Depois de, por vários fatores, fracassar em seu lançamento, muitos duvidaram do futuro de Granblue Fantasy: Versus. Lançado no início de 2020, o jogo mostrou ser bastante carismático e atraiu a atenção do público, o que instaurou um potencial para o título ser importante em futuros campeonatos de jogos de luta, como a EVO.

No entanto, como sabemos, o início de 2020 foi marcado por uma pandemia que assolou o mundo por alguns anos, impedindo que competições, que normalmente são a vitrine para esses jogos, acontecessem.

Alguns jogos estavam conseguindo escapar desse tormento fazendo competições online, só que a comunidade de jogos de luta cada vez mais via o código de rede rollback como uma obrigação para uma experiência online decente, fazendo com que muitos jogos de lutas sofressem com a falta disso, o que incluía Granblue Fantasy: Versus.

Para piorar, o game também não contava com cross-play e, assim, essa soma de fatores fez com que muitos se afastassem do jogo, ainda mais porque Granblue Fantasy, apesar de ser uma franquia bastante consolidada entre títulos mobile, ainda estava dando seu primeiro passo em um novo cenário.

Por isso, quando Granblue Fantasy Versus: Rising foi anunciado, muitos chegaram até mesmo a ficar surpresos, já que, apesar das dificuldades enfrentadas, haveria uma nova tentativa. Mas será que dessa vez o jogo tem o potencial de vingar?

imagem: Gran durante um duelo de espadas com um cavaleiro no modo história de Granblue Fantasy Versus: Rising

Reprodução: Cygames

Granblue Fantasy Versus: Rising é, efetivamente, uma versão aprimorada de seu antecessor. Ele usa o esquema clássico em franquias de jogos de luta de não fazer uma continuação direta, mas sim adotar tudo que o jogo anterior já tinha e trazer algumas pequenas alterações, como aprimoramento no gameplay através de balanceamentos e mecânicas, além da adição de novos personagens.

É, inclusive, curioso ver a franquia seguir esse passo, pois esse tipo de coisa hoje em dia costuma ser feita através de atualizações no próprio jogo, ao invés da criação de uma nova versão do “zero”. Street Fighter V e Tekken 7, por exemplo, são praticamente outros jogos em relação ao o que eram no início, com praticamente tudo alterado apenas através de atualizações.

No entanto, GBVS de fato precisava de um relançamento completo. Não pela qualidade do jogo, que já era ótimo antes, mas sim porque é difícil um jogo “abandonado” conquistar de volta um público, por mais que traga melhorias. A visibilidade que o relançamento traz é importante no estado em que estavam as coisas. Felizmente, Granblue Fantasy Versus: Rising conseguiu entregar algo que valeu a pena passar por esse processo.

Como relançamento, GBVSR trouxe não só mudanças para a jogabilidade, mas também atrativos como um novo ato para o modo história e novos personagens, além de uma reformulação completa do lobby online, que tem tudo para ser um dos melhores por aí, por efetivamente instigar a interação entre jogadores dentro e fora das batalhas.

imagem: uma batalha entre Anila e Beelzebub em Granblue Fantasy Versus: Rising. Beelzebub é derrotado por um golpe onde Anila sobe em cima de uma ovelha

Reprodução: Cygames

Um destaque entre as mudança no gameplay é a introdução de um novo sistema que envolve o uso de Pontos de Bravura, que permite usar golpes com foco em quebrar instantaneamente a defesa de oponentes ou então usar pontos justamente para resistir a esses golpes, dando maior profundidade ao gameplay do jogo.

Os Pontos de Bravura são bastante importantes para Rising porque, além de possibilitar mudanças mais diretas no gameplay, também servem como garantia a mais de defesa, então não é exatamente seguro usar seus pontos como bem quiser porque com a falta deles o jogador fica bem mais frágil. É preciso pensar em momentos que valham a pena usá-los, porque sofrer um contra-ataque com eles zerados é extremamente perigoso.

Além dos Pontos de Bravura, algumas alterações foram feitas no sistema de combo automático, visando deixar as coisas ainda mais dinâmicas. Por exemplo, antes havia uma combinação de botões dedicada apenas ao overhead padrão, mas agora é possível introduzir o golpe durante os próprios combos, liberando espaço da antiga combinação de botões dedicada ao overhead para o uso de Pontos de Bravura. O combo automático também permite trocar entre golpes médios e baixos de forma muito simples, tornando possível criar facilmente uma variação de ataques nas lutas.

Rising também permite que os jogadores usem ataques na corrida, com variações nos três botões de ataque principais. Ter acesso a um golpe que pode pegar oponentes desprevenidos de uma longa distância acaba ajudando nas batalhas, aumentando as possibilidades para o jogador — era até mesmo estranho não haver essa opção até então, considerando que é algo comum em boa partes dos jogos de luta.

Outra novidade no jogo são as habilidades máximas. Em Versus, todas as habilidades já contavam com versões mais poderosas dependendo de qual botão o jogador usava para executá-las, no entanto agora existem versões mais poderosas ainda que podem ser usadas utilizando o botão dedicado aos comandos únicos de cada personagem. Usar uma habilidade máxima, no entanto, não é de graça. É preciso usar metade da barra de especial, fazendo com que a barra ganhe um novo propósito além das Artes Celestiais.

imagem: Grimnir usando uma habilidade máxima durante uma batalha contra Siegfried em Granblue Fantasy Versus: Rising

Reprodução: Cygames

Apesar dessa quantidade de coisas poder assustar os jogadores mais casuais, não há nada a temer. O jogo continua possibilitando que os golpes especiais sejam utilizados através de atalhos simples que não exigem uma combinação tradicional de botões utilizada em jogos de luta, e isso serve também para as habilidades máximas. Então, assim como seu antecessor, GBVSR continua querendo abraçar não só os jogadores mais experientes, mas também aqueles com pouco contato com jogos de luta ou que evitam por serem técnicos demais.

Além disso, mesmo a execução de comandos tradicionais é bem simples e praticamente universal para todos os personagens, o que deixa mais fácil para o jogador se adequar a cada um sem precisar aprender sequências de comandos completamente diferentes. Tudo isso também facilita a criação de combos mais complexos, mesmo para jogadores sem tanta familiaridade com jogos de luta.

Para quem quer se aprofundar mais na parte competitiva, os tutorias do Modo Treino são bastante completos, já que é possível aprender desde coisas mais simples como comandos de movimentação até dicas de como ser efetivo durante diversas ocasiões mais complexas, tanto durante o ataque quanto durante a defesa.

Tudo fica bem mastigadinho e pode ser até mesmo ser repetitivo para quem já conhece os conceitos gerais de jogos de luta, mas é tão completo que vale a pena mesmo para quem já está acostumado. Claro, o treino livre também está disponível no jogo, contando com coisas como quantidade de frames para liberação de golpes e um sistema simples envolvendo as hitboxes. Não é exatamente o melhor que se tem hoje em dia, mas é o bastante para se treinar de uma forma confortável.

imagem: tela do Modo Treino de Granblue Fantasy Versus: Rising. Nela, é possível ver Siegfried levantando pesos enquanto Cagliostro lê livros. No canto direito inferior da imagem é possível ver a personagem Rein como acompanhante, falando "Ainda chamam os video games de 'joguinho'? Ué, esse nome tá fora de moda!?"

Reprodução: Cygames

Outra retorno de Granblue Fantasy: Versus é o modo história — é possível conferir o modo história original do primeiro game, assim como os capítulos adicionados posteriormente via DLC, porém com tudo relativamente reduzido, trazendo apenas as batalhas mais importantes para o foco. Só que as coisas mudaram um tanto por aqui. Apesar de ainda ser possível enfrentar inimigos e chefões no estilo beat ‘em up, não é mais possível editar equipamentos de forma similar ao Granblue Fantasy original. Algumas skills e habilidades passivas ainda podem ser aplicadas ao personagem, mas o grid de armas, loja e outros atributos que davam o senso mais RPG pra coisa não existem mais.

Apesar disso, o modo história ainda pode ser divertido. O sistema de grid de Granblue Fantasy: Versus podia ser meio complicado de entender para alguns, então só poder partir direto para as batalhas sem preocupações talvez seja até vantagem para os jogadores, além de acelerar o processo de conferir o modo história que, apesar de ser bem feito, não é exatamente a prioridade de um jogo de luta competitivo.

A história em si é bem divertida de acompanhar, mas às vezes é muito fácil para quem não jogou ou teve poucas experiências com o Granblue Fantasy original ficar boiando. Há um glossário e um diário de informações para lidar com isso, mas é impossível tudo ser coberto apenas por isso considerando que a história por completo de Granblue Fantasy é enorme.

O grande destaque do modo história com certeza é o ato introduzido em Rising. Como já é adequado para o novo formato, a história dele flui muito melhor e é bem mais interessante que o roteiro inicial de controle mental do primeiro jogo. Os conflitos parecem mais vívidos e a introdução de novos personagens soa muito mais natural do que nos atos 1 e 2, respectivos ao que já existiam em GBVS. O ato 3 dá a importância devida para cada personagem, fugindo do que parecia ser só um senso de obrigação ao introduzir os anteriores.

Claro, a quantidade reduzida de novos personagens (são apenas quatro jogáveis até então) ajuda nisso, mas existe um trabalho cuidadoso no geral. A única parte triste é o fato de que a história, apesar de contar com um certo desfecho, ainda está incompleta, mas, caso tenhamos uma situação parecida com a de Granblue Fantasy: Versus, ela será continuada através das chegadas dos novos personagens de DLC.

imagem: Um trecho do modo história de Granblue Fantasy Versus: Rising onde Lucillius conversa com Belial. Lucillius diz: "Talvez você devesse botar essa sua energia em pesquisar a retroatividade da Causalidade".

Reprodução: Cygames

Falando em personagens, as novidades, apesar de poucas, são muito bem-vindas. Nier conta com um sistema bem interessante, sendo uma daquelas personagens que conta com uma “marionete” para apoiar seus combos. Isso torna possível aumentar bastante a pressão contra inimigos, atacando dos dois lados ao mesmo tempo.

Siegfried é um personagem que por si só já dá bastante dano, mas consegue aumentar isso ainda mais sacrificando vida para golpear mais forte, compensando o fato de ser meio lento pros padrões do jogo.

Grimnir traz mecânicas de movimentação que se destacam bastante no game, trazendo possibilidades que nenhum outro personagem tem. Isso sem falar que ele também se destaca fora das lutas, tendo interações extremamente divertidas.

Por fim, temos Anila que, apesar de não contar com alguma mecânica especial específica, consegue um destaque já que é uma grande homenagem a Terry Bogard, de Fatal Fury, nada mais nada menos que uma das figuras mais importantes da história dos jogos de luta.

Apesar de contar com poucas adições gratuitas, Granblue Fantasy Versus: Rising ainda se destaca bastante no quesito personagens só pelo fato de todos os anteriores já estarem disponíveis, tanto os do jogo base quanto dos de DLC. São 28 personagens disponíveis para serem usados desde o início (29 se contarmos Lunalu representando as escolhas aleatórias), uma quantidade maior que muitos jogos da atualidade.

O jogo também, como qualquer título de luta que se preze, conta com um modo arcade tradicional que, apesar de ainda seguir a proposta direta do primeiro jogo, agora tem com dois chefões secretos: Avatar Belial e… Lucillius. Sim, jogando o modo arcade rapidamente descobrimos porque o personagem já foi anunciado como uma DLC para sair em breve: ele já está praticamente pronto.

Talvez estejam só faltando alguns balanceamentos, já que, ao menos na luta contra ele no modo arcade qualquer golpe dele arranca a vida muito fácil (existe, inclusive, uma referência ótima a isso no modo história em relação ao jogo original).

imagem: Nier usando o poder da besta primordial Morte durante uma batalha contra Zeta em Granblue Fantasy Versus: Rising

Reprodução: Cygames

O jogo também conta com uma loja onde é possível comprar itens dos mais variados tipos, que vão desde avatares e itens de customização para os modos online até mesmo modelos 3D para serem usados no modo Modelos Digitais, onde os jogadores podem colocar vários personagens para posarem de diversas formas e em cenários variados.

É possível até mesmo ter um “acompanhante” que sempre comenta sobre seu desempenho final após a cada luta, elogiando ou dando dicas para melhorar, além de aparecer às vezes nos menus para conversar casualmente com o jogador. Coisas assim não são exatamente inéditas em jogos de luta, mas sempre dão um charme a mais.

A grande estrela dos modos especiais definitivamente é Gran Batalha!…, também foi traduzido em algumas partes do jogo como Gran-fronto! (não parecem ter se decidido muito bem…). É literalmente um jogo à parte que permite vários jogadores se unirem online para disputar diversos minigames, sendo literalmente um tipo de Fall Guys.

No entanto, os minigames podem ser muito mais caóticos, sendo possível atacar inimigos com armas coletadas durante as corridas, sem falar que alguns modos contam com tantas coisas ao mesmo tempo que viram uma enorme bagunça. É muito divertido para passar o tempo quando estiver cansado das batalhas tradicionais.

imagem: um dos minigames do modo Gran Batalha!. Neste, os jogadores batalham em grupos para reunir mais peças de ouro em sua base

Reprodução: Cygames

Como qualquer jogo de luta hoje em dia, GBVSR tem um grande foco nas interações online, essencial para a sobrevivência de um título, mas pode-se dizer que abusam até demais dessas funções. Existe um sistema de pontuação com os personagens que só pode ser explorado com acesso online, sem falar que até para acessar a própria loja do jogo é preciso estar com conexão. Durante o período de teste para a resenha em particular foi um pouco chato de lidar, considerando que muitas funções que poderiam funcionar normalmente sem o online estavam bloqueadas.

Apesar disso, o jogo não decepciona e mostra que realmente as mudanças no online vieram para mais para ajudar do que atrapalhar. Com o código de rede em rollback, finalmente é possível aproveitar partidas sem muitos problemas, sem falar que existe um sistema de pareamento dedicado aos jogadores da América do Sul, melhorando a conexão com o acesso à partidas contra pessoas próximas.

Assim como o GBVS original, Rising também conta com vários lobbies onde é possível interagir com os jogadores em tempo real usando avatares, porém agora esse espaço é muito mais expansivo, com um mapa bem grande e, além de batalhar em cabines de arcade, é possível só ficar fazendo besteira com os amigos, com direito a uma máquina de garra com a qual é possível conseguir itens visuais e até mesmo, por algum motivo, um campinho de futebol.

Com o espaço maior, a quantidade de cabines agora é bem mais vasta, tornando possível que a interação com outros jogadores aconteça de forma bem mais ampla em um mesmo lugar. No entanto, ao contrário do pareamento para partidas casuais e ranqueadas no menu, não existem lobbies dedicado aos jogadores sul-americanos, então há chances de esbarrar com problemas de conexão jogando com pessoas desconhecidas por lá (apesar de que o rollback permite que mesmo jogar com pessoas da América do Norte não seja desgastante).

imagem: diversos jogadores reunidos em um dos lobbies de Granblue Fantasy Versus: Rising

O jogo também conta com um sistema de passes de batalhas pelo qual é possível desbloquear itens exclusivos — cada personagem conta com seu próprio passe, e os itens são variados, incluindo armas e cores, tudo sem custo adicional. Além disso, o modo Gran Batalha! tem seu próprio passe de batalha.

Os passes também incluem prêmios em dinheiro para ser usado na loja do jogo, além de tickets para o gacha do jogo, no qual dá para tentar conseguir skins de armas para serem usadas no lobby e no modo Gran Batalha!.

Outra coisa que Granblue Fantasy Versus: Rising manteve em relação ao primeiro jogo foi a tradução para o português, mas, infelizmente, ela continua com alguns problemas. Apesar da localização ser muito boa, principalmente nas falas de alguns personagens não tão sérios, como Yuel e Belial, sofre bastante com alguns erros simples de ortografia e de digitação, além do texto soar um tanto estranho às vezes. Apesar de não ser um empecilho para entender a maior parte das coisas, a frequência desses errinhos pode incomodar.

Além disso, alguns problemas na edição são muito fáceis de se observar, principalmente no modo história. As caixas de textos não estão bem formatadas, fazendo com que muitas vezes os diálogos fiquem cortados, mesmo quando há espaço o suficiente para eles. Quando há algum termo relacionado ao jogo no glossário, ele fica destacado em amarelo, só que parece que não houve uma revisão direta nisso, então o que temos como resultado são algumas ocasiões nas quais termos sem relação alguma acabam sendo destacados em amarelo, como nas imagens abaixo.

Outra coisa importante de apontar é que o jogo conta com uma versão gratuita. Apesar de, obviamente, não contar com todo os conteúdos da versão paga, será possível aproveitar bastante coisa, incluindo parte do modo história, acesso às partidas online, cross-play e até mesmo ao modo Gran Batalha!. No entanto, apenas quatro personagens estarão disponíveis de graça, sendo que eles sempre irão variar entre Gran e mais três personagens que serão mudados dentro de uma rotação.

Granblue Fantasy Versus: Rising é, sem dúvidas, o retorno que a série precisava. Um modo online reformulado era necessário para o título porque, além de facilitar campeonatos à distância, hoje em dia é sabido que se encontrar pessoalmente para jogar qualquer jogo não é mais algo comum de se ver. E, para compensar esse “vazio”, o jogo faz de tudo para que o jogador se sinta confortável jogando com os outros, seja proporcionando um clima acolhedor, seja dando opções que permitem que qualquer jogador, mesmo os iniciantes, consigam se sair bem em batalhas.

Infelizmente, as adições para quem não quer jogar online não são muitas e podem ser um tanto decepcionantes para quem já jogou a versão anterior, mesmo que a nova parte da história seja bem interessante, apesar de incompleta. No entanto, quem começar a experiência por Rising contará com bastante coisa para fazer, já que o modo história exige algumas boas horas do jogador e não faltam personagens para serem usados no arcade. Com tudo isso em mente, agora resta torcer para que o jogo dessa vez consiga vingar como merece (e que nenhuma pandemia decida atrapalhar a vida do mundo inteiro mais uma vez).

imagem: Grimnir posando heroicamente em uma das ilustrações de encerramento do modo arcade

Reprodução: Cygames


Granblue Fantasy Versus: Rising já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC. O JBox recebeu gratuitamente uma cópia para PC pela assessoria de imprensa da Nuuvem, distribuidora do jogo na América Latina, para a produção desta resenha.


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