poucos dias, a Nintendo lançou o terceiro jogo exclusivamente protagonizado pela Princesa Peach, intitulado Princess Peach: Showtime! — os outros dois jogos têm mais de 10 anos, Princess Toadstool’s Castle Run (1990, Nelsonic Game Watch) e Super Princess Peach (2005, Nintendo DS), o que nos leva a pensar o motivo da demora na empresa em perceber que pode explorar mais essa personagem.

O jogo tem uma temática interessante: a princesa vai ao Teatro Esplendor, mas quando chega, a vilã, a “Manda-Uva” Rubi, rouba a cena. Peach, ao lado da nova amiga Estela, precisa cumprir os atos de cada uma das peças e resgatar os atores principais, os Esplendistas, para que tudo volte ao normal.

imagem: o teatro esplendor.

Divulgação: Nintendo.

Nesse caminho, Peach brinca de espadachim, caubói, doceira, ninja, super-heroína, bailarina, Yasmin Brunet sereia e mais, em um número de profissões que devem ter deixado os executivos da Mattel revoltados de nunca terem produzido um game assim para a Barbie.

Com essa temática de teatro em cenários variados, Princess Peach: Showtime! às vezes parece uma tentativa de aproveitar o conceito de Mario Party 2 (que é também um jogo supostamente ambientado numa apresentação teatral), dentro de um jogo single player com narrativa simples e estruturada, aproveitando elementos típicos de Marioa forma como as fases se distribuem lembra um pouco Mario 64, mas a temática teatral também remete a Super Mario 3.

Os diversos papéis que Peach ocupa na trama já deixam óbvio que o jogo homenageia diferentes gêneros de filmes/séries/afins, indo desde os contos de fadas, passando por ficção científica, faroeste, e outros. O que chama a atenção, no entanto, é o aparente aceno para diversas produções (para além da homenagem aos gêneros) ambientadas fora da franquia Mario.

imagem: início da cena de transformação da peach.

Divulgação: Nintendo.

Talvez, eu não seja a melhor pessoa para apontar cada uma das referências (se é que elas são reais), mas vou colocar o que me ocorreu enquanto jogava — pode ser um exagero da minha parte, mas enfim. Para começar, a Peach tem uma sequência fixa de transformação (henshin, no linguajar otaku) e todo o conceito remete ao gênero das garotas mágicas.

imagem: peach espadachim no jogo.

Divulgação: Nintendo.

A roupa de espadachim parece remeter ao mangá A Princesa e o Cavaleiro, embora a própria Peach vestindo ela lembre um pouco a Oscar de A Rosa de Versalhes. Inclusive, as fases de espadachim são uma das minhas favoritas pela sacada de colocar a princesa, que frequentemente entra em apuros, como a protagonista em uma trama na qual ela deve salvar a realeza em um castelo.

A roupa furtiva, pela máscara e o jogo de cores, lembra uma mistura de Tuxedo Mask, Spirit (dos quadrinhos e daquele filme de 2008) e do Joker de Persona 5.

imagem: a peach furtiva fugindo numa asa delta.

Divulgação: Nintendo.

Já a de super-heroína é claramente inspirada numa personagem da casa, a Samus (talvez com retoques de Mega Man?), embora as fases façam também referências a tokusatsu, e parece que certos designs têm inspiração em EarthBound e na produção do Akira Toriyama.

imagem: peach super-heroína em ação.

Divulgação: Nintendo.

A Peach Confeiteira já me parece um aceno aos cartoons americanos antigos, algo ressaltado pelo modo como a personagem se movimenta — especialmente, por como ela se movimenta quando está supostamente parada –, mas não consigo identificar exatamente o quê ela me lembra.

Há outra lembrança a desenhos antigos em um dos chefões do game — um que é claramente inspirado no gato Cheshire, de Alice no País das Maravilhas, e tem uma fase com uma pegada meio Tom & Jerry.

imagem: o chefão que parece o gato cheshire.

Divulgação: Nintendo.

A Peach Detetive obviamente é uma referência ao Sherlock Holmes, mas há ali leves referências a Ace Attorney (ressaltadas pela roupa do assistente me lembrar um tanto a Gina Lestrade) e talvez a Professor Layton e Detetive Pikachu. Durante as lutas super rápidas das fases de Kung Fu é impossível não lembrar de Dragon Ball Z. Isso tudo fora as ambientações que lembram filmes da Disney.

Se esse jogo realmente se propõe a referenciar sutilmente diversas outras produções, como foi a sensação ao jogá-lo, certamente há muito mais que não pude perceber. Mas esse seria apenas um plus, pois Princess Peach: Showtime é um jogo com começo, meio e fim que se sustenta por si.

Como cada fase tem uma “peça” diferente para a protagonista atuar, nada fica repetitivo. Cada cenário traz desafios diferentes, então não existe a sensação de estar jogando a mesma coisa, mas com uma roupa diferente. As fases não são muito longas, então mesmo as que o jogador tiver mais dificuldade ou gostar menos dificilmente vão fazê-lo desistir (e, mesmo assim, ainda dá para pagar 10 moedas para fechar fases, caso esteja muito difícil).

As cutscenes são lindas, e a tradução (de texto) para o português está impecável. É um jogo simples, porém incrivelmente elegante, bonito e divertido, que abusa do próprio conceito teatral na hora de construir e entregar uma narrativa despretensiosa.

Ele parece querer trazer não só uma aventura, mas algo que combine com a personalidade da personagem, da mesma forma que Luigi’s Mansion faz com o irmão do Mario. Assim, apesar de não terem narrativas ou desenvolvimentos profundos ao longo dos games, a Nintendo trabalha os personagens do universo Mario a partir da “atmosfera” que cria para seus títulos solo.

Estamos ainda em março, mas já dá para dizer que Princess Peach: Showtime mereceria concorrer a jogo do ano pela simplicidade genial, embora todo mundo saiba que a probabilidade disso ocorrer é baixa.


Princess Peach: Showtime! já está disponível para Nintendo Switch. O JBox recebeu gratuitamente uma cópia do jogo para a produção desta resenha.


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