Kagaku Sentai Dynaman (Esquadrão Científico Dynaman) completou 40 anos de sua estreia pela TV Asahi neste domingo (5).
A sétima série Super Sentai substituiu Goggle Five (exibida no Brasil pelas emissoras Bandeirantes e Record na década de 1990) e teve pela primeira vez a contribuição de Yutaka Izubuchi como character designer de monstros da franquia (pegando na sequência Bioman, Changeman e Flashman). Isso sem contar que o elenco teve como destaque o ator Junichi Haruta (MacGaren em Jaspion) e a atriz Sayoko Hagiwara (Nefer em Flashman) como Dyna Black e Dyna Pink, respectivamente.
Mas talvez você não saiba que Dynaman já teve uma paródia exibida na TV americana, sendo então, digamos assim, uma legítima adaptação americana de Super Sentai que foi ao ar antes mesmo de Power Rangers surgir nos idos de 1993.
Veja a abertura de Dynaman (a série original de 1983):
https://www.youtube.com/watch?v=fKcEvrOWhBc
Um besteirol americano fabricado no Japão
Tudo começou no programa Night Flight, uma espécie de revista eletrônica do canal pago USA Network que exibia produções originais dentro da atração — ela ainda vai ao ar nos fins de noite. Em 1988 (ou talvez 1987, dependendo de quem você perguntar), o popular Night Flight lançou uma paródia boboca de Dynaman.
O público norte-americano já tinha contato com o gênero tokusatsu principalmente através de filmes e séries do estilo kaiju — como Godzilla, Ultraman, Ultraseven, Spectreman, etc. Mas qualquer série protagonizada por um quinteto com trajes multicoloridos ainda seria novidade para os gringos da época. E como levar isso a sério em tempos onde Zordon ainda nem sonhava em recrutar um “grupo de adolescentes com garra” para enfrentar a gangue de Rita Repulsa?
Então, eram anos 80, oras! Uma época de ouro em que o humor excêntrico, a ficção científica e o rock estavam em alta na cultura pop. Falando em rock, e se eu dissesse que o cantor Billy Idol (aquele do clássico “Eyes Without a Face”) e bandas como Huey Lewis and the News (a mesma de “The Power of Love” e “Back in Time”, temas do filme De Volta para o Futuro) e Morris Day and the Time (de sucessos como “The Cool” e “Jungle Love”) participaram da trilha sonora desta paródia de Dynaman? Tá, eu sei que parece piada (sem trocadilho), mas não é (até porque a produção tinha uma lista de músicas com direitos que poderiam ser adquiridos facilmente).
E pra completar a bagaça, teve até diálogos criados pela trupe canadense The Kids in the Hall, que colocou muitas, muitas digitais nessa zoeira.
Assista a um dos episódios da paródia de Dynaman:
“Um produtor de Toronto, Patrick Whitely — que era produtor de linha da SCTV (Second City Television) – abordou Bruce McCulloch com a ideia”, explica Kevin McDonald, membro do The Kid In The Hall, sobre as origens de Dynaman (a paródia).
“Um ano e meio antes, quando Lorne Michaels nos descobriu pela primeira vez, ele contratou Bruce e Mark McKinney para escrever para o Saturday Night Live (programa exibido pela emissora americana NBC desde 1975; no Brasil, foi transmitido por vários anos pelo canal pago Sony), o que eles fizeram por uma temporada. Bruce então se tornou um roteirista ativo, escrevendo para prêmios canadenses e coisas assim. Então, sabendo o quão bom ele era, Whitely abordou McCulloch para escrevê-lo.”
Segundo McDonald, Michaels estava finalizando o acordo para The Kids In The Hall, a série que levava o nome da trupe, ir para a HBO americana e eles se envolveram com Dynaman nesse ínterim.
Bruce Pirrie era um comediante de Toronto que havia acabado de terminar um período de seis anos no canal Second City como ator e escritor, trabalhando no palco principal de Toronto com Mike Myers, ex-Saturday Night Live, além de se apresentar com Scott Thompson e Mark McKinney de The Kids In The Hall na Second City Touring Company.
“Também fiz alguns pequenos papéis no programa SCTV, onde me tornei amigo de Patrick Whitley, um produtor da série”, diz Pirrie. “Mais tarde, Patrick me contrataria para trabalhar em várias funções em outras produções dele, incluindo Dynaman”.
As origens de Dynaman (a paródia) permanecem envoltas em mistério e tudo foi feito com muita diversão, de acordo com o elenco e a equipe.
“Dynaman me lembrou de um programa japonês chamado Ultraman, que era dublado em inglês e era meu programa favorito quando criança”, diz McDonald. “Foi jogado de forma direta e obviamente foi uma inspiração para os criadores japoneses do Dynaman original.”
“Eu não estava familiarizado com a série [Super] Sentai original do Japão especificamente, mas eu me lembro de ter visto um super-herói insanamente hiperativo intitulado Inframan (filme chinês de tokusatsu, produzido em 1975) no Festival Internacional de Cinema de Toronto em seus primeiros anos de operação”, conta Pirrie.
Sobre o processo de produção, McDonald acrescenta:
Foi meticuloso e levou muitas, muitas horas para criar piadas que se encaixassem no que os atores japoneses originais estavam dizendo. Uma coisa que me lembro de ter contribuído foi que as pessoas na nave gritavam de dor toda vez que desciam para um planeta… porque doía muito. Nós o escrevemos muito rápido. Algumas semanas. E então Bruce McCulloch assumiu sozinho e aperfeiçoou os roteiros.
O enredo reformulado de Dynaman apresentava “cinco amigos japoneses bonitos de todas as esferas da vida” que defendiam Dyna City contra os ataques de invasores alienígenas, liderados por Bernie Tanaka e Mei Fujitsu — Imperador Aton e General Kar, respectivamente, do Império Jashinka na série original.
Daí então, Hokuto Dan/Dyna Red foi rebatizado como Wooshi, Ryuu Hoshikawa/Dyna Black como Huba, Yousuke Shima/Dyna Blue como Franky, Kousaku Nangou/Dyna Yellow como Cowboy (!) e Rei Tachibana/Dyna Pink como Slojin. O quinteto japonês (que falava inglês!) tinha como mentor o Dr. Ho e o robô conhecido como Máquina de Alívio Cômico — ambos são paródias do Dr. Kyuutarou Yumeno e Kendo Robo, respectivamente.
Tanto Tanaka quanto Fujitsu são ex-colegas do Dr. Ho, até que foram desfigurados em um acidente de laboratório. Tanaka também é ajudado por seu filho, o astro do rock britânico (Oi???) Nigel Cochrane (Príncipe Megiddo) e sua linda sobrinha Lucy (Princesa Chimera).
A mistura de música dos estilos pop e rock da época com humor juvenil bem cafona e uma pitada de estranheza foram ingredientes para a paródia Dynaman se encaixar perfeitamente no conteúdo do Night Flight, que apresentava a contracultura da então nova onda oitentista aos finais de semana.
Dynaman (a paródia, é claro) teve apenas seis episódios no Night Flight e mais tarde, ainda em 1988, ganhou uma reprise no bloco Special Delivery da Nickelodeon americana. Pirrie — que, inclusive, emprestou sua voz para o Cowboy/Dyna Yellow — contou como o projeto foi pro limbo.
Gravamos um punhado de episódios e passamos para outro trabalho enquanto esperávamos para saber se a série foi vendida com base nos que fizemos. Evidentemente ninguém estava particularmente interessado em gravar mais, então, como tantos outros projetos, simplesmente desapareceu.
Seja pela popularidade que Super Sentai conquistou nos EUA através de Power Rangers ou mesmo pela bizarrice da coisa, Dynaman (a paró… ah, vocês já sabem, né?) é, até hoje, uma das produções mais comentadas pelos gringos que acompanharam o Night Flight e tanto é que o material saiu do baú e foi parar na plataforma de streaming do programa de TV.
Bem que Haim Saban tentou emplacar com Bio-Man, adaptação ocidental de Bioman que não passou do piloto produzido em 1986. Mas, pro bem ou pro mal, Dynaman acabou sendo uma semente que plantou o interesse pela franquia Super Sentai na terra do Tio Sam. Ou melhor, do Super Sam (Time is money! Oh yeah!).
*Os depoimentos dos envolvidos na paródia foram concedidos originalmente para o jornalista americano Mike Vanderbilt, em matéria publicada no dia 4 de março de 2017 pelo site oficial do programa Night Flight (atualmente em arquivo).
O texto presente nesta coluna é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
Caramba o Kevin do Kids in the Hall (via direto no Multishow na década de 90) participou dessa versão “Tela Class” de Super Sentai? Quem diria…
Cara eu vi essa parodia nos primórdios do youtube. Não lembro se completo ou trechos…
Não duvido que o Casseta & Planeta tenha se inspirado nessa versão zoeira pra compor aquele quadro Fucker & Sucker.