O escritor estadunidense H.P Lovecraft uma vez escreveu que parte do medo do horror sobrenatural vem do desconhecido. Junji Ito, um dos mais famosos mangakás de horror da atualidade, parece compartilhar da mesma dedução, ou pelo menos compreende como o desconhecido é fundamental para o desenvolvimento de uma boa história do gênero.
Em Calafrios (Samuke), coletânea de histórias publicada pela editora Pipoca & Nanquim, é apresentada aos leitores uma série dos principais contos da longa carreira de Ito, escolhidos a dedo pelo próprio mangaká. São contos que brincam com o mistério e como o desconhecido pode causar emoções humanas que vão da angústia à obsessão.
Um verdadeiro mestre do grotesco e do bizarro, Ito apresenta ao público nove histórias anteriormente publicadas no Japão e uma inédita, com premissas um tanto quanto surreais: em uma delas, uma cidade começa a ser vítima de balões assassinos; em outra, uma doença desconhecida faz com que pessoas ganhem furos pelo seu corpo. Há até mesmo um conto destinado à demoníaca Tomie, famosa personagem do autor que possui um charme irresistível para os homens.
Mesmo com tantas ideias tão discrepantes entre si, ele consegue dar a cada uma delas um toque único que denuncia a autoria das histórias. Seja através dos desenhos característicos ou pelo modo como o roteiro é construído, cada conto parece gritar que aquilo que lemos é algo que somente ele poderia fazer. Desse modo, a coletânea revela tanto a imensa criatividade do autor, como sua capacidade de desenvolver um estilo próprio.
As emoções que os contos afloram no leitor são intensas. Enquanto alguns mexem com a curiosidade a cada página, outros podem causar repulsa. Pessoalmente, preciso citar que Glicerídeos talvez tenha sido uma das experiências mais asquerosas que já tive com qualquer tipo de mídia. Poucas vezes um animê, filme ou jogo de videogame me deixou com calafrios de enjoo, como os desenhos deste mangá me deixaram.
E por falar em calafrios, a história homônima ao título desta coletânea também merece ser destacada, pois envolve diversos elementos que são vistos nos outros contos aqui reunidos.
Embora trabalhe muito com mistério, o autor não se preocupa em sempre dar uma solução para as questões por ele levantadas. Isto pode ser frustrante para quem gosta de saber o “porquê” aqueles acontecimentos ocorrem ou de onde vieram as criaturas sobrenaturais criadas pelo autor.
Poucas vezes Ito nos dá respostas e há um costume frequente de que algumas de suas histórias sejam finalizadas de forma abrupta, sem um final realmente conclusivo. Se isto é uma escolha do autor, ou uma exigência de editores para que as histórias se encaixassem num determinado número de páginas em revistas, não é possível saber.
O que Ito oferece aos leitores vai além de suas narrativas. É de fato uma grande experimentação e a maior parte das histórias consegue instigar algo no leitor. A única exceção talvez seja de fato o conto inédito desenhado por Ito para a coletânea. Na realidade, trata-se de um miniconto, que infelizmente termina quando começa a se tornar interessante.
Além de todas as emoções despertadas, Calafrios também é um exemplar da evolução do autor. Ao trazer comentários e rascunhos dos desenhos de cada história, os leitores podem vislumbrar como os contos de Ito evoluíram e notar ideias que foram descartadas e aprimoradas (alguns poucos rascunhos, confesso, são mais interessantes que a obra final, mesmo quando o resultado é satisfatório).
A edição trazida ao Brasil pela Pipoca & Nanquim tem um ótimo acabamento em capa dura, com um papel que prioriza a qualidade dos desenhos de Ito e torna os sombreados ainda mais profundos.
Este é um verdadeiro presente aos fãs de Junji Ito e uma obrigatoriedade na prateleira de qualquer fã de terror.
Confira algumas fotos da edição nacional:
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Esta resenha foi feita com base em edição de Calafrios cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Pipoca & Nanquim.
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