Quem acompanha Tekken há bastante tempo deve saber a esse ponto que Tekken 7 se tornou facilmente um dos jogos menos queridos da série. Para uma franquia que sempre pareceu querer agradar os fãs ao máximo, Tekken 7 pode ser bastante decepcionante por sua falta de conteúdo, péssima experiência online e pelas controversas novas mecânicas. Com a situação do predecessor, só restava apostar em Tekken 8 e, bem, valeu a pena a espera.
Como fã da franquia desde criança, admito que fui uma daqueles que acabaram se decepcionando com Tekken 7, por isso tinha um certo receio que Tekken 8 seguisse a mesma linha. Felizmente, praticamente assim que abri o jogo já bateu aquele alívio ao dar uma olhada nos menus e notar que, aparentemente, havia bastante coisa para se fazer ali.
Depois de um tratamento péssimo com a história geral e individual de cada personagem em Tekken 7, a continuação trouxe de volta os capítulos individuais para cada um dos lutadores, dando para todos interações especiais e sequências de encerramento, algo que sempre foi bastante querido.
As cenas continuam trazendo o capricho visual já clássico da franquia, além de apresentar interações que tornam os personagens mais do que bonecos a serem controlados cegamente, dando bastante personalidade para cada um. É através dessas cenas, por exemplo, que descobrimos que Victor é um mulherengo ou que há uma estranha fixação de Azucena por café.
História principal
Para melhorar, esse tratamento também foi refletido na história principal, já que Tekken 8 conta com uma das melhores histórias da série. No jogo, acompanhamos um Jin Kazama com a mente perturbada, pensando no quanto seu gene demoníaco está afetando sua maneira de viver e de lutar.
A história de Tekken 8 é basicamente um grande arco de redenção de Jin depois do tempo que passou como vilão, mostrando ele na busca de se reconectar com seu passado, algo interessante por seguir uma lógica parecida com o animê Tekken: Bloodline.
Quem não estiver familiarizado com a história dos jogos anteriores, pode acompanhar uma versão resumida de todos os títulos, do 1 até o 7, através da galeria do game, com vídeos explicando os principais acontecimentos canônicos de cada título.
A galeria também serve para conferir novamente qualquer cutscene de Tekken 8, tanto da história principal quanto das histórias individuais de cada personagem. Lá também é possível comprar, com o dinheiro adquirido no próprio jogo, diversas ilustrações tanto de Tekken 8 quanto dos anteriores, feitas por vários artistas envolvidos ou não diretamente com a franquia.
Como já aconteceu outras vezes, quem assume o papel de vilão principal é Kazuya Mishima, pai de Jin. Agora com Heihachi fora da jogada (de verdade dessa vez), ele expande seus objetivos para conquistar mais controle sobre o poder demoníaco, e coloca todo o mundo em uma situação de conflito no processo.
Como sempre, um torneio é organizado no meio da confusão, no qual Jin participa e, por lá, encontra Reina. Porém as coisas logo fogem ainda mais do controle e envolvem diversas organizações, como a G Corporation, a Yggdrasil e a União das Nações. Com a história criando uma escala tão grande, não há tempo para respirar, mas isso na verdade deixa tudo muito dinâmico.
Em certo ponto, praticamente todos os lutadores presentes no jogo acabam envolvidos com o conflito, só que isso nunca fica cansativo porque tudo é apresentado com foco na ação, sem nunca deixar a peteca cair. Como vi um amigo meu dizer, “Tekken 8 é o Velozes e Furiosos de Tekken“.
Não dá para dizer que é um roteiro cheio de profundidade — apesar de que ver Jin voltando às suas origens emociona —, mas tudo encaixa bem o bastante para conquistar qualquer fã da franquia. E quem gosta de Tekken 6 pode se preparar porque o jogo não hesita em resgatar muitas coisas de lá, tanto na história principal quanto na de personagens.
O que acabou decepcionando um pouco nesse quesito foi fato que, depois do ótimo trailer mostrando uma possível relação da nova personagem Reina com Heihachi, a presença dela na história é muito pequena e nem mesmo chega a ser concluída, deixando um espaço para aberto para uma continuação em um possível Tekken 9 ou atualização futura. Algo parecido acontece no caso de Jun Kazama, que retornou para a franquia principal depois de quase 30 anos, mas apenas aparece indiretamente na história principal.
Elenco e jogabilidade
No entanto, as novas personagens refletem bastante suas personalidades em questão de gameplay. Por mais que o trailer tenha dado a impressão que Reina era uma só uma versão feminina de Heihachi, ela conta com uma variedade diferente do estilo Mishima.
Além dos golpes clássicos usados pelos personagens conectados com a família, consegue usar também o Taido em seu moveset, que inclui um sistema de stance que tornando-a única em relação aos outros Mishima, e ela é bem mais veloz que outros personagens ao utilizar.
Já Jun traz seu clássico estilo Kazama de volta, mas como seus golpes tinham sido incorporados em Jin e, principalmente, em Asuka, ela retorna com algumas mudanças que dão um tom diferente para seu estilo, mesmo em comparação às suas versões em Tekken Tag Tournament — Jun incorpora não seu estilo de TTT, e também de Unknown, alter ego da personagem.
Além de Reina, outros lutadores inéditos do elenco de Tekken 8 são Azucena e Victor. Azucena, a “rainha do café”, rapidamente virou uma queridinha do público já entre os testes da versão beta do game. Ela segue um estilo de jogo parecido com o de Leroy Smith, mais baseado em reverter golpes dos oponentes, mas ela consegue fazer isso de forma muito mais rápida e dinâmica, lembrando um pouco o estilo de Lucky Chloe. Esse dinamismo acontece principalmente pelas opções de Azucena de desviar de golpes com facilidade, uma base forte da maneira de jogar com a personagem.
Já Victor usa sua espada similar de forma parecida com Noctis, usando um sistema de teletransporte para boa parte de seus golpes. A inserção dele no jogo é bem-vinda não só pelo fato de que é bastante improvável Noctis voltar a ser jogável no futuro, mas também porque o protagonista de Final Fantasy XV era uma das melhores opções para iniciantes em Tekken 7.
Contudo, Victor não consiste apenas em semelhanças com Noctis. Ele usa sua espada muito mais inserida dentro de seu sistema de stance, permitindo criar contra-ataques rápidos. Sem falar que, na maior parte do tempo, o gameplay do personagem é mais voltado para o uso de facas (e às vezes também de sua pistola) para aplicar pressão, sendo bem complicado de lidar com ele.
Mas não são só os personagens inéditos que trouxeram novidades para o jogo. Boa parte do elenco conta com novos golpes que mudam bastante a maneira de jogar com eles, algo notável principalmente em Jin, que pode ser considerado praticamente outro lutador em relação às suas versões anteriores.
O protagonista tem agora golpes bem mais agressivos, algo justificado dentro do jogo pelo maior do uso de sua genética demoníaca mesmo quando não transformado em Devil Jin. Pessoalmente, Jin nunca foi um dos meus personagens favoritos de jogar, mas foi incrivelmente prazeroso usá-lo no novo jogo.
Falando no elenco, pode-se dizer que a seleção acabou não sendo muito agradável. Além de muitos nomes emblemáticos terem ficado fora do elenco base (Eddy ser DLC é praticamente um crime contra nós, brasileiros), Tekken 8 é o jogo que menos trouxe novos personagens no lançamento em toda a franquia, com apenas três (quatro se incluirmos Jack-8).
Claro, houve mudanças nos personagens já existentes, contudo a falta de novidades até agora é preocupante. Outra coisa é que decepciona é que, de todos os personagens introduzidos em Tekken 7, apenas Leroy e Shaheen estão de volta.
Apesar de não ser exatamente uma seleção ruim, a falta de Fahkumram ou Lidia soa como descuido, principalmente se considerarmos que eles mal tiveram tempo de se destacar com o público por terem sido DLCs bem tardias. Claro, não há nada que impeça deles voltarem como DLC, porém seria interessante ao menos um deles seguir o exemplo de Leroy e aparecer no elenco base.
Voltando a falar de jogabilidade, Tekken 8 vai muito além de novos golpes quando se trata disso, já que as novas mecânicas são o que verdadeiramente elevaram o patamar do título em relação ao seu antecessor. O Heat System torna o jogo muito, mas muito agressivo. Ao ativar o modo Heat, o jogador instantaneamente já consegue causar chip damage em qualquer golpe executado, então só defender está longe de ser recomendado contra quem está com o modo ativado.
O modo também conta com o Heat Dash, que permite partir pra cima dos oponentes no meio de combos e assim encaixar ainda mais golpes na sequência, assim como no sistema de quebrar paredes e pisos, mas a qualquer momento e em qualquer fase. É possível ativar o Heat de maneiras diferentes, sendo que ativações diferentes concede bônus diferente de duração para o modo.
O modo Heat também permite o jogador usar um Heat Smash, que substitui o Rage Drive de Tekken 7. Ao contrário da versão anterior, o Heat Smash pode ser usado fora do modo Rage, então vira mais uma opção para os jogadores durante as lutas, permitindo que seja possível usar um Rage Art e um Heat Smash em um mesmo round, por exemplo.
Apesar do Heat ter limites do quanto pode ser explorado a cada round, o Heat Smash parece precisar de melhor balanceamento porque, dependendo do nível de jogo, é muito fácil abusar da combinação de mecânicas, só que agora sem o risco maior que Tekken 7 proporcionava.
Tekken 8 ainda conta com o sistema de recuperar vida durante as batalhas, dando um pouco mais de equilíbrio para o jeito mais agressivo do jogo. A vida recuperável é representada através de um trecho branco na barra de vida, que pode ser preenchido atacando os inimigos. Esse sistema também é integrado ao Heat System, que, quando ativado, torna a recuperação ainda mais efetiva.
Em outras questões mais gerais de jogabilidade, também houve mudanças no sistema de combos em prol de facilitar a execução de algumas sequências. Isso acaba sendo bastante bem-vindo em Tekken porque a franquia não só tem uma lista enorme de golpes para cada personagem, como também tem um histórico de ter execução difícil em diversos combos, principalmente os que necessitam timing e espaçamento precisos e foi justamente em cima dessas execuções que foram feitas mais alterações.
Ainda na jogabilidade, seguindo a tendência de outros jogos de luta atuais, Tekken 8 conta com um sistema de assistência voltado principalmente para jogadores novatos. Esse sistema pode ser ativado ou desativado durante as lutas e dão para os jogadores uma certa seleção de golpes que permitem criar combos de forma bem sinples.
No entanto, o modo pode acabar mais se virando contra o jogador do que ajudando, porque, por ser limitado, tira a maior parte das opções do jogador em alguns momentos, que fica preso naquele sistema pré-selecionado. Isso acaba pesando mais em um jogo como Tekken porque os personagens costumam ter uma gama enorme de habilidades, então limitá-las tanto não soa certo.
Claro, poder ativar e desativar o modo durante a luta é bem-vindo, mas ainda assim não flui bem o bastante para torná-lo mais dinâmico. Se for para comparar com algo, me lembrou o modo de assistência de Mario Kart, que permite fazer curvas de forma mais segura, mas limita completamente o jogador.
Modos de Jogo
Treinamento
Em questão de modos de jogo, provavelmente o grande destaque de Tekken 8 fica para as opções de treino. Apesar de sempre ter contado com alguns detalhes incluindo propriedades de golpes, os jogos anteriores da franquia ainda eram meio defasados em algumas questões mais técnicas, mas felizmente Tekken 8 mudou isso completamente.
Agora é possível ver com detalhes como seus golpes afetam cada jogador durante as batalhas, contando com um ótimo sistema de frame data. Além disso, o jogo traz desafios de combo que tornam possível aperfeiçoar algumas técnicas, sem falar de uma opção totalmente focada em aprender como punir oponentes de formas variadas.
O grande destaque das funções de treinamento talvez fique para a possibilidade de não só baixar replays de outros jogadores, mas também de usar replay de suas próprias partidas. Durante seu replay, é possível tomar controle do personagem para tomar decisões mais vantajosas, tudo isso auxiliado pelo próprio jogo, que dá opções de golpes recomendados que poderiam ter sido mais efetivos naquela troca. É uma função essencial para treinar situações reais, e soma bastante para o modo de treinamento normal.
Missão Arcade
Para quem quer aprender a jogar o básico de forma diferente, o modo Missão Arcade é o ideal para isso: os jogadores têm a opção de criar avatares customizáveis (horríveis, diga-se de passagem) para explorar arcades em busca de se tornarem campeões. Esse modo, inclusive, tem uma história própria separada do resto do jogo, mas ela parece estar lá apenas para justificar a existência dele do que qualquer outra coisa.
O interessante da Missão Arcade é o fato de que é o melhor jeito para um iniciante aprender os conceitos básicos de Tekken sem se prender tanto a um treinamento mais técnico. O modo parece ter foco em quem não é muito acostumado com jogos de luta no geral, por isso é voltado a explicar os conceitos básicos ao longo de alguns capítulos, dando a possibilidade do jogador testar o que aprendeu durante a história, inclusive sempre deixando visível durante as batalhas uma seleção de golpes recomendados para ser usado em cada arcade visitado durante o progresso.
Pode não ser muito legal para quem já tem noções básicas de jogos de luta, porém o didatismo é ideal para aqueles buscando aprender, mas com medo do jogo acabar sendo complexo demais.
Na Missão Arcade, também é possível conquistar recompensas de customização para os personagens, outra mecânica já clássica da franquia a esse ponto. As opções de customização de personagens em Tekken 8, inclusive, continuam excelentes.
Não chegam ao nível de Soul Calibur VI, também de desenvolvimento da Bandai Namco, mas não deixam nada a desejar. Há várias opções de roupas e acessórios para os personagens, algo que também se estende para o avatar customizável, que conta com suas próprias opções (apesar de que nada ajuda muito porque, como disse, eles são feios!).
Fantasmas
Dentro da Missão Arcade também é possível ter acesso ao modo Super Batalha com fantasma. Similar como os amiibos funcionam desde Super Smash Bros. 4, aqui é possível que os jogadores treinem pessoalmente uma inteligência artificial que aprende de acordo como você joga e, acredite, o nível de aprendizado é surreal.
Os fantasmas conseguem replicar muito bem os estilos e vícios de qualquer jogador, incluindo até mesmo os que usam o modo de assistência, então é comum de repente tentar enfrentar algum fantasma e ele simplesmente ativar o modo de assistência durante as lutas.
Enfrentar fantasmas de outros jogadores já era uma opção desde títulos anteriores, porém, como agora eles não são apenas baseados no conceito geral de como alguns jogadores jogam, mas sim treinados individualmente, houve uma melhora muito grande em como esse conteúdo funciona.
Modo Online
Falando em funcionalidades online, a Bandai Namco também parece ter escutado as reclamações do público nesse aspecto. O modo online de Tekken 7 foi a pior experiência que tive com jogos de luta. A conexão era péssima, o sistema de busca de partidas muitas vezes sequer funcionava e as funções de lobby também decepcionavam. No novo título, a conexão funciona muito melhor devido ao código de rede rollback customizável, que torna possível jogar contra outros jogadores sem muitos problemas, além da checagem de conexão de outros jogadores funcionar muito bem para filtrar melhor quem você enfrenta.
Semelhante à Granblue Fantasy Versus, o jogo conta com um grande lobby onde vários jogadores podem se reunir para competir em tipos diversos de partidas, permitindo uma melhor interação entre a comunidade. Além do modo de luta clássico, também é possível usar funções de customização no lobby e jogar o clássico Tekken Ball, popular modo de Tekken 3 onde é possível jogar um tipo de vôlei de praia enquanto usa qualquer personagem, sendo possível usar as mecânicas do Heat System, tornando tudo ainda mais divertido.
Arcade, Versus e mais
O jogo também conta com modos clássicos padrão de jogos de luta, incluindo o Arcade e Versus (VS). O Arcade, no entanto, dessa vez mescla personagens normais controlados pela CPU com os fantasmas de outros jogadores, criando maior dinamismo para as lutas. Também é possível acessar a customização de avatar e de personagens no menu principal, assim como as funções de batalhas com fantasma.
Outro ponto legal é que na Jukebox é possível customizar as músicas tocadas durante o jogo, tanto nos menus, quanto durante as lutas. A Jukebox dá acesso às músicas de toda a franquia Tekken, incluindo os Tag Tournament e Tekken Revolution, então variedade não falta.
Resumindo…
Assim como Jin durante o modo história, Tekken 8 é um ótimo exemplo de redenção. Ao escutar as reclamações dos fãs, a maior parte dos problemas do antecessor foram resolvidos no novo jogo, apesar de que alguns balanceamentos ainda se fazem necessários (porém isso é algo que com certeza será feito ao longo das atualizações futuras, então dá para respirar aliviado).
O título agrada tanto jogadores competitivos quanto casuais, contando com o misto perfeito entre conteúdo online e offline e tudo tratado com bastante carinho para que as pessoas continuem jogando. É o jeito ideal de comemorar os quase 30 anos dessa importante franquia.
Tekken 8 já está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC. O JBox recebeu gratuitamente uma cópia para PC pela assessoria de imprensa da Bandai Namco para a produção desta resenha.
O texto presente é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
Tekken 8 é um marco, ele dá uma aula de como se faz um bom jogo de luta com bastante conteúdo para o jogo offline como para o online e nesse ano que a franquia comemorar 30 anos ele é um excelente presente de aniversário para quem gosta da franquia como eu, e eu estou doido para jogá-lo. PS: Tekken 7 não é um jogo decepcionante, ele foi uma correção de rumos, porque o Tekken 6 foi mais ou menos teve aspecto que o sexto capítulo erro que o sétimo teve que corrigir (mesmo que ele tbm tenha erros nessa brincadeira) agora quer falar de um jogo decepcionante da franquia? Ele se chama: Tekken 4 esse sim é uma decepção.