Algo comum quando se trata de produções midiáticas, principalmente na mais mainstream, é passar uma boa impressão logo de início. Muitas obras até que realmente conseguem, só que depois chega um porém: manter a empolgação prometida no início.
Quem nunca viu algum animê com um início excelente, mas que rapidamente se perde e no fim das contas só consegue entregar um resultado medíocre, não é mesmo? Contudo, existem algumas produções que entregam esse início empolgante, mas conseguem elevar a qualidade ainda mais com o andar da coisa. Essas, sim, são bem raras, mas esse felizmente é o caso de Granblue Fantasy: Relink.
O jogo foi anunciado ainda em 2016 pela Cygames, apenas dois anos depois do lançamento do Granblue Fantasy original para smartphones e navegadores. A promessa inicial era um lançamento até 2018, mas, depois de vários adiamentos, o título só conseguiu ver a luz do dia mesmo nesse 2024.
Claro, era bem notável que havia dificuldades no desenvolvimento planejado inicialmente, e ficou ainda mais óbvio em 2019, quando a PlatinumGames, que estava responsável pelo desenvolvimento do jogo, saiu do projeto. Assim, as coisas ficaram apenas nas mãos do estúdio Cygames Osaka, que, ao menos se tratando de desenvolvimento de jogos de porte grande, era uma total novata.
Toda essa soma de fatores torna Granblue Fantasy: Relink praticamente um milagre. E em um milagre dos bons!
Um novo capítulo na história do Mundo dos Céus
A história de Granblue Fantasy: Relink gira em torno de uma das viagens da tripulação da Grandcypher, que dessa vez acabou parando um tanto que involuntariamente no espaço celeste de Zegagrande, um grande arquipélago (assim como tantos outros que existem no universo da série).
No entanto, a queda da tripulação no local, apesar de parecer apenas derivada de um caso isolado, na verdade faz parte de um grande esquema envolvendo a Igreja da Ávia — grupo cujo objetivo é usar os poderes de Lyria em um certo plano envolvendo os Deuses Primevos, também conhecidos como Bestas Primordiais. Para isso, eles sequestram Lyria. Na luta contra a ameaça da Igreja da Ávia, o grupo conta com a ajuda de Rolan, um “Faz-Tudo” que surge para ajudá-los de bom grado, mas também parece ter seus motivos para se aliar a Grandcypher.
Um pouco confuso, né? Meio que sim. Lyria? Grandcypher? Bestas Primordiais? Quem começa a jogar Granblue Fantasy: Relink sem ter uma noção mínima do jogo de origem da série pode se sentir completamente largado de paraquedas, mas o jogo não poupa esforços em te localizar dentro daquele contexto.
Se esse for seu caso, o mais recomendado é que, assim que possível, você acesse o Diário de Lyria, uma opção no menu que dá contexto sobre diversos conceitos do universo da franquia, de forma parecida como fizeram em Granblue Fantasy: Versus, porém em um formato ainda mais completo. Conforme novos termos são introduzidos, o Diário de Lyria também vai ficando mais completo, então é difícil se perder caso o jogador tome esse cuidado.
A história também tenta localizar os novos jogadores de outras formas, dando uma introdução básica do objetivo principal do/da protagonista da história e de Lyria, além de como foi o encontro inicial deles. Para quem quer algo mais dinâmico, em vários momentos da história é possível acessar um glossário durante os diálogos, permitindo a compreensão imediata de conceitos que estão sendo debatidos ali na hora.
No geral, a história de Relink é como se fosse um novo capítulo do jogo original. Um grupo de inimigos é introduzido junto de novos conceitos, enquanto utiliza também de questões já conhecidas do mundo da série durante o jogo. Apesar do início poder ser confuso, é muito fácil se livrar do estranhamento, principalmente porque os verdadeiros destaques do jogo são os novos personagens, e isso inclui tanto Rolan quanto os membros da Igreja da Ávia, principalmente se tratando de Id, um poderoso guerreiro que é filho de Lilith, a líder da Igreja.
Com o desenrolar do enredo, descobrimos os segredos de Rolan e suas motivações para ajudar a resgatar Lyria, e o jogo acaba tendo o Faz-Tudo como verdadeiro protagonista. Ao lado dele, descobrimos mais sobre todos os aspectos de Zegagrande, incluindo detalhes sobre as novas Bestas Primordiais introduzidas em Relink e também dos perigos reais que a Igreja da Ávia proporciona para aquele espaço celeste.
Já para entender o lado dos vilões, temos o apoio de Id. Ele é o personagem com mais mudanças ao longo da história, principalmente depois de ser encarregado como guarda-costas de Lyria e participar de vários embates contra a tripulação da Grandcypher. Tudo isso começa a faze-lo questionar mais as ações da Igreja da Ávia e, principalmente, de sua mãe. Com isso, acaba sendo não só o antagonista principal, mas também o segundo personagem de mais destaque no jogo, mesmo se contarmos os personagens originais de Granblue Fantasy.
Se formos avaliar racionalmente, o enredo, no geral, é no máximo competente. É aquela clássica situação de surgir uma organização que oferece perigo para o grupo de heróis, só que nem tudo nos vilões é totalmente maligno e aos poucos temos a oportunidade de julgar se concordamos ou não com as motivações deles — não só no caso de Id e Lilith, mas também de Gallanza e Maglielle, outros membros importante da Igreja da Ávia.
Enquanto isso, os heróis acabam batalhando contra monstros elementais, a coisa mais clichê possível num RPG, enquanto tentam cumprir seu objetivo de tirar Lyria das mãos dos inimigos, avançando para o eventual embate direto com os inimigos.
Só que o grande destaque fica na maneira que essa história é contada. Relink não tem medo algum de abraçar completamente o clima de aventura proposto, então o jogo é empolgante desde literalmente o início, quando temos uma batalha excelente contra Bahamut, até o fim, quando todo o clima criado durante o jogo está no seu ápice e praticamente não há pausas para respirar.
Todo o processo até lá é magnífico porque o jogo faz questão de tornar todos seus elementos empolgantes o bastante para te prender ao roteiro. Todas as batalhas contra chefões são excelentes, com elementos variados que vão além de apenas bater sem estratégia, sem falar que a história não deixa de ser contada em momento algum. Mesmo no meio das cenas mais frenéticas, o que às vezes chega a ser até mesmo um problema, considerando que todo aquele dinamismo pode tornar difícil de acompanhar os diálogos.
Particularmente, adoro toda a conclusão do capítulo 6, quando, depois de uma batalha incrível contra Maglielle, sem pausa alguma, enfrentamos Excavallion, um robô algumas centenas de vezes maior que qualquer personagem jogável, em um enorme deserto onde todo o espaço é aproveitado de forma fascinante durante o embate.
As cenas de ação que não envolvem chefes também são ótimas, com direito a batalhas entre vários navios em meio a nuvens tempestuosas ou uma fuga alucinante de uma mina que está caindo aos pedaços enquanto é atacada por uma enorme criatura.
O roteiro envolvendo os novos personagens não deve nada para o dos já concretizados, sem falar que todos eles são bastante carismáticos, então não só o apoio do Rolan durante a aventura é algo muito agradável, como também as batalhas contra membros da Ávia são extremamente significativas. As adições para a lore do universo geral de Granblue Fantasy também são bem-vindas, considerando que toda Zegagrande tem bastante coisa nova a oferecer, principalmente no que se trata das Bestas Primordiais. Sem falar que segredos de alguns dos novos personagens são conectados diretamente com conceitos importantes para o universo geral da franquia. Relink até mesmo continua seguindo a tradição da série de fazer alusão a outros jogos da Cygames, já que conta com acenos para o já extinto Dragalia Lost em alguns chefes e também nos episódios do destino.
Os episódios do destino, inclusive, são outra forma do jogo entregar ainda mais conteúdo para o jogador. Cada um dos 19 personagens jogáveis conta com uma história própria dividida em diversos capítulos. Elas servem não só para adicionar mais conteúdo ao jogo, mas também para os jogadores se familiarizarem mais com cada personagem, já que os episódios do destino trazem não só a introdução da personalidade e motivações de cada personagem, como também contam com um resumo do passado deles e como foi o processo para que eles entrassem na tripulação da Grandcypher no Granblue Fantasy original, tornando muito mais fácil que o jogador crie uma maior conexão com os personagens.
Só que não espere algo na mesma pegada da história principal nesses episódios do destino, já que a maior parte da história individual dos personagens é contada em um formato parecido com o que seria uma visual novel. A única coisa além dessa história narrada são as duas missões especiais para cada personagem, que, inclusive, são bem interessantes, pois algumas contam com umas das poucas oportunidades de participar de batalhas mano a mano, como é no caso dos desafios enfrentados por Narmaya e Ghandagoza, que podem ser desafiadores caso você tente enfrentá-los sem se preparar devidamente.
É importante relembrar que, apesar de cada personagem jogável ter sua própria história, apenas sete deles de fato participam da trama principal do jogo, sendo eles o Protagonista (Gran ou Djeeta, fica a escolha do jogador, assim como qual nome usado no personagem), Katalina, Rackam, Io, Eugen, Rosetta, além de um personagem secreto.
Os outros até ganham algumas falas durante os capítulos caso você os utilize, mas são mais diálogos padrão qualquer do que adições reais para o roteiro. O máximo que temos além disso é uma pequena interação especial com Zeta e Vaseraga, que acontece depois de liberar um dos últimos chefes, já bem depois do fim do modo história. É esperado que mais adições de história cheguem em atualizações futuras, porém por enquanto não existem detalhes de como elas funcionarão.
Explorando e batalhando em Zegagrande
Falando em batalhas, como já foi possível ter noção a esse ponto do texto, é aí onde está o maior trunfo de Granblue Fantasy: Relink. O jogo traz uma mescla de vários elementos de RPGs de ação de sucesso e consegue entregar um sistema de batalha extremamente caprichado, principalmente se considerarmos que todos os 19 personagens jogáveis contam com mecânicas únicas.
No grupo padrão de quatro personagens que podem ser usados ao mesmo tempo em batalha, os jogadores podem escolher como customizar seu grupo de forma variada e de acordo com suas preferências. Quer um personagem que tem aumento na escala do dano de acordo com o timing dos golpes? Temos. Quer um personagem onde é necessário mesclar habilidades e carregamento de ataques para ser efetivo? Temos aqui também. Quer um personagem que pode ter uma build totalmente voltada para o suporte? Definitivamente não está em falta. Quer um personagem só pra bater sem pensar em nada disso? Claro, siga em frente. E por aí vai.
Realmente não consigo apontar de cabeça um jogo que forneça tantas opções de personagens jogáveis enquanto consegue mantê-los tão diferentes uns dos outros.
Apesar de ser variado, Granblue Fantasy: Relink não conta com um sistema de batalha difícil. A maioria dos personagens conta com apenas dois botões básicos de ataque, porém cada um deles é usado de forma diferente, já que enquanto para alguns é de boa apenas atacar normalmente, para outros é mais recomendado acertar timing ou parar para carregar ataques, pois isso garante vantagens ao jogador. Também é necessário pensar em fatores de alcance, já que enquanto muitos personagens precisam estar sempre próximos do inimigos, existem outros que conseguem atacar efetivamente mesmo do outro lado do mapa — apesar de não ser necessariamente uma opção mais segura, já que a maioria dos chefes consegue atacar de qualquer distância.
Os chefes, inclusive, são tão diversos quanto os personagens, então não se engane ao pensar, por exemplo, que alguma das serpes elementais vai te atacar da mesma maneira que a outra. É necessário sempre estar consciente de que os padrões de ataque serão bem diferentes, além de que a maior parte deles contam com pontos fracos que facilitam o processo da vitória. Alguns inimigos também contam com ataques especiais que, se não forem impedidos a tempo, podem dizimar todo um grupo de uma só vez, então é bom sempre ficar atento aos seus atributos.
Nas mecânicas mais gerais, cada personagem tem duas opções de defesa básica, uma de esquiva e outra de guarda, que usam um sistema em que se esquivar ou defender no momento certo dá vantagens de invulnerabilidade para o jogador. Todos os personagens também podem equipar no máximo quatro habilidades especiais, o que aumenta as opções do jogador. As Artes Celestiais também estão presentes no jogo, que são habilidades especiais que, ao serem usadas em sequência pelo grupo, garante bônus adicionais. É uma das mecânicas principais do jogo, principalmente porque usá-las no tempo correto é o que mais garante o sucesso em algumas batalhas mais difíceis.
Por fim, o jogo também conta com um sistema de conexão, provavelmente a função mais única de Granblue Fantasy: Relink. Ao preencher certos requisitos de dano contra inimigos, é possível usar ataques conectados, que aos poucos preenchem o nível de conexão. Quando ele está cheio, é possível ativar um ataque conectado conjunto que desacelera bastante o tempo para os inimigos e impulsiona os atributos de seus personagens, tornando possível aproveitar alguns segundos com o fluxo de tempo lento para causar uma grande quantia de dano. Esse sistema também está ligado ao uso de Artes Celestiais, que enchem rapidamente o nível de conexão do grupo.
Já a exploração, apesar de funcionar, acaba sendo uma das partes mais fracas de Relink. Além de não contar com apoio de mapas (o jogo utiliza um sistema de bússola para guiar o jogador), os locais são em maior parte bem lineares, com exceção da Ilha de Dahli, o deserto, e alguns espaços mais pontuais. Isso, no entanto, não significa que não há nada para fazer nos mapas. Além de diversos baús, os mapas escondem diversos colecionáveis e itens, o que inclui arquivos com mais informações sobre Zegagrande e a história como um todo, sendo possível acessá-los através do Diário de Lyria no menu. Os locais do jogo também escondem desafios especiais que colocam restrições no estilo de batalha, como missões de derrotar uma certa quantidade de inimigos em um período de tempo pré-determinado.
Porém, se prepare para ou explorar tudo de uma vez ou só fazer isso depois que terminar a história principal, já que não existe a opção de retornar aos locais para explorá-los com mais calma posteriormente. A única maneira de fazer isso é através do sistema de seleção de capítulos que é liberado após terminar o Capítulo Final, ou seja, você precisará reviver momentos específicos por inteiro se quiser completar 100% de baús, arquivos e pinças-miúdas — colecionáveis essenciais para completar uma série de missões paralelas.
As missões paralelas são as populares sidequests que qualquer RPG que se preze tem, porém não espere nada de mais. Essas missões estão aqui apenas para fornecer itens adicionais, já que elas não carregam nenhuma história adicional como acontece em alguns jogos. São centenas dessas missões, só que isso não é motivo de medo, já que felizmente é possível completar a maioria delas apenas batalhando enquanto busca materiais para melhorar seus personagens. A única que pesa mais é a de procurar os tais pinças-miúdas, que são caranguejos minúsculos que ficam espalhados pelos mapas.
Fora da ação, os jogadores podem customizar seus personagens praticamente como quiserem. Além das várias armas, que dão bônus diferentes, também há o acesso a um sistema de selos que fornecem atributos distintos e podem ser utilizados da forma que achar mais prática. O uso deles de forma otimizada também varia de personagem para personagem e na forma com que você deseja usar cada um, então acaba sendo bem amplo.
Selos podem dar bônus de ataque, vida, habilidades, entre outras coisas, só que existe um caprichadíssimo nível de detalhes sobre o que cada um pode melhorar. Alguns selos, por exemplo, são específicos para aumentar o dano de ataques carregados, enquanto outros são voltados para melhorar a velocidade de carregamento desses ataques. Outros selos aumentam o tempo de invulnerabilidade do jogador após executar perfeitamente esquivas ou guarda. E ainda temos alguns voltados a aumentar o ganho de dinheiro ou experiência. Existe até mesmo um selo que melhora seus atributos de acordo com o progresso nas missões paralelas dos pinças-miúdas. A variedade é enorme.
Cada personagem conta também com acesso a uma variedade de habilidades que vão desde ataques normais, ou com propriedades especiais, até buffs e debuffs dos mais variados tipos, tudo podendo ser adequado ao seu estilo de jogo e como deseja atuar durante cada missão. É possível obter mais habilidades através do sistema de Maestria, um tipo de árvore de talentos onde é possível investir não só em pontos de ataque e de vida, como também em passivas de resistência a status negativos, melhorias no sistema de conexão, entre outros.
Dentro do sistema de Maestria, também é possível desbloquear bônus de armas, que aumentam de acordo com cada arma que você aprimora para um personagem, mesmo que você não esteja a utilizando. A Maestria de Armas substitui o sistema de grid do Granblue Fantasy original, que também é voltado a equipar diversas armas que dão vantagens diferentes. Ainda existe a Maestria Superior, que é liberada nos níveis mais altos, algo que permite ganhar, de forma aleatória, ainda mais melhorias nos atributos.
As armas, inclusive, também contam com outro sistema próprio. Além das melhorias comuns de aumento de nível e os bônus da Maestria de Armas, também é possível imbuir nas armas pedras que contam com atributos pré-determinados. Além disso, também existe o sistema de munições de miragem, que são itens que podem ser adicionados livremente em qualquer arma em prol de aumentar os atributos básicos delas, ou seja, ataque e pontos de vida. Tudo isso deixa as opções de customização para o jogo ainda mais vastas e, caso o jogador queira tirar o máximo de seus personagens de preferência, gastará um bom tempo investindo nessas melhorias. Isso sem falar que existem armas especiais para todos os personagens que só podem ser obtidas como drops na última missão da maior dificuldade.
Criando sua própria aventura, sozinho ou com amigos
Mas aí você deve se perguntar: “eu vou realmente precisar de tudo isso só para fazer a história?”. Bem, não exatamente. É possível terminar a história principal sem se preocupar tanto se você está usando a build ou time certo, mas é aí que entra o verdadeiro foco de Granblue Fantasy: Relink. Semelhante ao que vemos na franquia Monster Hunter, o jogo conta com missões dos mais diversos tipos. A maioria delas é voltada principalmente a encarar novamente chefes da história principal, mas algumas também trazem missões onde é necessário enfrentar vários inimigos, proteger objetivos ou até mesmo sair surfando pelas areias do deserto atrás de dinheiro.
Enquanto a história principal pode ser terminada em cerca de 20 e poucas horas, isso contando pausas para fazer outras coisas no jogo, o sistema de missões pode tomar muitas dezenas e até centenas de horas de seu tempo.
Mesmo quando se trata dos chefes, as missões são não compostas em repetir desafios contra eles, pois existem inimigos que são exclusivos desse modo. Alguns, inclusive, só podem ser enfrentados na dificuldade mais alta, que só pode ser liberada depois de muitas batalhas no modo Missão.
As missões podem ser acessadas enquanto o modo história está rolando, mas é realmente só depois que o jogo termina que as coisas realmente começam a esquentar. De acordo com o progresso do jogador, é possível liberar cada vez mais níveis de dificuldade que eventualmente exigem que o jogador use todo seu talento ao criar builds e times que consigam lidar de forma efetiva contra inimigos cada vez mais poderosos. E, apesar de poder parecer chato ficar preso apenas em fazer missões, é um modo que pode ser extremamente viciante, principalmente pelo fato de que nele é possível jogar com outros jogadores.
É possível, sim, passar por todas as missões sozinho, mas já saiba antecipadamente que isso vai exigir uma grande quantidade de investimento em treinar ao menos um grupo inteiro de personagens para que eles aguentem as batalhas que ficam cada vez mais dolorosas. O modo online torna isso muito mais fácil, já que isso abre a possibilidade de investir seu tempo em deixar apenas um de seus personagens forte o bastante, caso seja isso que queira, e pelo fato de que muitas vezes é mais seguro contar com a ajuda de pessoas de verdade do que personagens controlados por computador (apesar de que não tenho críticas quanto a isso, a IA do jogo funciona muito bem).
O modo online é composto de várias opções. Você pode tentar fazer o pareamento aleatório em qualquer uma das 100 missões disponibilizadas até o momento, mas também é possível criar e participar de salas criadas por outros jogadores, sendo que elas podem ser abertas para qualquer um ou fechadas, sendo algo mais voltado para um grupo de amigos. Além disso, também há um modo de missão rápida onde se participa de uma empreitada totalmente aleatória, ganhando como recompensas emblemas que podem ser trocados por itens raros.
As missões contam com um sistema de ranking que vai de C até S++. Dependendo de sua performance, é possível obter tesouros em maior quantidade e qualidade no final de cada fase. Além disso, o ranking também pode ser melhorado ao cumprir objetivos paralelos, que podem ser missões de tempo ou que exigem que o grupo não morra muitas vezes durante as lutas. Até mesmo existem missões que visam derrotar certa quantidade de inimigos com o arremesso de objetos (que são bem chatinhas, por sinal).
O modo online, no entanto, também carrega o maior problema do jogo. Apesar de ser ótimo em questão de conexão, muitas vezes fica praticamente impossível encontrar jogadores. Isso acontece não só pelo fato de que no pareamento aleatório são obrigatórios quatro jogadores humanos para cada missão, mas principalmente porque nele é possível apenas jogar com pessoas que estão na mesma região que você — mesmo que seja completamente possível jogar com quem esteja em outras regiões do mundo sem muitos problemas de conexão.
Isso só piora quando colocamos na mesa a quantidade de missões que Relink tem, considerando que cada uma tem um pareamento individual. Por enquanto, nessa época próxima ao lançamento, é até mais fácil lidar com essa questão, porém, se já existem esses problemas agora, imagina depois que o público do jogo inevitavelmente começar a diminuir.
Na versão de consoles, inclusive, é possível mudar a região de pareamento dentro do próprio sistema, algo que não acontece na versão de PC, tornando necessário que se altere a região de download do Steam se quiser tentar a sorte de encontrar jogadores online para missões em outras regiões. Essa questão do pareamento também é piorada pelo fato de que não existe cross-play entre usuários de PC e de PlayStation 5/PlayStation 4, algo que poderia amenizar a situação da dificuldade de encontrar partidas.
Felizmente, em salas criadas é possível jogar com pessoas de qualquer região do mundo, mas sabemos que não é muito conveniente sempre precisar de um amigo online para fazer missões ou então ter que apelar para páginas no Reddit ou servidores do Discord. A função de mudar região no Steam, pelo menos, acabou sendo bastante efetiva para mim, porém não ter essa opção visível dentro do próprio jogo para qualquer um poder utilizar acaba sendo um empecilho bem chato.
Outro grande ponto importante para as aventuras de Granblue Fantasy: Relink é o grande sistema de trocas, já que o dinheiro do jogo é voltado principalmente para o aprimoramento de armas e selos. Para conseguir materiais, selos e outros itens adicionais fora das missões, é preciso recorrer à Cabana de Adereços da Sierokarte, um local onde é possível trocar moedas e itens por tesouros especiais usados para fortificar e forjar armas, além também de serem usados para melhorar a qualidade de selos. Os materiais também podem ser obtidos nas missões, porém quando estiver só com uma coisinha faltando e não quiser fazer toda uma missão só para pegar um item — às vezes tendo a chance de nem consegui-lo de forma garantida —, vale muito a pena recorrer a esse sistema.
Na cabana, também é possível transmutar selos, que é basicamente um sistema de gacha onde se tenta conseguir selos adicionais para as aventuras, podendo ter a chance de conseguir itens bastante raros. É possível conseguir mais vale-adereços, os tickets usados para tentar esse gacha, trocando por outros itens com Sierokarte e participando de missões. Na cabana também é possível usar os emblemas conquistados nas missões rápidas e também é nela onde os jogadores podem usar seus cartões de tripulação para obter mais personagens jogáveis (apenas seis deles estão disponíveis desde o início). Claro, ao contrário do Granblue Fantasy original, todos os personagens podem ser obtidos sem usar qualquer sistema de gacha.
Outra função também que ajuda a conseguir itens são as avaliações de curiosidades que podem ser feitas com Zathba. Lá, são abertas as caixas conquistadas em missões ou na exploração de mapas que contam com a chance de disponibilizar vários itens raros, incluindo selos, materiais de aprimoramento e até mesmo arquivos que dão mais detalhes sobre o passado de Lilith e da Igreja da Ávia.
Adendos
Uma coisa que também vale a pena ressaltar em Granblue Fantasy: Relink é a qualidade da trilha sonora. O jogo conta não só com músicas novas, mas também com versões remixadas de temas antigos que exaltam bastante o clima intenso das batalhas. Tsutomu Narita é um grande compositor que aprecio há bastante tempo e ele realmente não decepcionou.
Aqui vai uma palinha:
Outro ponto adicional que preciso tirar o chapéu é para o trabalho com o texto em português. Os tradutores souberam repassar muito bem a maneira de falar de grande parte dos personagens e fica ainda mais impressionante quando se pensa na quantidade de texto que o jogo tem.
Tudo é muito bem adaptado, desde as falas até os arquivos com detalhes nos menus. Ainda é possível notar muito raramente alguns errinhos de digitação, mas se compararmos principalmente com Granblue Fantasy Versus: Rising, onde esses problemas eram bem mais notáveis, é um trabalhoso realmente primoroso.
Concluindo…
Granblue Fantasy: Relink é, sem sombra de dúvida, um RPG magistral, que definitivamente já tem porte para ser um dos melhores jogos de 2024 e se tornar referência entre os RPGs de ação das gerações atuais. Com uma história competente, personagens carismáticos e um gameplay avassalador, o jogo fornece uma experiência impressionante tanto em seus modos offline quanto no multijogador, apesar de ainda ficar devendo nas funções online, algo que podemos torcer que seja melhorado através de atualizações futuras (que, inclusive, trarão outras novidades sem custo adicional, incluindo novas missões e personagens).
É um título que com certeza agrada aos fãs de longa data de Granblue Fantasy e também tem tudo para agraciar qualquer novato na série, prometendo dezenas de horas de conteúdo e até centenas para os mais ávidos. Com certeza uma aventura no sentido mais completo da palavra.
Granblue Fantasy: Relink já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC. O JBox recebeu gratuitamente uma cópia para PC pela assessoria de imprensa da Nuuvem, distribuidora do jogo na América Latina, para a produção desta resenha.
O texto presente é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
Comecei a jogar ontem e me agradou bastante o sistema de batalha, lembra muito Tale of Arise, só peca por você não poder trocar de armaduras. Quando muito consegue mudar as cores das roupas.