Chega de animês em 2023! O ano chega ao fim e já até é esquisito pensar que, há tão pouco tempo, passamos por uma pandemia que basicamente mudou muito da maneira como consumíamos a cultura pop. Graças às vacinas, à ciência, aos profissionais desse meio, as coisas hoje já voltaram, mais ou menos, ao normal (embora picos de COVID-19 ainda ocorram).

Enquanto, durante o isolamento, não havia tanta concorrência, assistir a animês voltou a competir com sairmos com nossos amigos, familiares, irmos a show, festas, restaurantes, cinema, etc. Que bom!

Desse universo animado nipônico que tanto amamos, foram muitas as novas possibilidades dentro das quatro temporadas de lançamentos. E como já é tradição aqui no JBox, separei quais foram os 10 nesses que tornaram meu ano mais empolgante, criativo, intenso, leve e emocionante. Como regra: só foram considerados desenhos inéditos. Ou seja, grandes continuações, como Jujutsu Kaisen, SPY x FAMILY, Horimiya: The Missing Pieces ou My Hero Academia, ficaram de fora.

Alguns bateram na trave: Revenger, Meu Trabalho no Café Yuri, Rokudo’s Bad Girls, MF Ghost e 16bit Sensation: Another Layer. Fãs de Oshi no Ko ficarão chateados pela ausência, mas acho que a história perde muita tração após o time skip do primeiro episódio. Já fãs de Pluto sequer notarão sua falta, porque ainda deve estar tentando terminar os episódios.

Bora lá…


10. Magical Destroyers

(Hiroshi Ikehata, Bibury Animation Studios)

imagem: cena de magical destroyers.

No longínquo futuro distópico de 2011, uma organização coloca em prática um plano para exterminar a cultura otaku no Japão. De um dia para outro, gostar de joguinhos, animês e demais coisas nerds se torna ilegal, com os fãs sendo levados para campos de concentração. Cabe então a um trio de garotas mágicas auxiliar uma revolução ao lado do “Otaku Hero” para tentar voltar as coisas ao que eram antes.

O roteiro é daqueles que te pegam no pulo com uma invertida. Inicialmente, parece uma ode a valores masculinos incel, mas logo fica claro essa ser uma história sobre como mulheres, mesmo quando muito poderosas, precisam dançar conforme a música para endireitar as coisas. A sequência de henshin, seguida do primeiro uso de poderes da protagonista no primeiro episódio é um dos negócios mais bem animados a que assisti esse ano.

Disponível na Crunchyroll.


9. ONIMAI: I’m Now Your Sister!

(Oniichan wa Oshimai!, Shingo Fujii, Studio Bind)

imagem: cena de onimai.

É incrível como a direção e a produção de arte fazem desse algo deslumbrante aos olhos. A paleta de cores escolhida, a trilha sonora, a fotografia, o tempo até que as cenas sejam cortadas, tudo parece ser costurado para passar uma impressão meio onírica. E talvez isso ajude a açucarar o quão agressiva é a temática dele. Na trama, um NEET é transformado em uma garotinha por sua irmã mais nova, uma cientista genial. Ao lado dela, ele precisa se redescobrir nesse novo corpo.

Numa sinopse de duas linhas, soa bem cancelável, eu sei. Mas o roteiro tem mais camadas do que isso. Para além dessa premissa de transição de gênero forçada, há algo sobre salvar a vida de um familiar que você ama, de ajudá-lo a encontrar felicidade em como ele é. O modo como a história se desenvolve é bem tocante e delicado.

Disponível na Crunchyroll.


8. Sugar Apple Fairy Tale

(Yōhei Suzuki, J.C. Staff)

imagem: cena de sugar apple fairy tail.

A fantasia medieval pode ser um terreno fértil para comentários sociais. Mas vai do talento dos envolvidos se como esses cenários onde a opressão anda de lado à magia e poder são bem ou mal utilizados. De uma mesma forma que origina obras espertas como That Time I Got Reincarnated as a Slime e Re:Zero, há tantas outras que parecem não se entender direito, como The Rising of the Shield Hero e Mushoku Tensei.

Sugar Apple Fairy Tale está no primeiro time. É uma história bonitinha sobre uma confeiteira que busca melhorar suas habilidades e fazer fama na cidade grande através de um concurso. Para isso, ela precisa atravessar uma estrada perigosa. Então, a garota compra uma fada como escravo. No desenrolar disso, entendemos com ela o quanto privar os outros de sua liberdade é ruim. O tom mais professoral não ofusca a beleza da trama e o quão impressionante confeitos de açúcar podem parecer em tela.

Disponível na Crunchyroll.


7. 100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi

(Zon 100 ~ Zonbi ni Naru made ni Shitai 100 no Koto ~, Kazuki Kawagoe, Bug Films)

imagem: cena de zom 100.

Confesso que acho a ironia com esse aqui bem mais engraçada do que eu deveria. Logo um animê cuja história é uma crítica pra cima do quão explorador é o universo trabalhista neoliberal japonês não ser terminado a tempo, pois o ambiente dentro do estúdio exatamente a mesma coisa criticada nele… é hilário de tão trágico.

Isso de lado, Zom 100 é um sopro de refrescância perante outras histórias de apocalipse zumbi. Antes preso em uma rotina profissional que sugava sua vida, Akira Tendo aproveita o eminente fim do mundo para, pela primeira vez em muitos anos, aproveitar sua vida. Isso tudo a partir de uma lista (altamente alterável) de 100 coisas que ele quer fazer antes de, enfim, virar um zumbi. O sangue colorido é legal demais.

Disponível na Crunchyroll e na Netflix.


6. Buddy Daddies

(Yoshiyuki Asai, P.A. Works)

imagem: cena de buddy daddies.

O “Shurato de SPY x Family”, como disse alguém aqui da redação do JBox na estreia de Buddy Daddies. E tal como Shurato, ele consegue brilhar por si próprio longe da sombra de seu próprio Cavaleiros do Zodíaco. Muito pelo caos com o qual a história é levada, muito pelo carisma adorável de cada personagem em suas diferentes interações.

Na trama, uma dupla de assassinos de aluguel, após um serviço, calha de adotar uma garotinha filha do alvo que eles executaram momentos antes. Agora, eles precisam lidar com algo bem mais difícil, trabalhoso e assustador do que matar pessoas por dinheiro: serem pais! Na maior parte do tempo, é uma comédia que enche o coração de alegria. Contudo, quando inevitavelmente o drama acontece, é um baita soco no estômago.

Disponível na Crunchyroll.


5. Undead Unluck

(Yuki Yase, David Production e TMS Entertainment)

imagem: cena de undead unluck.

Undead Unluck parece retirado de uma cápsula do tempo. A narrativa de ação desenfreada junto da ótima direção nas cenas de luta e do pé no erotismo me leva diretamente aos OVAs de ação das décadas de 1980. Fuuko, uma jovem que atrai a morte a todos que encostam nela, é salva por Andy, um imortal que consegue sobreviver a qualquer coisa advinda das consequências de tocá-la. Juntos, eles entram numa organização de pessoas com superpoderes que precisam lidar com missões vindas de um livro falante.

É esquisito, é desenfreado, as ideias nele são malucas o suficiente para funcionarem pelo puro desnorteamento, além de brincar muito com o sexy. “Legalzudo” pelo quão cool consegue ser. Ou seja, parece retirado dos sonhos molhados de um adolescente. Mais impressionante que isso é ele ser a adaptação de um mangá da Shounen Jump e estar sendo distribuído pela Disney.

Disponível na Star+.


4. Shangri-La Frontier

(Toshiyuki Kubooka, C2C)

imagem: cena de shangri-la frontier.

Shangri-La Frontier é o anti-Sword Art Online. Tudo o que o já clássico animê da A-1 Pictures trazia em questão de pessimismo, Shangri-La faz pelo lado do otimismo. A ideia de um isekai gamer onde os jogadores ficam presos no mundo criado pelo VR é substituída por uma história onde a galera está ali por curtir. Subir de nível, avançar em quests e se tornar o melhor não é mais questão de sobrevivência, sim do quão divertida a experiência pode ser. É uma visão colorida num gênero tão comumente sombrio. Por mim, tudo ótimo!

Aqui, seguimos a trilha com Sunraku, um entusiasta de games ruins em VR. Para ele, quanto mais bugs, mais erros na narrativa, e mais travas na jogabilidade, melhor. Só que calha de, durante as férias de verão, ele experimentar um jogo bom de verdade, o que dá nome ao animê. E são justamente suas habilidades adquiridas em games trash que fazem dele uma peça única dentro desse universo. É espetacular. Ainda não sei o que ter uma alma vorpal significa, mas já adotei isso como filosofia de vida.

Disponível na Crunchyroll.


3. Skip and Loafer

(Kotomi Deai, P.A. Works)

imagem: cena de skip e loafer.

A vida adulta chega a passos largos, mas há algo em histórias escolares japonesas que seguem cativando — algo que simplesmente não consigo mais assistir em produções dos Estados Unidos, por exemplo. Acho que é conseguirem encontrar o denominador comum do esquisitão que encontra outros esquisitões num ambiente novo de um jeito que ainda é idealizado. Ainda dá para adaptar a quaisquer outros cenários que não sejam o estudantil e se relacionar.

Nessa, acompanhamos a saga de Mitsumi Iwakura, uma estudante do primeiro ano do ensino médio que vai do interior da cidade de Suzu para uma escola de alto nível em Tóquio. Os choques culturais de uma menina rural com o movimento cosmopolita são grandes, inclusive na maneira como ela usa o japonês, mas as coisas se tornam bem mais fáceis pela companhia de Sosuke Shima, pelo qual ela descobre desenvolver um sentimento ainda mais forte que a amizade. É um animê lindíssimo, daqueles que aquecem o coração e nos fazem adotar cada personagem como se fossem parte de nossos ciclos de amigos.

Disponível na Crunchyroll.


2. Diários de uma Apotecária

(Kusuriya No Hitorigoto, Norihiro Naganuma, Toho Animation Studio e OLM)

imagem: cena de diários de uma apotecária.

O animê da apotecária junta dois mundos que parecem não fazer sentido juntos, mas formam uma das obras-primas desse ano: tramas palacianas da idade média asiática com o formato de séries televisivas investigativas, como CSI, Bones, House e NCIS. Inusitado, eu sei, mas cola que é uma beleza.

Tudo parte de MaoMao, uma jovem do distrito da luz vermelha que tem conhecimento com remédios, venenos e coisas relacionadas a saúde. Um dia, ela é sequestrada e vendida como serviçal para o palácio de uma das concubinas do imperador vigente. Por lá, suas habilidades fazem com que ela cresça internamente, sendo frequentemente utilizada para a resolução de problemas que podem colocar a vida dos mais poderosos em risco.

É estranho um drama zero em linha com a ação fantástica geralmente associada a animês ser um dos melhores das últimas temporadas, mas cada segmento é recheado de um vigor que faz com que nos ajeitemos na cadeira toda vez que algo inusitado acontece em tela. Tudo é muito bem escrito, a trama, os diálogos, com um andamento instigante demais.

Todo o universo de personagens e regras que envolvem aquele ambiente é rico demais. Prostitutas, cafetãs, eunucos, médicos farsantes, empregadas que utilizam sua influência para movimentar o cenário a seu favor. Tenho a impressão de que Diários de uma Apotecária será dessas obras que serão redescobertas anos depois e lidas como cult. Mas dá para se jogar nela agora mesmo.

Disponível na Crunchyroll.


1. Frieren e a Jornada para o Além

(Sousou no Furiiren, Keiichirō Saitō, MADHOUSE)

imagem: cena de frieren.

Papo de velho, porém papo reto: rolam algumas linhas de pensamento atualmente, principalmente em redes sociais, que exaltam ao máximo o individualismo. Há quem relate com orgulho o quão isolado consegue ser, quem deboche de pessoas que queiram estabelecer conexões mais fortes em seus relacionamentos, quem vista uma armadura de frieza para celebrar a solidão. O que, na visão deste que vos escreve, é uma besteira sem tamanho, e das que deixam marcas para o resto da vida. Pois o ser humano é social, pois somos o que somos a partir de nossas relações com os outros, e pois estar cercado de gente legal torna nossa vida mais especial.

É nessa linha de pensamento que se apoia Frieren. A história gira em torno da elfa que dá nome à série. Ela viveu mais de 1000 anos e achava, em quase todo esse tempo, que uma abordagem mais individualista e pragmática era a melhor possível. Só que, após passar por uma grande aventura com uma party contendo um herói, um anão e um clérigo, e ver dois deles morrendo de velhice, Frieren entende que o tempo que passou com esses amigos foi o melhor de sua vida. E consequentemente, entende que isso é por ter dividido sua vida com esses três. Foi nesse laço que os momentos ganharam um maior brilho.

O animê então alterna entre flashbacks dela no passado e novos momentos, onde ela refaz a aventura com discípulos do anão e do clérigo. Dessa vez, já em mente que, junto dessa dupla, tudo será melhor. É lindo, é tocante, emociona, empolga, arranca risadas, lágrimas. Com o passar dos arcos, o tom inicial de melancolia é substituído por uma vivacidade otimista que qualquer um que já tenha passado por momentos difíceis na vida sabe que é por, ao lado das pessoas certas, as coisas melhorarem exponencialmente. Pra mim, nada de 2023 conseguiu superar isso.

Disponível na Crunchyroll.


Listas de 2020, 2021, 2022, e listão com os melhores da década de 2010.


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