Pioneiros do Visual-Kei, estilo que inauguraram junto de bandas como X-Japan, Dead End e D’ERLANGER, o BUCK-TICK perdeu na semana passada a sua referência máxima. Com a partida do vocalista Atsushi Sakurai, que faleceu no dia 19 de outubro, com apenas 57 anos de idade, ainda não se sabe qual o destino da banda. Mas o que fica é uma carreira de quatro décadas de sucessos e a certeza do nascimento de mais uma lenda da indústria musical do Oriente.
A história de Atsushi Sakurai com a música começa em 1983, quando ele era apenas um jovem rebelde que frequentava a escola com a turma dos “bad-kids”, conhecida como Yankii. Naquela época, o BUCK-TICK estava começando a se formar, ainda com o nome de Hinan Go-GO, liderado pelo guitarrista Hisashi Imai.
A ideia de Imai era criar uma banda de rock única e impactante, tanto no visual como na sonoridade. Sakurai entrou inicialmente para ser o baterista do grupo, função que não era exatamente a que ele queria, mas era a que tinha disponível no momento. O destino tratou de mudar isso.
Depois que os tempos de escola chegaram ao fim, a formação da banda passou por mudanças significativas, incluindo a troca de vocalistas, o que levou Sakurai ao papel de frontman e líder natural do BUCK-TICK. Junto de Atsushi, formavam o grupo os irmãos Higuchi (Toll, baterista, e Yutaka, baixista) e o guitarrista Hidehiko Hoshino, o outro “Hide” do J-Rock. Essa mudança marcou uma virada importante na carreira, e Sakurai rapidamente se tornou conhecido por sua impactante presença de palco e voz característica. Depois de muito sucesso na cena independente, entre 1984 e 1987, era chegada a hora de fazer sucesso com um público maior: gravando por uma major.
De contrato assinado com a gravadora Victor Entertainment, lançou seu primeiro vídeo, Buck-Tick Phenomenon II, um show ao vivo em Shibuya. Logo em seguida, veio o primeiro álbum, SEXUAL×××××!, puxado pelo hit de mesmo nome.
Em 1988, o BUCK-TICK começou a fazer um tremendo sucesso, recebendo o prêmio de artista revelação daquele ano. Mais um fator que denunciava o sucesso: a partir de seu terceiro álbum, TABOO, puxado pelo hit JUST ONE MORE KISS, eles começaram a aparecer na primeira posição da parada semanal da Oricon, uma das melhores formas de medir se uma banda estourava. O sucesso continuou em 1990, com o lançamento do álbum Aku no Hana (悪の華), que trazia a ótima KISS ME GOOD-BYE, que também teve um vídeo de divulgação.
No ano seguinte, MY FUNNY VALENTINE foi a música destaque do álbum de 1991, Kurutta Taiyou (狂った太陽). Em 1993, com o lançamento de darker than darkness-style93-, a banda alcançou seu maior sucesso, com a música “DRESS”, clássico absoluto do BUCK-TICK e que foi utilizada (em outra versão) muitos anos depois como tema de encerramento no animê Trinity Blood, de 2005 (exibido no Brasil pelo extinto Animax).
Nessa época, o BUCK-TICK começou a fazer shows ainda mais abarrotados de gente, sempre com ingressos esgotados, em turnês com shows até no Tokyo Dome, estádio de beisebol dos Yomiuri Giants e maior palco para shows do Japão. Em 1994, eles fizeram uma turnê com grandes bandas como LUNA SEA e SOFT BALLET, que contou com convidados que começavam a despontar, como L’Arc~en~Ciel e THE YELLOW MONKEY.
A partir do final dos anos 1990, o BUCK-TICK começou a ter seu nome associado também à indústria dos animês, quando foi responsável por alguns temas de abertura e encerramento de obras como Night Walker, xxxHoLiC e Shiki, além do já citado Trinity Blood. A última obra com canções do grupo até o momento foi a sexta encarnação em animê de Gegege no Kitarou, em 2018 (transmitido aqui via Crunchyroll).
A influência euroamericana em Atsushi aparecia através de alguns de seus artistas favoritos, como Bauhaus, cuja a persona de Sakurai lembrava muito a do vocalista Peter Murphy; David Bowie e suas múltiplas personalidades no palco; Siouxsie and the Banshees, outra pedra fundamental do post-punk, e a banda Love and Rockets, formada justamente por integrantes do Bauhaus.
Além disso, o BUCK-TICK tocou com bandas americanas, como Marilyn Manson, que passou com sua turnê BEAUTIFUL MONSTERS pelo Japão em 1999, com a banda japonesa abrindo os shows. Esses são alguns dos motivos do porquê a perda de Atsushi é sentida não apenas por fãs de música japonesa. A banda, muito versátil, conseguia agradar públicos de diversos estilos, como post-punk, gótico, industrial e o clássico rock de arena, já que navegou por várias sonoridades em diferentes fases da carreira.
Ao longo de quase 40 anos, o BUCK-TICK lançou 22 álbuns de estúdio (incluindo a fase independente), nove coletâneas, sete álbuns ao vivo e quase 40 compilações em vídeo, entre shows e singles. Fora do BUCK-TICK, Atsushi Sakurai lançou um álbum solo em 2004 (Ai no Wakusei), além de um projeto paralelo chamado THE MORTAL, que rendeu um álbum com o mesmo nome da banda e também o mini-álbum Spirit, ambos de 2015.
Cantando literalmente até o fim (o cantor passou mal no palco durante seu último concerto e, embora tenha sido levado para o hospital, não resistiu), a ausência de Sakurai abre um vazio nos ouvidos e corações dos fãs com a sua prematura partida. Nos resta aplaudir e agradecer à obra desse grande artista.
Animês com músicas do BUCK-TICK:
Night Walker: Mayonaka no Tantei (1998)
“Gessekai (月世界)” (OP)
Trinity Blood (2005)
“DRESS” (bloody trinity mix) (OP)
xxxHOLiC (2006)
“Kagerou” (ED 2)
Shiki (2010)
“Kuchizuke (くちづけ)” (OP 1)
“Gekka Reijin (月下麗人)” (ED 2)
Gegege no Kitarou (2018)
“RONDO” (ED 5)
O texto presente é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox (mentira, reflete sim, o cara era uma lenda pô).
Simplesmente NÃO EXISTE outra página como a de vocês no Brasil. Estão de parabéns pelo texto. Descanse em paz, Sakurai.
DRESS foi regravada para Trinity Blood. A versão usada no anime é chamada de “DRESS (bloody trinity mix)”, que é bem diferente da original.
Quanto ao futuro da banda, é natural imaginar que esse é o fim. A banda está ativa há muito tempo, já tem um grande legado, tinha sua identidade muito atrelada à figura do Sakurai, além de ser da cultura japonesa terminar a banda depois de algo assim acontecer.
Ainda sem palavras para descrever o tamanho da perda. 40 anos se reinventando não é para qualquer um.
Oi, Noir Fleurir! Obrigado pelo toque, o link da versão de “Dress” foi ajustado na matéria. 😉