Globalização é uma coisa meio engraçada às vezes. A troca cultural, mesmo na cultura pop, pode mudar determinados aspectos da produção artística dos países, criando projetos bem peculiares que seriam impossíveis sem essa troca. E, com o tempo, esses projetos até deixam de parecer incomuns — as culturas alimentam umas às outras e mudam em sua essência, e isso é super interessante.

Em termos de animê, vemos muito isso desde o começo dos anos 2000 — à medida que a popularidade dos animês explodia fora do Japão, empresas internacionais quiseram surfar a onda, e, disso, surgiram os desenhos inspirados na estética animê (também conhecidos como pseudoanimês, ou “murikanime” se forem americanos). The Boondocks, Os Jovens Titãs, Avatar: A Lenda de Aang… e isso continua até hoje (inclusive, “confundindo” serviços de streaming, que ocasionalmente classificam coisas como Dota: Dragon’s Blood como “animê”).

Mas não estamos aqui para falar dos “murikanimes”. Não, eu quero conversar sobre os desenhos que literalmente adaptam, refazem ou continuam animês genuínos. Porque eles existem! Às vezes determinado animê não funcionaria dublado por um motivo ou outro, ou às vezes ele chega a um fim prematuro, e, especialmente os americanos, resolvem produzir mais dele, sem os japoneses. Então, venha comigo, vamos refletir um pouquinho sobre essas produções, talvez aprender algo no processo, esse tipo de coisa.

 

Primeiras empreitadas

Um dos primeiros animês a ter grande sucesso nos EUA foi o clássico de corridas Speed Racer (Mach GoGoGo), de 1967, e até que demorou bastante para um projeto americano dele surgir. Em 1993, a Speed Racer Enterprises encomendou da Fred Wolf Films (o pessoal responsável pelo primeiro desenho das Tartarugas Ninja) um novo Speed Racer. O desenho se chamava As Novas Aventuras de Speed Racer (não confundir com Speed Racer X, que foi localizado aqui sob esse mesmo título), mas esse é um título meio enganoso, porque, na verdade, o desenho é um reboot, não uma continuação.

imagem: corredor x e speed racer no desenho as novas aventuras de speed racer.

Divulgação: SRE/FWF.

O conceito base do animê original não foi significantemente alterado, só apresentado sob o formato de um típico desenho de ação noventista, com enredos bem rápidos e histórias bem contidas. As diferenças ficaram mais nos detalhes, com alguns designs radicalmente diferentes (como a Trixie loira e o próprio Mach 5, o carro estrela da série) e algumas dinâmicas de personagens mudadas (o Speed desta versão tem bem menos paciência com o Gorducho e o Zequinha que o antigo). Francamente, o maior problema pra mim foi a remoção dos icônicos botões-de-telefone do Mach 5, trocados por botões “futuristas” sem graça!

O desenho não fez muito sucesso e só durou 13 episódios. Uns 15 anos depois, foi encomendado pra Animation Collective (produtores de clássicos da nossa era como Kappa Mikey) Speed Racer: Nova Geração; esse sim, de fato, uma continuação, estrelando um órfão chamado Speed Racer (mas que não é filho do Speed Racer), narrando sua rivalidade com um novo Corredor X (esse sim, filho do Speed Racer). Até que teve uma vida bem longa, com duas temporadas totalizando 52 episódios… mas, como é um desenho ofensivamente feio, é só isso que vou falar dele.

Imagem: Protagonista de 'Macross'.

Divulgação: HG.

Outro velho sucesso nos EUA foi Robotech, a mistura doida de três animês mecha — Guerra das Galáxias (Macross), Kiko Soseiki Mospeada e Cho Jiku Kidan Southern Cross — da Harmony Gold. E, pouco tempo depois do término da série, a empresa americana começou a encaminhar produções baseadas nela… nenhuma com grande êxito.

A primeira tentativa foi uma série continuação chamada Robotech II: Os Sentinelas. Ela seria escrita pelos americanos e animada no Japão, pela Tatsunoko (dentre outros estúdios), e, diferentemente do animê anterior, esta teria uma mistura mais orgânica dos elementos dos três animês base, porque agora os personagens seriam desenhados juntos.

Infelizmente, problemas financeiros da época fizeram a série ser abortada, mas os episódios já concluídos foram juntados e lançados como um filme em 1986. Esse longa… não deixou grande impressão entre os fãs, verdade seja dita, com destaque à animação, que ficou bem inferior à dos três animês que compunham Robotech.

imagem: poster de robotech shadow chronicles.

Divulgação: HG.

Mas a Harmony Gold não desistiu, e, em 2006, lançou outra continuação de Robotech, desta vez em parceria com a Funimation: um filme animado chamado Robotech: As Crônicas das Sombras (Robotech: The Shadow Chronicles).

Diferente do Robotech II, este filme foi animado na Coreia do Sul (para onde muitas animações, americanas e japonesas, costumam ser terceirizadas), e… ele não impressiona. Não é particularmente feio para a época, mas não parece digno de ser um filme, com animação limitada e altas doses de CG datado, tanto para as máquinas quanto para os cenários. No lançamento, o filme foi mal recebido, e uma continuação planejada acabou sendo cancelada. Nenhum outro projeto animado original de Robotech foi lançado desde então.

 

Missões abortadas

Os anos 1980 e 90 na verdade se destacam mais pelos “remakes americanos de animê” que não aconteceram do que pelos que aconteceram.

Cerca de um ano atrás, a YouTuber Ray Mona descobriu o piloto perdido de uma infame adaptação americana de Sailor Moon que acabou sendo abortada em prol de só dublar o animê mesmo.

Essa adaptação, que seria metade animada, metade live-action (essa segunda parte provavelmente para surfar na onda dos Power Rangers), teria várias alterações em cima do “lore” da franquia.

Por exemplo, em vez de serem reencarnações de guerreiras de uma vida passada, as Sailor Guerreiras seriam guardiãs do reino lunar enviadas para a Terra para defenderem-na (enquanto vivem vidas de típicas adolescentes americanas, se preocupando com o look, bailes escolares e garotos — não que haja algo de errado com isso!).

A parte das vidas cotidianas seria live-action, com atrizes de diversas etnias e situações representando cada Sailor, e a parte da ação seria animada, com uma cena de transformação em computação gráfica usada para “ligar” as duas partes. E, nelas, a coisa que mais chama a atenção dos fãs de Sailor Moon é que, aqui, as Sailors viajariam pelo espaço em barcos espaciais, como forma de justificar o termo “Sailor” (navegante) nesta versão. Ah, e, por algum motivo, a Luna foi de gata preta a gata branca.

E a Ray Mona não parou por aí: mais recentemente, ela desenterrou o piloto de um outro desenho americano abortado — desta vez, uma adaptação de Cavaleiros do Zodíaco chamada Guardians of the Cosmos. O piloto mostra que esse seria um caso de compressão e simplificação: as introduções dos cinco rapazes de bronze são dadas rapidamente, pulando todo o começo com a Guerra Galáctica e os Cavaleiros de Prata, indo direto para os Cavaleiros de Ouro (sabe, como o filme A Lenda do Santuário fez uns 15 anos depois!).

A Saori convoca os cinco jovens de bronze para enfrentar o maligno Apolo (que, nesta adaptação, ao menos visualmente, é basicamente o Mestre Ares/Arles sob outro nome) e seus malignos lacaios, os Cavaleiros de Ouro. Como fica bem claro no piloto, a complexidade individual de cada Cavaleiro de Ouro provavelmente seria eliminada (ou pelo menos reduzida) para torna-los inimigos mais diretos.

Aliás, a falta de complexidade afeta meio que tudo aí: o Hyoga não parece ter o objetivo de visitar o corpo de sua mãe no fundo do mar congelado, Ikki é apresentado imediatamente e sem a bagagem emocional de sua versão animê… alterações específicas para deixar o desenho no mesmo nível de simplicidade de outros desenhos de ação da época, como Esquadrão Marte ou Comandos em Ação (de novo, devo enfatizar: isso não é necessariamente uma coisa ruim). Ah, e todos seriam bem parrudos, como também era o estilo da época.

E o terceiro famoso projeto animado abortado baseado num animê foi Doozy Bots, a primeira tentativa da empresa Sunrise de levar a famosa série Gundam para o público americano – mas não as séries principais, e sim, a subfranquia SD Gundam, que estava bombando no Japão nessa mesma época.

SD Gundam são “Gundams, só que fofos”. Nela, os imponentes robôs gigantes das séries são mais compactos, menores, com olhos expressivos e proporções “chibi” — daí o SD, que pode ser sigla para “Super Deformed”. A subfranquia ganhou alguns animês no decorrer dos anos, onde os SD Gundams são sencientes (não têm pilotos dentro de si) e apresentados nos mais diversos cenários — alguns estão disponíveis na Crunchyroll.

A Sunrise viu potencial aí para um típico desenho americano dos anos 80 (era o período pré-boom dos animês) e começou a produzir Doozy Bots. Neste desenho, os robôs SD são robôs criados pelo “Professor Doozy”, mas saem de controle, causando muita confusão. Para detê-los, ele recruta cinco adolescentes com atitude (um deles numa cadeira de rodas, o que também vimos na adaptação de Sailor Moon) e transfere as mentes deles para dentro de SDs do bem, para enfrentar os defeituosos.

Não se sabe se chegaram a produzir um piloto deste projeto, mas um trailer de quatro minutos vazou e é bem fácil de achar. Sinceramente? Ele não devia ser abortado, sinto que faria sucesso. Digo, o trailer mostra que ele é exatamente do mesmo naipe que outros desenhos famosos dos anos 80, as crianças da época com certeza adorariam. Mas, agora, só podemos ponderar…

 

Revisitar, refazer, retentar

Enfim, pulando vários anos, em 2009, outro animê velha guarda bem-sucedido nos EUA ganhou uma versão animada — desta vez, para os cinemas: o famoso Astro Boy, de Osamu Tezuka. O filme, produzido pela Imagi Animation Studios (que era chinês, mas um americano e um britânico roteirizaram, e o britânico dirigiu a produção)… não deixou forte impressão. Ele é perfeitamente divertido para matar uma tarde preguiçosa, mas sem ambição. Até mantém da tragicidade do mangá e animês de Astro Boy até um certo nível, mas nenhuma gota de seu significado.

imagem: o protagonista do filme Astro Boy

Divulgação: IAS.

O filme foi muito mal na bilheteria e a Imagi faliu logo depois — uma pena, porque o próximo projeto do estúdio seria uma adaptação animada de Gatchaman (Batalha dos Planetas/G-Force). Foi lançado um curto teaser na Internet, e até que parecia promissor! Infelizmente, só podemos imaginar como teria sido.

Um exemplo mais complexo é Voltron. Para quem não sabe, Voltron foi um animê mecha (envolvendo cinco leões robóticos que se fundiam pra virar esse mecha) que, na verdade, eram dois — a distribuidora americana World Events Productions licenciou dois animês da Toei Animation (Hyaku Jyuou Go-Lion e Kikou Kantai Dairugger XV) e os dublou como um só, como Robotech faria um ano depois.

E preciso ressaltar que Voltron fez um sucesso enorme nos Estados Unidos na época (provavelmente bem mais do que Go-Lion ou Dairugger fizeram no Japão, com alguns até chamando Power Rangers, em sua estreia, de “cópia barata de Voltron”). Com todo esse sucesso, não é de se espantar que tenham rolado algumas produções locais.

imagem: poster promocional de voltron

Divulgação: T/WEP/C.

A primeira, tecnicamente, foi uma temporada do próprio Voltron. A segunda leva de episódios da série não foram dublagens de episódios japoneses de Go-Lion (porque esses já tinham esgotado), e, sim, episódio originais de Go-Lion comissionados pela World Events para a Toei, 19 no total. Infelizmente não consegui confirmar se eles foram escritos nos EUA, mas muito provavelmente foram (esses novos episódios incluíam elementos que batiam muito mais com o enredo de Voltron do que o de Go-Lion).

E após vários anos dormente, Voltron voltou em 2010 com a série Voltron Force, produzida pela World Events Productions em parceria com a Classic Media. Esta série foi uma continuação de Voltron, focando no elenco original de pilotos educando uma nova geração de pilotos para enfrentar forças do mal “voltrônicas” que voltaram. Ele não causou grande impacto, provavelmente por não ser muito acessível, visto que era a continuação de um desenho de 15 anos antes (e por ter uma produção bem primitiva para os padrões de 2010), sendo cancelado após uma única temporada de 26 episódios.

Mas Voltron teve outra tentativa de produção ocidental, essa provavelmente bem mais conhecida pelo público brasileiro. Voltron: O Defensor Lendário, produzido pela World Events em parceria com a DreamWorks, estreou na Netflix em 2016, se encerrando dois anos depois, em 2018, com um total de 78 episódios. Defensor Lendário é um genuíno remake do Voltron original (especificamente, a metade Go-Lion dele, que é muito mais popular que a outra), com diversas alterações para se adequar às sensibilidades modernas.

imagem: os guerreiros de voltron no remake da netflix.

Divulgação: WE/DW/SM/N.

Contando com uma linda animação do Studio Mir (Avatar: A Lenda de Aang), a série foi um grande sucesso para a Netflix, mesmo com a qualidade indiscutivelmente despencando à medida que a série avançou (admita!) — diferentemente de Voltron Force, este conseguiu conquistar novos fãs em massa. E, no presente momento, há burburinhos sobre um filme live-action de Voltron em desenvolvimento… mas esses burburinhos já existem há décadas, então, melhor não esperar sentado.

 

Filhos da 4Kids

Aqui preciso listar Yu-Gi-Oh! O Filme, a versão para as telonas do nosso querido animê de card games do ano 2000. Esse filme foi o único produto animado de Yu-Gi-Oh! (até o momento) produzido inteiramente nos EUA: a distribuidora americana do animê, 4Kids Entertainment, escreveu e financiou a produção, provavelmente porque queriam muito levar Yu-Gi-Oh! para as telonas, mas os japoneses ainda não tinham feito nenhum filme do animê para ser dublado. A animação foi majoritariamente produzida na Coreia do Sul, assim como foi o caso da sequência de Yu-Gi-Oh!, o Yu-Gi-Oh! GX.

imagem: capa do dvd brasileiro de yu gi oh o filme.

Divulgação: Warner.

E… é, dá para perceber que ele não foi escrito pelos roteiristas originais. O filme conta com pouca exploração de personagem e um vilão genérico ao extremo que, além de não ter personalidade, também não tem quase nenhuma ligação com os protagonistas (como todos os vilões da série têm).

Não é a pior coisa do mundo, e eu sempre vou gostar da cena das crianças chutando múmias que tem perto do clímax, mas não é Yu-Gi-Oh! em sua melhor forma.

E agora que tocamos em Yu-Gi-Oh!, quero entrar em outra faceta deste fenômeno: episódios extras de animê (e até animês inteiros!) encomendados por uma distribuidora estrangeira, mas produzidos inteiramente no Japão. E Yu-Gi-Oh! tem um exemplo infame disso com a minissérie Yu-Gi-Oh! Capsule Monsters, que foi incluída com a última temporada do animê para a gente, e nunca foi exibida no Japão.

Capsule Monsters joga fora o conceito de card games e vira um animê mais no viés de Digimon ou Pokémon, com os personagens sendo puxados para um outro mundo onde os monstros são reais e onde o protagonista, Yugi, pode se fundir com eles, o que lhe proporciona diversas armaduras para ajudar na aventura (nem preciso dizer que isso foi feito para promover uma linha de merchandising, né?). Com sua animação fraca, roteiro forçado e inutilidade para o enredo maior do animê, é facilmente descartável, mas divertido, de um jeito bem “batida-de-trem”.

Ainda sobre a 4Kids Entertainment, eles também encomendaram duas temporadas extras do cômico animê de luta livre Músculo Total (Kinnikuman Nisei), de 2002, totalizando 26 episódios. Baseado nas minhas pesquisas, a única exigência da empresa foi que a Toei Animation, que produzia a série, não desenhasse os kanjis nas testas dos personagens, para “facilitar o trabalho de localização”. Até onde sei, é uma adaptação direta (porém extremamente amenizada, como muitos animês da Toei na época) de um arco do mangá, e foi exibida no Japão dois anos depois, sob o título Kinnikuman Nisei: Ultimate Muscle.

O próximo exemplo é meio incerto: Sonic X, de 2003, estrelando o mascote da Sega, só teve 52 episódios exibidos no Japão inicialmente, mas a versão internacional contou com mais um arco de 26 episódios para fechar o animê. Acredita-se que eles foram encomendados pela 4Kids (e/ou pela Jetix europeia), mas nunca tivemos confirmação disso. Esses episódios só foram exibidos na TV japonesa recentemente, para surfar na onda de promoção do primeiro filme live-action do ouriço, mas também já tinham sido disponibilizados em serviços pay-per-view anos antes.

Imagem: Sonic em 'Sonic X'.

Divulgação: TMS/SEGA.

Relacionado à 4Kids, mas não obra dela: em 2006, a Pokémon Company encomendou a produção de um especial de Pokémon, O Mestre das Miragens Pokémon, para celebrar o aniversário de 10 anos do animê, que também foi disponibilizado em japonês alguns meses depois (mas só no site da TV Tokyo).

Fora apresentar várias “miragens” de Pokémons Lendários populares, o especial não fez nada de muito espetacular e não marcou muito os fãs, mas é famoso nos Estados Unidos por ter sido o “teste” do novo elenco de dublagem americano. A 4Kids perdeu a licença da série pouco antes disto, e a Pokémon Company trocou de estúdio de dublagem. Com isso, trocou também todo o elenco, que mostrou seu trabalho pela primeira vez neste especial.

 

Jogando com animações

E para fechar, acho que temos que abrir uma sessãozinha especial para os desenhos baseados em games japoneses — que foram extremamente numerosos nessa época!

imagem: poster de pacman and the ghostly adventures.

Divulgação: OLM/SAS.

Possivelmente o primeiro deles foi Pac-Man, uma série animada pela Hanna-Barbera estrelando o ícone dos fliperamas da Namco. Como o jogo não oferecia muito em termos de enredo, a Hanna-Barbera bolou uma história girando em torno do dia-a-dia de Pac-Man e sua família, que eram ocasionalmente importunados pelos quatro fantasmas e os comiam em cada episódio. Os anos 80 foram uma década estranha.

Várias décadas depois, em 2014, também estreou Pac-Man e as Aventuras Fantasmagóricas, desenho que acompanhou um jogo de mesmo nome (uma das várias tentativas da Namco Bandai de reimaginar Pac-Man para as crianças atuais). O desenho foi coproduzido no Japão, animado pela OLM Digital e pela Sprite Animation Studios.

Voltando algumas décadas, tivemos Saturday Supercade, de 1983, um compilado de pequenos curtas baseados em diversos videogames. Dos japoneses, este contava com Frogger, da Konami (e o desenho era bem bizarro), e Donkey Kong, da Nintendo — que também foi a primeira aparição animada do Mario, o antagonista da animação!

Algum tempo depois, em 1989, a Nintendo invadiria o mundo dos desenhos duas vezes, a primeira sendo com o Super Show dos Irmãos Mario (que tem segmentos live-action também, mas ignoremos isso por hoje), uma animação de comédia bem surreal que durou bastante tempo, chegando a cobrir Super Mario Bros. 3 e Super Mario World em temporadas seguintes.

Intercalado com ele também era exibido o desenho de The Legend of Zelda, que só acumulou 13 episódios. Este era um desenho de ação mais direto, mas também cheio de liberdades com o que vemos como a franquia Zelda hoje em dia — em particular quanto à personalidade do Link, que, no desenho, é desleixado, brincalhão e infantil.

O motivo para ambos os casos é que, na época de lançamento, havia muito pouco material disponível dando detalhes sobre o mundo e os personagens desses jogos, então os americanos tiveram que usar a imaginação para preencher muitas lacunas. Os dois são lembrados com carinho hoje em dia, mesmo estando longe de serem perfeitos.

A outra empreitada da Nintendo foi o mais descaradamente “propaganda” Capitão N, um desenho de ação estrelando personagens de vários jogos do NES (vulgo Nintendinho): Pit, de Kid Icarus (que era chamado de “Kid Icarus”, por falta de pesquisa); Simon Belmont, de Castlevania; Mega Man, de… er, Mega Man; e, mais à frente, um Game Boy falante.

O protagonista da história era um adolescente chamado Kevin, que é sugado para dentro do mundo dos jogos para ajudar esses famosos personagens a derrotar Mother Brain, antagonista do jogo Metroid. Não era um desenho péssimo para a época, mas as interpretações dele desses personagens icônicos é absolutamente bizarra para nós, do presente.

Falando em Mega Man, também não podemos esquecer a “trilogia Capcom” de desenhos animados dos anos 1990: Mega Man (1994), Street Fighter (1995) e DarkStalkers (1995). Mega Man definitivamente se saiu melhor dentre os três, com uma animação decente (feita no Japão pela Ashi Productions) e episódios divertidos. Street Fighter e DarkStalkers, por outro lado, eram pouco inspirados e adaptavam os elementos de seus jogos de formas bem bizarras. O mais interessante do desenho de Street Fighter é que, assim como o filme live-action de 1994, o americano Guile é o protagonista, não o japonês Ryu, como nos jogos.

Já no lado da Sega, o eterno Sonic também rendeu várias séries animadas no decorrer dos anos: duas em 1993 (exibidas ao mesmo tempo, só que com tons radicalmente diferentes), Sonic Underground em 1999 (que reimaginava Sonic como um príncipe que lutava contra a tirania ao lado de seus dois irmãos, com o poder do rock ‘n roll), Sonic Boom em 2014 (uma comédia que fazia parte da frustrada continuidade alternativa Boom) e Sonic Prime, que estreou em 2022 e segue em andamento.

E além deles tivemos desenhos baseados em Pole Position, Double Dragon, Donkey Kong Country… mas acho que esta matéria já está longa o bastante, não acham?

Em conclusão — eu sei que muitos desses desenhos não são grande coisa, mas eu sempre fico fascinado quando tentam produzir reinterpretações de obras japonesas (e quando o Japão faz o vice-versa). São realidades tão diferentes que, inevitavelmente, saem coisas totalmente bem diferentes também, e, mesmo quando são ruins, são fascinantes de analisar. Pelo menos, eu acho.

Enfim, hora do “call to action” pra fechar a matéria: vocês viram algum destes desenhos? O que acharam? Devo fazer uma matéria sobre adaptações live-action no futuro? Devo fazer uma matéria sobre o vice-versa? Concordam que o Simon de Capitão N é a interpretação definitiva do personagem? Deixem nos comentários e até a próxima!

Veja também:

▶ TriviaBox: Games japoneses e seus desenhos americanos (T01E05)

▶ Acesse aqui as colunas anteriores.


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