Diga o que quiser de Makoto Shinkai, mas é evidente que o diretor sabe imprimir sua marca artística nas produções em que ele encabeça. E convenhamos: isso vale pro bem e pro mal! Também roteirista de todos os seus filmes em longa-metragem, Shinkai parece gostar de escrever personagens cujo desenvolvimento interno é refletido, de maneira alegórica, nos eventos que servem de premissa para as histórias.
Adicione um trabalho de animação mais detalhado que o comum em questão de fotografia, composição de cenários e enquadramentos de “câmera”, junto de pitadas de melancolia nas trilhas sonoras montadas e, de certa forma, na maneira como os personagens agem, e temos um padrão. Um padrão que foi péssimo na maior parte do tempo, mas ficou fantástico recentemente.
Isso porque O Lugar Prometido em Nossa Juventude (2004), Cinco Centímetros por Segundo (2007, não é um hentai), Viagem Para Agartha (2011) e O Jardim das Palavras (2013) são alguns dos filmes mais cafonas das últimas décadas. Em todos, ele parece tentar compensar um fiapo de história com uma grandiosidade estética que, no fim, não diz nada.
E tudo mudou em Your Name (2016), seu provável filme-assinatura. Em Your Name, o estilo do diretor, enfim, ganhou uma história com pulso de verdade. Bem mais que uma trama de troca de corpos, o filme se tornou um fenômeno cultural, que cravou o nome de Makoto Shinkai no panteão contemporâneo de diretores de animações.
Na produção seguinte, O Tempo Com Você (2019), candidato japonês ao Oscar de Filme Internacional, a magia da aclamação pode não ter sido recapturada na garrafa, mas é uma sequência ainda magnífica para o que foi feito antes.
O que nos traz a Suzume (2022), ou Suzume no Tojimari, seu melhor filme até então. Pois Suzume é a junção das maiores qualidades do diretor com um avanço maior para a ação. Tudo isso partindo de uma das ideias mais estapafúrdias dos últimos tempos: um cara que é transformado em… cadeira.
No enredo, uma estudante do ensino médio, a Iwato Suzume, que vive em uma cidade bem calma, cruza o caminho de Munakata Souta, um jovem que procura por uma porta em uma ruína próxima. No caminho para a escola, Suzume não consegue tirar da cabeça a imagem do forasteiro (aqui entre nós, foi amor à primeira vista, mas não contem pra ela), e decide matar aula e ir até o mais próximo de “ruínas” que ela conhece da região, um local desapropriado por conta de deslizamentos ocorridos num terremoto.
Suzume não encontra o cara, mas acha a tal porta. Através dela, a menina deslumbra um outro universo, mas não consegue acessá-lo. Contudo, quando ela retira do chão um artefato que parece bem antigo, a relíquia se transforma em um gato e a vida de Suzume se transforma em uma confusão.
Confusão essa que ela só percebe quando, da janela da escola, é a única que consegue enxergar a aparição de um verme interdimensional gigante que poderá destruir sua cidade. Pior ainda é quando o gato amaldiçoa o rapaz recém-chegado, que tem sua alma presa dentro de uma cadeira.
Não entrarei em mais detalhes para não estragar as surpresas, mas daí em diante, tudo vira um road movie com a dupla em busca do gato por diferentes cidades do Japão. No caminho, Suzume conhece pessoas diferentes, passa por situações diferentes e cresce ao mesmo tempo em que precisa salvar o mundo da criatura abissal que ameaça invadir sua realidade.
Shinkai aproveita os clichês da fórmula para nos apresentar uma porção de personagens interessantes, complexos, e que, cada um a seu modo, irão ajudar no desenvolvimento pessoal (e na “quest“) da Suzume. O diretor não apela para resoluções fáceis ou lições moralistas que apontam pra uma direção óbvia. A protagonista é exposta a diferentes estilos de vida, e esse leque de opções ajuda a cavar os fundamentos que ela tocará em frente dali em diante.
Em paralelo, há o fio sobrenatural que costura os capítulos da trama. A cada nova aventura a qual a menina é submetida, ela adquire skills que serão úteis ao próximo passo. E esses momentos são recheados de pura ação e deslumbre “sakuga“, onde os animadores aproveitam a falta de limites da mídia para entregar sequências de tirar o fôlego. Em particular, gosto muito de tudo o que acontece em Tóquio, da perseguição aos diálogos no céu. É lindo demais.
Suzume explora diversos temas bem comuns a filmes adolescentes (e à filmografia do próprio diretor), como o crescimento, o primeiro amor, as dificuldades desse percurso, e como é necessário “matar os pais” e fechar algumas portas no processo. Só que isso é feito com um plano de fundo fantasioso tão bem executado que é impossível não ficar impactado.
Your Name foi um ponto de partida espetacular, O Tempo Com Você uma continuação magnífica e Suzume o ápice de uma criatividade. Pra mim, o melhor do Makoto Shinkai até então.
Essa crítica foi feita com base em screener do filme fornecido pela Crunchyroll ao JBox, em versão legendada. Suzume estreia nos cinemas brasileiros em 13 de abril, com cópias dubladas e legendadas.
O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
Olha sinceramente acho Makoto Shinkai um diretor bem superestimado, fui assistir Your Name e não achei aquela coca toda que todos diziam, ainda vou assistir O Tempo Com Você, pra confirmar minha teoria se ele é ou não um bom diretor.
O problema maior é quando começam com a onda de “novo Miyazaki”, aí realmente não passa nem perto. Os filmes que mais gosto dele são os anteriores ao grande sucesso com Kimi no na wa. No caso, adoro o 5 Centímetros por Segundo e o Jardim das Palavras (um média metragem)
Nem o Mamoru Hosoda eu também não acho no mesmo nível do Hayao Miyazaki