Ano passado, com a chegada da temporada de animês de outono, aquele que indiscutivelmente chamou mais a atenção do público otaku foi Frieren e a Jornada para o Além. A história da elfa milenar emocionou a muitos e se tornou um sucesso estrondoso, mesmo que tenha um tom diferente das séries mais voltadas para a ação que costumam conquistar mais.
No entanto, não sei dizer se por influência direta da elfa e sua história mais contemplativa, outro animê com uma forte protagonista feminina também alcançou o coração do público durante a mesma temporada. Claro, estamos falando de Diários de Uma Apotecária.
Conhecido originalmente como Kusuriya no Hitorigoto, o animê é uma adaptação da série de livros escrita por Natsu Hyuuga desde 2011 que, hoje em dia, já é uma presença constante nos rankings de lights novels mais vendidas do Japão. Considerando o sucesso, já era esperada essa aceitação por lá, mas não é sempre que títulos que são fenômenos do outro lado do mundo se dão bem por esses lados também, o que felizmente não foi o caso de Diários de uma Apotecária.
A história nos apresenta Maomao, uma garota que vivia tranquilamente com seu pai em uma região próxima ao distrito do prazer. No entanto, certo dia ela acaba sendo sequestrada e levada para trabalhar na área interna do Palácio Imperial, local onde residem as concubinas e as servas do imperador. Sem muito o que fazer para sair dessa situação, Maomao tenta apenas aceitar sua nova realidade e seguir sua vida normalmente, só que sua impulsividade fala mais alto e a faz se envolver em um caso relacionado aos herdeiros imperiais que estão morrendo ainda enquanto bebês.
Apesar de Maomao tentar ajudar com o caso da forma mais indireta possível, ela ainda assim acaba chamando a atenção de Jinshi, um importante funcionário do palácio. Com a resolução da situação dos herdeiros e a criação dessa nova relação em sua vida, Maomao eventualmente fica encarregada por muitos casos misteriosos que acontecem dentro do palácio imperial, e sua tentativa de vida tranquila não ocorre como ela esperava.
Os casos apresentados em Diários de uma Apotecária soam, majoritariamente, como episódios distintos nos quais Maomao precisa lidar a mando, na maior parte do tempo, de Jinshi, que decide oferecer recompensas para conquistar a vontade da garota. Só que essas compensações normalmente estão longe de ser coisas normais, pois são voltadas principalmente a satisfazer a curiosidade médica da personagem. Isso faz com que ver a protagonista se contorcendo de empolgação quando venenos e plantas medicinais estão envolvidos seja algo comum durante o animê.
Essa estranha paixão por venenos, inclusive, é justamente o que impulsiona o maior passo para a saída de Maomao da vida pacata do palácio. Dada a oportunidade, ela orgulhosamente se torna uma testadora de venenos a cargo de Gyokuyou, uma das concubinas do imperador, que já tinha sido ajudada por Maomao anteriormente quando seu filho estava correndo risco de vida. E, bom, é a partir da estranha profissão de comer coisas possivelmente envenenadas que a carreira da protagonista começa a decolar.
Para resolver os casos que caem em seu colo, Maomao usa principalmente os conhecimentos médicos que aprendeu com seu pai adotivo. Além de lidar com doenças, algumas vezes ela também acaba investigando mortes que acontecem no Palácio Imperial, indicando haver algum tipo de conspiração em andamento — um dos pontos essenciais do roteiro.
No entanto, rapidamente notamos que as habilidades dela não param na esfera médica. Ainda na primeira metade do animê, acompanhamos a protagonista, para citar alguns exemplos, desvendar o segredo por traz de uma explosão, além de resolver o misterioso enigma formado por itens de uma herança. Em certo momento, ela até mesmo fica responsável por dar uma aula para as concubinas do imperador de como, digamos, proporcionar mais prazer na cama.
Nesse primeiro momento, fica claro que esses casos são voltados a mostrar o vasto conhecimento de Maomao não só para o público, mas também para os outros personagens da série. Além de Jinshi, a apotecária rapidamente conquista o carinho de duas das principais concubinas do imperador, além de também atrair a curiosidade de membros exército. Com isso, ela cria contatos (e fica com a agenda cada vez mais cheia), e chama cada vez mais atenção no palácio como um todo.
Uma das pessoas atraídas pelas façanhas de Maomao é Lakan, figura importante para a segunda metade dessa primeira temporada do animê. Apesar de, no geral, não o vermos interferir diretamente, descobrimos que a relação entre ele e Maomao tem mais camadas do que inicialmente aparenta.
Apesar da primeira metade da série ter, sim, sua carga dramática, é a partir dessa situação que as coisas se intensificam, principalmente porque durante essa fase do animê também vemos que os casos resolvidos por Maomao não eram simples demonstrações de sabedoria deslocadas. Eventualmente observamos conexões entre as coisas que Maomao e Jinshi precisaram lidar dentro do palácio, acentuando de vez a maestria narrativa de Diários de uma Apotecária, que já vinha sendo muito bem apresentada durante a criação do mistério que se ligaria a essas conexões futuramente.
Durante a história, outra coisa trabalhada é como a relação de Maomao e Jinshi se desenvolve. Notamos que rapidamente o interesse pela utilidade da garota cresce na mente de Jinshi e se torna um sentimento a mais. Esse sentimento, no entanto, não parece ser correspondido, já que Maomao, em vários momentos, despreza completamente as investidas dele. A situação fica mais engraçada pelo rapaz ser, disparadamente, o homem mais desejado do palácio, mas não consegue conquistar a atenção justamente de quem ele se apaixonou.
Devido a essa situação, o desenvolvimento romântico no animê é usado na maior parte do tempo apenas como alívio cômico, outro dos pontos fortes do animê. É impossível não esboçar um sorriso com Jinshi pouco a pouco aproveitando cada vez mais as reações de desprezo de Maomao por ele, que ficam ainda mais exageradas com o tempo.
Essas reações exageradas também estão na relação dela com os venenos, dando um clima extremamente divertido para a história, intensificado pela atuação de Aoi Yuuki como a personagem, sendo, particularmente, um dos trabalhos que mais gostei da seiyuu até hoje. A comédia também se beneficia de várias apresentações visuais que são possíveis apenas dentro da animação, dando os devidos méritos para a série em relação aos livros originais e às adaptações em mangás que já existiam.
Mas não é apenas nas partes de comédia que a animação se destaca, já que toda produção da série é bastante sólida do início ao fim. Apesar de não ser um show de sakuga, tudo é muito bem feito e os momentos cruciais contam com um brilho merecedor a mais para aumentar o impacto das cenas.
Isso é visível principalmente durante o episódio 4 do animê, que conta com uma animação completamente diferente do resto da série, focando principalmente na atuação e expressões dos personagens, tanto faciais quanto corporais. proporcionando um grande espetáculo visual. Foi com certeza um dos episódios de animê com uma das produções mais interessantes no ano passado.
Não importa se é no drama ou na comédia, acompanhar Diários de uma Apotecária foi deslumbrante. Mesmo com tantas tramas políticas acontecendo de fundo, incluindo guerras, o que acompanhamos é sempre Maomao e os eventos ao seu redor, só que tudo é tão bem elaborado que em momento algum precisamos de algo como uma batalha majestosa, por exemplo, para nos entretermos.
Inclusive, mesmo a grande conspiração que traz a cena de clímax do animê acontece às escuras, como se nós espectadores realmente estivéssemos acompanhando as coisas apenas pela visão e confabulações de Maomao. Não há uma grande reunião secreta ou algo do tipo que mostre o que está acontecendo. Descobrimos naturalmente como alguém que está olhando de fora iria descobrir e também apenas com as informações que alguém de fora conseguiria descobrir.
O máximo que o animê nos revela além disso são algumas conversas entre Jinshi e seu subordinado Gaoshun que esclarecem um pouco os casos solucionados por Maomao, sempre deixando um tom intrigante, mas ainda casual para a coisa.
Acompanhar o que acontece em outras esferas da história também é bastante interessante, principalmente quando se trata das cortesãs do distrito do prazer, que são as pessoas que Maomao teve perto durante toda sua vida, e as concubinas do palácio imperial, que rapidamente também se apegaram à Maomao de suas próprias maneiras.
O animê não deixa de intensificar a forte presença feminina na série através dessas personagens, mostrando um fundo de importância para todas elas durante o roteiro. E isso não acontece apenas no que envolve apenas as personagens individualmente, pois descobrimos como relação delas ou das esferas das quais elas fazem parte estão mais conectadas com Maomao do que o animê deixa inicialmente transparecer.
Algo parecido acontece com Suirei, uma dama da corte que tem tendências parecidas com Maomao quando se trata de plantas medicinais, porém ela usa as plantas de uma forma bem mais misteriosa. Essa relação entre os interesses de Suirei e Maomao faz a protagonista criar um fascínio pelas ações da mulher, e isso aparentemente vai moldar alguns quesitos do roteiro a partir da segunda temporada.
Além dos segredos envolvendo toda a trama imperial inspirada em uma China fictícia, não poderia faltar também para o público os segredos da própria Maomao. Mesmo com o animê nos imergindo constantemente nos pensamentos da protagonista, ela ainda assim é a personagem mais misteriosa da série.
Com o passar dos episódios, respingos sobre o passado dela são revelados pouco a pouco, assim como qual é a importância da relação entre ela e um dos principais bordéis da cidade, qual é a possível relação do passado da garota com o próprio cenário imperial e os motivos por trás de seu fascínio por venenos. Até mesmo as sardas no rosto da protagonista carregam um segredo.
Claro, todas essas construções narrativas são extremamente bem amarradas, nunca deixando a história de Maomao ser algo a parte do que está acontecendo com o todo. Muito pelo contrário, na verdade, como descobrimos com o passar dos episódios. Esse trabalho com segredos é feito de forma similar com Jinshi, criando um paralelo interessante entre os protagonistas, porém até então, apesar de várias dicas, não foram tantas as coisas reveladas sobre o rapaz.
Diários de uma Apotecária é um daqueles animês que, apesar de não ser um tesouro escondido, normalmente é o tipo de história que pode passar por fora dos holofotes do grande público, então é muito gratificante que, mesmo “competindo” com Frieren, Maomao tenha conseguido se destacar e ganhar bastante espaço no coração dos otakus. É definitivamente uma história que merece o destaque que ganhou, sendo uma das narrativas mais bem construídas em animês da atualidade.
Diários de uma Apotecária está disponível completo na Crunchyroll com opção de áudio original, legendas em português e outros idiomas, e dublagem em português apenas para a primeira parte do animê.
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Esse anime tem uma premissa que eu gosto muito, quero assistir com ctz.
Gente, lembrem-se de revisar ortograficamente a matéria antes de postar.
Esse anime é meu favorito. Maomao exala macro partículas de um humor debochado, o que eu mais amo sobre ela. Só não concordo com a aversão total ao Jinshi, porque acredito que nesse ponto, há sim um desenvolvimento, lento, mas bem interessante.
Ansiosa pela próxima temporada e esperançosa de que incluam a cena do sapo. 😆😆😆😆
Foi o meu favorito dessa temporada. A Maomao é praticamente uma CSI dos tempos antigos.
Amei o anime, amei o mangá.