Sejam bem-vindos à estreia da Sakuga no Hanashi! Eu sou Tonatiú, redator da Sakuga One e agora também o seu colunista, e essa é a mais nova coluna do JBox, que procura trazer um espaço para que possamos bater um papo sobre animês e a indústria de animação japonesa, seja através de textos mais técnicos ou um conteúdo mais descontraído.
Antes de começarmos a falar sobre animês e suas produções, para esse texto de estreia, acho que nada melhor do que começarmos aprendendo como surge um animê, desde de a sua conceptualização como uma simples ideia, passando por todas as etapas de sua produção, até que tenhamos o produto final.
Se preferir, você pode pular para um dos capítulos do texto pelo menu abaixo.
- 1. Planejamento
- 1.1 Pré-produção
- 1.2 Estruturação da Série
- 1.3 Roteiros
- 2. Designs
- 2.1 Designer de Personagens
- 2.1.1 Sub-designer de Personagens
- 2.2 Designer de Acessórios
- 2.3 Diretor de Arte
- 2.4 Designer de Cores
- 2.4.1 Coordenador de Cores
- 3. Direção e Storyboard
- 3.1 Storyboard
- 3.2 Diretor
- 3.2.1 Diretor Assistente
- 3.2.2 Diretor de Série
- 3.2.3 Diretor de Unidade/Episódios
- 4. Animação
- 4.1 Animação-chave
- 4.2 Diretor de Animação
- 4.2.1 Diretor-chefe de Animação e Diretor-assistente de Animação
- 4.2.2 Diretores de Animação Especializados
- 4.3 Animação-chave Secundária
- 4.4 Inbetweening
- 4.5 Finalização
- 4.6 Cenários
- 4.7 Fotografia/Composição
- 5. Gerência
- 5.1 Produtor de Animação
- 5.2 Assistente de Produção
- 5.3 Mesa de Produção
- 5.4 Cooperação de Produção
Considerem como um artigo introdutório para apresentar ou reiterar alguns dos mais comuns processos e nomenclaturas relacionados à produção de animês, antes que de fato possamos discutir sobre o assunto de forma mais desconstruída em textos futuros.
1 – PLANEJAMENTO
Todo animê começa a partir de uma ideia, quando alguém — geralmente o produtor de uma empresa — surge com o conceito de um possível projeto, seja original ou não. Então passam a tentar oferecê-los para empresas que estejam interessadas em produzi-los. Ideias assim são geralmente oferecidas para diversas pessoas e empresas antes de finalmente encontrar alguém que esteja disposto a apostar nelas. Em certos casos, se essa ideia estiver relacionada a uma franquia popular como, por exemplo, uma adaptação de um mangá popular, é possível que várias empresas disputem pela oportunidade de participar desse projeto. Do contrário, ideais originais são mais difíceis de serem vendidos, por isso é necessário que haja nomes de peso envolvidos. Se um diretor de renome ou um artista popular estiver no meio, a ideia se torna bem mais atrativa para as empresas e o público.
1.1 PRÉ-PRODUÇÃO:
Depois que o produtor fecha com uma empresa disposta a custear o projeto, é a hora de começar preparar uma Proposta de Produção! Um documento que os irá ajudar a encontrar e convencer outras empresas a financiar a produção desse animê, formando assim um Comitê de Produção ou Ouseisaku Iinkai (制作委員会) . Essa proposta irá apresentar um rascunho provisório do que será o enredo e os personagens desse animê, além de contar com artes conceituais e designs para ajudar a ilustrar a proposta.
Um Comitê de Produção é uma “pseudo-empresa” provisória que existe apenas em torno de uma produção, utilizando as especialidades de cada uma das empresas integrantes para ajudar a explorar todas as oportunidades do projeto. Esses comitês de produção contam com empresas de distribuição nacional e internacional, gravadoras de música, empresas especializadas na produção de merchandising e até mesmo o próprio estúdio de animação que eles contratarão para produzir a animação. Isso se o estúdio estiver disposto a correr o risco e arriscar suas próprias finanças, algo que muitos não estão dispostos a fazer e por isso sua palavra não tem tanto peso dentro do comitê de produção.
Com o comitê de produção pronto, eles começarão a encontrar a equipe principal que irá produzir o animê. Vão encontrar um estúdio para produzir a animação, contratar um diretor geral para comandar a produção, um roteirista para estruturar a série e um animador para criar os designs dos personagens para a animação, e que possivelmente possa permanecer na produção, atuando como diretor-chefe de animação. E daí em diante, a equipe reunida até então irá recrutar e preencher o restante do time. Ao mesmo tempo, o Comitê também começará a planejar demais aspectos relacionados à estrutura, custos e divulgação do projeto. Quantos episódios serão encomendados? Como e quando será a transmissão? TV ou Streaming? Como será a distribuição internacional? E quanto à divulgação? E a venda de mídias físicas? E a merchandising?!
Muitas dessas decisões tomadas pelo comitê podem selar o destino de toda a produção; algo que se tornou um problema comum atualmente na indústria. Como, por exemplo, decidir lançar o animê cedo demais, pode gerar um cronograma de produção apertado que irá comprometer a qualidade do produto final.
1.2 ESTRUTURAÇÃO DA SÉRIE:
Depois que esses detalhes forem decididos, será realizado a Estruturação de Série ou Series Kousei (シリーズ構成), função exercida pelo principal roteirista da produção. Durante essa etapa de pré-produção, o responsável pela estruturação da série se reúne com a equipe de produção do animê, incluindo o diretor e possivelmente os produtores, com a finalidade de apresentar uma proposta do que será o projeto. Em uma produção original, o ‘estruturador’ irá apresentar um conceito do projeto; um rascunho do seu enredo, discutir eventos importantes dentro da história e determinar o pacing da série. Já no caso de uma adaptação de obra preexistente, ele determinará como essa obra será adaptada no formato de um animê. Apesar de ser o responsável por determinar a estrutura da série, muitas vezes o roteirista encarregado da estruturação apenas segue as ordens do diretor do projeto, dado que ele ainda é o seu superior dentro da produção.
Esse esboço inicial pode variar bastante em relação a sua profundidade, alguns podem ser um esboço simples, apenas apresentando noções básicas do enredo geral, eventos importantes e o ritmo da série. Porém, alguns roteiristas ou diretores — alguns diretores se encarregam pessoalmente da estruturação de suas produções — podem ser bastante meticulosos em quão desenvolvidos são esses ‘esboços iniciais’.
1.3 ROTEIROS:
Após determinado como será a divisão do projeto em episódios, e o Roteiro ou Kyakuhon (脚本) principal tenha sido concluído, os roteiristas (脚本) são entregues à base escrita pelo estruturador da série, e são simplesmente encarregados de desenvolver os roteiros de episódios individuais, escrevendo todas as ações e diálogos que serão realizados pelos personagens — e os atores — dentro dos 21-22 minutos de material em um único episódio. Alguns escritores se encarregam pessoalmente de redigir esses roteiros individuais, seja somente para episódios mais importantes ou até mesmo para a série inteira, como foi o caso do diretor Tomohisa Taguchi (田口智 久) em Akudama Drive.
Esses roteiristas geralmente não têm nenhuma liberdade criativa, eles apenas devem adaptar o material entregue a eles. Caso seja um episódio original, como um filler por exemplo, às vezes os roteiristas recebem liberdade criativa sobre esses episódios.
2 – DESIGNS
Depois que o comitê de produção estiver formado, o planejamento inicial concluído e os principais membros da equipe já tenham sido contratados, a produção do animê poderá de fato dar início. Começando pelas funções de design.
2.1 DESIGNER DE PERSONAGENS:
Os designs apresentados na proposta inicial do projeto precisaram passar por um redesign para que se tornem funcionais para a animação e possam ser usados de referência pelos animadores. Então um dos primeiros membros a se juntar a equipe será um Designer de Personagens ou Kyarakuta Dezain (キャラクターデザイン), que posteriormente também deverá atuar como diretor-chefe de animação. Esse animador, geralmente um veterano experiente, ficará encarregado de desenvolver os designs dos personagens da série, que irão servir como referência para os demais animadores desenharem. Esses designs devem ser criados de forma que os animadores consigam facilmente replicá-los de diferentes ângulos e movimentá-los com maior facilidade. Isso geralmente significa que os designers precisam tomar cuidado com a quantidade de detalhes presentes em seus designs, e serem bem claras em relação a como esses designs devem ser utilizados em diferentes circunstâncias.
2.1.1 SUB-DESIGNER DE PERSONAGENS
Mesmo após o designer de personagens ter concluído a criação dos designs para o elenco principal da série, ainda temos personagens secundários ou personagens recorrentes que possuem um tempo menor de tela na série, que geralmente ficam a cargo de um Sub-designer de Personagens (サブキャ ラクターデザイン). Em alguns casos, até mesmo diretores de animação ou um dos animadores mais confiáveis dentro de uma produção, podem acabar atuando como designer em um episódio — como no caso de haver um ou mais personagens recorrentes em um episódio, e não haja uma uma folha de referência deles; nesse exemplo, um diretor de animação ou animador envolvido na produção do episódio irá criar o design sheet, que terá então que receber aprovação do diretor e (ou) do designer principal antes de poder ser utilizado no episódio.
2.2 DESIGN DE ACESSÓRIOS:
Não são apenas personagens que precisam ter referências de design. Acessórios, adereços e qualquer tipo de objetos inanimados presentes em cena, precisam ter seus designs definidos para que o resto dos animadores possa seguir como referência, evitando possíveis inconsistências e erros de continuidade. É aí que entra o Designer de Acessórios/Prop Designer (プロップデザイン、 デザイ ンワークス).
Além dos designers de personagens principais e dos designers de acessórios, diferentes produções podem precisar de designers para criar referências de elementos mais específicos que os animadores precisaram desenhar, dependendo de cada projeto. Animês de Mecha, como os da franquia Mobile Suit Gundam, precisam de animadores especializados em criar designs para Mechas. Séries com uma temática de fantasia, geralmente podem precisar de um designer para os diferentes tipos de criaturas que podem habitar esses mundos fantasiosos.
2.3 DIRETOR DE ARTE:
O Diretor de Arte ou Bijutsu Kantoku (美術監督) é o artista responsável por desenvolver os designs dos cenários que serão usados como referência ao longo de todo o projeto — seguindo a visão do diretor da série — assim como também irá comandar a equipe de cenários. Geralmente os diretores não são tão experientes em relação a design de cenários, então o diretor de arte tem uma certa liberdade em relação a como ele irá abordar a visão do diretor.
Muitos estúdios de animação não contam com um departamento de arte próprio, então dependem da contratação de empresas especializadas em criação de background artwork para realizar esse serviço. A equipe de arte irá desenvolver art boards (美術ボード), que são de desenhos de áreas específicas presentes na história, servindo como um exemplo para testar o uso de cores e o clima evocado no momento. Em seguida são criados art designs (美術設定/設定画); diagramas dos cenários com personagens inseridos, servindo como uma referência de tamanho/escala que será utilizado para que os animadores-chave tenham noção do tamanho dos personagens em relação ao cenário quando estiverem criando seus layouts.
2.4 DESIGNER DE CORES:
O último membro das funções de design seria o Designer de cores ou Shikisai Settei/Shikisai Sekkei (色彩設定/色彩設計), que ficará responsável por desenvolver e definir a paleta de cores utilizado na produção, tanto para os personagens quanto para objetos. Ele irá definir o tom exato que deverá ser usado em cada elemento, suas folhas de referência serão utilizadas pela equipe de pintura, listando todas as cores que deverão ser aplicadas em diferentes circunstâncias.
2.4.1 COORDENADORES DE CORES
Também é necessário a presença de Coordenadores de Cores (色指定), que serão responsáveis por criar variações dessas referências de cores para cenas específicas, seja em um episódio ou cena específica. Além de também inspecionaram se as cores em todas as cenas batem com o que está estipulado nas folhas de referência.
3 – DIREÇÃO E STORYBOARD
Com a estruturação da série definida e o trabalho das funções de design concluídas, a produção dos episódios pode dar início!
3.1 STORYBOARDS
O Storyboard ou Ekonte (絵 コ ン テ) é a planta de uma animação; um roteiro visual do que será a produção de um episódio ou filme. Um board consiste de uma série de painéis com desenhos geralmente simplificados, desenhados em um folha específica com espaços para que o artista de storyboard possa deixar instruções para os membros da equipe que irão se envolver com as diversas etapas seguintes da produção daquele material. Geralmente as instruções consistem de: descrições das ações realizadas na cena; número de cortes; duração dos cortes; diálogos e instruções para a equipe de som e fotografia.
Os desenhos presentes em storyboard não necessariamente precisam ser detalhados, já que eles são basicamente rascunhos. Isso varia de artista para artista, alguns de fato preferem fazer desenhos mais detalhados para os seus boards. Muitos diretores que trabalham com animação não têm experiência com a criação dela, às vezes nem mesmo são bons desenhando, por isso seus desenhos acabam sendo bem simplistas, alguns não sendo muito mais do que simples rabiscos.
Muitas vezes um storyboard pode ser feito com um animador específico, alguém o qual o artista por trás do board acha que será o animador mais adequado para trabalhar em uma cena específica. Alguns animadores de maior experiência e renome, como por exemplo Naotoshi Shida ou Yutaka Nakamura, recebem permissão para alterar o storyboard para melhor acomodar seus estilos de animação característicos.
3.2 DIRETOR
O Diretor ou Kantoku (監督) a pessoa encarregada de toda a produção, controlando todas as decisões criativas e supervisionando todas as diferentes etapas da produção; tendo a última palavra em relação ao desenvolvimento do projeto, dado que ele está acima de todos os outros membros da staff em relação à hierarquia da produção. Como mencionado anteriormente, o diretor participa da produção desde as etapas iniciais do projeto, como o planejamento e estruturação, onde ele tomará várias das decisões criativas de acordo com a sua visão para o todo.
Ao longo do desenvolvimento do projeto, ele irá comandar e supervisionar todos os demais departamentos da produção, garantindo o seu andamento e um resultado final satisfatório que esteja de acordo com a sua visão. O diretor pode querer que partes da produção sejam refeitas ou alteradas. Caso não estejam de acordo com a sua visão ou não atendam suas exigências, o próprio diretor poderá redesenhar segmentos do storyboard.
3.2.1 DIRETOR ASSISTENTE
Em algumas produções também podemos ter a presença do cargo de Diretor Assistente ou Jokantoku (助監督); responsável por auxiliar o diretor principal da série com suas diversas responsabilidades, com o simples intuito de ajudar a diminuir a pressão em cima do diretor, que normalmente teria que coordenar e supervisionar toda a produção sozinho.
3.2.2 DIRETOR DE SÉRIE
Diretor de Série (シリーズディレクター) ou Diretor-chefe (総監督 ou Soukantoku) são diferentes variações dessa função que podem existir dependendo do projeto; diretores com diferentes níveis de influência e papéis a exercer dentro dele, o que varia de produção para produção. Um diretor-chefe pode se focar na tomada de decisões criativas e estéticas ou somente no gerenciamento do projeto, enquanto o Diretor (監督) ficará encarregado da supervisão.
3.2.3 DIRETOR DE UNIDADE/EPISÓDIOS
Enquanto o kantoku fica encarregado de supervisionar todo o andamento da produção em geral, episódios individuais são coordenados por um Diretor de episódio/Diretor de unidade ou Enshutsu (演出). Esses diretores comandam todas as etapas, departamentos e artistas envolvidos na produção de seus respectivos episódios — ou no caso de filmes, apenas seu segmento específico do filme —, garantindo o seu andamento e que estejam seguindo corretamente o storyboard. Eles conferem e aprovam o trabalho dos animadores-chave, se certificando de que seus layouts estão de acordo com o segmento do storyboard entregue a eles. Assim como também supervisionam o trabalho das equipes de arte, fotografia, CGI e etc. Tudo isso sob a supervisão do diretor geral da produção.
Assim como o kantoku, eles também podem exigir que cenas sejam corrigidas/alteradas pelos animadores-chave ou pedir a um diretor de animação que refaça uma cena por completo. O nível de liberdade dado ao diretor de um episódio é variável, caso ele tenha uma visão ou abordagem interessante para um cena — ou seja um animador de certo renome — o kantoku pode permitir que use-a no episódio.
4 – ANIMAÇÃO
Depois que o storyboard de um episódio — ou segmento de um filme — está pronto e tiver sido aprovado pelo diretor responsável, o árduo processo de criação da animação de fato começa.
4.1 ANIMAÇÃO-CHAVE:
Após a conclusão do storyboard — ou pelo menos um segmento dele — e sua aprovação pelo kantoku, ele será entregue para um animador que fará a Animação-Chave ou Genga (原画). Esses animadores responsáveis pela animação-chave irão criar os frames principais de um corte de animação, desenhando os principais movimentos da animação. Primeiro ele irá criar um Layout ou Reiauto (レイアウト), que pode ser denominado como animação-chave primária, onde o animador irá desenhar os frames principais da animação, buscando captar através de esboços todas as ideias presentes no storyboard, como ângulos e timming. Durante essa etapa, os desenhos são mais simplistas, focando mais na estrutura da animação e no cenário, sem dar muita importância para a qualidade ou consistência da arte. Com exceção de quadros estáticos, onde um layout mais bem acabado é exigido. Os cenários desenhados no layout servirão como base para que a equipe de backgrounds crie os cenários que serão usados na animação final.
Rough layout por Yutaka Nakamura (中村 豊) em My Hero Academia: Heroes Rising (2019).
Finalizado o layout, ele é encaminhado para o enshutsu; após aprovado ele segue para o diretor de animação, que irá inspecioná-lo novamente, desenhando por cima da animação em outra folha para servir como a base para realizar as correções necessárias na cena. Em seguida, o layout é devolvido para o animador, que fará a animação-chave secundária ou genga, corrigindo o seu layout com base nas instruções repassadas pelo diretor de animação, desta vez com desenhos mais elaborados e bem acabados.
Layout por Shouta Sannomiya (三宮昌太) em Little Witch Academia: The Enchanted Parade (2013).
4.2 DIRETOR DE ANIMAÇÃO:
Um diretor de animação/supervisor de animação ou Sakuga Kantoku (作画監督) é responsável por conferir e manter a qualidade e a consistência da animação ao longo da produção. Na produção de um episódio de anime, após o enshutsu, inspecionar e aprovar os cortes entregues pelos animadores, o diretor de animação tem a função de checar novamente todos esses cortes, garantindo que se mantenham fiéis aos designs dos personagens e ao storyboard, além de estarem de acordo com possíveis especificações determinadas pelo diretor responsável do episódio. Caso o material entregue ao diretor de animação não esteja de acordo com as especificações exigidas, o próprio diretor de animação irá redesenhar por cima dos quadros (frames), em outra folha de cor diferente da dos frames-chave, geralmente em um folha amarela, e pedirá para o animador corrigir o corte, baseando-se em suas correções.
Muitas vezes um diretor de animação também poderá alterar a animação que lhe foi entregue caso julgue necessário, o que muitas vezes também pode levar a um resultado final inferior ao que foi originalmente entregue pelo animador-chave. Dependendo da situação de uma produção e de seu cronograma, há casos em que um animador pode desenvolver uma sequência de animação tão complexa e detalhada que se torna inviável mantê-la. Por isso, antes de passá-la adiante, o diretor de animação poderá retirar frames ou até mesmo complementar o desenho original, caso necessário.
4.2.1 DIRETOR-CHEFE DE ANIMAÇÃO E DIRETOR-ASSISTENTE DE ANIMAÇÃO:
Um diretor-assistente de animação ou Sakuga Kantoku Hosa (作画監督補佐) exerce o mesmo papel que um diretor de animação comum, porém em um escala reduzida, lidando com menos cortes. Geralmente ele ficará encarregado de supervisionar uma porção específica de um episódio, enquanto os diretores de animação irão supervisionar o resto do episódio.
Um diretor-chefe de animação ou Sou Sakuga Kantoku (総作画監督) é uma função que geralmente seria encarregada ao designer de personagens de uma produção, porém com a rápida degradação da indústria de animação japonesa, o número de produções que apresentam mais de um diretor-chefe de animação tem crescido — geralmente em produções problemáticas. Com o aumento do número de diretores de animação presentes por episódio, tornou-se necessário a existência de um diretor-chefe de animação, com o intuito de minimizar problemas de inconsistência entre os múltiplos supervisores trabalhando em um único episódio.
Então, se os diretores de animação normais são responsáveis por supervisionar o trabalho dos animadores-chave, o diretor-chefe de animação é responsável por supervisionar e corrige os outros diretores de animação; “geralmente” essas correções pelo diretor-chefe são feitas em folhas verdes, porém isso pode não se aplicar dependo do estúdio. Sendo assim, uma vez que os supervisores já chegaram à fluidez da animação, o papel do supervisor-chefe será focado em corrigir a consistência da arte; garantindo que ela se mantenha fiel aos designs dos personagens, porém há exceções, caso necessário, o supervisor-chefe também poderá fazer alterações na animação.
Como mencionado anteriormente, o cargo de diretor-chefe de animação geralmente é confiado ao designer de personagens por trás do projeto, pois ele é quem tem o maior domínio sob os designs dos personagens, dado que foi ele quem criou os designs. Porém, no caso do designer de personagens não supervisionar a produção, é chamado outro animador experiente para que possa assumir a posição.
4.2.2 DIRETORES DE ANIMAÇÃO ESPECIALIZADOS:
Os três tipos de diretor de animação que foram mencionados até então são os mais comuns, que são facilmente encontrados na maioria das produções, entretanto, dependendo do projeto, pode-se encontrar variações especializadas desta mesma função. Listando alguns exemplos, temos diretores de animação especializados em animar sequências de ação, efeitos, mechas, criaturas, entre outros.
4.3 ANIMAÇÃO-CHAVE SECUNDÁRIA:
Após concluído o genga, deverá ser feito a Animação-chave Secundária ou Daini Genga (第二原画/ 第2原画). Dado que a animação-chave secundária faz parte do processo de animação-chave, geralmente é feita pelo animador original do corte, porém com a degradação da indústria, nem sempre é garantido que o animador original poderá fazer a animação secundária. Assim surgiu a função de animador-chave secundário, uma função diferente a ser executada por animadores menos experientes, com o objetivo de finalizar as sequências de animação dos animadores-chave primários.
Os animadores-chave secundários trabalham para garantir a polidez do corte, dado que a animação em si já foi feita pelo animador-chave primário; basicamente redesenhando por cima das correções feitas pelos diretor de animação, mas de forma limpa, com traços firmes e sem rasuras. Algumas produções preferem que seus animadores-chave primários não façam a animação-chave secundária de seus cortes, permitindo que eles possam ser alocados diretamente para outras cenas logo após terminarem com seus layouts. Um animador-chave — geralmente alguém menos experiente — irá assumir; aprendendo e ganhando experiência no processo.
Comparação entre um layout, uma correção e um genga da primeira abertura de Jujutsu Kaisen (2020).
4.4 INBETWEENING:
Após concluída a animação-chave primária e secundária, em seguida a animação passará pelo processo de In-betweens/clean-up ou Douga (動画), onde os inbetweeners — geralmente artistas mais inexperientes, começando suas carreiras na indústria — irão limpar a animação do animador-chave e preencher as lacunas entre os quadros-chave da cena, geralmente seguindo o “Nakawari Sanko; instruções ou anotações deixadas pelo animador-chave orientando os inbetweeners de como eles devem fazer o douga em relação ao timing e espaçamento da cena.
O animador receberá o corte pronto do animador-chave, então ele irá contornar os desenhos quadro por quadro. Esse processo é chamado de genga tracing ou gentore e tem como objetivo deixar os desenhos limpos, eliminando todas as imperfeições presentes nos desenhos que compõem o genga. Em seguida, o in-betweener irá preencher as lacunas entre os quadros-chave com novos desenhos, completando o movimento da cena. Depois que o douga é concluído ele irá passar pelo Supervisão de Douga ou Douga Kensa (動画検査), onde um animador irá supervisionar trabalho do artista de douga — assim como o diretor de animação faz a supervisão dos animadores-chave — checando a consistência dos inbetweens e sua coerência em relação aos quadros-chave.
Comparação entre o genga, douga e o resultado final de uma cena por Satoshi Yamaguchi (山口 智) em Tengen Toppa Gurren Lagann: Lagann-hen (2008).
4.5 FINALIZAÇÃO:
Após concluído todo o processo de animação, vem a Finalização (仕上げ/仕上 ou Shiage; ペイント ou Paint; デジタルペイント ou Digital paint; デジタル彩色 ou Digital Saishiki) onde os artistas responsáveis pela coloração irão colorir os quadros em branco da animação, usando as paletas entregues a eles pelo coordenador de cores do episódio. E como foi mencionado anteriormente, esses coordenadores são responsáveis por distribuir para a equipe de coloração as folhas de cor que serão usadas ao longo do episódio.
4.6 CENÁRIOS:
Depois que os layouts dos animadores-chave são aprovados pelo kantoku ou enshutsu, eles são enviados para o departamento ou estúdio encarregado da criação dos cenários, e enquanto o resto do processo de animação segue adiante, os Cenários ou Haike (背景i) serão produzidos usando como base os esboços dos cenários presentes nos layouts. Esses artistas estarão sob a supervisão do diretor de arte. A maior parte dos backgrounds produzidos atualmente são feitos digitalmente, porém, alguns estúdios ainda seguem com cenários pintados à mão, de forma tradicional, como é o caso do renomado estúdio Pablo.
4.7 FOTOGRAFIA/COMPOSIÇÃO:
Com a animação, cenários e VFX prontos, por último chegamos à etapa da Fotografia/Composição ou Satsuei (撮影). É nesta etapa em que o departamento de fotografia irá unir todos os elementos produzidos até então — a animação 2D, o 3DCGI e os cenários — utilizando filtros, movimentos de câmera e diversas outras técnicas, com o objetivo de que todos esses elementos se unam de forma coesa e harmônica. Todo esse processo é coordenado pelo Diretor de Fotografia ou Satsuei Kantoku (撮影監督), que tomará as decisões criativas em relação à composição. Caso o diretor responsável, seja o diretor geral ou diretor do episódio, tenha experiência/preferências específicas, ele poderá exercer sua influência sob o processo. Animadores geralmente podem deixar instruções a respeito de como deve ser feita a composição de suas cenas.
5 – GERÊNCIA:
Ao longo de todos esses árduos processos de produção, existem também funções administrativas que são essenciais para que tudo isso seja possível.
5.1 PRODUTOR DE ANIMAÇÃO
O Produtor de animação (アニメーションプロデューサー) é responsável por recrutar e coordenar a equipe de produção que irá produzir o animê, além de lidar com aspectos financeiros do projeto.
5.2 ASSISTENTES DE PRODUÇÃO:
Os Assistentes de Produção ou Seisaku Shinkou (制作進行) são essenciais para o andamento da projeto; eles são responsáveis por garantir que a produção se mantenha dentro do cronograma e que consiga entregar o produto dentro do prazo, atuando como quase como ‘mini-produtores’. Os assistentes de produção mantêm contato com todas as empresas, departamentos, freelancers e todos que estiverem envolvidos com a produção, além de verificar e movimentar material de produção entre diferentes departamentos e empresas/estúdios. Eles também são encarregados de recrutar animadores para fazer parte do projeto; desde animadores renomados até animadores estrangeiros, algo que tem se tornado cada vez mais comum hoje em dia, dado o estado atual de deterioração e escassez de mão de obra na indústria.
5.3 MESA DE PRODUÇÃO
O Gerente de Produção/Mesa de produção ou Seisaku Desk (制作デスク) é uma função de gerência, lidando com as finanças da produção, organização de reuniões e coordenando os assistentes de produção.
5.4 COOPERAÇÃO DE PRODUÇÃO:
Assistência na produção/Cooperação na produção/terceirização (制作協力 ou Seisaku Youryoku; アニメーション制作協力 ou Animation Seisaku Kyouryoku) são os estúdios creditados por prestar assistência na produção (制作協力) do projeto. Atualmente são práticas comuns a terceirização de animação-chave, supervisão de animação, coloração e criação de cenários. Mas muitas produções também dependem de terceirização completa, contratando outro estúdio de animação para lidar com a produção de um episódio por inteiro, sob a supervisão da equipe de produção do estúdio principal. O uso de terceirização tem como principal intuito aliviar a pressão em cima da equipe de animação principal do projeto.
Bom, esse com certeza foi um artigo extenso e trabalhoso de se escrever. Mas é aqui que nós chegamos ao fim do debut da Sakuga no Hanashi, coluna focada em discutir e informar a respeito dos mais diversos assuntos relativos à indústria de animação japonesa e animação em geral.
Espero que essa tenha sido uma leitura proveitosa e informativa! E que tenha ajudado vocês a tirar quaisquer dúvidas que talvez tivessem a respeito de como o seu animê favorito é feito, desde o início de tudo até o resultado final.
Até o próximo mês!
Ótimo!
Certamente dá muito trabalho.
Parabéns pelo excelente artigo.
Um trabalho incrível!
Artigo impressionante! Fico no aguardo de mais desse tema!
Obrigado pelas informações! um ótimo artigo rico em detalhes!