. Aos poucos, este quebra-cabeça do passado de Kotaro vai se encaixando, fazendo com que ele se lembre gradativamente de seu passado e se encontre com Kyoto, sua irmã de criação.

Assim como na série de TV, Kyoko é irmã legítima de Nobuhiko Akizuki, que também havia desaparecido junto com Kotaro. Os irmãos adotivos, Kotaro e Nobuhiko, nasceram nas mesmas data e hora, durante um alinhamento de todos os planetas, portanto estão ligados pelo “fio do destino” e destinados a se enfrentarem num cenário onde a humanidade foi praticamente extinta e a Terra é dominada por um rei-demônio — com uma aparência idêntica ao Black.


Além da nostalgia!

O mangá de Kamen Rider Black teve seu próprio rumo, construiu um conceito que vai além da série de TV e não demora para endurecer a carga dramática, composta por suspense, drama, terror e conspiração. Elementos que prendem a atenção do fã do herói-título.

Foi natural que alguns elementos da série tokusatsu fossem adotados no mangá, que também defendeu o legado da franquia iniciada em 1971. O terceiro e último volume reserva pontos altos com a aguardada volta de Nobuhiko, que foi contada de uma maneira diferente do que vimos na TV.

imagem: página dupla com o protagonista e antagonista e cidade ao fundo,

A batalha final entre Black e Shadow Moon, segundo a visão de Ishinomori | Foto: Lídia Rayanne

Embora com algumas lacunas durante o desenrolar da trama, Ishinomori fez questão de marcar o mangá de Black com suas próprias convicções sobre niilismo no capítulo final, onde Black enfrenta Shadow Moon, literalmente, no fim do mundo.

Kamen Rider Black é, de longe, um dos títulos indispensáveis para a coleção dos amantes de Ishinomori e dos heróis de tokusatsu. Uma obra a ser apreciada e compreendida tanto por saudosistas quanto por novos fãs da franquia, ainda mais agora, depois do lançamento de Black Sun. Um material para ser reverenciado com toda a genialidade que só o rei do mangá tinha em sua mente.

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