Ao contrário do que seu título nacional sugere, O Chamado 4: Samara Ressurge (Sadako DX) não é uma continuação dos longas norte-americanos estrelados pela famosa Samara de O Chamado (2002). Na realidade, trata-se da sequência mais recente da história de Sadako, a fantasmagórica personagem que surgiu no filme japonês Ring (1998) e deu origem à produção hollywoodiana estrelada por Naomi Watts.

Apesar disso, em sua distribuição no Brasil, o longa manteve o nome de Samara no título (embora nas legendas do filme seja “Sadako”), muito provavelmente pela popularidade da personagem no país.

O fato é que o nome da vilã fantasma é o que menos importa aqui por dois pontos: primeiro que a figura da garota de longos cabelos e vestido branco que mata pessoas que assistem a uma fita amaldiçoada já faz parte do imaginário dos fãs de terror; segundo que a trama deste longa é fechada em si e funciona sem grandes referências aos filmes anteriores.

imagem: cena da personagem principal

Reprodução/Paris Filmes

Nesse O Chamado 4, acompanhamos a história de Ayaka (Fuka Koshiba), uma jovem incrivelmente inteligente que mora com a mãe e a irmã. Ela conhece os rumores da fita maldita que mata aqueles que assistem a seu conteúdo, mas rejeita explicações sobrenaturais e se mantém crente em respostas trazidas apenas pela ciência. Entretanto, ela vê o perigo mortal se aproximar no momento em que sua irmã assiste a tal fita.

Diferente de longas anteriores, Samara/Sadako agora não espera 7 dias para matar alguém: a pessoa morre apenas 24 horas depois de ver a fita. Em tempos de Tik Tok e notícias tão rápidas que envelhecem em poucas horas, faz sentido essa mudança no conceito da personagem para sua adaptação com o mundo atual. Em certo ponto, a internet até mesmo terá um papel relevante sobre os acontecimentos da trama.

cena do filme com Sadako aparecendo no vidro de um carro

Reprodução/Paris Filmes

Entretanto, a ideia aqui vai além e pega carona na pandemia, já que o modo como Samara atua se assemelha a um vírus que se espalha facilmente e mata com grande agilidade. A comparação não é feita por este que escreve, mas sim pelo próprio filme, uma vez que Ayaka repete diversas vezes como “a maldição” se espalha como uma epidemia viral.

Aliás, o longa em si é bastante repetitivo. Espectadores menos atentos não terão problemas em compreender todos os detalhes da trama, já que eles são ditos várias vezes à exaustão, como se o roteiro não confiasse na capacidade de interpretação de seu público – uma percepção rasa sobre quem assiste e que não era compartilhada pelo Ring original ou por seu irmão de Hollywood.

Entretanto, os problemas de roteiro vão além. A própria construção de Ayaka é complicada. Embora ela seja mostrada como uma jovem cética (e novamente, ela está sempre repetindo suas convicções científicas), basta um telefonema da irmã falando sobre a fita de Samara para que ela passe a temer a “maldição” que tenta negar. A atriz Fuka Koshiba busca trazer mais camadas à personagem, a fazendo agir de maneira mais confiante sempre que necessário, mas ela parece ser a única no elenco que enxerga alguma seriedade na história toda. Na realidade, para um longa de terror, O Chamado 4 funcionaria melhor como uma comédia.

imagem: cena do filme com casal olhando celular

Reprodução/Paris Filmes

As cenas de suspense aqui em nenhum momento geram tensão, os sustos são fáceis e por mais que o terror sempre tenha trabalhado bem com efeitos especiais baratos, o resultado aqui é tão amador que a impressão passada é de que há séries televisivas com efeitos melhores.

Na realidade, a sensação toda ao assistir o filme é de que se está vendo uma produção feita para a TV. Difícil dizer se isso foi um problema de orçamento ou uma escolha do diretor Hisashi Kimura, acostumado com trabalhos televisivos. Entretanto, Kimura ao menos é culpado pelos cortes rápidos e secos ao longo de diversas cenas do longa, que não possuem propósito algum e se tornam irritantes depois de um tempo.

imagem: cena do filme em uma floresta

Reprodução/Paris Filmes

O tom cômico de O Chamado 4 é acentuado ainda pelos personagens que Ayaka encontra em sua busca por solucionar a maldição: um rapaz romântico cheio de trejeitos, um sacerdote espalhafatoso e um detetive virtual que esconde o rosto. Há ao menos uma cena irreverente com cada um deles e em alguns momentos é possível até mesmo rir com os acontecimentos.

No fim, O Chamado 4: Samara Ressurge é um filme que funcionaria bem melhor se abraçasse a galhofa de sua trama. Entretanto, como acaba assumindo para si um manto sepulcral, acaba se tornando tanto um terror ineficaz, como uma comédia que nunca mostra seu potencial.



O Chamado 4: Samara Ressurge estreia nos cinemas brasileiros neste dia 27 de abril, com cópias dubladas e legendadas. O texto foi feito com base na versão legendada.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.