A agência de talentos Johnny & Associates mudará de nome a partir de 17 de outubro, passando a se chamar Smile Up, segundo comunicado do atual presidente, Noriyuki Higashiyama.
A Smile Up se responsabilizará por garantir medidas indenizatórias para as vítimas de abuso sexual do já falecido fundador, Johnny Kitagawa e os processos começam em novembro — pelo informado, a empresa fechará após encerrar o processo de compensação.
Uma nova entidade será criada para lidar com o gerenciamento de talentos, e o nome será decidido pelo fã-clube da Johnny.
Entenda o caso
Johnny Kitagawa fundou a agência em 1962 após criar o grupo Johnnys — passaram por ela grandes boybands masculinas, como SMAP, Arashi, KAT-TUN, entre outros. Os grupos gerenciados pela agência eram conhecidos como “Johnny’s”.
Já em vida, Kitagawa foi acusado de abuso sexuais — em 1999, a revista Shunkan Bunshun soltou um artigo de 14 páginas detalhando um esquema de exploração e abuso sexual infantil. Contudo, as informações não se tornaram investigação e muito menos acusação criminal.
A revista foi processada pela agência e perdeu em primeira instância em 2002. Em uma apelação à Suprema Corte de Tóquio, o veredito foi revertido, os depoimentos das vítimas foram considerados consistentes enquanto a agência não trazia contra-argumentos concretos (e ficou por isso mesmo).
Kitagawa faleceu em 2019, devido a um acidente vascular, e então Julie Keiko Fujishima se tornou presidente da agência.
Mas foi apenas em março deste ano, quando a BBC soltou um documentário se aprofundando nas acusações de abuso sexual feitas pelos garotos da Johnny e os motivos do silêncio da mídia japonesa, que a agência caiu no escrutínio nacional e internacional.
Em 12 de abril, Kauan Okamoto, um cantor nipobrasileiro que vive no Japão, disse, em uma conferência, ter sido abusado entre 15 e 20 vezes por Kitagawa quando fazia parte da Johnny e conhecia pelo menos mais três pessoas que passaram pelo mesmo. Depois disso, um grupo de fãs e idols fez uma conferência em 11 de maio dizendo que pediram para a agência se desculpar e iniciar uma investigação.
Uma investigação externa conclui em agosto que Kitagawa abusou dos membros da agência por décadas, e que a agência passava panos quentes neste comportamento — seus parentes supostamente sabiam de tudo e nunca fizeram nada para impedi-lo.
Em setembro, Fujishima deixou o cargo de presidente, mas permanece como diretora representativa e dona da empresa — foi quando Higashiyama se tornou presidente. A agência assumiu publicamente que Kitagawa abusou diversos adolescentes entre 1970 e 2010, e disse inicialmente que não mudaria seu nome.
Contudo, aí doeu no bolso: patrocinadores japoneses informaram que não renovariam contrato com a Johnny e seus agenciados, e que se distanciariam da agência. Até a NHK, rede de televisão do governo japonês, disse que não chamaria membros da Johnny para seus programas, incluindo o famoso festival de Ano Novo (Kohaku Uta Gassen).
Nesse meio tempo, diversos ex-agenciados vieram a público contar suas histórias — Higashiyama disse na nova conferência que receberam consultas de 478 vítimas, das quais 325 pediam indenizações.
Fonte: ANN
Qualquer um minimamente informado sobre a cena musical japonesa conhecia a má fama da Johnny & Associates. Era uma agência de reputação duvidosa no exterior bem antes da morte do seu fundador, que infelizmente faleceu sem pagar pelos crimes que cometeu.