Nunca passei por uma experiência tão constrangedora como fã de Saint Seiya/Os Cavaleiros do Zodíaco quanto com o filme live-action. Tudo envolvendo a franquia no Brasil causa algum burburinho positivo e até a série (inicialmente) para a Netflix atinge algum propósito — muitos nostálgicos na casa dos 40 adoraram assistir com os filhos e me perguntam onde tem a continuação. Mas Os Cavaleiros do Zodíaco — Saint Seiya: O Começo não leva a franquia para lugar algum.

Em uma sala de cinema com menos de 20 pessoas, tentei encontrar algo que salvasse a produção e até agora estou tentando achar. Acho que a boa vontade do diretor Tomek Baginski é a única coisa que dá pra sentir no filme. Qualquer profissional tem que lidar com jobs ruins uma vez na vida e, como caiu de “paraquedas” no projeto, você entende que “as mãos sujas de sangue” são da Toei. Tomek só se esforçou para estancar uma hemorragia. Leia a entrevista exclusiva cedida ao JBox para saber mais sobre os bastidores do filme.

Não consigo avaliar esse longa como bom ou ruim, apenas desnecessário. Por acreditar que o filme fosse ter cenas pós-créditos, o projetista da sala fez as quase 20 pessoas esperarem até o fim das letrinhas para constatar que não tinha mais nada. A reação de decepção dessas pessoas foi tão grande que parecia que, assim como eu, elas estavam cansadas.

Por mais que você conheça várias outras excepcionais produções da indústria de animê, sempre que alguma novidade da franquia é lançada, seu coração de fã o obriga a dar uma chance para conferir seja uma nova versão da série em CGI, um mangá, um jogo… não importa a mídia: qualquer um que cresceu nos anos 1990 e manteve seu interesse na cultura pop japonesa vai dar uma espiada no novo produto.

Mas já faz uns anos que o número de produções que não, digamos, empolgam envolvendo o nome Os Cavaleiros do Zodíaco só aumenta e esse filme soa como se fosse o lendário réquiem de cordas do Mime na minha cabeça. Resolvi então analisar a franquia como um todo pois construí duas hipóteses em minha cabeça:

  1. A série já deu tudo que tinha que dar e não adianta tentar forçar a franquia pois ela praticamente se esgotou;
  2. O efeito nostalgia atua com uma força tão imensa que tornou a série muito mais do que ela realmente sempre foi.

 

Os mangás de Saint Seiya

imagem: ilustração do mangá de Cavaleiros do Zodíaco com os 5 cavaleiros de bronze

Reprodução/Shueisha

Se tem uma coisa que nunca achei maravilhoso foi o traço do autor original, Masami Kurumada. Esteticamente ele parece se dedicar apenas aos personagens principais e “esculacha” no traço dos secundários e elenco de apoio. Sua anatomia me incomoda, por mais que ele alegue que se inspirou em nomes como Hiroshi Motomiya (autor de Ore no Sora) e tenha trabalhado como assistente de Koo Inue (autor de Samurai Giants).

Aliás, aqui identifiquei um aspecto: o estilo de Kurumada possui até hoje traços característicos dos quadrinhos japoneses dos anos 1970. Em um levantamento dos mangás mais populares da história da Shonen Jump de 1968 a 2007, Kurumada foi um autor de destaque no fim da década de 1970 e começo dos anos 1980, no cenário shounen, em três ocasiões (com Ring ni Kakero, Fuuma no Kojiro e Saint Seiya), mas depois que obras como Dragon Ball, City Hunter e Slum Dunk surgiram, sua anatomia e estilo narrativo (que em entrevistas ele declara ser um “estilo nekketsu”, sangue quente, onde surpreender o leitor é mais importante que uma coerência de roteiro) foram aparentemente deixando de despertar tanto interesse do público com o passar dos anos. Como curiosidade, o final de Ring ni Kakero foi a primeira obra a ter páginas coloridas na história da Jump, dando uma ideia da força da série à época.

A “engenharia” das armaduras é algo bastante incrível, mas a história de Saint Seiya se sustenta sob um pilar repetitivo. Mesmo que no final a gente saiba que o fator deus ex machina (recurso narrativo no qual as soluções de uma obra são mirabolantes, improváveis e até inesperadas) vai ajudar a concluir a “saga da vez”, a forma como a história se desenvolve, seguindo a “fórmula Shonen Jump” (roteiros centrados em amizade, esforço e vitória; passando pela típica jornada do herói e a construção de um clímax que reproduz um sistema de derrotar oponentes como em um jogo de xadrez) não causa nenhum desconforto. 

Acredito que o tal estilo nekketsu até permita isso, pois a gente fica sempre com aquela ansiedade em saber quando e como o Ikki vai surgir, ou em que momento Seiya e os outros vão vestir as armaduras de ouro…

Os personagens do mangá original são desenvolvidos de forma um tanto rasa e quando a gente vê o mesmo “miolo” com um pouco mais de textura é inevitável constatar que Kurumada desenvolveu esses pontos muito mal. Compare a trama de Shiori Teshirogi no mangá The Lost Canvas que vocês vão entender exatamente o que quero dizer.

Imagem: ilustração do Episódio G

Os Cavaleiros do Zodíaco: Episódio G/Imagem: Reprodução/Akita Shoten

Como prequela, Episódio G, de Megumu Okada, também traz mais textura para a trama e desenvolvimento dos personagens — dessa vez, os cavaleiros de ouro assumem o protagonismo.

Como contraponto a esses dois exemplos de que é possível fazer uma boa trama para o universo de Saint Seiya, temos Chimaki Kuori com suas “cavaleiras” de Saintia Shô “vibrando” no mesmo espectro de onda que o mangá original — e por isso mesmo tropeçando nos mesmos problemas estruturais. 

Totalmente “fora da casinha”, Dark Wing é uma espécie de isekai da trama onde acompanhamos estudantes (!), e uma invertida no mínimo curiosa de ponto de vista: e se Atena fosse a “vilã” e Hades o deus “bonzinho”? A realidade aqui é bem descolada de tudo que conhecemos (com exceção das constelações dos personagens e deuses) que parece fruto de uma alucinação por uso de entorpecentes. Gosta de viajar? Então busque pela curiosidade por sua própria conta e risco.   

De todas os mangás com a marca Saint Seiya, o que soava mais promissor era Next Dimension. Desenhado e escrito pelo próprio Masami Kurumada, essa continuação oficial do mangá original se perdeu em sua publicação morosa e roteiro esquisito.

imagem: páginas de mangás de Cavaleiros

A revista Champion Red é o atual laboratório criativo dos mangás de Saint Seiya. | Imagem: Reprodução/Akita Shoten

Ao invés de assumir que não tem criatividade para escrever a tão sonhada “Saga de Zeus” (algo alimentado pelo fandom como a única coisa capaz de trazer um encerramento digno para o universo da série), Kurumada parece lançar experimentações que se desenrolam em uma trama que não leva a lugar algum. 

Todo o valor dos personagens que também estão no mangá Lost Canvas se perde no “estilo Kurumada de contar uma história” e, meu Deus, como ele repete situações. E quando lança um plot interessante, não parece querer ter paciência em desenvolvê-lo. 

Há quem diga que esse mangá só existe pois o autor odiou o resultado do filme Prólogo do Céu, que foi feito para ser a tão sonhada — pelos fãs — continuação oficial da série (mas vale notar que o filme não vendeu muito bem no Japão). A execução problemática do longa (o diretor tentou fazer de Saint Seiya algo mais “cabeça” e “profundo”, coisa que nunca foi e nem se preocupa em ser) fez o “pai” refazer tudo no formato de mangá. Sinceramente? Podia ser tudo refeito outra vez pela Shiori ou a Okada. 

imagem: ilustração do mangá Next Dimension

Next Dimension. | Imagem: Reprodução/Akita Shoten

Quando o próprio criador parece não saber direito o que está fazendo para seu trabalho mais proeminente no mundo, a gente fica com o sentimento de que Saint Seiya precisa de muito mais do que consegue entregar. Tipo um CEO para administrar a marca.

Porque se existisse alguém para fazer isso, Saintia Shô não existiria. Bagunçando a linha do tempo (e alguns conceitos) da série, Saintia apresenta uma história que se passa durante os eventos da obra principal. Temos aqui uma espécie de sailors guardiãs da Saori que lutam contra uma personagem reciclada do 1º filme da série. O mangá teve uma repercussão bastante fria quando lançado em 2013, mas foi com o lançamento da versão em animê que Saintia passou a ter alguma visibilidade. E negativa!

Majoritariamente, o público fã da franquia é masculino, e parte do público feminino, sejamos sinceros, é interessado em alimentar ships entre os protagonistas masculinos (não que haja problema nisso!). Talvez também por estar desalinhada com os maiores interesses dos fãs, a existência de “cavaleiras de bronze” (e de uma classe que nunca existiu mas deveria, na nova lore da série, estar lá desde sempre) no protagonismo gerou muitas críticas, e desinteresse.

Não me incomodou em particular, mas a série regular possui tantos personagens que podem ter suas histórias melhor desenvolvidas que esse spin-off soa como ofensa à inteligência do público. O que me pergunto é: por que diabos ninguém pensou em apresentar histórias dos cavaleiros de bronze menores — aqueles que não são protagonistas, mas aparecem na abertura?

Em 2023 um novo spin-off foi lançado: Rerise of Poseidon. O mangá se passa exatamente após o fim da Saga de Hades (!) e coloca Julian Solo de volta como o deus Poseidon para impedir, junto com seus generais marinas ressuscitados por Hades, que a deusa Nemesis destrua a Terra como punição por Seiya e os outros terem invadido os Elíseos. Mais genérico e sem originalidade (vide o animê Soul of Gold para ver a inspiração) impossível. Só que o traço de Suda Tsunagami é tão parecido com o do Kurumada (que supervisiona a história) que depois de tantas coisas diferentes nesse aspecto, você fica até com um sentimento de que isso vai prestar.

imagem: ilustração de Poseidon

Rerise of Poseidon. | Imagem: Reprodução/Akita Shoten

O ponto aqui é que uma trama para Cavaleiros do Zodíaco não precisa ser complexa — como o que Kurumada está talvez tentando fazer em Next Dimension. Basta ter um mínimo de coerência nos eventos e um design de armaduras criativo que o público abraça. Claro que quando uma boa história é desenhada (como o caso de Lost Canvas) você até bate palmas. Mas sinceramente não vejo mais muitas opções pro universo da série se expandir. 

 

Os animês

Imagem: ilustração de Cavaleiros do Zodíaco para o Pachinko

Ilustração para pachinko. | Imagem: Divulgação/Sanyo

Pachinko é um tipo de jogo de azar japonês, sob formato de arcade, que não é ilegal por lá. Por conta disso, animês podem ter uma “máquina” pra chamar de sua e Cavaleiros do Zodíaco teve pelo menos umas 4. 

Nessas máquinas, trechos reanimados da série clássica são apresentados e, desde que meti o olho nessas cenas, me veio à mente a ideia óbvia de como um remake, mais fiel à história do mangá, da chamada série clássica poderia ser algo interessante. Só lembrando que isso se tornou tendência no Japão dos anos 2000 e acho que a Toei está desperdiçando uma grande oportunidade de não produzir isso.

O animê clássico tem problemas, mas hoje vejo o valor que ele conseguiu entregar ao transpor a saga de Kurumada dos mangás para a TV. Sua trilha sonora é magistral e mesmo com o desenvolvimento raso dos personagens, o traço de Shingo Araki e Michi Himeno (principais designers dos personagens) consegue torná-los personagens carismáticos. Uma das minhas justificativas em defender o “remake” é trazer uma estabilidade para a animação. Tem episódios importantes com uma qualidade tão deprimente…

Deprimente também foi o desfecho da aguardada Saga de Hades. Começou com uma animação de encher os olhos (cortesia da dupla Shigeyasu Yamauchi e Michiko Yokote, que atuaram no fracassado longa Prólogo do Céu) e depois parece ter sofrido um severo corte de orçamento. A impressão é que o interesse em animar o restante da saga havia se perdido por parte da Toei Animation e o último arco, Elíseos, seguiu tão fielmente o (apressado) mangá de Kurumada que você sente falta da encheção de linguiça da série clássica.

imagem: ilustração do Seiya na água

Prólogo do Céu. | Imagem: Reprodução/Toei Animation

Já citado anteriormente, o filme Prólogo do Céu se dispôs a ser uma continuação dos eventos após a Saga de Hades. Não sei dizer se Kurumada já tinha isso em mente desde os anos 1980, mas a impressão é de que não… Um ponto muito “errado” pra mim foi o lançamento desse filme antes do encerramento (em animação) da Saga de Hades. Isso não é incomum no Japão, mas internacionalmente soa estranho.

E sabemos que uma das maiores frustrações da vida da Toei Animation foi Saint Seiya nunca ter dado certo no principal mercado consumidor existente: o americano. Antes de qualquer coisa, tenho a sensação de que a empresa japonesa possui uma obsessão pelo mercado dos EUA. É como se o sucesso de um animê só fosse “real” pra eles, se ele der certo por lá. E adivinha qual “prata” da casa nunca emplacou no país? 

Conforme foi descoberto pela youtuber Ray Ramona, a vontade de repetir o sucesso que a série teve na Europa no mercado americano vem desde o começo dos anos 1990, onde a Toei era bem aberta a fazer “qualquer negócio” para que seus produtos dessem certo nos EUA. Foi assim que surgiu Power Rangers né?

Depois desse fim reticente, tivemos em 2009 uma surpresa que atendeu pelo nome de Lost Canvas. A versão animada do mangá produzida pela TMS trouxe um frescor para a franquia que conquistou os mesmos fãs da série clássica. Todavia, no Japão a história foi diferente e o (suposto) baixo retorno financeiro levou ao cancelamento precoce do projeto, com apenas 26 episódios. O pior é que a TMS volta e meia divulga que não tem interesse em reativar a produção. Será que teremos que esperar o cabalístico número de 13 anos para que isso ocorra?

imagem: cloth myth do kouga de pégaso.

Divulgação: Mercado Livre.

Os Cavaleiros do Zodíaco sempre tiveram nos animês um suporte comercial para empresas venderem produtos. Os “bonequinhos” sempre foram os itens mais populares e, inquieta com uma franquia tão “rentável” estar parada desde 2008, a Toei Animation lança Saint Seiya Ômega em 2012.

Considerada por boa parte dos fãs como “não canônica”, essa série atualiza muitos conceitos que fizeram muitos fãs rejeitarem a proposta — por mais que muita coisa tenha sido feita para agradar os próprios fãs.

Olhando as duas temporadas hoje, eu consigo dizer que Ômega é um Cavaleiros do Zodíaco para a geração do Ben 10. Se fosse transmitida na TV aberta no Brasil na época talvez até conseguisse rejuvenescer a fã-base. Tem erros, acertos e experimentações válidas. Porém a grande maioria dos fãs repudiaram essa produção.

Acho que o castigo divino para tal ato veio sob formato de um longa-metragem em CGI no ano de 2014. A Lenda do Santuário bebe de algumas fontes criativas de Ômega e falha ao condensar em um só filme o arco mais empolgante da série. O sentimento aqui é de “para quê fizeram isso?”. Mas quando fui ao cinema, as salas estavam muito cheias e há quem tenha apreciado esse longa — que se fosse planejado de uma maneira mais adequada poderia até ser mais lembrado pelos fãs.

No ano seguinte, 2015, uma apelação: Alma de Ouro (Soul of Gold). Na trama, tiveram a ideia sem sentido de ressuscitar os cavaleiros de ouro e dar a eles 13 episódios e novas armaduras (divinas, dessa vez) para resolver um conflito na terra filler de Asgard. Tudo isso entre o sacrifício dos caras no muro das lamentações e o fim da Saga de Hades. Essa ideia de apresentar eventos paralelos à saga principal foi usada pela primeira vez de forma mais explícita no mangá de Saintia Shô — em Next Dimension, Kurumada faz uma salada danada nesse recurso de tempo. 

imagem: aiolia no anime de alma de ouro, com a armadura de leão divina.

Reprodução: Toei.

Com uma animação genérica, e um design de personagens (de Hideyuki Motohashi) também não sendo dos melhores, o animê serviu para alavancar um novo game da série, que trouxe as skins divinas douradas pra fazer você se interessar um pouco mais no produto (além, claro, de bonequinhos, que esgotaram na época)…

A versão animada de Saintia Shô, que estreou em 2018, recebeu uma enxurrada de críticas. Marcas da “assinatura” de Saint Seiya se perderam nessa produção com lutas apáticas, uma trilha sonora simples e personagens sem carisma. Como diz a Laura (outra fã dos Cavaleiros do site), a tentativa de “emular” o traço clássico de Shingo Araki ao invés de seguir algo mais próximo ao mangá também prejudicou a produção.

imagem: poster de saintia sho com shoko, saori, kyoko/éris e seiya.

O Seiya no pôster sendo que ele é figurante na série… | Divulgação: Toei.

O resultado final foi uma animação “feia”, feita para chamar atenção dos fãs antigos e que, com o orçamento de troco de padaria que recebeu, só rendeu uma temporada de 10 episódios. O roteiro “correu” para adiantar a história e o público masculino da série deu uma “surtada” ao ver “cavaleiras” como protagonistas. Nada contra, mas… não podiam usar as personagens femininas da série para protagonizar isso e desenvolver, por exemplo, o passado da Marin? Ou ainda dar um destaque nunca dado pra coitada da June de Camaleão?

A notícia de uma (nova) animação em CGI a ser lançada pela Netflix causou grande alvoroço no fandom. Mas quando finalmente estreou, o sentimento de que Ômega não era tão ruim assim pulsou na mente de muitos.

Claramente produzida para tentar agradar a um público que não é o fã da série clássica e tentar (finalmente) emplacar no mercado americano, Knights of Zodiac mexe no lore da história para uma adequação aos “tempos atuais” de forma que causa um constrangimento muito grande para quem assistiu ao animê original. Ele funciona para apresentar o universo de Cavaleiros para a geração Z, mas foi tão pasteurizado que azedou totalmente. Tanto que o restante da série terá que ser acompanhado em outro streaming — a Crunchyroll, no caso.

E quando não acreditávamos que algo pior poderia ser produzido, chegamos ao live-action.

 

Outras mídias

A partir dos anos 2000, Saint Seiya começou a estrelar jogos 3D de luta e a evolução dos mesmos sempre foi muito lenta e a desejar. Com tantos personagens, um jogo no melhor estilo dos “budokai” de Dragon Ball Z poderia ser fácil de se pensar, mas a rotina do fã dos games de luta de Saint Seiya é sempre se desapontar.

O último lançado para consoles (Alma dos Soldados) tenta até ser completo, mas os engenheiros (de jogos) tomam umas decisões preguiçosas. Por exemplo: colocam todos os 12 cavaleiros de ouro com suas armaduras divinas, mas não colocam nenhum personagem antagonista do arco em que elas aparecem. Será que eles não fazem ideia do que são DLCs?

No universo dos jogos online, Saint Seiya Online foi a primeira incursão da franquia no mundo dos MMORPG. Com servidores encerrados em 2020, o jogo é apreciado pelos fãs mais “raiz” da franquia, embora eu tenha achado bem besta. Não tenho familiaridade com qualquer jogo mobile da franquia, mas me parece que todos emulam formatos de sucesso de outros para tentar ativar o interesse dos fãs. 

Percebo que a “longevidade” dos games (ou seja: o quanto tempo os servidores permanecem ativos), num geral, não é muito extensa, o que pode indicar um sinal de sucesso menor que o esperado — embora o mobile Awakening tenha tido bons números em vendas no Brasil. Mas estou só especulando.

 

Concluindo (finalmente)

imagem: seiya chorando na saga do santuário.

Reprodução: Toei.

Os Cavaleiros do Zodíaco é uma obra de valor sentimental muito relevante para a vida de milhões de brasileiros. Quando chegou por aqui em 1994, não tínhamos nada parecido e todos os seus problemas eram irrelevantes para quem queria ver personagens com armaduras lutando entre si. O aspecto de qualidade da obra é muito baixo quando você compara com trabalhos mais bem conduzidos (em arte e roteiro) de mangás lançados antes, durante e (principalmente) depois do sucesso da série em seu país de origem.

imagem: poster com varios personagens do filme de cdz.

Divulgação: Toei/Sony.

Quando descaracterizam o que faz Saint Seiya ser uma alegoria divertida e até interessante, há um rompimento muito agressivo de memórias da infância e até respeito ao lore que o criador original produziu.

Em nome de uns trocados com licenciamento de produtos e da obsessão de querer conquistar mercados além do asiático, a Toei e o próprio Masami Kurumada tomam decisões equivocadas e que vão soterrando o valor que a série conseguiu ter para milhões de pessoas no Brasil e em vários outros países. 

Não é o filme live-action de Cavaleiros do Zodíaco que é o maior dos problemas. Ao analisar toda trajetória da franquia, vejo problemas sendo colocados na mesa faz um tempo e, enquanto os fãs passarem pano pra tudo isso, às vezes em nome de “manter a franquia viva”, vamos permanecer tendo “qualquer coisa” em prol de produtos e mais produtos.

Seja um novo cloth myth, um pingente, um uísque ou qualquer coisa que a força que esses heróis possuem em nossos corações possa fazer a gente abrir a carteira. Se o próprio criador compactua com várias decisões que não soam inteligentes, eu como consumidor, me dou o livre-arbítrio para criticar o quanto quiser. Parar de acompanhar? Pode ser… depois desse filme, o desânimo é grande para qualquer novo projeto.

Enquanto a Toei Animation não se resignar e admitir que o público de Saint Seiya é japonês, europeu e latino americano, temo que novos experimentos de reboot da série sejam lançados até que ela “vingue” no mercado norte-americano. Isso só desgasta a marca e a joga para uma categoria B de produções, que não merece estar devido a toda a sua trajetória. No oceano de lágrimas que existe pela continuação animada de The Lost Canvas, eu contribuo com alguns litros. Parece que não existe uma preocupação em lançar uma pesquisa ou qualquer outra coisa que possa fazer Masami Kurumada ter uma real noção do que deu ou daria certo no universo de sua obra máxima.


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