Com a turnê do seu disco de maiores sucessos, o The WORLD is Mine, o Burnout Syndromes voltou ao Brasil em janeiro de 2024. Os shows passaram por São Paulo, Recife, Fortaleza e Brasília, onde os rapazes se apresentaram no Anime Summit Teaser – e foi por lá que nos encontramos para essa entrevista exclusiva.
O Burnout Syndromes foi formado em 2005, trazendo Kazuumi Kumagai (guitarra e voz), Taiyu Ishikawa (baixo) e Takuya Hirose (bateria). Eles se juntaram ainda na época de escola e não pararam mais, gravando dois álbuns de forma independente em 2014 e 2015, respectivamente.
Em 2016 eles assinam com uma grande gravadora e lançam o single de estreia “FLY HIGH!!”, que foi tema de abertura do animê Haikyu!!, e que também faz parte do disco Lemon, lançado ainda naquele ano. Com a Sony, já gravaram 4 álbuns de estúdio (o último foi TOKYO, de 2021) e entregaram temas para Gintama, Dr. STONE, Those Snow White Notes (Mashiro no Oto) e The Misfit of Demon King Academy.
Confira a seguir a entrevista em vídeo e também em texto.
Quando o Burnout Sydnromes foi formado, vocês chegaram a projetar um dia se apresentar em tantos lugares fora do Japão ou isso aconteceu de forma natural?
Kumagai: Quando começamos a banda, nós tínhamos 13 anos de idade e era apenas um projeto de criança. Era só para tocarmos em um festival da nossa escola, conhecer pessoas… Então não pensávamos nessa ideia gigante de tocar pelo Brasil, nós éramos apenas crianças.
Ano passado vocês fizeram o primeiro show no Brasil, voltando em um intervalo de apenas 6 meses, agora passando por mais lugares do país. Qual foi o impacto da primeira apresentação e como vocês estão vendo esses novos shows?
Kumagai: A primeira impressão que tive ao tocarmos no Brasil foi em relação ao público daqui. O “poder” da plateia brasileira. Algo entre a energia e o calor do público. Em comparação, o público do Japão é um pouco mais quieto, mais tranquilo. Eles curtem, só que ficam mais quietos, não mexem tanto. Mas agora, aqui no Brasil, é como se a plateia fizesse parte do show, o público se mexe, é caloroso, tem um carisma diferente.
Uma primeira impressão que ficou, é que o público brasileiro é bom em animar. Fiquei surpreso em termos sido chamados em menos de um ano.
Ishikawa: Quando viemos, eu não sabia que tinha tantos eventos no ano em relação à cultura japonesa.
Hirose: Foi bem interessante saber que existem tantas pessoas que gostam da cultura do nosso país. Quando fomos ao Anime Friends, pensei que “ah, tivemos um bom impacto, então pode ser que nos chamem de novo”, mas não esperava que fosse tão cedo esse convite!
Podemos esperar alguma influência de Brasil ou da música brasileira em algum projeto futuro?
Kumagai: Dessa vez nós estivemos aqui por mais tempo, estamos já na segunda semana no Brasil. Então conversamos bastante com as equipes dos eventos no Brasil, assim eles foram recomendando artistas e músicas do país. Percebemos que há um estilo diferente, principalmente na batida, e outros tipos de instrumento. Foi um bom aprendizado.
Eu vi que tem várias bandas e artistas talentosos aqui no Brasil, seria incrível um dia poder fazer alguma parceria com um artista brasileiro
Recentemente, a banda colaborou com a ASCA para o single “Kunoichi”. Como ocorreu essa parceria e como foi encontrar o equilíbrio entre um vocal feminino e o masculino?
Kumagai: No Japão é bastante popular essa questão das músicas de animê e o tempo delas é sempre meio que definido. Geralmente um minuto e meio para o tempo das aberturas na TV. Então se você pensa em música para conseguir um melhor engajamento, geralmente tende a ser o rock.
O rock tem uma levada um pouco melhor. Se for um pop, geralmente pode demorar um pouquinho mais. Para um minuto e meio é complicado ser algum outro tipo de música. A ASCA já tem bastante experiência com o estilo do rock.
Como nós nos encontramos com ela durante o Anime Friends, conversamos para fazer alguma coisa juntos. E dessa vez foi um pouco diferente do que é com uma música de animê. A ASCA tem o estilo mais rock, mas dessa vez foi algo mais pop, então era outra forma de por a voz, de cantar.
Primeiro ela gravou a parte dela e depois viemos para fazer a complementação da parte melódica. A forma de cantar foi bem diferente, não era o nosso habitual. Foi uma composição que considerou a voz não como algo principal, mas como sendo um instrumento a mais para compor o todo.
Ainda no tema de parcerias, caso vocês pudessem escolher quaisquer artistas, de dentro e fora do Japão, para uma colaboração, quais seriam? Por que?
Hirose: Para mim tem uma artista, que canta o tema de Sword Art Online. É uma artista japonesa chamada ReoNa. Por enquanto, esse é um dos objetivos que eu gostaria de concretizar um dia. Eu gosto bastante dela.
Ishikawa: Eu gostaria de gravar com um rapper brasileiro chamado Matuê. Me recomendaram ele, e eu gostei bastante.
Kumagai: Conheci muitos artistas brasileiros que achei que eram legais… Sabe a Melody? Eu gosto da Melody.
[Nesse momento, intervirmos em talvez não recomendar a Melody… E relembramos sobre o Asian Kung-Fu Generation, inspiração declarada da banda.]
Kumagai: Todos nós amamos o Asian Kung-Fu Generation. Já os vimos várias vezes, também já fomos a apresentações deles, várias vezes. Eu nunca havia pensado nisso… Não, acho que tô de boa (risos). É que somos de gerações um tanto diferentes.
[Perguntamos também do TK, outro músico que eles curtem.]
Kumagai: Eu adoro o TK! Só que ele canta e também escreve. Eu também sou uma pessoa que canta e escreve, então quem de nós ficaria de fora em cada função? Seria difícil decidir quem cantaria.
Um dos maiores sucessos da banda é “FLY HIGH!!”, que foi um dos temas de Haikyu!! A música fala sobre a superação de desafios, na imagem de um pássaro que remete à inexperiência da juventude. Quanto dessa mensagem é da história do animê e quanto vem da jornada da própria banda?
Kumagai: Sim, eu acredito que é tudo uma questão de equilíbrio entre o animê e a banda. Bem, de certa forma eu sempre tento fazer assim “meio a meio”. No caso de “FLY HIGH!!”, foi como a nossa grande estreia por uma grande gravadora no Japão.
É como romper uma barreira. Metaforicamente, no caso. É uma metáfora de nossa história. Existe um pouco disso em “FLY HIGH!!”, e também um pouco da história de Haikyu!! É uma alegoria, algo como nas Fábulas de Esopo. É como uma história que se desenvolve comparando humanos com animais. Os personagens principais são como as Fábulas de Esopo.
Eu me inspirei nisso e escrevi a música com um personagem principal que é como um pássaro, de um jeito meio mítico. Acho que a música transmite a ideia de “superação” de Haikyu!! E também de ser a estreia da banda.
A Fábula de Esopo como sendo a superação de Haikyu!! e também da banda.
Já para a trilha de Mashiro no Oto, vocês puderam trabalhar com o shamisen e outras influências de música japonesa. Como foi mesclar elementos tradicionais com o rock?
Kumagai: Particularmente, não sei o que dizer, mas sinto que é bastante difícil usar apenas um som de rock tradicional com guitarra, baixo e bateria para criar toda essa “atmosfera” da série. Afinal, as músicas de animê precisam expressar o universo desse animê.
Como sabemos, bateria, baixo, guitarra… são instrumentos amplamente utilizados. Por isso, acho que é difícil expressar uma “individualidade” com eles. Pensei que algo novo, como um
instrumento diferente, com sons mais lúdicos, seria necessário para as músicas do animê.
Como Mashiro no Oto era sobre o shamisen, pensei diretamente em usar esse instrumento. Para chegar nesse som, pensei em incorporar diversos recursos elétricos, porque achar um shamisen acústico foi bastante difícil, na verdade. No final, conseguimos fundir tudo de forma muito harmoniosa e conquistar pessoas do mundo todo.
Fico realmente feliz por termos feito isso, especialmente quando elogiam o som do shamisen. Foi um bom trabalho.
Algum animê que vocês assistiram na juventude influenciou vocês quando chegou a vez da banda criar canções para séries de sucesso?
Kumagai: No nosso tempo, costumávamos dizer que assistir Naruto nos acalmava, não é mesmo?
Hirose: One Piece…
Kumagai: One Piece… É realmente o tipo de animê que costumávamos assistir, não é? Naruto e Fullmetal Alchemist, que são muito populares também no Brasil. E One Piece também, né? No fim das contas, era tudo sobre Asian Kung-Fu Generation para mim (risos). Para ser sincero, Asian Kung-Fu Generation é o meu favorito absoluto, e…
As músicas deles são muito acessíveis, não é mesmo? Aquela parte do refrão, onde tudo fica mais animado… Por exemplo, se falamos de Fullmetal Alchemist, nunca podemos deixar de mencionar… “KESHITE!” [verso da música “Rewrite”, do Asian Kung-Fu Generation, tema da 4ª abertura de Fullmetal Alchemist]
É como se gritassem em palavras curtas, é uma técnica de construção. Para a banda, uma só palavra na música pode ser a própria essência do animê. É uma forma de expressar algo que representa o animê. Então é como se nos esforçássemos para chegar nisso também, sabe?
Se falarmos de Naruto, o FLOW também segue essa abordagem. Com apenas 90 segundos para representar um animê, resumem tudo em uma expressão: “WE ARE FIGHTING DREAMERS” [verso da música “GO!!”, do FLOW, tema da 4ª abertura de Naruto]
É como se criassem algo que evoca imediatamente a Naruto quando você escuta. De fato, sentimos como se também levássemos essa herança com a gente.
Se cada um tivesse que escolher um disco da banda para apresentar a um novo ouvinte, qual escolheria?
Ishikawa: The WORLD is Mine, né?
Kumagai: Sim, lançamos um álbum de maiores sucessos, no ano passado. Ele se chama The WORLD is Mine e é uma grande coleção de músicas de animê que fizemos até agora, e também é para trazer o sentimento de alegria a todos.
É como um Burnout Syndromes voltado para todos no exterior, reunindo nossas músicas para aqueles que ainda não nos conhecem. Montamos esse álbum, então, se puderem ouvi-lo, realmente… acho que você vai poder se divertir e aproveitar bem o nosso show.
O que podemos esperar para os 20 anos da banda?
Kumagai: Você sabe?
Ishikawa: Eu sei…
Kumagai: Sério? Obrigado (risos).
Realmente, nós temos uma longa história, fazemos isso desde os 13 anos. São 18 anos, mas quando você chega a esse ponto, não fica pensando muito sobre quantos anos já foram. Quando alguém comenta dos 20 anos, penso ‘ah, é mesmo, né?’, mais ou menos assim. É mais como se estivéssemos dando o nosso melhor a cada dia, sabe?
Então, talvez, quando chegarmos aos 20 anos de verdade… provavelmente as pessoas ao nosso redor vão dizer: ‘façam isso’! Acho que eles vão vir e dizer, e então vamos fazer alguma coisa. Provavelmente vamos considerar nessa hora, então aguarde e obrigado pelo apoio!
Na verdade, ele disse que queria visitar 212 países [aponta para Ishikawa]! Ele quer visitar 100, 200 países, e com isso…
Ishikawa: Uma volta ao mundo!
Reportagem: Rafael Jiback, Igor Lunei e Teke | Legendas e edição: Rafael Jiback | Tradução: Shohei Sato | Adaptação e revisão: Rafael Jiback e Gasseruto | Assistência: Michel Toronaga, Bruna Tavares e Anime Summit | Captação: Igor Evangelista | Imagens do show: Rafael Jiback
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