O filme Dias Perfeitos (ou Perfect Days) é um dos indicados na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2024, embora não seja o favorito. Dirigido por Wim Wenders (O Sal da Terra), ele conta com roteiro do diretor e de Takuma Takasaki, com produção dos dois e também de Koji Yanai.

Na trama, que se passa inteiramente em Tóquio, Koji Yakusho vive o protagonista Hirayama — Yakusho estrela a série Três Dias que Mudaram Tudo, disponível na Netflix, e já emprestou sua voz em diversos filmes de Mamoru Hosoda.

Hirayama é, aparentemente, um homem simples. Ele trabalha para uma empresa de limpeza de banheiros públicos, e sua rotina não é muito atribulada. E é basicamente isso, durante o filme todo — é basicamente um slice of life, gênero bastante popular entre fãs de animê.

Cada dia de trabalho de Hirayama parece funcionar como um miniconto. Num dia, seu colega de trabalho pede ajuda a ele porque quer impressionar a namorada. Depois do trabalho, toma uma cerveja. Em um dia de folga, vai em um bar local. Em outro momento, sua sobrinha, fugindo de casa, passa uns dias com ele. Os conflitos são os conflitos cotidianos, não existe uma grande trama.

imagem: cena de hirayama andando de bicicleta com sua sobrinha.

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Ficamos, através desses pedacinhos de vida, sabendo um pouco do personagem. Suas manias, seus gostos — entre eles, ouvir música da década de 1970 em fita cassete no rádio do carro –, suas paixões, seu conflito com a irmã, que claramente pertence a uma classe social mais alta que ele (embora não saibamos se foi porque ela casou com alguém rico ou se Hirayama que abdicou de uma vida de grandes luxos).

Mas, então, qual é o ponto desse filme “sem roteiro”? Dias Perfeitos parece querer mostrar, na verdade, o sofrimento cotidiano. Cada dia é como um miniconto slice-of-life, uma aventura ligeiramente diferente do dia anterior, com uma música temática diferente (porque as músicas que Hirayama ouve dizem muito sobre ele), um desafio diferente. Mesmo a mais simples e romantizada rotina de limpador de banheiros tem dores, mistérios, alegrias, surpresas, perrengues. Os dias podem ser parecidos, mas eles não são iguais.

imagem: hiramayam sentado em banco em um parque.

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Esse é um filme, literalmente, sobre o dia-a-dia de um cidadão ordinário. Talvez, para alguns, seja um filme chato, arrastado, sem clímax, sem conflitos. Contudo, é uma obra extremamente sensível, que nos traz momentos íntimos de um homem que às vezes parece ter parado no tempo, e em outras parece ser comum até demais. Às vezes ele é exatamente como nós, e chora com uma simples música ao raiar do dia.

Se merece o Oscar, não sei. Mas uns minutos da sua atenção, isso eu acho que ele merece. Dias Perfeitos é um filme sobre um “ninguém” que poderia ser qualquer um de nós.


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