Junji Ito é um nome bastante conhecido quando o assunto são mangás de horror, sendo famoso principalmente por Tomie e Uzumaki. Embora esses dois mangás sejam suas obras mais emblemáticas, o autor também criou uma outra personagem de bastante sucesso: o menino Souichi, que têm o estranho hábito de chupar pregos.

As peripécias desse garoto sombrio foram seriadas no Japão entre 1991 e 1995. No Brasil, o mangá foi publicado em outubro do ano passado pela editora Pipoca e Nanquim sob o título As Egocêntricas Maldições de Souichi (Souichi no Katte na Noroi).

A edição da Pipoca e Nanquim é, sem dúvidas, bem bonita. Ela é grossa, mas consideravelmente leve para o tamanho; tem uma sobrecapa bem colorida e uma capa em preto e branco com alguns detalhes em verde que combinam muito com a proposta da história; e, a melhor parte, a encadernação permite uma leitura bastante confortável, principalmente se levarmos em consideração o tamanho do volume.

imagem: cenas de souichi.

Divulgação: P&N | Via Amazon.

Já em relação ao mangá em si podemos dizer que ele é um tanto curioso. A obra é composta por dez histórias que seguem uma ordem minimamente cronológica, porém algumas delas podem ser lidas separadamente sem muitos problemas. Cada história é uma maldição do menino Souichi, uma criança sombria com gostos bastante mórbidos.

Um ponto interessante é que ocorre uma gradação das maldições conforme os capítulos passam. No começo, o leitor não sabe muito bem se o que está acontecendo é mesmo resultado de alguma maldição do menino ou se não tudo não passa de uma coincidência e de invenções de uma criança com gostos peculiares.

E por falar em Souichi, o garoto é um bom protagonista — ele tem um certo carisma nada carismático. Trata-se de um menino sombrio, maldoso e um tanto egocêntrico, que gosta de se aproveitar da escuridão dos corações das pessoas, mas ao mesmo tempo Souichi é uma criança solitária que quer chamar atenção.

Ele não se dá bem com a família, não se encaixa na escola e então se volta para si mesmo. Por um lado, o Souichi não faz muito esforço para se dar bem com as pessoas dos seus círculos sociais; por outro, ele demonstra ter uma carência e um desejo de ser de notado. Como parece não saber lidar com nenhuma dessas coisas, o garoto reage a tudo fazendo as traquinagens mais sombrias, maldosas e assustadoras possíveis.

Entretanto, apesar de o Souichi lançar maldições nas pessoas e algumas delas serem bastante perversas, de alguma maneira o mangá é muito mais engraçado do que assustador.

As traquinagens de Souichi são horríveis e até um pouco torpes, mas como ele é uma criança e constantemente se atrapalha, acabam escoando com uma certa frequência para o escape cômico. Se elas não terminam com um escape cômico, elas começam por causa de alguma situação inusitada e até mesmo um tanto boba pela qual Souichi passou que o fez jurar vingança.

Conforme a narrativa anda, as vinganças e maldições do menino vão ficando mais elaboradas. Dá para perceber melhor que de fato Souichi está causando algum sofrimento com as maldições que diz lançar, ou seja, ele é mesmo o responsável pelo que está acontecendo; mas, ainda assim, ao menos parte da resolução do problema continua desembocando em uma situação que busca o riso.

imagem: mais cenas de souichi.

Divulgação: P&N.

Existem, obviamente, bons momentos. A arte do Junji Ito é bacana. O autor mescla a caracterização simples das “pessoas normais” com quadros feios, grotescos, estranhos e chamativos. Essa é a melhor parte da experiência de leitura. Visualmente, o mangá é bem legal, estranhamente agradável. Sem dúvidas estão ali várias características do grotesco e do horror, e Junji Ito faz isso bem.

Porém, no que diz respeito ao mangá de Souichi enquanto narrativa, continua sendo uma história que parece prometer um horror e entrega muito mais uma paródia do horror. A temática de maldições, alguns dos quadros, a personalidade sombria e esquisita do Souichi, a tensão que se tem em alguns pontos da narrativa — tudo parece prometer um susto ou ao menos um momento de medo, só que ele nunca vem. Nos vemos diante de quadros bastante chamativos, mas de novo e de novo a sensação é que o ponto-chave é desmontar o horror com algum gracejo.

De alguma forma, as maldições de Souichi — mesmo que sejam maldições e frequentemente causem problemas para as pessoas, colocando-as inclusive em situações de perigo — não passam de traquinagens de um menino que quer chamar atenção. Peripécias do maior mau gosto possível, mas ainda assim peripécias.

É uma história boa de se ler, só não é uma história assustadora. Quando vemos um garoto esquisito chupando prego e indo pro meio do matagal pra fazer rituais maléficos, acabamos esperando que ele pelo menos enfie uns pregos em alguém e não que todas as suas maldições, por mais cruéis que sejam, tenham sempre um gosto de traquinagem infantil.

Entretanto, não podemos dizer que o mangá não gera uma quebra de expectativa. Agora, se isso é bom ou ruim, cabe ao gosto do freguês.

Em resumo, é uma obra na qual perversas maldições são transfiguradas em traquinagens de uma criança com gostos e um comportamento bastante peculiar, por meio de uma arte que não falha em entregar quadros grotescos. Mesmo assim, não podemos dizer que se trata de uma história assustadora.


Galeria de fotos

Confira no álbum abaixo alguns registros da edição física de As egocêntricas maldições de Souichi.


Se interessou? Compre pelos nossos links:

Volume Único


Essa resenha foi feita com base na edição cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Pipoca & Nanquim. 


O JBox participa de parcerias comerciais com Amazon, podendo ganhar um valor em cima das compras realizadas a partir dos links do site. Contudo, o JBox não tem responsabilidade sobre possíveis erros presentes em recursos integrados ao site mas produzidos por terceiros.


O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox